Opinando e Transformando - Egidio Trambaiolli Neto
Nome: Egidio Trambaiolli Neto
Breve Currículo: Pedagogo, Químico, Matemático e Bioquímico. Autor de mais de 150 livros nas mais diversas áreas. Editor de livros. Roteirista. Poeta. Empresário e Head-hunter do segmento editorial.
Reside: São Paulo - SP
• Em sua opinião, o que é cultura?
Cultura é um conjunto de saberes arraigados que se ramifica em todas as extensões do conhecimento humano, suas crenças e costumes, suas manifestações artísticas, seus padrões e regras que se conjugam. É um pouco do eu compartilhado com todos vocês.
• Você se considera um difusor cultural?
Sim, procuro não só difundir por meio de minhas obras e ações, mas também pela condução de pessoas para que encontrem esse rico universo muitas vezes marginalizado pelos poderes.
• Qual é o seu papel neste vasto campo da transformação mental, intelectual e filosófica?
Por fazer parte do meio cultural, tenho a obrigação de usar os instrumentos disponíveis para que as pessoas adquiram cultura. Meu papel de head-hunter também está diretamente relacionado essa proposta, ou seja, não apenas em disseminar a cultura, mas também alimentá-la com novos talentos que não precisam mais do que chances para prosseguir nessa disseminação e na busca de outros criadores de cultura.
• Como você descreve o processo de aculturação, ao longo da formação da sociedade brasileira?
Infelizmente o poder público tem a máquina a seu favor e isso permite uma manipulação do que se quer que o povo absorva. Povo inculto é ideal para a manipulação, logo, permite aberturas para a contracultura, de modo que as “modinhas” virem febre a custas do detrimento do que realmente alimenta os saberes. Todo mecanismo da manipulação cerebral está diretamente relacionado aos condicionamentos pavlovianos: toda vez que se toca a sineta, o cão saliva. Em outras palavras, por exemplo, toda vez que se toca uma música com apelo sexual, as pessoas se deixam levar pelo instinto animal em danças que simulam explicitamente coitos e até sodomia. É lamentável ver como a mídia promove essa contracultura. Os canais abertos de TV, por exemplo, entram no jogo do massacre intelectual por interesses financeiros e políticos, por isso, emissoras como a TV Cultura, considerada no ano passado como a segunda melhor do mundo, está prestes a fechar as portas em São Paulo, em razão da displicência do Governo Estadual de Geraldo Alkimin, que não fornece verbas para mantê-la funcionando, promovendo cultura. Gastam-se bilhões em eleições e desviam-se muito mais bilhões para outros setores e alimentar a corrupção. Claro, um povo alienado não sabe ou não se preocupa em votar, não consegue ter a perspicácia de enxergar as manipulações e intenções de desvios de verba. E assim a prática da aculturação cumpre sua triste missão de “emburrecer” a sociedade.
• A cultura liberta ou aprisiona os indivíduos?
A cultura é a alforria do ser humano. Cultura e Educação andam de braços dados. Quem se nutre de conhecimentos torna-se culto. Dizer o contrário seria uma heresia. Se ela aprisiona é de um modo positivo, despertando um vício também positivo, que é o desejo de querer saber mais. Inteligentemente, quando Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, integrantes do grupo Titãs compuseram a música “Comida”, expuseram a nítida necessidade do povo pela comida, mas também pela cultura e pelo lazer, algo explícito no trecho: “A gente não quer só comida/A gente quer comida, diversão e arte”. Logo, a cultura é uma necessidade primária do ser humano, dizer o contrário é disseminar a involução da espécie humana.
• Que problemática você destaca na prática da difusão cultural?
O descaso do poder público. Recentemente tivemos investimentos do Ministério da Cultura em projeto de Torcidas Uniformizadas, algo questionável, uma vez que a maioria dos eventos envolvendo drogas, violência e morte de torcedores e até de pessoas que sequer se envolvem com o futebol estão associados às torcidas uniformizadas. Em contrapartida, grandes projetos culturais permanecem parados a espera de recursos ou recebem migalhas para sua produção. Isso dificulta a difusão cultural, isso empurra o povo para o abismo da contracultura.
• Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância no cenário cultural brasileiro e mundial?
O espaço digital é uma faca de dois gumes, a Internet tem seus prós e contras. Ao mesmo tempo em que facilita a divulgação, ela pode possibilitar transgressão das leis do direito autoral, com a pirataria. Quanto ao lado do marketing, o espaço digital tornou-se um enorme aliado, mas com a pirataria, transformou-se em um recurso alienado. Hoje o espaço digital tem uma importância fundamental, permite ao desconhecido se tornar famoso, mas também pode transformar um simples erro em um fracasso sem igual. Não tem mais como disseminar a cultura sem pensar no uso dessas mídias, seria remar contra a maré em dia de tempestade. Mas, é preciso ponderar e deixar o bom-senso ser o fiel da balança quando se usa esse recurso midiático-promocional.
• Qual mensagem você deixa para todos os fazedores culturais?
Vocês fazem parte das engrenagens que movimentam a máquina do pensamento, do conhecimento, dos saberes, do crescimento humano. Cada pessoa que consegue fazer cultura constrói a escada intelectual do cidadão crítico, pensante e sedento por novas manifestações culturais. Portanto, sua importância é vital. Sei que por vezes e muitas vezes mais falta óleo nessa engrenagem, não só para facilitar seu funcionamento, mas de todo o mecanismo intrínseco. E aí esforço tem de ser maior, mas lá na frente, cada cidadão resgatado do ostracismo cultural é a representação de seu trabalho bem feito.
Em resumo, não desistam dessa luta. É você quem alimenta a esperança de um Brasil melhor.