O PALHAÇO DA MOTO NÃO MORREU!

Diadema é uma cidade de tradição oral, isso significa que a maior parcela da população prefere e acompanha propagandas e anúncios publicitários através dos habituais carros de passeio ou caminhões equipados com amplificadores e caixas de som que prestam serviços de tele mensagens, ofertas de comércios e os tradicionais informes institucionais e dos serviços da prefeitura.

É sabido que para a comunicação publicitária popular atingir as pessoas sem incomodá-las é preciso ser menos formal e utilizar linguagens propicias e conhecidas dos ouvintes receptores da mensagem.

É terrível quando isso ocorre num momento que precisamos do silêncio: concentrados para uma leitura importante ou jogo de xadrez, em hospitais ou na escola em período de provas, entrevistas de emprego, enfim as possibilidades são inúmeras... Todos nós, não tem jeito, ficamos minimamente irritados quando incomodados com som ou fala excessivamente alta, pior ainda se já conhecemos a mensagem e/ou gravação que está por vir. Basta lembrar-se dos jingles (agora proibidos) utilizados nas campanhas políticas.

Conheci há poucos dias o Sr. Démetrio, 62, natural de Fortaleza. Ele é o exemplo típico dos cearenses que migram para São Paulo na busca de um emprego que para estabelecer-se financeiramente mantêm a vida na labuta diária conhecida por todos os trabalhadores nordestinos. O ex-garçom de botecos, também já foi pedreiro e depois de ficar desempregado desenvolveu o personagem que hoje é um ícone da publicidade popular em Diadema. Com sua moto e bom humor ele percorre as principais vias dos bairros comerciais do município e anuncia com piadas improvisadas e bem sacadas quem confia e paga pela boa é hábil maneira do "Palhaço da Moto" como ele mesmo se chama.

Para conquistar atenção dos transeuntes e curiosos atraídos pelo som do forrozinho oriundo de um amplificador instalado no banco traseiro de sua moto CG 125. O simpático palhaço lembrou nostálgico da música “O último pau-arara” de Raimundo Fagner: A vida aqui só é ruim / Quando não chove no chão / Mas se chover dá de tudo/ Fartura tem de montão/ Tomara que chova logo/ Tomara, meu Deus, tomara / Só deixo o meu Cariri / No último pau-de-arara “As pessoas quando ouvem essa música do Ceará se identificam e lembram saudosos de sua terra sofrida do sertão, aí eu apareço com meus informes” revela.

Antes da entrevista, observei que suas abordagens além de emotivas, são convidativas e muito criativas, pois o palhaço lembra muito o ex-apresentador Chacrinha, sua inspiração na hora de cumprimentar os amigos e clientes que o saúdam na rua. Um deles ironizando um acidente recente que sofreu, quando saia de uma rua e um carro bateu na traseira de sua moto, ferindo sua perna esquerda, disse: “Mas você ainda está vivo?!”

E ele responde:

“Vaso ruim não quebra!” Todos a sua volta riem.

Completa com agradecimentos as pessoas que sentiram sua falta, os para-médicos que o atenderam e até brinca com a fotógrafa que durante as fotos atraiu outros curiosos perguntando se o perfume que usava ficaria bom para as fotografias.

Após a bem humorada conversa, ele nos deixa ao som de Raimundo Fagner e sai falando no seu microfone alá Silvio Santos: “O palhaço da moto não morreu!”

José Luís de Freitas
Enviado por José Luís de Freitas em 10/07/2007
Código do texto: T558944
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