Entrevistando Ísis Dumont

ENTREVISTANDO ÍSIS DUMONT
Miguel Carqueija


Nossa querida amiga Ísis Dumont mora em João Pessoa, Paraíba, e é das mais assíduas e brilhantes escritoras do Recanto das Letras. Hoje a trago em minha página, para uma importante entrevista que intento fazer. Vamos conhecê-la melhor!

1) Ísis, inicialmente quero que você se apresente aos nossos leitores, definindo-se como mulher, como profissional e como escritora.

Nossa, meu querido amigo, assim você me deixa quase flutuando (rsrs). Perdão por discordar de você, mesmo assim agradeço seu olhar de bondade, por visualizar esse ‘brilho’ em minha escrita ainda cheia de ‘arestas’ e até redundâncias.
Sou filha do amor entre um poeta e uma costureira. Tenho cinco irmãos. Nasci em um sítio (na Paraíba) pertencente aos meus avós maternos, onde vivi até completar 11 anos, quando perdi meu pai. No mesmo ano fomos morar em Natal/RN. Três anos após, voltei para morar com meus avós até aos 21 anos, quando casei.
Ah, se tivesse que responder questões como essas, há mais de dez anos, certamente não teria ‘muito’ para falar, ou teria, só que bem diferente... Foi-se o tempo em que eu não sabia, nem tinha coragem de falar de mim, falar da vida, dos fatos que permeiam ou circundam a existência, principalmente a minha rs. Sei que ‘nada sei’, mas a vontade de aprender é maior do que aquilo que, às vezes imagino saber. A maturidade não me trouxe apenas fios brancos, algumas rugas na face, mas experiência de vida, crescimento interior. Vivi momentos bem difíceis, eu diria quase insuportáveis... Mas, Deus, sábio como só Ele sabe e pode ser, não me deu nenhuma cruz, cujo peso fosse além das minhas forças, assim como não dá para os outros. De vez em quando faço uma ‘releitura’ do passado e percebo que o que foi ‘ruim’ nem foi tão ‘ruim’ assim. Resumindo: posso te dizer que aprendi a fazer do ‘limão uma limonada’ rsrs. Digo que vivo um triângulo amoroso entre eu, Deus e *você.* O próximo rs.
Sou uma pessoa feliz. Creio que aprendi (não sei como) a ser ‘resiliente’, antes mesmo de conhecer esse termo. E essa capacidade, a qual não ‘me’ chegou por acaso, nem tão pouco poderia ser presente de alguém, tem me proporcionado bem mais qualidade de vida rs. Tenho problemas, vivencio dificuldades como qualquer pessoa, mas não permito que interfiram tanto em meu bom humor, no apetite, nem no momento sagrado, a hora de dormir. Tudo que for negativo fica fora do quarto rs. Gostaria muito de poder dizer que sou realizada profissionalmente. No entanto, mediante o que vivi durante mais de três décadas trabalhando em escola pública, fica impossível afirmar que me realizei como educadora. Sou realizada e feliz como mulher, mãe e avó. Tenho quatro filhos e três netos lindos, os quais, amo intensamente! Considero-os como tudo de melhor, a maior recompensa de meu casamento. Como escritora aprendiz, apesar de ainda não haver publicado meu livro solo, sou feliz e quase realizada. Escrevo por amor, com amor e para o amor. Escrever é questão de sobrevivência. É meu hobby. Escrevo para viver, e talvez um dia eu viva só para escrever rs.
Irei morrer assim, escrevendo, rodeada de poemas, livros, computador etc. Mas, se um dia não puder mais escrever? Recitarei poemas para que alguém escreva. E se não puder falar? Ainda assim terei na mente a poesia que floriu meu viver. E se vier a perder a memória? Farei antes, com meus versos a decoração das paredes de meu quarto. E se por acaso não fizer? Terei certamente escrito esse desejo, logo, alguém irá fazer por mim rsrs.


2) O seu nome verdadeiro é Aparecida Ramos. Como surgiu o pseudônimo Ísis Dumont? Algo a ver com a Ísis da mitologia egípcia e com Santos Dumont?

Já tive a oportunidade de falar sobre isso quando publiquei no RL, há algum tempo a ‘biografia’ de minha personagem.
Quando fiz o cadastro no Recanto, em 2010, um tanto desconfiada das coisas da internet, não observei que o pseudônimo era/é opcional. Foi aí que tive a ideia de utilizar o nome de Isis (Valverde) e o sobrenome de (José) Dumont, ambos atores globais. Na época eu gostava da atuação da atriz, e pensei em homenagear o ator por ser o mesmo filho de uma cidade de minha região. Posteriormente pensei em substituir pelo meu nome verdadeiro, mas fui orientada por amigos/as do Recanto, a não fazê-lo. O público aprecia esse codinome, inclusive já recebi vários elogios. As pessoas gostam, acham bonito rs. Como pode ver, não tem nada a ver com Isis, a deusa egípcia, nem com o Pai da Aviação rsrs.


3) Quais os gêneros literários que você prefere?

