Opinando e Transformando - Kleber Branquinho Adorno
Nome: Kleber Branquinho Adorno
Breve Currículo: Advogado, professor, pró-reitor de Cultura do Centro Universitário de Goiás.
Reside: Goiânia (Go)
Em sua opinião, o que é cultura?
A principal dificuldade ao se tentar entender o que é cultura é pensar o conceito em sua diversidade, vez que, em seu sentido vasto, remete aos modos de vida e de pensamento. Historiadores modernos basicamente abordam dois aspectos para o entendimento da cultura: o resgate do popular e a busca do coletivo de forma a articular os mecanismos mentais em um imaginário de base histórica. Ginsburg trabalhava o conceito de cultura sob a dicotomia do erudito e do popular e foi contrariado por Chartier. Gosto muito da abordagem de Peter Burke, ao entender a cultura como campo de possibilidades ele utiliza os dois conceitos lançando nova luz aos novos historiadores culturais, que passam então a utilizar as relações econômicas, sociais e mentais como campos de práticas e produções culturais. É a cultura que permite ao homem adaptar-se ao seu meio e também adaptar-se ao próprio homem, às suas necessidades e seus projetos.
Você se considera um difusor cultural?
Tive oportunidades de, como político, ter uma participação efetiva e visível na cultura goiana e também sou escritor, trabalho na área cultural dentro de uma instituição de ensino superior, incentivando, promovendo e difundindo ações culturais, então, sim. Considero-me um difusor cultural.
Qual é o seu papel neste vasto campo da transformação mental, intelectual e filosófica?
Nunca temos um único papel. São vários e de acordo com a posição do momento. Acho que tive um desempenho satisfatório enquanto secretário de cultura no sentido de articular e lançar as bases de uma política cultural para todo estado e, ao mesmo tempo, despertar para o fato de que cultura é direito previsto na Constituição. Importante é pensar à frente de seu tempo e entender que políticas públicas culturais não são políticas de governo, mas devem ser de Estado, independente de quem está na gestão.
Como você descreve o processo de aculturação, ao longo da formação da sociedade brasileira?
Quando usamos o termo aculturação, pensamos imediatamente na cultura sob o ponto de vista social. É o resultado do encontro entre duas ou mais culturas e pode acontecer de uma cultura se sobrepor à outra, bem ao pensamento de Ginsburg que as denomina de dominadora e dominada. Vejo de forma diferente, não há como uma cultura não receber influência da outra, seja ela dominadora ou dominada.
A cultura liberta ou aprisiona os indivíduos?
Depende do olhar que se tem da cultura. Se pensar na cultura como forma estática de sentir e pensar ela aprisiona. Mas se pensarmos nela, sob a ótica de Burke, como um campo de possibilidades, ela liberta.
Que problemática você destaca na prática da difusão cultural?
O que percebemos hoje é que os meios de comunicação de massa ditam formas de pensar e agir padronizadas. A presença dos veículos de massa nas sociedades modernas provoca impactos, quer com relação aos modos de ver e se sentir dos grupos humanos (cultura), quer influenciando as mais variadas práticas sociais.
Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância no cenário cultural brasileiro e mundial?
A internet está democratizando o acesso a diferentes culturas. Acho isso muito bom. Aos poucos todos compreenderão a importância de divulgar sua aldeia e ao mesmo tempo se sentir conectado com o mundo todo. Não teremos como fugir da globalização. Isso é fato. E os comportamentos econômicos da cultura também vão se transformando. Antigamente você precisava ter dinheiro para comprar um disco e ter acesso à música que gostava na hora que queria. Hoje você baixa na internet, sem que esteja cometendo crime de pirataria. Não são poucos os casos de pessoas que ficaram famosas primeiro na internet. Podemos ver programas de televisão correndo atrás de celebridades da internet. Tudo isso é sintomático e passível de estudo e observação.
Qual mensagem você deixa para todos os fazedores culturais?
Que continuem fazendo, que busquem alternativas nas novas mídias para se divulgarem, que descolem da mão do governo, mas se tiverem oportunidade, usem tudo que o governo dispõe. E no mais, sucesso!