Entrevista - LAÉRCIO SILVA (Literatura) - SP (Parte 1)
O poeta e ensaísta Laércio Silva foi um dos presentes mais significativos que ganhei nos últimos anos. Compondo uma escrita sem igual, que dialoga com os gregos e as vanguardas coma mesma veemência, conheci-o há dois anos, quando tinha acabado de lançar sua obra ensaística SUÍTE MEZZO FORTE CONTIDO, através de seu heterônimo Alessio Vindita. Depois veio à luz a sinfonia poemática ATTACCA MEZZO FORTE INCONTIDO, a qual ele assinava como Danielle Carbonera. E agora, sob a alcunha de Alessio Forté, ele mostra ao mundo uma nova incursão poética, o paradoxal O DRACONIANO PARADOXAL CLAMOR EM HECATOMBE ou ode a elegias axiomáticas”.
Este pensador peculiar e de sorriso tímido está me dando um longo depoimento via e-mail. Aqui, na primeira parte dessa conversa, ele revela algumas facetas e silhuetas.
Vamos conhecê-lo?
1) Quem é Laércio Silva?
Laercio Silva – tratando-se primariamente como um dos aspectos na tentativa de resolução pela nomenclatura: É a abreviação de Laercio Aparecido da Silva, – ou seja, poder-se-ia o nome próprio por extenso ser representado apenas por Laercio Silva, outro dos variantes aspectos citados de tentativa de resolução é o filológico, Laercio sem o acento indicativo de tônica é uma variação de Laércio com acento, no qual há duas premissas de possíveis significados, um com origem grega sendo Laertios, e o outro com origem latina que é a derivação imediata da grega então Laertius, significando aquele que é original de Laerte uma antiga cidade grega, na cultura ocidental é de costume se iniciar um exordio explicativo partindo-se da filologia, impelindo um resquício de determinado discurso logocêntrico, que é o desdobramento inverso e original da taxionomia retornando a nomenclatura do sintagma nominal próprio, ou singular, que corresponde a Laercio Silva, mas tudo isto é apenas um protocolamento dispensável, Laercio Aparecido da Silva é a pessoa física que não é singular para o estado civil, onde deveria ser por tratar-se de um ente composto por subjetividade, sua subjetividade de fato para além da burocracia civil coerciva esta em seus heterônimos, Laercio Silva é neste contexto então e nominalmente apenas um receptáculo, o hospedeiro auto-consciente laboratorial dos outros “eus”. Posto isto é imprescindível situar o ortônimo entre as fenomenológicas faceta-ações heteronímicas com sua topografia histórica-demográfica-sociológica.
2) Desconfio que você sempre foi aluno-prodígio, desses que tiram a nota máxima em várias matérias, especialmente em Língua Portuguesa. Estou certo?
Nunca me apercebi com o dilema colossal do que deveria fazer, ou de como me alocar perante o mundo, como dizem, sempre soube que nas ciências humanas seria eu plenamente, atingir notas máximas nesta área foi uma realidade até se tornar um problema, na medida em que você avança de forma não linear e planejada por uma meta curricular, neste sentido não ter mais a nota máxima é aprazível tal qual catártico, é análogo a luta notória entre Lyoto Machida e Quinton Rampage Jackson com o segundo perceptivelmente surpreso com a própria vitória defronte a vórtice dum adversário visivelmente superior... Aliás posto nestes termos de competição e rivalidade é o que denota a Alma Mater da famigerada meritocracia... Tão ovacionada e elegível como motivo condutor da vida pragmática. E também não aletoriamente, diz respeito ao caminho combinado do erudito e do guerreiro, citado por Mishima. (Retomando a metáfora associativa. E a elegendo como pronomino.) Me é penoso a figura débil do intelectual sedentário, sem vida social (por podar as outras protocolarmente) e estigmatizado em sua retorica, que no passado era aquele “Nerd” que tirava a nota máxima, pois antes de tudo ele se tornou no hoje factual apenas um cartesiano simulacro... O cartesianismo me aterroriza entre as civilidades afáveis da hipocrisia terrificante...
3) Como foi a construção dessa relação com as ditas ciências humanas?