Certo dia, li ‘Paredes vazadas’ de Roseana, conheci seu estilo poético diferenciado, livre de imposições gramaticais, foi aí que adquiri coragem para mostrar ao mundo meu primeiro texto: ‘Desejo’. Identifico-me com os gêneros lírico e narrativo. No entanto, estas preferências não significam que eu não escreveria também usando o gênero dramático. Qualquer dia desses irei tentar, não custa nada rs.

4) Examinando sua escrivaninha no Recanto das Letras, constato que você é bastante eclética, assinando contos, poesias, crônicas, letras de músicas, discursos, textos infantis e outras modalidades. O que você prefere escrever, onde se sente mais realizada?

Se você observar (em meu perfil) irá constatar que existe mais poesia (atualmente 571 publicadas) do que qualquer outro texto. Apesar de escrever algumas ‘variedades’ textuais conforme você relacionou, eu me realizo escrevendo poesia. Porém, os contos/crônicas também estão no rol de minhas preferências.

5) Quais os seus autores favoritos, no Brasil?

São vários, entre esses Clarice Lispector, Cora Coralina, Cecília Meireles, Roseana Murray, Lia Luft, Adélia Prado, Drummond, Quintana, Vinícius (o Poetinha), Graciliano Ramos etc.

6) E entre autores do Exterior?

Fernando Pessoa, Florbela Espanca, William Shakespeare, Neruda etc.

7- Ísis, sabemos bem que grande crise política, social e econômica o país atravessa, e que é também uma crise moral. Você já esteve na política. Esta atividade, que devia ser vista como uma missão em prol do povo, para muitos é apenas uma sinecura e por isso o povo anda tão desiludido em relação aos políticos. Como você vê esta situação?

Com tristeza, decepção, vergonha! Não estudei ciências políticas, nem sociologia, mas acredito que: ‘Política é a arte de servir. É a oportunidade aliada à capacidade de melhorar a vida das pessoas, gerindo da melhor forma possível os recursos públicos. É o trabalho realizado em prol do coletivo. Não aceito nem compreendo os absurdos que acontecem em nome da política. O que acontece de ‘podridão’ no Congresso Nacional, de alguma forma reflete no país inteiro. Falta consciência política e cidadã na grande maioria do eleitorado. Como entender (a cada eleição) que o voto seja utilizado por milhares e milhares de brasileiros como ‘moeda de troca’ e não como instrumento capaz de fazer as transformações que a sociedade precisa? O que esperar de pessoas que se elegem pensando em primeiro lugar, em seus próprios interesses, em se dar bem na vida? O que muitos candidatos fazem em época de eleição é vergonhoso, absurdo, imoral! Prega-se falsos discursos, planos de ‘governo’ que nunca chegam a se realizar, alguns, nem mesmo parcialmente. Mentem desavergonhadamente! E muitos eleitores são também corruptos quando buscam ‘tirar’ dos candidatos, inclusive o que eles não têm ou não deveriam oferecer. O candidato CORRUPTO encontra no eleitor corruptor ou vice-versa a condição favorável, o meio para se eleger sem necessitar de conhecimento nem de esforços para representar a população. Sinceramente não creio que essa triste realidade possa mudar um dia. O sistema funciona dessa forma há séculos, ainda que muita coisa tenha mudado. Quando alguém ‘menos ruim’ chega ‘lá’, não pode fazer muita coisa, porque as estruturas estão podres e comprometidas. Não existe mais o voto de cabresto, mas de uma só vez, engana-se milhares, milhões, através das mídias, coisa que não existia antigamente. E assim segue a vida, nas grandes cidades, obras grandiosas, algumas inconclusas, grandes fraudes em licitações, propina para o ‘Sicrano e Beltrano’ etc. Nas pequenas cidades a vida parou. Mantém-se os serviços básicos, por vezes, pouco eficientes; aplica-se, em muitas situações a lei das conveniências partidárias. Pessoas, antes ‘sem quase nada’ sobem de padrão rapidamente, e o povo fica a ‘ver navios’, conformado com algumas migalhas que caem das mesas, senão houver cães para comer. Entretanto, salvem-se as exceções. Nem todo político é desonesto ou mal intencionado, felizmente.

8) Fale, por favor, de seus gostos em matéria de cinema.

Curto filmes românticos, de guerra, sobre crimes, de história, biografias, clássicos etc.

9) E quais os tipos de música que prefere, além de compositores e intérpretes?

Música romântica (obviamente rs), sertaneja, e todos os ritmos desde que não sejam ‘vulgar’, nem as que fazem apologia às drogas, à violência nem a qualquer tipo de preconceito.
Sou fã de RC, Maria Bethânia, Caetano, Ana Carolina, Paula Fernandes, Tim Maia, Simone, Milton Nascimento entre tantos outros.


10-Como você vê a situação da literatura em nosso país?

