Compartilho a entrevista abaixo concedida ao SEEPE (Sindicato dos Enfermeiros no Estado de Pernambuco).
A entrevista tem perguntas desafiadoras sobre arte, saúde, enfermagem, sus, políticas públicas e muito mais.
Apresentamos respostas fundamentais.
Entrevista importante para fundamentar a arte da enfermagem como ciência, saber e práxis.
Apresentamos respostas fundamentais.
Entrevista importante para fundamentar a arte da enfermagem como ciência, saber e práxis.
Boa leitura!
LINK DA ENTREVISTA - http://www.seepe.org.br/index.php?categoria=noticias_principais_02&codigo_noticia=10062015092412
Onã Silva por Onã Silva
“Tenho a essência poética. Nasci em dia primaveril, por isso eu amo as letras, as palavras, as flores, a vida! Minha terra natal é a cidade Goiana de nome Posse. O fato de ter uma infância cercada de aventuras, imaginação, alegria e a vivência em ambiente da natureza, certamente foram influências que me ajudaram muito no desenvolvimento das minhas potencialidades e do meu lado de poetisa-criativa. Atualmente, resido no Distrito Federal, lugar que me enche de inspiração, desde a concepção concreta e, principalmente, o cenário ímpar dos ipês floridos. Sou casada e mãe de um lindo garoto de cabelos cacheados: o anjinho minho. Sou uma enfermeira-educadora, cujo deleite é escrever versos, crônicas, romances e muitas palavras”. Em 2013, recebi o título de recordista, homologado pelo RankBrasil como a 1ª escritora a publicar livro sobre histórias da enfermagem utilizando a literatura de cordel.
Olá, Onã Silva conte-nos como surgiu essa ideia de unir saúde e cultura ?
Desde o Curso de Graduação que entendi a máxima: a enfermagem é ciência e arte!
A partir de então, desde o campo formativo que já comecei a trajetória de vivenciar a enfermagem como ciência e arte. Toda ação cuidativa – do estudo à prática – procurei desenvolver baseando-me no cuidar sensível: com arte, poesia, cultura. De forma integral.
Para fundamentar esta união – saúde e cultura –, cursei Faculdade de Artes Cênicas, e,complementarmente, Mestrado e Doutorado na temática da criatividade.
Assim, tracei o meu caminho na enfermagem: trabalhando de forma integrada e integradora com outras áreas do saber, como a literatura, arte, educação; dialogando saúde e cultura.
Já se passaram alguns anos trilhando neste caminho da inovação, humanização e arte da enfermagem. Não me sinto nem cansada, nem arrependida. Confesso que NÃO voltaria no tempo para atuar como enfermeira de outra forma. Sou semeadora de saúde e cultura!
Qual a ligação existente entre saúde, cultura e enfermagem?
A essência da profissão de enfermagem é o cuidado ao ser humano, de modo integral. Trata-se do cuidar que promove, previne, reabilita e recupera a saúde na perspectiva criativa, lúdica e humanizadora. Ou seja, o cuidar que recorre à cultura dos cuidados, tornando-se arte na medida em que há interação entre quem cuida e quem é cuidado.
Este é o paradigma da enfermagem contemporânea, que se apresenta como prática e realiza transformações no contexto social. E a cultura está envolvida neste processo.
Considerando que o mundo é dinâmico – e envolto de complexidade –, a enfermagem atual precisa, diariamente, de muita criatividade para a produção do cuidado e, nos distintos cenários, intercambiar os seus saberes e ser reconhecida na sociedade.
Por isso, a tríade saúde, cultura e enfermagem se convergem: é pura arte no saber e práxis!
Nesta sua atuação, consegue desenvolver esse modelo de atenção à saúde com bases democráticas na nossa sociedade?
A despeito de estar expresso na Carta Magna “todos são iguais perante a lei”, sabemos que os determinantes sociais influenciam na igualdade de direitos, tais como saúde e cultura.