Preludiarei com uma obviedade, por certo como enunciação em dalguns momentos seu manifesto cerne é indubitável, sendo-a imprescindível; com a leitura, e como há vastas acepções de leituras possíveis, é primordial a utilitarista especificação (cá ao menos), a modalidade da leitura citada denomino como in a lectura a legere oculis em suspensão, suspensão do juízo letargo e de pareceres reducionistas e tendenciosos, Borges cita em certa ocasião um conselho sobre leitura que o tem como o de maior valia, seu pai o liberando para acessar a biblioteca da família, lhe admoesta Leia o que quiser independentemente do livro, se é conhecido ou não, numa referência retilineamente sinuosa sobre o cânone, e para se ler ou optar pela formação doutro cânom, não o exemplar, é necessário uma leitura técnica, como os comentaristas seculares, que em sua feitura são véus para a resplandecência titânica da “luz” direta, que nos ofuscaria em eclipsar, obviamente o resultado deste logocentrismo humanístico é lamentável, a sociedade técnica forma comentaristas adestrados e não críticos eletivos, este prelúdio que perpassei é crucial para expor o facto, que já em minhas leituras iniciais de formação no primário, já a fazia com um aspecto diferençável da leictura dicta como técnica, que é o posicionar crítico diante da verossimilhança, a alfabetização intermediada por “estórias” (não sou diletante do novo acordo ortográfico que desconsidera os substratos em diacronismo) para a formação pedagógica do letramento era abundante, porém estas pouco criveis sendo “estórias” feitas para se fazer paradigmas para as crianças e não obras do gênero infantil, me questionava sobre o encaminhamento de resoluções narrativas, intuitivamente como somente deveras era possível, obviamente não haviam interlocutores, e este aspecto em particular não cessou conforme meu trajeto de leictor se transitava da infância para a adolescência, e da adolescência para a fase adulta, em certo momento me dediquei a esquadrinhar com maior propriedade meu projeto autoral sistemático de leitura crítica, no afã em paradoxos do meu pós-modernismo, rebuscando a “leitura” monumental erradicada desde Hegel, o ultimo Ás da filosofia clássica metanarrativa, minha relação com as humanidades se consolidou com a minha obra ensaística. No sentido de consolidação linear, ou seja, somente um leitor exigente naturalmente de sua fruição imanente em dalgum momento escrevera, não há atalhos, ou hiperlinks ao menos não creio neles... Ler é o carnal escrever simultaneamente, e escrever é o ler encarnado consecutivamente em seu também. As Ciências Humanas têm como objeto de estudo a leitura/reescrita do homem, para além da dicotomia subjectiva ideológica.
4) Como você vê a literatura hoje?
Permito-me segmentar precedentemente esferas de compreensão sobre a questão, a saber: Literatura como fenômeno autoral, Literatura como materialidade física, e Literatura como fenômeno receptor, o fenômeno artístico insere-se na primeira esfera citada, como produção artística da subjetividade verbal discursiva humana, e em alguma medida na terceira esfera mencionada, pois o leitor ao assimilar este determinado substracto alquímico discursivo autoral, necessita dum exercício/experiência não passivo de recepção, ao desdobrar-se para além de si, num determinado laboratorial contexto com mecanismos autônomos de sentido, o intermédio para esta acção de via plural se encontra na segunda esfera, no objeto físico, porém a arte não impera nesta estância, e deveras impera o cardeal sistema frontispício nesta sazão a mercadologia, e embora seja este um conjunto ou conjuntura sistêmica como queiram, é oportuno refletir separadamente para após satisfatoriamente se abarcar-se o todo multiversalista, e não universalista, partamos primordialmente a tratar da mercadologia, compreendida no sistema editorial e seus amalgamas adjuntos na editora: Aquela quem faz a editoração do fenômeno autoral apreendido e findado num formato físico e implica certas resoluções para este objetivar, é necessário pensar num formato diferenciado para cada projeto, e num alinhamento condutor para tal, a figura do editor no pretérito cumpria entre suas funções/atribuições a edição literária, que por mais que se assemelhe em asseveração uma obviedade é necessário certas observações a respeito, a edição literária demandava a priori uma leitura crítica da obra, o editor era então o primeiro leitor critico, que antes de tudo indicava/norteava itinerários na revisão estética, e em precípuo se materializando na efígie do editor das revolucionárias revistas literárias, arqueologia vintage doutrora... Aonde o arcabouço do futuro livro se difundia, não há como não citar os editores/escritores em seus trabalhos de singular relevância, Pound notório por sua poesia, critica e tradução – exerceu com maestria esta