Entrevista com o Ator e Poeta Dirceu Rabelo



Um papo sobre as várias facetas artísticas,os tempos de infância,beijo polêmico de Babilônia,política,doutrina espírita e outros assuntos interessantes

FB - Como foi à infância do menino Dirceu no interior de Minas e quais as lembranças que ficaram dessa época?

DR - Minha infância foi a mais livre possível, com banhos de rio, pescarias, férias maravilhosas nas fazendas dos avós e tios, mas as lembranças que ficaram foram de muitos sofrimentos em sala de aula, pela sensibilidade que eu tinha e não era reconhecida ou vista pela professora da época. Participava de todas as encenações do meu grupo escolar, cantando ou representando, e era sempre o orador, mas mesmo assim apanhava muito por qualquer coisa e servia de escárnio para toda a sala de aula. É a primeira vez que falo sobre este assunto.

FB – Você exerce várias facetas artísticas como poeta, cronista, contista e já atuou como ator também. O que cada uma dessas funções representa para você, qual delas faz com que você se realize mais e como começou seu interesse pelas artes?

DR - Como disse na resposta anterior, desde cedo a veia artística já havia se revelado em mim e em minha casa, minha mãe já nos chamava para cantar e declamar poesias para as visitas. Depois fui ator amador em BH, na faculdade e já no Rio de Janeiro fui ator profissional durante um bom tempo e ali comecei a escrever peças infantis e depois, deixei tudo para me dedicar à prefeitura de Dom Joaquim/MG, minha cidade natal, onde fui desde assessor do prefeito a secretário municipal de Cultura e Turismo e também Vereador e Presidente da Câmara. Na prefeitura fazia um jornal, e para o jornal fazia crônicas e mais crônicas e os textos de um jornal informativo. Só depois dos 58 anos é que comecei a me dedicar às poesias e aos contos. Eu posso dizer que vou me realizando a cada dia, com cada “balaio” que pego para carregar, mas com os poemas e minhas crônicas eu deito e rolo de prazer. Com o Facebook a resposta ao que você escreve é muito rápida, e você ali fica sabendo se agradou ou não.

FB - Quais foram suas maiores referências e estímulos, quais foram seus trabalhos realizados em uma dessas áreas que você considera mais notório?

DR - Tenho duas referências e que posso dizer que foram também estímulos: a) Minhas várias participações em papéis, alguns deles secundários, em programas humorísticos das TVs Globo e Manchete que me deram molejo para o humor e onde aprendi com mestres como Maurício Sherman, Chico Anísio, Carlos Manga, Costinha, Zé Vasconcelos e muitos outros. b) O lançamento de meu primeiro livro “Palavras Lavradas” que teve, não só o prefácio de Delasnieve Daspet, mas principalmente pelo aval dessa grande poeta já consolidada, para outro que ainda germinava.

FB - Na época de ator quais foram os trabalhos realizados em cinema, teatro e TV?

DR - Foram muitos os trabalhos em televisão, propaganda e teatro, mas não entrei na carreira do cinema. Era uma turma fechada e da qual eu não fazia parte. Em teatro destaco as peças infantis “Faça do Coelho Rei”, “Tistu – O Menino do Dedo Verde” e “O Mago das Cores” e também “O Santo Inquérito”, “O Corsário do Rei” etc.; na televisão, fiz a novela educativa “A Conquista” na TV Educativa do Rio de Janeiro e além dos humorísticos da Globo e Manchete, fiz também a novela “Dona Beja” na Manchete e na Globo fiz o “Macaco Loyola” no Globinho com Paula Saldanha, e participações em várias novelas.

FB – Eu, por exemplo,quando termino de escrever um poema tenho uma sensação parecida com o gozo sexual realizado,qual é a sua sensação quando você consegue concluir algum trabalho poético, terminar alguma crônica ou conto e também quando achava o tom certo de algum personagem que fosse interpretar?