Na Constituição Brasileira existe o conceito inovador de que a saúde é fruto de vários aspectos – incluindo a cultura, da promoção à reabilitação da saúde -; por isso, há importância e demanda de inclusão e acessibilidade cultural nas redes de atenção à saúde.
Assim como a produção da saúde, os bens culturais ainda não são acessíveis a alguns segmentos populacionais. A cultura e a saúde, unidas, podem contribuir para diminuir as desigualdades sociais.
Tenho desenvolvido projetos culturais visando fomentar a acessibilidade cultural em prol da democracia. Meu trabalho de arte na enfermagem é um exercício de cidadania.
Considera que este trabalho tão rico que vem desenvolvendo ao longo da sua carreira pode ser estendido às outras regiões brasileiras?
Sem dúvida alguma. As concepções e os objetivos do cuidar que realizo “podem” e “devem” ser levados, divulgados e intercambiados entre as regiões. Simbora, levar arte da enfermagem “brasis” afora, aqui, ali, acolá. Sempre! Pois a produção da saúde é contínua, via arte do cuidar.
Nas minhas possibilidades, nos meus sonhos e projetos, está a ampliação de trabalho que envolve a convergência necessária à saúde humana: a arte na cultura dos cuidados.
Posso citar, por exemplo, um projeto atual e em desenvolvimento. O nome deste projeto hoje soa e ressoa no Brasil. É o livro Enfermagem com Poesia: a arte sensível do cuidar, que reúne 30 atores de enfermagem de diversos estados, sendo um participante da Espanha. Estamos espalhando no Brasil e no exterior o cuidado de enfermagem de modo sensível e poético.
Ou seja, já não é mais um projeto de utopia. Estamos na história da cultura dos cuidados.
Ao unir cultura e enfermagem, considera que as pessoas atendidas podem ser beneficiadas?
Defendo que a aplicabilidade do cuidado à saúde envolvendo arte e cultura tem implicações relevantes. As pessoas que recebem cuidado integral da enfermagem são beneficiadas, sim.
Existem estudos sobre os benefícios inequívocos à saúde humana promovidos pela criatividade, ludicidade, arte e demais aspectos que emergem destas ações cuidativas. Por isso, este olhar e práxis desta natureza é condição sine qua nonnas ações dos profissionais de enfermagem.
E qual o papel da cultura nas práticas da enfermagem? Como se dá esse relacionamento entre esses dois segmentos?
No meu pensar, os saberes e as ações da enfermagem emergem da cultura dos cuidados. Sou, inclusive, autora do seguinteartigo – premiado no Brasil e publicado na Espanha –, que fundamenta esta questão: “Liricidad y toque de arte para la producción del conocimiento estético de enfermería una reflexión poética inspirada en la Teoría de la Complexidad. Cultura de los Cuidados, v. 1, p. 14-29, 2014”.
A arte e a cultura sempre existiram junto com a enfermagem. São complementares. Jamais excludentes. A ação cuidativa da enfermagem requer saberes, práticas, inovações, trocas e muitos elementos existentes na dimensão da complexidade, onde habita o cuidado.
Na sua visão, o agregamento da saúde à cultura e à enfermagem promove qualidade de vida? Como
A enfermagem tem realizado avanços históricos como a rupturado modelo biológico, transformando o cuidado pela integralidade e ações multidisciplinares, criativas e lúdicas. Saúde integral solicita cultura; e cultura promove a qualidade de vida.
Naminha trajetória profissional, venho pesquisando, estudando e realizando ações nesta direção. Ou seja, ações ativadas pela cultura, pró-desenvolvimento do potencial criativo do profissional de enfermagem e das pessoas que recebem atenção à saúde.
Sem dúvida, tem a função de influenciar positivamente na qualidade de vida, na medida em que as pessoas possuem potenciais criativos inatos e, ao desenvolvê-los, gera saúde mental.
Há como se falar de cultura, saúde e enfermagem sem considerar as políticas de saúde?
