Entrevista com Ronald Rahal
ENTREVISTA COM RONALD RAHAL
1 – Ronald, você surgiu há poucos anos no ambiente de ficção científica brasileira e já marcou território com um grande número (proporcionalmente aos anos) de obras inclusive de grande porte e substanciais. Sei, porém, que você começou após sua aposentadoria. Por que demorou tanto a exercer seu talento literário?
Tempo. Exclusivamente tempo. Nos dois sentidos, pode-se assim dizer. Vejo agora que é necessária certa maturação para se escrever. Acredito que algumas décadas de vida fazem grande diferença para que os trabalhos possam – assim entendo – se desenvolver e serem mais ricos e diversos na sua composição. E claro, quando se trabalha, - não que isso, seja um empecilho – estamos focados em outras preocupações que tiram nossa concentração.
2 – E antes, você já tinha textos literários, mesmo poucos, esparsos e inéditos?
Poucos para dizer a verdade. Creio que o primeiro conto foi uma história que ganhou o segundo lugar num concurso promovido por uma revista de divulgação de ficção científica no Brasil. Isto na década de noventa. Seu nome era Ad Infinitum e relatava um episódio dos agentes Fox Mulder e Scully de Arquivo-X. Depois, sem que fosse solicitado, apenas por querer participar, escrevi para um fanzine de Star Trek, intitulado De Volta ao Guardião da Eternidade. O episódio da série clássica A Cidade à Beira da Eternidade – o melhor no meu entendimento – depois do “Todos os nossos ontem”, merecia a participação dos tripulantes da série clássica e da Nova Geração. Apenas um leitor me escreveu, dizendo que havia “adorado e que não tinha tido problemas com a narrativa não linear”. Por fim, escrevi para o site de meu amigo Marcus Valério, De volta à Máquina do Tempo, que dá continuidade ao clássico de H.G.Wells e para a revista virtual Scarium, Inventário Final. Veio a aposentadoria; passei a escrever mais; conheci um grande parceiro: Miguel Carqueija e realmente não sei quando irei parar. Só o futuro decidirá essa parte.
3 – O que o levou a escolher a ficção científica e, dentro dela, a vertente “hard”, isto é, histórias que privilegiam o embasamento científico e consequentemente o jargão científico?
Sempre gostei da boa ficção-centífica, se é que posso classificá-la assim. Isto é decorrente – e não tenho vergonha de dizer isso – da minha paixão pela Ciência e suas infindáveis e à vezes até, desconcertantes descobertas. Sou da opinião que devemos procurar ser críveis. Aproveito o jargão cientifico, claro, inventando possibilidades ou fenômenos, que estão bem longe de serem reais. Mas que existem como teorias. E sei que isto fará o nariz de muita gente torcer, sou anglófilo. Meus personagens não são brasileiros, se bem que algumas das minhas histórias têm como pano de fundo, o Brasil. Infelizmente nosso país jamais ganhou um Nobel e exceção feita ao físico César Lattes e ao astrônomo Augusto Damineli, produzimos pouco ciência ou, que pelo menos, seja relevante no contexto mundial. Quer queiramos ou não, os Estados Unidos e a Europa, estão na frente desta corrida e isto é fundamental para meus trabalhos.
4 – Quais os autores que mais o influenciaram?
Três: Júlio Verne, H.G.Wells, Isaac Asimov.
5 – Em que ano você começou a publicar seus livros na internet?
A Partir de 2005.
6 – Relacione, por favor, todos os livros que você já publicou e onde.
Se me permite vou considerar somente aqueles publicados no formato de livro, seja na forma de papel ou digital. Os dois tipos estão disponíveis na Livraria Saraiva e na livraria virtual AGBOOK. Poderia considerar também alguns trabalhos feitos em parceria com o amigo Carqueija, que exceção feita a VINCI 238, encarregou-se da revisão de alguns destes títulos que cito abaixo. Devo salientar que os trabalhos, espalhados por diversos sites e revistas virtuais não estão aqui incluídos e por serem muitos e decidi não enumerá-los. Que eu me lembre, muitos deles foram expostos no site do Miguel Carqueija, escritor, leitor, revisor e um grande divulgador da ficção cientifica na Internet.
Pela ordem são eles:
Inventário Final: 2005
Regresso À Máquina do Tempo: Partes I e II: 2006/7
4891 Parte I: 2008
VINCI 238: 2009
Somente um Dia: 2010
Superposição: 2011
O Paciente do quarto 42: 2012
O Viajante do Tempo e o enigma da Besta: 2013
O Titanic e a esfera Alienígena: 2014
Freaks, uma experiência para lá de normal.
7 – Como você vê a ficção científica brasileira? Algum autor chama a sua atenção?
Confesso que leio pouco autores nacionais. Cheguei a ler muita coisa relacionada a Jorge Luiz Calife e tenho o livro Horizonte de Eventos de sua autoria, que me parece ser um bom escritor hard. Leio mais traduções de autores famosos, onde é claro, se destaca os Estados Unidos, ou mesmo europeus. Pensar em ficção é pensar em escritores americanos por excelência. Não que os nacionais não consigam apresentar bons trabalhos. Mas como leio pouco do que aqui se publica, quando o publicam; a divulgação no Brasil é mínima, não posso apresentar uma lista ou trabalhos de autores nacionais que tenha lido e gostado. Mas tenho certeza que há muitos e de qualidade superior à minha.
8 – Quais os seus atuais projetos?