DR - De seis anos para cá tenho passado por uma experiência muito boa de uma quase “psicografia” de meus poemas e crônicas. O tema me chega e logo ele é desenvolvido com uma agilidade que não é minha e normalmente são poemas que têm uma conotação religiosa, ou de mensagem espiritual; já com as crônicas acontece que uma força maior me faz escrever sobre certa pessoa já desencarnada ou um grupo de pessoas, ou até mesmo de uma família. E isso é muito gratificante e sinto que estou resgatando dívidas para com essas pessoas. Depois que termino o “trabalho”, tanto da poesia, quanto da crônica, sinto um peso sair de minhas costas, como se pagasse mesmo dívidas de um passado sombrio.

FB - Em nossa conversa você disse já ter alguns livros editados e outro ficando pronto, fale um pouco deles para meus leitores.

DR - Minha primeira obra foi mesmo a peça teatral infantil “Agripina X Mulher Vitamina”, registrada na SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais e encenada no Rio de Janeiro no espaço do Palácio do Catete – Rio de Janeiro. Já nesta minha segunda fase, lancei o livro misto de crônicas e poesias “Palavras Lavradas” e que teve seu lançamento aqui em Dom Joaquim/MG. Depois, participei da “I Antologia da Associação Internacional dos Poetas Del Mundo” e da “II Antologia Poética da ACLAV – Academia de Ciências, Letras e Artes de Vitória-ES”. Agora, está em andamento o meu segundo livro solo, este de poesias, pela LIFE Editora, com lançamento previsto para o segundo semestre deste ano em Belo Horizonte.

FB – Você é membro da ACLAV – (Academia de Ciências, Letras e Artes de Vitória – Espírito Santo – Brasil),quais são as funções exercidas como membro da academia?

DR - O título de Acadêmico Correspondente da “ACLAV – Academia de Ciências, Letras e Artes de Vitória” é honorífico, e, portanto, não exercemos nenhuma função naquela entidade, mas representou muito para mim, por ter sido o primeiro e por ter tido meu nome lembrado para tal. Além disso, pretendo fundar aqui em Dom Joaquim, a “ACLADOM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Dom Joaquim”, e naquela oportunidade pude conversar com os diretores daquela entidade, sobre todos os passos a serem tomados, para que isso possa acontecer no futuro.

FB - Recentemente na estreia da novela Babilônia da Rede Globo criou-se uma imensa polêmica sobre o beijo gay de duas atrizes consagradas Fernanda Montenegro e Nathália Timberg.Um deputado da bancada evangélica propôs aos seguidores dessa religião um boicote a novela que provavelmente refletiu na baixa audiência que o folhetim tem alcançado para os padrões da emissora.Não sou defensor e nem carrego bandeira de categoria alguma,mas você não acha que estamos vivendo uma época “politicamente correta’ demais e que é perigoso também não poder tocar em certos assuntos?Acredito que um texto de TV,Cinema ou Teatro refletem a sociedade e na sociedade existem pessoas de todas as formas.Você acredita em excesso de moralismo ou você acha que a Globo está forçando a barra demais em prol de determinado grupo?

DR - Eu sou de tal forma liberal que às vezes eu mesmo me puxo as orelhas. Comigo tudo pode e quando abracei a Doutrina Espírita, aí é que meu liberalismo subiu ao espaço de vez! Faça o que tem que se fazer... MAS (bem maiúsculo), desde que aquilo que você está fazendo não esteja prejudicando as pessoas. O beijo gay é igual ao beijo hetero, só que estava escondido, amordaçado, debaixo do balaio... A Globo está aos poucos deixando que seus autores, diretores e atores façam com que este esperado beijo gay aconteça e pareça o mais normal possível e que não choque as pessoas. Chocar por quê? Não acho que exista excesso de moralismo; acho que existem moralistas em excesso e eles vão ficar como os cães que ladram as caravanas que passam levando o progresso e o adiantamento moral. Os homossexuais são nossos irmãos e precisam ser respeitados. A lei humana já lhes faculta algumas condições; a sociedade é que ainda teima em lhes castrar.

FB – Como começou sua relação com a doutrina espírita e o que ela trouxe para sua vida de mais valioso e construtivo?

