O POETA CARIOCA
CARIOQUISSE
Conhecendo o Parnasiano Ricardo Camacho.
O POETA CARIOCA.
Desafio aceito: Minha experiência como entrevistador.
Entrevistar o Poeta Carioca do Recanto das Letras
Um amigo conquistado através da poesia via Recanto das Letras com suas poesias ácidas, sombrias, góticas e por vezes muito sarcásticas mas, demonstra ao meu ver, ser uma pessoa espiritualizada e bem humorada. Estou certo? Como você se define como escritor/poeta?
P.C. - Inicialmente, quero agradecer-te, pois sinto-me enobrecido nesta participação inédita, na qualidade de entrevistado. Pareço importante, kkkkk...! Bem, meu amigo Pessanha, acertou nos atributos. Considero-me uma pessoa tranquila na vida pessoal, e curto a alegria, embora não pareça. Na escrita, com certeza, visto um personagem mais desafiador, provocador, incisivo e veemente nas conotações bizarras, naturalistas e também surrealistas as quais me aproprio.
Como escritor e poeta, ponho apenas em prática influências de Machado de Assis (ironia fina, diálogos com leitor e minúcias nos assuntos) e Augusto dos Anjos (termos cientificistas, o macabro, o niilismo, a morte e a deterioração da matéria com os realismos e naturalismos, e a tristeza como condição de meio lapidadora do ser...), ainda que no anonimato e timidamente, de certa forma, um sonho antigo de fazer diferença neste terreno e criar o meu estilo de rico misto de influências que recebi. Essa diferença a qual me refiro, reside na forma como desenvolvo, o que trato, temas escolhidos criteriosamente com o escopo de causar inquietude mental ao leitor, desconforto no seu íntimo, mas um desconforto benéfico, que tenho certeza, render-lhe-á uma visão inovada provocada pelo antes não lido ou pensado a respeito, de repente, através de minhas poesias, crônicas e artigos. Ler também é confrontar-se, o leitor não deve gostar ou amar o que escrevo, e esse exercício permitirá melhor conhecimento de si, e isso proponho-me a causar no outro lado. Nem tudo, contudo, é tão seriamente lúgubre e racional!... Ousei. Não estacionei apenas na minha maior especialidade, o hediondo e seus conexos, estiquei minha atuação discorrendo sobre outros temas, tais como cientificismo, amor, sensualismo e até erotismo, e senti-me mais realizado. Quando, enfim, li um comentário supremamente analítico e cabal, de Edna Frigato, no qual mencionou, em suma, que sou legítimo filho do parnasianismo, e após pesquisar a respeito, vi que ela tinha toda a razão. Eu nunca, antes, tive consciência disso,... impressionante!
JP – Quem é o Poeta Carioca?
P.C. - Sou uma pessoa extremamente do bem. A base do que acabo de afirmar, descrevo da seguinte forma: a intenção que carregamos em nosso âmago, durante a caminhada da vida em relação ao próximo, conhecido ou não. Sempre fui meio "devagar", no que tange ao contentamento com o mínimo. Mas, a vida ensina a nos inquietarmos e, destarte, mover-nos em favor de alcançar certos objetivos e progredirmos. Sou muito "família" e prezo pelo respeito, honestidade e a paz. Passo esta tríade no dia-a-dia para meus filhos. Sou simples. Tenho uma vida simples. Sou feliz e em paz comigo mesmo. Angústias da vida à parte - pois isso não pega em poste! -, não me dou por vencido e procuro sempre exercitar a paciência e a observação reflexiva, na resolução dos problemas. Tive uma educação rígida e já "ralei" muito na vida. Nunca tive moleza!... Se bem que, desconheço isso até hoje, rs! Tenho muito bom humor e sorriso nos lábios, naturalmente. Sou adepto à simpatia e à tratativa com cortesia. Penso, sempre... nascemos para viver bem, mas, sobretudo, convivermos - o que significa dizer que não vivemos sozinho! - com qualidade "in totum" desde o nascimento. Temos tudo para não tornar nossa vida um martírio, se fizermos o bom uso da gentileza no convívio. Nosso desenvolvimento como ser humano é politizado desde os primeiros anos de vida e tudo que nos lançamos a fazer, querendo ou não, depende dos semelhantes no sentido de dar continuidade ao trabalho universal, cada um no seu "quadrado", no exercício do seu trabalho diário, em prol da harmonia das mãos no labor da humanidade. Cada um de nós, seres humanos, é um indivíduo atuante, é um organismo complexo que faz parte de um, também, complexo sistema no qual funciona de forma interdependente e harmônica entre si em relação aos demais. Que possamos agir no uso da educação e, no mínimo, na atuação do bom senso para com o próximo. Lamentável que, hoje em dia, raros são os que enxergam ingenuidade alheia! Basta uma faísca de mal entendido e a guerra triunfa a paz, tudo desmorona e até mortes acontecem... mas temos que sorrir, ou seremos consumidos pelo mal.
