ENTREVISTA PARA "REVISTA POETIZANDO" (Santos, SP) 2011

(Em nov/2011 a revista/zine Poetizando (Santos, SP), editado por Eunice Mendes e Walmor Colmenero, deu voz a este escriba. Original postado em http://revistapoetizando.blogspot.com.br/2011_11_01_archive.html)

Escobar Franelas, 42 anos, escritor, videomaker e fotógrafo amador. Membro da União Brasileira dos Escritores (UBE) desde 2004.

Tem o livro "hardrockcorenroll" (poesias, SP:Scortecci, 1998) e participação em diversas coletâneas.

Atualmente é um dos articuladores do núcleo Fora do Eixo - Letras, em São Paulo, e colaborador da Revista Ounão (SP), e do jornal O Grito (Monteiro Lobato, SP).

Prepara os originais para o lançamento do romance "Antes de Evanescer" ainda esse ano.

P - Quem é Escobar Franelas?

E. F: - Sou nascido, crescido e ainda hoje morador da zona leste de São Paulo. Desde criança sou meio dominado por amor devoto às letras. Mesmo quando sonhei ser jogador de futebol, na adolescência, esse jogador também seria poeta, com certeza. E depois, quando enveredei profissionalmente pelos caminhos da audiovisual, desde então meu grande anseio tem sido sincronizar essas duas paixões: a literatura e o cinema.

P - Como se deu sua trajetória na poesia?

E. F: - Os primeiros versos eram de um típico enamorado adolescente que, sem saber como cortejar uma garota, escrevia poesias sofríveis na expectativa de impressionar alguma menininha. A devoção às letras, contudo, levou-me até os jornaizinhos da escola, depois aos fanzines. Daí pulei para os jornais de bairro. Enfim, essa foi minha trajetória, até chegar à Antologia Poéticas de Pinheiros (1989), minha primeira incursão, digamos, "mais profissional" pelo mundo da arte literária. Tinha 20 anos, àquela época.

P - Crê que a poesia tem que ser um agente de transformação pessoal?

E. F: - Acredito que a transformação social mais visível vem pelas mãos da política, mas como toda mudança social é, sim, de caráter pessoal, então acredito que a poesia, a filosofia, a Arte (assim mesmo, com maiúscula) em estado bruto, têm esse poder de transformar o indivíduo.

P - Todo talento é nato ou um aprendizado?

E. F: - Diria que toda vocação só pode ser equacionada no mundo das exigências civis e formais, daí que ela exige, sim, muita dedicação, estudo, planejamento e transpiração. Mas se todo esse esforço não estiver acondicionado no princípio do "insight" instigador, então não será arte, no máximo ciência ou artesanato.

P - Qual a importância da leitura para quem escreve?

E. F: - Não consigo conceber um cineasta que não assista filmes, ou, pelo menos, não dê conta de conhecer tecnicamente como funciona o universo da produção cinematográfica. Assim como não vejo bulhufas de escritor no cara que não se dispõe a ler e interpretar através da palavra o mundo à sua volta.

P - Tem acompanhado os novos autores?

E. F: - Sim, com certeza. Não abro mão da leitura dos ditos clássicos, assim como tento dividir meu tempo com a leitura do novo, para que a mente seja sempre arejada pela disputa entre essas duas (e outras) escolas.

P - A internet interferiu em seu processo criativo? E na divulgação dos trabalhos?

E. F: - Sinceramente, não consigo perceber se a internet influencia a confecção ou produção de meus trabalhos, mas reconheço que dentro do aspecto marqueteiro, a internet pode ser uma ótima ferramenta.

P - Como é seu processo criativo? Existe inspiração?

E. F: - Não sei dizer como funciona o "start" em minhas criações. Às vezes uma frase solta numa conversa dentro de casa, um papo qualquer que ouço dentro do metrô, ou mesmo algo falado num filme, enfim, qualquer coisa pode atingir um determinado ponto em minha memória que anela-se a outras sensações e daí surge uma tênue linha divisória que eventualmente pode se tornar um poema, um conto ou uma crônica (até mesmo um romance!), dentro das vertentes que se abrem em meu imaginário.

Da mesma forma que às vezes o título nasce antes da peça, às vezes acontece o contrário, vem o texto e o título se recusa a chegar!

P - Acha importante o intercambio entre poetas/escritores/leitores?

E. F: - Sim, sem dúvida. Não existirá o artista se não houver a contemplação de sua obra e a interatividade que se inicia a partir da "leitura" que o público faz de determinado trabalho. E da troca que há entre os iguais.

P - Que tipo de criação pode ser considerada artística?

E. F: - Aquela que o "artista" diz ser "arte", não poderá nunca ser negada. Poderemos sempre discutir nossos conceitos e preferências, mas jamais teremos, enquanto humanos, poder para julgar e negar a condição de "arte" à qualquer feitura que tenha essa definição, pois não há critérios teóricos ou práticos, que imponham ou impeçam alguém de divisionar o que é ou deixa de ser "arte".

P - Para que serve a poesia?

E. F: - Para me levar à loucura ou me tirar dela. Para me levar ao éden sem ter que apelar à existência de algum deus. Para que eu goze sem precisar do esforço do corpo ou da mão. Para que eu possa fruir a vida com vários verbos lindos: sublimar, curtir, sublevar, extasiar, sonhar...

P - Deixe uma mensagem para os novos jovens poetas/escritores.

E. F: - Escrevam! Sempre! Não haverá talento à mostra se não houver o diálogo entre artista e público. E mesmo que a relação entre eles seja de vaia ou aplauso, provocação ou comedimento, isso não tornará esse artista maior ou menor. A indiferença e a inexistência de diálogo é que tiram o caráter criador do artista.

P - Deixe, se quiser, um contato (e-mail, site, etc.)

E. F: - Algumas experiências que tenho feito na área de fotografia estão postadas no blogue vs. eu: http://escobarfranelas.blogspot.com assim como há vários sítios na internet que têm trabalhos meus.

Entrevista por Eunice Mendes e Walmor Colmenero