Entrevista de Mauricio Duarte a Sayd Alcântara

Qual sua principal inspiraçao para escrever e por que?

O universo pop, com histórias em quadrinhos, desenhos animados e cinema sempre exerceu grande influência em mim quando eu era mais jovem. Eu era fã de histórias em quadrinhos de super-heróis,
mas recentemente a espiritualidade tem ganhado terreno nesse meu imaginário. Eu sou neossanyasin e medito frequentemente, além de rezar orações católicas. Fora isso, o próprio cotidiano e a beleza
de estar vivo me estimulam e me fazem escrever poesia e prosa com entusiasmo.

Tem alguma base para escrever?

Eu quase sempre faço pesquisas antes de começar a escrever. Essas pesquisas podem ser rápidas ou muito demoradas, depende do que eu me proponho. Por exemplo, para o romance que eu escrevi no Núcleo de Literatura da Câmara dos Deputados de Brasília no Desafio dos Escritores, o livro Os Arcanos, eu tive que fazer uma pesquisa grande sobre lugares de Juazeiro do Norte e regiões próximas. Falando sobre minha formação, eu fiz o curso de Produção Textual na Editora Canteiros de Maricá, com a poetisa Maria Regina Moura, o que me ajudou muito a desenvolver minha técnica.

Por que escolheu uma cidade do interior para cenario do seu livro? Teve algum impeçilho ou problema ao escrever?

Como eu disse o romance Os Arcanos foi realizado dentro do programa do Desafios dos Escritores com a coordenação do professor Marco Antunes, sendo que o tema, o ambiente e algumas peculiaridades já estavam definidas antes de eu começar a escrever e o coordenador teve que encontrar um escritor que se encaixasse nesses parâmetros. Por exemplo, eu tinha escolhido na pré-apresentação, escrever um texto próximo ao estilo de Paulo Coelho, místico, filosófico
e/ou religioso numa ficção. Juazeiro do Norte, desse modo, já estava escolhido.
Quanto aos impecilhos, um deles foi o de que o Desafio se chama "Romance Brasil - Para mim basta um dia" porque justamente o romance todo tem que durar um dia da vida do personagem principal, que é o Nonato, um devoto que se torna santo na sua caminhada espiritual, como no livro Ulisses de James Joyce. Por isso, toda a narrativa teve que girar em um só dia, claro que um dia de ficção, onde
acontecem coisas significativas a toda hora, ao contrário de um dia nosso onde muitas coisas sem importância acontecem.
Mas a partir disso eu tive que fazer uma continuidade de horas em todo esse dia, o que não foi tão fácil. E também eu tive que escrever o romance sem ter conhecido Juazeiro do Norte, o que demandou muita pesquisa a mapas, internet, livros, enfim, dados que serviram para detalhar e enriquecer o texto.

Foi bastante inspirador escrever sobre a cultura do povo nordestino?

Para mim foi muito bom, porque meus pais e toda a minha família é da Paraíba, João Pessoa e proximidades. Foi realmente uma volta às origens, porque embora eu tenha nascido em Niterói - RJ e só tenha ido em João Pessoa duas vezes quando eu era criança, a cultura do Nordeste me fascina muito. A religiosidade vivida à ferro e fogo, a acolhida aos que vem de fora, a sabedoria do povo, tudo isso me empolga bastante e eu pude saber de curiosidades como o fato de que o Juazeiro é uma árvore, o pé de Juá, e de comidas típicas como rapadura, por exemplo. Sobre essas curiosidades eu pude conversar com meu pai e minha mãe longamente.


Pretende seguir publicando mais livros sobre o tema ou pretende dar uma mudada no estilo?

Acredito que a partir de agora eu tenha conseguido uma voz dentro do gênero romance e uma voz também dentro da poesia.
O tema místico me atrai bastante e eu estou voltando à esse tema de forma reconrente tanto nos versos quanto na prosa.
O que pode mudar na minha trajetória literária é a abordagem desse assunto, que de agora em diante talvez seja menos narrativo no exterior e mais psicológico, mais do interior dos personagens, coisa aliás, que eu já fazia, mas que por um motivo ou outro, não tomava forma tão acentuada quanto eu estou pretendendo hoje.

Antes de escrever sobre o tema, você ja tinha tomado conhecimentos sobre?

Como eu comentei sou neossanyasin a partir do OSHO e também sou um "católico independente". Já frequentei a Sociedade Teosófica,
convivi com pessoas da Ordem Rosacruz e já li muito sobre espiritualidade. Sem contar que medito e oro frequentemente, tendo
adquirido experiências na prática do que é ser alguém espiritualizado nos dias de hoje. O tema social e da marginalidade, das pessoas necessitadas me mobiliza muito, até o ponto de eu ter me tornado anarquista, coisa que eu já não sou há algum tempo. Mas atualmente vejo que desenvolver a própria espiritualidade é a única forma de superar os problemas sociais. Não há caminho fácil para essa superação, nem caminho "mais racional" com uma ideologia, uma metodologia ou uma filosofia. Isso tudo dá errado. A consciência
tem que vir de dentro. Ou vem do coração, ou vem da alma, de dentro para fora, ou não vem.


Para terminarmos, tem alguma mensagem para seus leitores e futuro leitores?

Agradeço a oportunidade de contar um pouco sobre meu trabalho literário e gostaria de dizer que antes de ser um escritor, poeta e romancista, sou um leitor. Na minha juventude, ávido leitor de histórias em quadrinhos de super-heróis e hoje de livros. Ler é viajar na própria imaginação e é uma experiência única que nos torna melhores quando sabemos viver e conviver com nossa personalidade (persona - som que vem da máscara) e transcende-la para sermos seres humanos plenos e unos com o universo.
E para os autores iniciantes: se a sua personalidade valer a pena, tudo o que você fizer também vai valer a pena.
Portanto cultive com carinho a sua personalidade até para algum dia, quem sabe superá-la e tornar-se um leitor e autor de sucesso e, antes disso, alguém íntegro e sábio. Paz e luz.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) e Sayd Alcântara
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 23/09/2015
Reeditado em 19/07/2016
Código do texto: T5392151
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