JP- Como se manifestou a aptidão para a escrita. Já possuía alguma relação com a literatura na sua infância?
P.C. - Quando criança, eu já gostava de escrever cartas e bilhetes para meus queridos próximos familiares. Certa vez, eu tinha 12 anos, como na ocasião não tinha presente para dar ao meu pai - Dia dos Pais -, fiz uma carta pra ele e deixei na mesa do café da manhã, ainda de madrugada, para ele ao acordar lê-la... acabei fazendo ele, a família e seus amigos chorarem... a primeira vez que conheci sobre literatura, sem saber o que era, foi quando eu tinha 14 anos, limpando os móveis da sala, em casa (minha tarefa doméstica), apalpei volumes de "Machado de Assis", dos "Grandes Vultos Brasileiros", da "Editora Abril"; nesta época meu pai trabalhava numa gráfica e ganhou estas obras, que enfeitavam a estante daquele cômodo. Um dia, de tanto observa-las, já com 16 anos, após aulas de Literatura no Ensino Médio, com uma professora que foi a responsável em despertar-me tal paixão, criei coragem, e com um dicionário enorme ao lado li "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Inesquecível! Lembro, rs...! Mais à frente, após um currículo amplo de obras literárias lidas, passei por um episódio de depressão, dos 23 aos 27 anos, quando fazia do "Eu e Outras Poesias", de Augusto dos Anjos, o meu livro de cabeceira, lendo e relendo cada soneto, cantando os versos em voz alta para mim, num exercício pessoal de absorção das mensagens filosóficas ali contidas, por conta disso memorizei alguns dos seus sonetos passando a apreciar todo o conteúdo hediondista de "Dos Anjos". Nesta época, contudo, li como nunca na minha vida, inclusive a bíblia e inúmeras obras filosóficas.
JP- Costumava ler que autores na sua infância?
P.C. - Acredite, Pessanha! Eu odiava ler e estudar até meus 14 anos! Criado no subúrbio do Rio de Janeiro, sempre dediquei-me ao futebol e às pipas, rsrs!... Mas, quando comecei a ler, graças às aulas de Literatura, quando fazia o Ensino Médio à noite (pois durante o dia eu treinava pelo Flamengo - Futebol - e também já trabalhava em obras, ajudando meu pai); como dito acima, Machado de Assis foi minha primeira paixão literária da escrita, depois que li "Memórias Póstumas de Brás Cubas", emendei logo em "Quincas Borbas", "Esaú e Jacó" e, por fim, "Dom Casmurro", depois, passei a ler Aluísio Azevedo, "O Cortiço" e magnífico "Casa de Pensão"; sendo que do primeiro nunca abandonei, do qual li anos após, aos poucos, todos os seus contos já realizados, e de quem sou fã declarado, ao lado de Augusto dos Anjos, este, para mim, cuja morbidez é sinônimo de genialidade, é o melhor sonetista-filósofo de todos os tempos!
Com o tempo, fui abraçando com toda a sede influências de muitas obras literárias, também, inclui-se Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, José de Alencar, Lima Barreto, Mario de Andrade, etc... este último, um grande gênio da literatura, atuante em "n" ramos da sociedade culta, inclusive na política, à época, o grande idealizador e promotor da Semana de Arte Moderna de 1922.
JP- Qual ou quais são suas referências no início de sua trajetória como poeta?