Considerando que a saúde é um bem produzido e fruto de diversos aspectos – inclusive a participação e corresponsabilidade de todos os envolvidos –, resta claro que está diretamente ligada às políticas de saúde e intersetoriais, educação e cultura, por exemplo.
As políticas públicas de atenção à saúde enfatizam ações integrais dos profissionais, incluindo projetos culturais no contexto hospitalar e na rede básica de saúde.
Destarte, os projetos que envolvem saúde e arte precisam estar relacionados àsdiretrizes de algumas políticas públicas, tais como Humanização Hospitalar (PNH), Promoção da Saúde (PNPS), Educação Popular (PNEPS), Educação Permanente, e outras.
É possível levar a junção da saúde, da cultura e da enfermagem ao SUS?
Com certeza. Existe um “cadinho” de tempo que estou contribuindo para fortalecer o SUS por intermédio da arte, atuando como enfermeira-artista, nascendo e renascendo no meu ideal e na essência do fazer enfermagem “pela” e “com” arte.
Onde tem enfermagem e cuidado à saúde eu levo a arte. E o contexto do SUS é um rico cenário de inovação, e tenho deixado algumas marcas poéticas-estéticas-criativas e lúdicas.
Meu currículo de vida profissional foi construído por atividades e experiências de promoção à saúde, mediadas pela arte e criatividade. Onde? Na maioria das vezes, no contexto do SUS.
E como a comunidade enxerga esse seu trabalho – tanto a categoria dos enfermeiros, quanto as demais?
Com a mudança paradigmática de produzir saúde mediada pela integralidade, o meu trabalho vem se tornando mais claro e fortalecido – acredito!
Atuar de forma lúdico-criativa requer este pensar integral. Assim, a comunidade vai enxergando e entendendo que o trabalho que realizo está fundamentado na essência do cuidar – que é a arte –, bem como alinhado às políticas públicas. Utilizo referencial teórico-metodológico.
Sou uma trabalhadora! Em exercício constante: pesquiso, estudo e publico. São várias lutas e conquistas também. Não temo desafios. Sou arretada, organizada, responsável e extremamente dedicada no meu trabalho. Recebo convites e solicitações para palestras e oficinas diversas, para o público de enfermagem e de outras áreas.
Tal movimento, podemos chamar de reconhecimento? A comunidade tem enxergado a inovação e o ineditismo do meu agir? Dentre as respostas está o projeto literário Histórias da Enfermagem no Universo de Cordel, que me rendeu o título de recordista, pois sou a 1ª escritora a escrever histórias da enfermagem cordelizadas.
Outras respostas é que tenho sido premiada em trabalhos que apresento com inovação e popularização da ciência. Vejo segmentos que têm se sensibilizado para o meu projeto de viver enfermagem. E agradeço o apoio da comunidade, que é muito valioso e me revitaliza para continuar a semear saúde e cultura.
Como utilizá-lo no dia a dia da enfermagem?
Os projetos que desenvolvo têm aplicabilidade prática e diária na enfermagem porque o cuidar precisa estar além da técnica, mas baseado na arte e competência de utilizar os recursos pessoais do agir. Habilidades criativas e atitudes inovadoras renovam o cuidado.
Já realizei, em vários contextos (hospitais, centros de saúde, CAPS, escolas de distintos níveis de ensino, praças, etc.), as mais distintas estratégias, atividades, recursos, vivências e diversas ações programadas. Dentre estas estratégias, apresentei peças de teatro, dramatizações, exposições, performances, saraus literários e musicais, lançamentos e exposição de obras, oficinas (diversas temáticas), contação de histórias, paródias, mil ideias e ideações.
Minha avaliação é que foram oportunidades significativas para o desenvolvimento de meu potencial, de profissionais e usuários. Também de rupturas de modelos conservadores em prol da promoção e produção de saúde, acessibilidade cultural e fortalecimento do SUS.
Existem outras pessoas que seguem este seu caminho?
Muitos profissionais estão ressignificando o seu modo de cuidar, buscando desenvolvimento de habilidades e atitudes. É o mundo contemporâneo que solicita cuidado inovador à saúde.
