GANDAVOS - CONTADORES DE HISTÓRIAS
Um autor dedica-se a escrever por diversos motivos. Talvez pelo desejo de dividir experiências e guardá-las para o uso na posteridade. Ser lembrado pela sua maneira de perceber o mundo ou apenas pelo prazer de sentir o ritmo de uma boa narrativa. Ao usar a palavra no sentido mais amplo possível, ele tem o poder de conduzir ideias em direção, que de outra forma, não existiriam e não teriam a oportunidade de serem vistas.
O nosso primeiro entrevistado é o escritor Alberto Vasconcelos, nascido no Recife/PE, numa festa de aniversário. Como ele mesmo se define: ¨Virgem no zodíaco, macaco no chinês. Gosto de ouvir e de contar histórias. Fui menino obediente e amorfo. Brinquei as brincadeiras de rua quando moleque. Fui Professor de História e ator. Beijei, namorei, noivei, casei, duas filhas, duas netas, divorciado casei com Márcia Barboza. Desde abril/12, mudei para Santo André/SP. Sou aposentado e Biólogo. Meu atual foco de atenção é a influência do imaginário no comportamento humano. Sou ateu e tenho o mau costume de acreditar nas pessoas. Amigo é amigo; inimigo é inimigo¨.
Pergunta 1 - Quando e como surgiu seu interesse pela leitura e escrita?
Alberto Vasconcelos - Desde a 1ª infância fui acostumado a ouvir histórias e quando fui alfabetizado, li de bula de remédio a Camões. Na escola, éramos estimulados a produzir textos dissertativos a partir de imagens colocadas em cavaletes. Acredito que foi assim.
Perguntas 2 - Quais foram seus livros preferidos quando era criança e os livros favoritos atualmente?
Alberto Vasconcelos - Robinson Crusoé (Daniel Defoe) que ganhei quando nem estava alfabetizado, depois os livros do Professor Mário Sette (Terra Pernambucana, Maxambombas e Maracatus, O Palanquim Dourado...) José de Alencar, Machado de Assis, Castro Alves, Dostoievsky, Érico Veríssimo, Júlio Verne, Karl May, Guerra Junqueiro, e tantos mais que nem lembro. Hoje em dia Richard Dawkins e de contos em geral.
Pergunta 3 - Quais escritores são suas fontes de inspiração?
Alberto Vasconcelos - Não saberia dizer, porque não tenho autor favorito e no que escrevo tem sempre um pouco de cada trabalho que li e que me impressionou.
Pergunta 4 - De que forma o conhecimento adquirido, seja pelo senso comum, ou pelo meio acadêmico, ajuda na hora de escrever?
Alberto Vasconcelos - Não é só na hora de escrever, é no dia-a-dia, é na nossa maneira de ser. Quando escrevemos, revelamos quem somos e o ambiente em que fomos criados e no que vivemos, porque escrever é apenas uma das formas de viver outras vidas além da nossa.
Pergunta 5 - Segundo o escritor Rubem Fonseca, “a leitura, a palavra oral é extremamente polissêmica. Cada leitor lê de uma maneira diferente. Então cada um de nós recria o que está lendo, esta é a vantagem da leitura". É isso mesmo? Concorda com essa proposição?
Alberto Vasconcelos - Sim. Sem dúvida, cada palavra ou conjunto delas, tem uma ressonância específica dentro daquele arcabouço que construímos desde a primeira infância. Durante a leitura, nos tornamos coautores do texto ao emprestar-lhe imagens, cores, sons, formas e, muitas vezes, o que para uns nada, ou quase nada significa, para outros pode ter consequências desastrosas.
Pergunta 6 - Ainda segundo o Escritor Rubem Fonseca: “um escritor tem de ser louco, alfabetizado, imaginativo, motivado e paciente.” É o suficiente para ser um bom escritor?
Alberto Vasconcelos - Para ser escritor, sim. Se é bom ou mau depende de cada leitor pois essa avaliação não nos pertence.
Pergunta 7 - Para qual público se destina sua criação?
Alberto Vasconcelos - Posso comparar os meus textos com folhas destacadas das plantas que o vento leva sem nem ele mesmo saber para onde. Se vai servir ou não, não saberia dizer porque escrevo para satisfazer a minha necessidade de contar historias, quase sempre, para uma plateia vazia.
Pergunta 8 - Como funciona o seu processo de criação? Quais sãos suas manias (ritual da escrita)?
Alberto Vasconcelos - Raramente estabeleço um roteiro para a historinha que vou escrever. Na maioria das vezes a inspiração vem solta e ela mesma se encarrega de por o ponto final. Antes só escrevia a lápis, hoje, mais modernoso, escrevo diretamente no notebook, sem estresse nem rituais, os quais, considero excesso de frescura.
Pergunta 9 - Em geral, os seus personagens são baseados em pessoas que você conhece, ou são ficcionais?
Alberto Vasconcelos - Sempre ficcionais, mas em cada um deles há pedacinhos dos conhecidos e principalmente de mim mesmo.
Pergunta 10 - Você tem outra atividade, além de escrever?
Alberto Vasconcelos - Atualmente não.
Pergunta 11 - Você faz parte das Coletâneas Gandavos. Qual a sensação de participar ao lado de escritores de várias regiões do país?
Alberto Vasconcelos - É uma experiência maravilhosa que, ao mesmo tempo em que nos enche de satisfação, nos preocupa, pois é real a possibilidade de dizermos tolices diante dos grandes mestres Gandavos.
Pergunta 12 - O financiamento coletivo e a publicação independente têm se mostrado a opção das publicações Gandavos. Quais são os pontos positivos e negativos desse tipo de publicação?
Alberto Vasconcelos - Os pontos positivos não precisam ser ditos, pois são evidentes e todos nós os sentimos. Único ponto negativo é o número de exemplares que temos que adquirir.
Pergunta 13 – Você já fez publicação de livros sozinho, seja impresso ou virtual? Quais e como o leitor pode adquiri-los?
Alberto Vasconcelos - Só publiquei livros via Gandavos. Tudo o que escrevi está publicado no site Recanto das Letras, portanto não há necessidade de e.book. Conforme já lhe disse por diversas vezes, prefiro deixar a árvore em pé a transformá-la em papel para publicar os meus textos.
Pergunta 14 - Qual mensagem você deixaria para autores iniciantes, com base em suas próprias experiências.
Alberto Vasconcelos - Escreva pelo prazer de escrever. Use o seu vocabulário doméstico, seja simples, direto, respeite os cânones gramaticais, a grafia e escreva para doutores, mas de tal forma que analfabetos lhe entendam.