P.C. - Como poeta, Augusto dos Anjos. Como escritor, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e José de Alencar. Estes são os mais marcantes em mim!
JP- Você atualmente está lendo algum livro? Qual livro gostaria de ler e que ainda não leu? Quais livros recomendaria a leitura?
P.C. - Atualmente, estou lendo, e pela terceira vez, "A Moreninha", e "O Mundo Assombrado Pelos Demônios", de Carl Sagan. Gostaria de ler, uma vez que ainda está na minha lista da "vida", rsrs... o "Conde de Monte Cristo", que muitos conhecem em filme e "O Idiota", de Dostoievski.
Sugiro que leiam "Casa de Pensão", de Aluísio Azevedo; "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo e "Cinco Minutos", de José de Alencar; estes são o suficiente para fazer do gostar, uma paixão pela Literatura Brasileira.
JP- Você mostra suas criações poéticas a familiares e amigos, como eles veem suas poesias?
P.C. - Mostro sim, rs!... Fazem cara de espanto e olham-me como se eu fosse um desajustado ou doido, por causa dos meus hediondos e, também, filosóficos sonetos; quanto aos de amores, românticos e sensuais, derretem-se e ganho deles o sorriso, rs...
JP- Tem algum sonho que gostaria de realizar como escritor?
P.C. - Na verdade, dois: o primeiro, lançar um livro; o segundo, mais complexo, ser reconhecido como um poeta ou escritor que faz a diferença, haja vista busco instigar e o leitor a pensar e se confrontar com o que a maioria teme por ignorância, preconceito ou medo.
JP- Como foi que tomou conhecimento do Recanto das Letras?
P.C. - Pela necessidade de não mais manter-me escrevendo (poemas) num caderno obsoleto de escola, o qual já não tinha mais espaços, lembrei que à época existia a internet, e por intuição encontrei o Recanto das Letras.
JP- Tem algum autor no RL que lê com mais frequência por afinidades?
P.C. - Olha, Pessanha! Sinceramente, não disponho de tempo para dedicar-me, e bem que eu adoraria!... Do tipo ter uma escrivaninha em casa, com mobília arrumadinha, tudo bonitinho, com um computador à minha disposição numa saleta própria... não. Na maioria das vezes, componho meus sonetos em pé, andando, como um doido (kkkk...), nas idas e vindas do trabalho, entre pessoas, trabalhadoras, acotovelando e esbarrando-me, sempre sem dolo, num metrô e trem lotados; muitas vezes, também, quando levo meus filhos à praça para brincar ou tarde da noite, após um dia exaustivo, é o tempo que arrumo para frequentar com mais folga o Recanto das Letras. Sendo mais objetivo à tua pergunta, por afinidade artística, gosto muito das publicações da "Elenir" (Simplesmente Romântica), "Edna Frigato" ( e, diga-me, quem não lê esta diva, rs?), "Gilberto Oliveira", "Renato Passos", "Fábio Rezende", "Cláudio Francisco", "Hélio J. Silva" e "Wotson". Nunca esqueço de mencionar "Derek de Castro", mas faz tempo que não o leio. O cara também some! Eu acompanhava, também, o meu velho e falecido "G. Dantas" (essa pessoa recebeu-me se peito aberto no Recanto das Letras, estimulou-me e ensinou-me muito! Conhecêmo-nos, assim que eu entrei no R. L., em 2011), saudades dele, meu Deus...
JP- O que te faz feliz e o que te chateia no campo pessoal e da literatura?
P.C. - Na vida pessoal, fico feliz, com a troca sincera de amigos e colegas; triste, com o dolo na ação maléfica desmotivada no ensejo de ferir o outro por mazelas; na Literatura, com exceção de quem usa a poesia para agredir pessoalizando (o que não considero arte!), todo o universo é uma felicidade!
JP- Quais são suas preferências na música, cinema, teatro e nas artes em geral?