função, ao editar um Eliot que era um outro do que viria a sê-lo, sobretudo na Terra Devastada ou outra intitulação a depender da tradução do original, este editor exercia e exercitava simultaneamente a sua escrita de certa forma na escritura do outro, compreendendo-a em seu âmago, para poder se posicionar em sua particularidade, esta é uma afiguração extinta no âmbito literário, porém como o fenômeno editorial se sistematizou e corporificou-se em empresas/corporações empresariais, se é dispensável que o editor tenha esta considerável perícia literária no corpo editorial da empreita comercial, contudo não é dispensável que um membro ao menos desempenhe esta função, não afirmo nesta conjuntura em certa mensuração complexa ,que as editoras ideais são aquelas que tem como editor um escritor ou um perito em leitura técnica, pode ser periculoso quando este escritor e leitor técnico não está satisfatoriamente separado de sua alçada, o problema que enfim perpasso e é pontual é a literatura enclausurada neste sistema definido como mero joguete mercadológico, simplória conjugação de encontrar e alocar nichos de leitura num público-alvo, isto sim me parece ser uma objetivação da arte (das mais nocivas), a arte como mero objeto de consumo perecível, e outro fator é predicado de observação, quando a editora em sua realidade jurídica se torna maior que o autor um ente físico, a exemplo é o que também ocorre em demasia com os concursos literários, quem pespega prestigio para ambas é o escritor e jamais o contrário, como sendo “ela” o veículo de legitimação qualitativa, ou seja, o que se realiza selecionado e disponível em sua “vitrine” de exposição é a verdade “infalível” e endossada da arte naquele momento histórico, e para esta vitrine (exposição) em sua ocorrência de legitimação pragmática se faz presente a função das livrarias, que na maioria absoluta dos estudos de caso pratica um desserviço para o mercado, detendo 50% do lucro no negócio livro sendo apenas um ponto de venda é no mínimo indecente, um aprisionar monetário desleal, tendo mais lucro que a editora e o escritor juntos, aquele que cria e aquela que viabiliza a criação para o público leitor, o que obviamente onera o valor do preço de capa, além das políticas equivocadas de leitura do governo, estigmatizando a casa editorial e o editor no rebuscar do alcance do preço de mercado competitivo, como o chiqueiro e o porco capitalista em sua bem-aventurança, quando a questão exige maior maturação de raciocínio, e nesta “trocação franca” a solução é uma medida anti-literária, a criação e livre fomentação do mercado de subliteratura, de venda fácil e cômoda, uma facilitação da leitura para leitores medíocres numa cultura imperativa de mediocrização, onde abundam best-sellers de hombridade duvidosas, já que sua qualidade e serventia é inquestionavelmente comprometida, nivelando a arte ao rés-do-chão dos anseios imediatistas autoindulgentes da população, uma galeria genérica e generalizante de autoajuda e seus subgêneros, religiosos e pretensamente religiosos, psicológicos e pretensamente psicológicos, fantasiosos que são cosplays do que outrora era um gênero meticuloso, pós-acadêmicos que são literatura/filosofia pop, enfim uma rede organizada e insidiosa de apropriação da terminologia artística/literária, e seu contrário também é verdadeiro e inda mais sintomático, o mercado de literatura marginal e beat, onde é árduo discernir o que é mais pitoresco Augusto Cury, Daniel Galera, Diego Moraes, Angélica Freitas, Marcia Tiburi (sua produção filosófica) ou Paloma Vidal, entre outro escrivinhadores midiáticos... Do qual pouca cousa se salvaguarda em literaturnost, e neste mercado/picadeiro da cultura do espetáculo e pedagogia da coerção o autor tem como partilha vexatórios 10% de direitos autorais, no que quando não um garboso best-seller, estará invariavelmente fadado a investir viciosamente em seu projeto autoral, numa mecânica logica de autosabotagem no mínimo, as academias que formam investigadores cientificistas, (ou deveriam) não os capacitam para além da lassidão displicente e insuficiência teórica de seus reduzidos recortes de formação, estes pesquisadores que não pesquisam, são apenas uma extensão do mercado, revelando o atestado protocolar do que está disponível e comodamente exposto na “vitrine”, e inda com uma óptica parca disto, autores diferençáveis não são desvelados, nesta “peneira dilatada”, nomes relevantes hodiernos não são estudados, apenas é exposto o senso comum refinado dos comentaristas canônicos, não havendo doutras pesquisas austeras em movimento, e estes pequenos feudos “panelinhas” autoreproduzem um discurso tendencioso e não imparcial, resultando num posicionamento mesquinho de secretarias de cultura e curadores de honrarias e distinções literárias, vislumbrando este cenário minha visão da Literatura