“ Somos um povo que não gosta de ler”. Lembro que já li ou ouvi algo do tipo... Confesso que não concordo com esta afirmação. É bem verdade que muita gente, por motivos diversos não possui o hábito de ler. Mas, em contrapartida, existe muita gente que escreve. Quanto à publicação, já foi muito mais difícil, porém, com a chegada da internet ficou mais fácil a propagação da literatura. Hoje existe também muito mais facilidade para se encontrar editoras que se interessem e promovam as publicações. Isso tem contribuído para o aumento nos índices (das publicações) em nosso país. Logicamente não devemos pensar em ‘ganhar dinheiro’ quando escrevemos, ou quando sonhamos em publicar. Mas o fato de poder exteriorizar o que sentimos, divulgar nossos pensamentos e ideias, nossas opiniões, interagir com o público, adquirir mais conhecimento, pode ser mais prazeroso do que ‘lucrar’ com as vendas de livros, se fosse o caso. Esta é minha maneira de pensar rs. Por outo lado, é bastante lamentável que nem todas as camadas da sociedade tenham acesso à literatura, nem às artes em geral. Para formar bons leitores é imprescindível incentivar as crianças. No ambiente familiar muitos não o fazem. Muitos pais ou responsáveis têm baixa escolaridade, outros não têm tempo, ou não dão importância, deixando a responsabilidade a cargo da escola, que por sua vez, sem a participação da família não pode fazer muito.
Tive a oportunidade de conhecer a Bienal Internacional do Livro em três capitais diferentes: Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. Confesso que fiquei encantada, não somente com a facilidade para adquirir livros, através de baixo custo, mas principalmente em ver como a população (de todas as idades) frequenta a feira, e praticamente todo mundo sai levando livros para casa. Pena que isso só acontece nos grandes centros.


11- Seu estilo transmite amor e tranquilidade. Em seu perfil no Recanto, por exemplo, você diz coisas tão belas como: “Quero permanecer por toda minha vida sendo fonte acessível dos sentimentos bons. Quero continuar sendo ponte que aproxima, que reúne esforços para unir, sem jamais ser muro que separa, intriga, faz alguém sofrer.” É de sua fé que vêm estes sentimentos tão elevados?

Em grande parte, sim! Deus é meu norte, meu farol, meu ponto de partida e de chegada. E no meio, Ele ainda me toma pelo braço e me conduz sobre a ponte, ou pelo deserto que preciso atravessar. Digo que não deixei de ser ‘árida’rs, mas, minha espiritualidade aliada à escrita fizeram de mim alguém um pouco ‘refinada’ rsrs. Tenho muitos defeitos, minha condição humana me faz suscetível aos erros como qualquer outra pessoa, mas sei também que preciso fazer as coisas de modo correto. Acredito que evoluí interiormente. Não sou a mesma de antes. Minha maturidade me preparou para saber pedir desculpas ou perdão frente a quem quer que seja. Não guardo mágoas nem ressentimentos de ninguém. Se por um lado não é difícil magoar meu coração sensível, por outro, para mim é muito fácil perdoar, mesmo se a pessoa não reconhecer o erro, nem pedir perdão. Assim vivo feliz, de alma leve e coração transbordante de amor, de afeto, de sensibilidade. Aprendi a compreender e a valorizar mais as pessoas. Acredito no potencial de cada ser humano. Acredito na chama do bem que existe, inclusive oculta, disfarçada no íntimo das pessoas, independente do que façam. Aprendi a ver o mundo com os olhos do amor.

12-Finalizando, quero deixá-la à vontade para as suas despedidas e qualquer mensagem que você deseje passar aos leitores. Um beijo carinhoso para você, Deus a abençoe e aos seus entes queridos.

A você, querido amigo Miguel Carqueija, meu mais sincero e maior: MUITO OBRIGADA!! Não imagina o quanto me proporcionou em aprendizado tendo lido suas Obras recentemente. Isso é maravilhoso, prazeroso, não tem preço! E nesta entrevista poder compartilhar, dividir com o público meus pensamentos, minha maneira de ver a vida, de viver e de conviver com as pessoas e com Deus, é um momento ímpar, relevante!
Que Deus abençoe você e seus entes queridos!
Aproveitando o momento quando amanhã será dezembro, último mês do ano, em que iremos mais uma vez celebrar o Natal de Jesus, eu quero deixar uma pequena mensagem para os leitores e amigos:
Que possamos refletir mais sobre nossa condição humana, sobre o amor que não vivemos, não partilhamos. Que as omissões sejam menores e o perdão seja dado todos os dias. O mundo teria jeito se vivêssemos o verdadeiro amor. Apesar disso, não custa nada tentar viver ‘diferente’ e fazermos o nosso mundo o melhor possível. Quando vemos tantos acontecimentos terríveis acontecendo no Brasil e no mundo, eu acredito que não é difícil ser de Deus, porque as coisas neste plano, o ‘restante’ é irrelevante! Desculpe-me, eu sou assim, sonhadora rs.
Que Deus abençoe proficuamente a todos nós, nossas famílias, projetos e sonhos!
Feliz Natal e um Ano Novo pleno de paz, alegria, saúde e felicidades!!
Por:
Ísis Dumont
Isisdumontprosaeverso.net






Nota: por razões de tempo a entrevista, iniciada em agosto e completada em dezembro, só agora foi revisada para publicação.
Miguel Carqueija e Ísis Dumont
Enviado por Miguel Carqueija em 09/01/2016
Código do texto: T5505536
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