ENTREVISTA com Ansilgus – 18.03.2016
 
 
ENTREVISTA com Ansilgus – 18.03.2016
 
 
Bom dia pessoal do Recanto das Letras. Como meu pai anda agoniado por não poder escrever, por recomendações médicas, eu me pus a sua disposição para lhe fazer algumas perguntas a propósito dos momentos difíceis por que passa o país. Tendo ele aquiescido, passo a publicar com muito cuidado, eis que ele é exigente até demais, mesmo em coisas muito simples.
 
Sandragus: Meu pai, o que o senhor acha dessas gravações publicadas pela imprensa, notadamente pela Rede Globo, a respeito dos últimos acontecimentos envolvendo pessoas investigadas pela Lava-Jato, o senhor que tem formação jurídica?
 
Ansilgus: Graças a Deus tenho uma filha como você, que sabe da minha angústia por estar fora do Recanto das Letras, onde sempre colocava minhas impressões sinceras tanto sobre esse como outros assuntos de interesse do país. A meu pensar, sempre com a minha independência e com o direito que a Constituição me permite, acho que não há como manchar as gravações como ilegítimas ou mesmo abuso de poder do Juiz Moro, que autorizou a suspensão dos “grampos” horas antes, todavia não é aquela autoridade quem desliga os dispositivos utilizados nessas operações. Apenas manda a ordem, que depois de cumprida é levada ao seu conhecimento. Em princípio, sou totalmente contra a quebra de sigilo de qualquer cidadão comum, todavia essas pessoas tidas como criminosas não são cidadãos normais, pois se o fossem não teriam direitos especiais de foro privilegiado para julgar os seus crimes, isso que é uma excrescência do direito, até por que homem público não pode ter segredo em suas atividades, o próprio cargo já o diz: público. O que não se deveria permitir era conversas íntimas dentro dos lares de cada um, pois esse é um lugar sagrado.
 
Sandragus: Mas não falam que gravar conversas íntimas, particulares é crime e não serve de prova em juízo?
 
Ansilgus: Em princípio, sim. Mas o conteúdo não pode ser ignorado por quem foi ofendido, como por exemplo, o Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República, enfim por ninguém, pois palavras ditas não podem ser apagadas nem da mente, nem do coração de ninguém. E mesmo que não constem dos autos, quando é o caso, isso não obriga a que os julgadores se esqueçam de que foram hostilizados, menosprezados e até humilhados, inclusive com palavras impróprias que não se coadunam, por exemplo, com a presidente da República, Ministros, etc. Quanto ao Lula, todos já sabem que é uma pessoa desbocada e não respeita lugar, nem hora e nem ambiente para soltar seus palavrões. Para cada frase sua geralmente tem um termo contrário aos bons costumes.
 
Sandragus: O senhor estaria com dois pesos e duas medidas?
 
Ansilgus: Quem me conhece muito bem, e você é o caso, nunca agi como balança viciada. Eu estudei para praticar o direito em todas as suas nuances, a balança com dois pratos com pesos iguais, equilibrados. Sei que você sempre foi apaixonada pelo PT, inclusive era cabeça de greve, e muita vez foi com seus camaradas à porta do banco onde seu pai trabalhava, era gerente geral, para tumultuar o ambiente e fechar a agência, coisa que nunca conseguiu. Nunca obriguei a que ninguém trabalhasse, mas a verdade é que a minha agência sempre abria em dias de greve, notadamente e em especial porque não poderia deixar centenas de velhinhos do lado de fora sem receber sua já minguada aposentadoria, pois isso é um crime do qual não consigo concordar até hoje. Aliás, nunca nem sequer pedi a você que não fizesse greve, até porque nunca esteve nas minhas cogitações brecar as vontades de meus filhos. Cada qual que responda pelos seus atos, mas se necessário, darei a minha própria vida para salvá-los e também usarei do meu diploma para defendê-los em quaisquer instâncias da justiça.
 
Sandragus: Sim, meu pai, mas esse assunto não me agrada mais, fale sobre o que poderia acontecer nos momentos atuais.
 
Ansilgus: Desculpe-me, mas é que não posso me esquecer desses momentos por mim vividos, que só enobrecem o meu modesto trabalho. Quanto ao desenrolar dos acontecimentos, creia as coisas não estão nada boas para o governo. De um lado, uma posse que foi logo descartada pela justiça, em decisão liminar da Vara Federal de Brasília, que já fora derrubada pelo Presidente do Tribunal Federal da Primeira Região (e vai ficar nessa brincadeira, cassa/concede, cassa/concede). Entretanto, nova liminar já fora produzida pela mesma justiça federal do Rio de Janeiro, salientando-se que correm no país dezenas de ações nesse sentido, assim como no próprio Supremo Tribunal Federal. Agora, quando o STF der o seu veredicto final essas liminares poderão ser cassadas ou não; pode até essa instância resolver que caberia ao Juiz da Lava-Jato decidir, eis que todos estão envolvidos na operação, e remeter os autos àquela corte de Curitiba. Não creio nisso, até porque seria um poder maior mandar que um de menor escalão pudesse resolver o impasse. Veja que o juiz Sérgio Moro, assim que o Lula assumiu o poder mandou transferir tudo para Brasília, a cargo da maior corte do País.
 