DR - A Doutrina Espírita veio chegando devagar em minha vida e mesmo nascendo numa família católica, tive desde criança algumas experiências espirituais bem interessantes e que, claro, todos duvidavam. Com minha saída de minha cidade natal para Belo Horizonte, comecei a freqüentar centros de Umbanda e depois no Rio de Janeiro passei a freqüentar casas espíritas que os leigos tratam de “kardecista”. Hoje, aqui em Dom Joaquim, sou um dos dirigentes e fundador da “Fraternidade Espírita Casa do Caminho”. O espiritismo me trouxe a paz e a certeza de que Deus não castiga Suas criaturas. A reencarnação é a Infinita Bondade do Pai nos dando quantas chances forem necessárias para alcançarmos a angelitude. “A Doutrina Espírita nos diz que poderemos caminhar mais depressa, com mais segurança, com menos sofrimento, com menos problemas.”

FB – Você se considera extrovertido ou tímido?Teve que fazer alguma cena romântica mais sensual como ator?

DR - Eu sempre fui um extrovertido inseguro. Dá para entender? Quem me vê acha que sou o cara mais seguro do mundo, pelo tanto que sou extrovertido, boa prosa, contador de causos, mas sou de uma insegurança muito grande que com a idade vai diminuindo (a insegurança). Como ator, tanto no palco, como na TV e em fotonovelas, tive que fazer cenas de beijos ardentes. Na TV Globo, num caso especial, "Caso de Polícia" fiz uma cena de nu, em uma cama com uma atriz, que teve a chegada do marido dela e eu saltando pela janela...

FB – Como está vendo os rumos da política em nosso país,existe mesmo uma onda de pessimismo e um interesse da mídia em favorecer certos políticos em sua opinião e como analisa os escândalos de corrupção em nosso país?

DR - Acho até temeroso falar de política assim tão abertamente, mas o Lula, o PT e seus aliados são, para mim, a atual desgraça do Brasil. Os poucos petistas que eram pessoas de bem, deixaram aquele pavoroso navio. Esses petistas que não querem largar o osso, não souberam aproveitar a grande oportunidade que eles tanto almejaram para ter o poder nas mãos e fizeram dele um meio de enriquecimento ilícito, troca de favores e bandalheiras que só nos fazem ter vergonha de sermos brasileiros. O PMDB e o PP, como aliados entraram na onda do PT e estão atolados de corrupção até o pescoço. Os outros partidos têm alguns corruptos que podem ser contados a dedo e retirados.

FB - Qual texto de sua autoria marcou sua vida e você sempre se lembra com mais freqüência?

DR - Fiz um poema para os 90 anos de minha Mãe que foi o começo dos “contatos” com algum amigo ou amigos espirituais e que marcou uma nova etapa de poemas mais espiritualizados e, portanto, também mais aprimorados.

FB - Autores, poetas, escritores e atores de sua preferência dos mais experientes e os talentos que considera promissores.

DR - Temos muita gente boa! Muito gênio! Fernando Pessoa, Nietzsche, Pablo Neruda, Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Márquez, Carlos Drummond de Andrade, Jean-Paul Sartre, Manoel de Barros... Já os escritores e poetas vivos, não gostaria de citá-los, embora os leia constantemente (Vá lá: Luiz Fernando Veríssimo, Ferreira Gullar e Delasnieve Daspet). Temos aqui no Facebook, por exemplo, tanta gente boa, tantos talentos postando seus poemas que dá vontade de engavetar os meus. Quanto aos atores, você citou numa pergunta acima sobre a cena do beijo, duas das maiores atrizes de todos os tempos do Brasil, Fernanda Montenegro e Nathália Timberg. Dá prazer vê-las representar. Ator? É uma pena ter tirado a própria vida... Walmor Chagas, com quem contracenei algumas vezes em novela e leituras teatrais e Cláudio Cavalcanti, um anjo de ternura, que por acaso era ator e com quem também contracenei.


FB – Ter o mesmo nome do locutor Dirceu Rabello o prejudicou ou favoreceu de alguma forma? Tem alguma relação de amizade com ele?

DR - Quando cheguei ao Rio de Janeiro em 1976, ninguém sabia quem era Dirceu Rabelo, o locutor que morava no Japão. Depois que ele voltou e se tornou famoso, eu já era ator das TVs Globo e Educativa e formou-se então uma confusão de telefonemas para ele e para mim. Nós nos conhecemos numa reportagem que a Revista Carinho fez com o título: “Conheça os dois Dirceu Rabelo”. Aí, trocamos os telefones e endereços e a confusão foi se acabando e tornamo-nos amigos, mas sem chegarmos a ser íntimos.