E os projetos e a atuação diária do cuidado, mediados pela arte, tornam-se mais evidentes. Muitos projetos e inovações estão sendo pesquisados e vivenciados em prol do cuidado integral. Sim, existem profissionais no mesmo caminho. Até poderia citar nomes, mas posso correr o risco de esquecer alguém. A todos eles o meu respeito e carinho.
Um recado aos enfermeiros de Pernambuco:
Pernambuco é uma fonte inspiradora para a arte da enfermagem que desenvolvo. No primeiro cordel, “Oh!linda história da enfermagem brasileira” – encontra-se no meu livro Histórias da enfermagem em cordel – destaco Recife, para relacionar enfermagem e história: “Quando lembro de Recife / Seu frevo é corralinda / As sombrinhas agitando / Pelas ruas de Olinda / Penso logo na história / Que é bela, é oh!linda”.
Ou seja, a enfermagem pernambucana que percebo tão atuante e vibrante pode construir saberes e fazeres que envolvem arte e inovação. Coloco-me à disposição dos meus pares de Pernambuco para promover este diálogo, pró-construção da enfermagem visível e inovadora.
Vamos trocar experiências nesta direção do cuidado criativo? Ficarei feliz se a enfermagem pernambucana participar de oficinas de criatividade que facilito e/ou ler as minhas obras. Conheçam as reflexões poéticas e estéticas desta Poetisa do Cuidar. Que as leituras das minhas obras possam revitalizar e motivar o exercício dos profissionais pernambucanos.
Suas considerações finais:
Agradeço ao SEEPE esta oportunidade de ser entrevistada, à qual atendi prontamente. É uma satisfação dialogar acerca dos saberes e dos fazeres da enfermagem que envolvem a cultura. Sou cidadã e profissional da saúde que tem popularizado a ciência, divulgado e democratizado os saberes da saúde e da enfermagem para outras áreas e sociedade. Nesta entrevista, conheceram um pouco sobre a minha pessoa: Onã Silva- a poetisa do cuidar. É assim exerço minha profissão: com arte. Não voltaria no tempo para ser enfermeira de outra maneira. Estou presente nas redes sociais, no site www.onasilva.com.br e no e-mail onatil.silva@gmail.com.
Simbora... Vamos semeando saúde e cultura: eu, você, nós!
*Entrevista elaborada pela jornalista Mariângela Borba.
Onã tem a seguinte formação superior: Enfermagem e Artes Cênicas; Pós-Graduação em Saúde Pública; Mestrado em Educação e Doutorado Em Enfermagem (UnB).
*Atua como enfermeira na Secretaria de Saúde do DF, palestrante e arte-educadora. Ministra oficinas/ palestras sobre criatividade, teatro e ludicidade e outras temáticas.
*É autora dos seguintes livros:... Mas a alegria vem pela manhã; O Sol da Justiça; A Quadradinha de Gude, Miriã, uma Enfermeira Bambambã, A Derrota de Penina, Histórias da Enfermagem no Universo de Cordel, Anjinho Minho... Mãezinha Minha..., Mundo-Bola, Solange Caetano: tem coragem no nome e enfermagem no sobrenome e outras.
Organizadora dos livros Ludicidade e suas interfaces e Enfermagem com Poesia.
*Atua como enfermeira na Secretaria de Saúde do DF, palestrante e arte-educadora. Ministra oficinas/ palestras sobre criatividade, teatro e ludicidade e outras temáticas.
*É autora dos seguintes livros:... Mas a alegria vem pela manhã; O Sol da Justiça; A Quadradinha de Gude, Miriã, uma Enfermeira Bambambã, A Derrota de Penina, Histórias da Enfermagem no Universo de Cordel, Anjinho Minho... Mãezinha Minha..., Mundo-Bola, Solange Caetano: tem coragem no nome e enfermagem no sobrenome e outras.
Organizadora dos livros Ludicidade e suas interfaces e Enfermagem com Poesia.