Sandragus: Mas meu pai, vai caber ao Doutor Gilmar Mendes decidir sobre o caso, e todos sabem que ele é terminantemente contra o governo, e agora?
 
Ansilgus: Não é bem assim. O juiz, na rua, por exemplo, é como se fora qualquer do povo, tem suas preferências, é um cidadão igual a todos nós. Embora tenha criticado a nomeação do Lula em pleno exercício de suas funções, isso não autoriza a ninguém duvidar de sua honestidade. O que ele mostrou foi ser uma pessoa corajosa, sem papa na língua. Sobre isso, o grande Juiz Marco Aurélio de Melo também vem se pronunciando contra o “Impeachment” e isso não lhe tira a tradição de um dos maiores conhecedores de leis deste país. Aliás, nem deveria a justiça se meter nisso, porquanto é alçada única do poder legislativo. Mas os parlamentares, por qualquer coisa, recorrem ao Supremo. Claro que têm o direito, todavia deveria haver algum dispositivo que limitasse essas ações, deixando o STF para julgar milhares de processos que se avolumam em seus arquivos sem qualquer decisão. Há processos com mais de dez anos, que terminam prescrevendo, perdendo seus efeitos. O que dizer do Barroso e de outros que só votam contra as oposições?! Há um pedido de impugnação no Superior Tribunal Eleitoral, a propósito da chapa Dilma/Temer, que se arrasta por algum tempo e não é julgada! Por inteligência, estão esperando a decisão desse processo de “Impeachment”, ou seja, se passar não precisa ser julgado, mas se não houver êxito aí eles julgarão, isso depois de dois anos do governo atual, hipótese que nos remeteria a uma eleição indireta para escolher o novo presidente. Veja bem, isso se a impugnação da chapa vitoriosa for aceita.
 
Sandragus: Tudo bem, mas já estou sentindo que o senhor está cansado. Vou lhe fazer a última pergunta. O senhor acha que o impedimento passará?
 
Ansilgus: Há possibilidades, o povo está nas ruas, as manifestações pelo Brasil inteiro são cada vez maiores. Todavia, o povo não decide sobre isso, o mais que pode é fazer pressão. Mas veja bem, ontem foi eleita a comissão de 65 parlamentares para decidir a respeito. Foram eleitos em plenário, por voto aberto, a mesa diretora, presidente, vice, relator, etc., tudo de conformidade com o que determinou o Supremo. Minha querida filha já imaginou quanto vale um voto de um desses deputados... Coloque milhões nisso, até porque é próprio neste país seduzir parlamentares não somente com cargos, mas, também com dinheiro do povo brasileiro. Veja as questões das emendas. Um deputado novinho, em seu primeiro mandato, já recebeu R$ 10 milhões de ajuda, ou seja, já tomou posse sendo um milionário, dinheiro esse que é meu, é seu e do povão brasileiro. Seu pai trabalhou mais de quarenta anos e nunca viu sequer tanto dinheiro na sua conta, pois quem vive de salário não pode ficar rico, não que não queira, mas é porque não dá mesmo, muito mal para manter a família e dar uma educação de qualidade aos filhos. A partir de ontem serão dez sessões para aguardar o pronunciamento da doutora Dilma, no processo; depois, mais cinco sessões para apreciar sua defesa. Teria você alguma dúvida sobre a pressão que esses parlamentares sofrerão (!!!) com tanto poder em suas mãos? A meu entender, a partir da eleição eles deveriam ficar incomunicáveis, confinados num grande salão da Câmara, sem direito a manter contato com ninguém, nem mesmo por telefone.
 
Sandragus: E o direito de ire vir?
 
Ansilgus: Claro que estou caçoando, mas uma ligeira impressão me leva a opinar que o “impedimento” não passará nem na Câmara, logo, não chegará ao Senado, isso para sorte de seu presidente Renan Calheiros, que deveria ter a dignidade de pedir uma licença, já que não deseja renunciar; o mesmo deveria ocorrer com o presidente da Câmara, que já é Réu no processo da Lava-Jato. Veja bem: O vice-presidente da república é investigado, o Renan também, o Eduardo Cunha é réu, restando apenas o ministro Ricardo Lewandowski, isso no caso de a Dilma e o Temer serem afastados do poder.
 
Sandragus: Ok meu pai, muito obrigado. Posso publicar?
 
Ansilgus: Claro.
 
Sandragus
ansilgus
Enviado por ansilgus em 18/03/2016
Reeditado em 23/03/2016
Código do texto: T5577395
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