FB - Fale um pouco do homem de família Dirceu Rabelo.

DR - Casei-me algumas vezes e hoje sou separado e pai de três filhos; duas moças e um rapaz. Tenho quatro netos e convivo com três deles aqui em minha cidade. Sou aposentado e moro sozinho numa casa onde cozinho, lavo a louça, arrumo a cama, faço as compras, trato das galinhas, cuido das plantas, lavo roupas, faço tudo! Durmo tarde e acordo cedo. Leio e escrevo muito. Acho que é só!


FB - Tem algum outro projeto para o futuro que queira destacar aqui?

DR - Projetos para o futuro? Depois deste livro de poesias, vou providenciar o livro de crônicas e fazer uma viagem mais longa, Ásia, Europa... Não tenho muito cacife para projetos mirabolantes... Aliás, lançar um livro é um projeto dos mais espantosos!

FB– Um recado para os meus leitores do Facebook e o site “Recanto dos Letras”.

DR - É bom poder responder às suas perguntas, inteligentes, elucidativas e que mostram para seus leitores do “Recanto das Letras” e do Facebook, um pouco de alguém que está postando seus poemas, suas crônicas, seus contos com o interesse maior de se integrar ao grupo de poetas, cronistas e contistas que não têm espaço na grande mídia. Nós nos mostramos uns aos outros e vamo-nos unindo e formando - quem sabe? – um grande grupo de “loucos” e “mentirosos” e já, já teremos um grande manicômio aberto de abençoados, mulheres e homens versejando pelas ruas e atirando flores em quem passa. Somos anjos, arcanjos que empunham poemas, repletos de harmonia, amor e paz, por muito cruéis que sejam, por mais sensuais que estejam... Somos anjos!


• Escolhi este poema da autoria do mestre Dirceu Thomas Rabelo para apresentar aos amigos do “Recanto das Letras”

ALMAS CATIVAS
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Dirceu Thomaz Rabelo
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Pode-se ser um prisioneiro de idos perdidos
Com prometimentos vãos, àqueles passantes,
Que beiradejavam nossas alegóricas vias...
Quem se aninhou numa vida amorosa vil.
.
Quando se tem responsabilidade menina
O mal parece miúdo, sem convalescença;
É como picada de medonha cobra mansa
Não mata, só fere, mas, o machucado encrua.
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E vagueia eterno e visguento como o grito,
Que ziguezagueando pelo espaço etéreo
Espreita seu algoz, e o aguarda em emboscada,
Ao se laçar o sonho, ou mesmo em sono flácido...
.
Tem hora que a criatura está mais desenredada
Sem a carcaça a incomodar-lhe sobre a cacunda
Bom seria preterir o despropositado pretérito
Ao sentir desconexos efeitos de vexas causas.
.
Como engabelar o sempre alerta olho Divino?
Assuntar primeiro o ambiente, antes do retorno,
Caso se sentir inadimplente, um essepecífico!
Como galhos perdulários gastando folhas outonais.
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O coração quer amar, mas, existem antigas amarras,
Nas quais estamos atados como naus em cais soturnos.
Pagar, ou pagar. Cumpra-se o prometido; é a lei!
Antes de bulir com novas e granjeáveis navegamadas.
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Enquanto isso vamos amando as notas promissórias,
Descompromissadas e assinadas em branco, aos trancos,
Que mal enorme nos fez e a outros barrancos também.
Somos ainda ALMAS CATIVAS de credoras almas!



*** Clicando no link abaixo vocês vão encontrar na participação de Dirceu como Macaco Loyola no programa "Globinho"  em 1982 apresentado pela simpática Paula Saldanha,que faz falta na tv aberta atual

https://www.youtube.com/watch?v=7fshWNP38p8






































 
Fábio Brandão
Enviado por Fábio Brandão em 04/06/2015
Reeditado em 04/06/2015
Código do texto: T5266004
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