P.C. - Curto MPB e Rock in Roll (todos os seguimentos); quanto ao cinema, em suma, sou fã de Denzel Washington e adoro dramas. Amo a arte escrita. O que conheço mais da arte num contexto geral, dou graças à leitura. Adoro as flores também! E faço este adendo por uma questão de que estes seres vivos embelezam o verde com suas cores e formas sensíveis e naturais! São artes de Deus!... E, pasme, já fiz certa vez uma peça de teatro para a apresentação da escola, no meu ensino fundamental (ginásio), entretanto, nunca assisti da plateia a uma, rsrs...
JP- Você tem ídolos? Caso afirmativo, qual ou quais são?
P.C. - Sim. No futebol, Zico, Romário e Ronaldo (Fenômeno), eu trilhei carreira completa para jogador de futebol, rodei muitos campos pelo Rio de Janeiro, mas abandonei e decidi trabalhar e estudar. Mesmo assim, na época, enquanto treinava, discretamente, lia Literatura e escrevia escondido (inibido perante os colegas, que certamente fariam chacotas ao testemunharem, por exemplo, eu lendo "Dialética", de Vinícius de Moraes, kkkkk...); na arte, tenho como mestres e inspiração vivaz, Augusto dos Anjos e Machado de Assis... e também José de Alencar, para os temas de amores lindamente utópicos.
JP - Você acredita em alguma coisa, tem religião?
P.C. - Creio em Deus e na passagem do Mestre dos mestres, O Cristo, entre nós. Sou Espírita. A Doutrina dos Espíritos de Luz, que Alan Kardec ajudou a disseminar, num aguerrido e belíssimo trabalho, que iniciou em 1858, acordou-me para as verdade irrefutáveis que mataram minhas dúvidas sobre o destino do sofrimento, da dor e do ser.
Sobre as quais fulcro minhas inabaláveis convicções espirituais.
Respeito todos os credos, não-credos, religiões e seitas.
JP - Como você vê a Literatura hoje?
P.C. - A Brasileira, vejo-a capenga de criação, quase morta, mas sobrevivente do melhor surgido no passado, essa, creio, a salvação.
JP- Uma poesia de sua autoria que considera a mais marcante como escritor/poeta?
P.C. - Nossa, rs! Difícil essa, hein!... Todas trato como um filho, de amor igual. Certo. Escolherei uma; antes, entretanto, quero aproveitar o espaço para deixar à mostra a minha admiração por este soneto, "Versos Íntimos", de "Augusto dos Anjos". Este é o soneto mais magnífico do mundo, em gênero, número e grau, na minha opinião!
"VERSOS ÍNTIMOS"
"Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"
O meu, escolho este:
"EU"
"Todos os dias meus são noturnos,
Pois que, vejo olhares no caminho
Os quais me lancetam com carinho,
Tais vis maus-olhares infortúnios!
Mas sigo, teimoso, na estrada torta
Como quem apenas avista defronte
Pisando sobre bravos rinocerontes
No suplício bíblico: a estreita porta!
Mas há um fator que muito intriga;
É, talvez, uma dor íntima que abriga
Meu espírito chorando em murmúrio
Nestas chagas da vida minha última;
Cruel destino de anomalia múltipla
Qual me mata num diabólico tugúrio!"
JP- Que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores do Recanto das Letras?
P.C. - Bem... rsrs... quem sou eu, que também clamo por mensagens de elucidação, apoio e força... considero-me um aprendiz e apenas transmigro para a arte influências que me chegam pela leitura e no empirismo da vida vivida. Sou um aspirante em busca de contínuo aperfeiçoamento, na sede de mais conselhos. Bem, no campo da arte, que possamos representar o belo, ainda que anonimamente, com toda a garra, no uso da inspiração em provocar reflexões a quem lê, independente do tema ou enredo. Use a poesia com sinceridade na construção do seu castelo de letras. Sou fascinado em tratar de assuntos os quais estão encobertos... e é ali que estou, desvendando o que estava até então absconso! Que possamos pensar e, assim, transgredir a ordem do superficial!
Obrigado, meu amigo e grande poeta, Jô Pessanha, por esta oportunidade! Parece que fiz uma boa terapia. Isso foi maravilhoso! Sinto-me muito feliz!
Beijos para todos!!!
Jô Pessanha:
- Bem, esse é o Ricardo Camacho, o Poeta Carioca cheio de vida e humor do RL. Visite-o.