nos dias de hoje não é promissora, há paradoxalmente mais escritores que leitores, que são escritores que não leem, e a canalhice já não é jocosa e sim obscena, grandes editoras publicando Big-Brothers com justificativas qualitativas unicamente, imagino (e quão bizarro é...) na cúpula destas corporações seus caça-talentos/caça-níqueis peneirando graciosamente Camões e Pessoas em reality shows, aliás as grandes editoras são omissas, acovardadas e perniciosas por não investirem nos novos autores, sendo estes os que detém a possibilidade real de efetivarem a renovação literária no país, quando apenas investem no lucro fácil, as pequenas editoras então assumem esta função mais por necessidade do que por insígnia de nobreza, mas por sua vez, vez por outra... São pequenas grandes aberrações a parte... Editores que são escritores diletantes que se imaginam Pounds promovendo a si mais do que seus escritores, praticando toda sorte de amadorismos, assumindo funções que não lhes cabem por não efetivarem uma equipe editorial, e escritores serviçais que os tem como redentores, em invólucros de mártir e um discurso messiânico cultural, a “panelinha” nefasta de curadores amigos uns dos outros no selo editorial da outra pequena editora, a outra da outra pequena editora publicando qualquer coisa para gerar receita, enfim... E o que o escritor que executa a legitima literatura tem e se situa nisto tudo? A parte isto... No orbital tenebroso do vácuo da criação, neste buraco negro onde o nada impera, e absorve tudo, e é como se nunca houvesse existido, pequenos acontecimentos auspiciosos em torno de obras relevantes são anuladas pelo nada do pragmatismo utilitarista, posso citar algumas pequenas façanhas vilipendiadas... O escritor que traduz um livro obscuro de Pound, que já pavimentou uma obra autoral de fôlego e crivo, o editor escritor que numa obra discute o que é autoral e intertexto numa recriação ilusoriamente apócrifa, e sua produção antecessora que para além das polêmicas se afirma, o escritor/inovador da sintaxe e rítmica poética da Geração 00 que foi descoberto/estudado no exterior e ainda não é satisfatoriamente reconhecido pelos leitores de sua pátria, o escritor pós-moderno que compõem épicos atuais em releituras elípticas e densas do logocentrismo e acumula todas as épocas em sua caligrafia, e é provável que um não conheça ou conheça superficialmente o outro, não por egocentrismo, mas por justamente haver esta dimensão paralela que obnubila a criação artística não categorizada, que também é muito provável que me apresentem cada um deles, pelo menos quatro grandes criadores contemporâneos que eu desconheça, e é fato de reflexão que o primeiro citado pública em edições limitadas de 80 exemplares, mesmo tendo o alcance do público acadêmico, se eu com minha Literatura obter a metade de leitores (estes seletos bons leitores) fiz e partilhei a parte que me cabe... Minha visão concluindo a sua questão caro escritor é apocalíptica, e é oportuno invocar o discurso de Glauber Rocha se sentindo marginalizado por não ver saída para o cinema nacional, que na verdade não se refere este somente ao cinema, nestes termos não há saídas imediatas para todas as artes... Vejo a literatura nos dias de hoje como uma aporia transmorfa...
5) O que (e quem) você leu/lê?
Considero a minha formação como leitor linear e não linear, na significação do canônico e do não reputado abalizado como pertencente ao cânon, contudo equitativamente arquétipo para a história sincrônica e diacrônica da literatura multiversal (já que a universal é um eufemismo eurocêntrico adentro a filosofia da história iluminista que perdura-se inda entre a teleologia...), transitando por nomes clássicos como: Petrarca, Homero, Virgílio, Dante, Milton, Camões, Goethe, Shakespeare, Baudelaire, Rimbaud, Blake, Keats, Byron, Pessoa, Haroldo de Campos, Jorge de Lima, Octavio Paz, Neruda, Pound e Eliot por exemplo (o que dá para formar uma ideia paradigmática). E autores como Mishima, Kawabata, Evola, Guénon, Bataille, Márai, Cioran que para muitos são obscuros ou subestimados. E entre filósofos como Platão, Aristóteles, Rousseau, Herder, Descartes, Hegel, Baudrillard, Lyotard, Derrida. E nomes contemporâneos como Flávio Viegas Amoreira, Dirceu Villa, Marcio-André, Luciano Garcez, E.M de Melo e Castro, Boaventura de Sousa Santos, Andreia Gavita, Karinna Gulias, Pedro Port, Victor Paes, Juan Toro e autores regionais do subúrbio como eu. Nomes como: Marcelo Torres, Clayton de Souza, Neres e Escobar Franelas. Os contemporâneos e os regionais citados estou em processo de assimilação/descoberta... Por imporem dificuldades autorais que lhe são próprias, que as vezes são estéticas tão intricadas e magnânimas quanto os canônicos... (A título de exemplo: Salutz a uma Dama Moura, “Edoardo , o Ele de Nós” e Intradoxos...).
(fim da 1ª parte)