Até onde for possível continuar escrevendo. Tenho dois projetos atuais. Um deles, que está em processo de revisão por meu amigo e parceiro Miguel Carqueija, é a segunda parte de 4891. No momento escrevo o Homem da Biosfera XIII. Um personagem, que vivia uma vida pacata em uma das poucas biosferas que restaram na superfície da Terra e de repente vê se mundo virar de cabeça para baixo. A vida de seus filhos e de sua esposa dependem de como alterará a história. Em sua linha temporal não aconteceram a I e a II guerras mundiais. O que levou a Terra ao colapso pela superpopulação. Isto precisa ser mudado. E abordo uma alternativa aos paradoxos temporais. O segundo trata de um viajante do tempo – sempre são eles, não é? – que escolheu a década de cinquenta para viver. Uma das suas versões procura um detetive para pedir ajuda. É preciso matá-la, pois a Humanidade corre o risco de ser extinta. Mas como fazer isso, sem criar paradoxos? Por enquanto é apenas uma ideia.
9 – Fale um pouco dos seus métodos. Um detalhe importante que noto em suas obras é que você se esforça em explicar todos os fatos, com minúcias de detalhes, de modo a não deixar pontas soltas (não confundindo com ganchos propositais para possíveis continuações).
Na verdade é um martírio. Evitar contradições é difícil, difícil mesmo. E preciso ler muito, muito mesmo para corrigir tais erros que são inevitáveis. A sorte é que lido com poucos personagens, o que torna mais fácil não cair nessa armadilha. Mas gostos de detalhes. Quanto mais, melhor. Isto ajuda o leitor a visualizar as linhas do texto. A dar-lhe realidade.
10 – Fizemos algumas parcerias. O que você pensa da utilidade de produzir obras em co-autoria, levando em conta que duas pessoas nunca pensam igual e devem portanto se harmonizar de algum modo quando escrevem juntas?
Bem. No meu entender é preciso, antes de tudo, consenso. Vamos fazer assim ou assim, mas tem que existir concordância. Às vezes uma cabeça tem uma ideia genial que nem passou pela cabeça da outra. Isto ajuda a complementar a obra.
11 – Finalmente, deixo você à vontade para suas considerações finais e o que você desejar acrescentar.
Muito obrigado por conceder esta entrevista que é a primeira que eu faço com um autor de ficção científica.
Eu creio ser esta parte a mais difícil. Agradeço a oportunidade e agradeço também a ajuda, sempre inestimável. Apenas quero ressaltar que não há limites para a imaginação e sempre parto do principio do “e se?” que nos leva a destinos inimagináveis, mas que pelas mãos do escritor torna-se um meio para se chegar a ele.
Considero-me apenas um amador. Um apaixonado pela leitura e pela Ciência. E claro, por uma boa história que consiga prender a atenção do leitor do começo ao fim. De levá-los a onde a imaginação pode, já que não sabemos o que o futuro nos reserva. Talvez, como já aconteceu, muito do que é imaginação hoje, pode ser a realidade do amanhã.
ENTREVISTA COM RONALD RAHAL
1 – Ronald, você surgiu há poucos anos no ambiente de ficção científica brasileira e já marcou território com um grande número (proporcionalmente aos anos) de obras inclusive de grande porte e substanciais. Sei, porém, que você começou após sua aposentadoria. Por que demorou tanto a exercer seu talento literário?
Tempo. Exclusivamente tempo. Nos dois sentidos, pode-se assim dizer. Vejo agora que é necessária certa maturação para se escrever. Acredito que algumas décadas de vida fazem grande diferença para que os trabalhos possam – assim entendo – se desenvolver e serem mais ricos e diversos na sua composição. E claro, quando se trabalha, - não que isso, seja um empecilho – estamos focados em outras preocupações que tiram nossa concentração.
2 – E antes, você já tinha textos literários, mesmo poucos, esparsos e inéditos?
Poucos para dizer a verdade. Creio que o primeiro conto foi uma história que ganhou o segundo lugar num concurso promovido por uma revista de divulgação de ficção científica no Brasil. Isto na década de noventa. Seu nome era Ad Infinitum e relatava um episódio dos agentes Fox Mulder e Scully de Arquivo-X. Depois, sem que fosse solicitado, apenas por querer participar, escrevi para um fanzine de Star Trek, intitulado De Volta ao Guardião da Eternidade. O episódio da série clássica A Cidade à Beira da Eternidade – o melhor no meu entendimento – depois do “Todos os nossos ontem”, merecia a participação dos tripulantes da série clássica e da Nova Geração. Apenas um leitor me escreveu, dizendo que havia “adorado e que não tinha tido problemas com a narrativa não linear”. Por fim, escrevi para o site de meu amigo Marcus Valério, De volta à Máquina do Tempo, que dá continuidade ao clássico de H.G.Wells e para a revista virtual Scarium, Inventário Final. Veio a aposentadoria; passei a escrever mais; conheci um grande parceiro: Miguel Carqueija e realmente não sei quando irei parar. Só o futuro decidirá essa parte.
3 – O que o levou a escolher a ficção científica e, dentro dela, a vertente “hard”, isto é, histórias que privilegiam o embasamento científico e consequentemente o jargão científico?
Sempre gostei da boa ficção-centífica, se é que posso classificá-la assim. Isto é decorrente – e não tenho vergonha de dizer isso – da minha paixão pela Ciência e suas infindáveis e à vezes até, desconcertantes descobertas. Sou da opinião que devemos procurar ser críveis. Aproveito o jargão cientifico, claro, inventando possibilidades ou fenômenos, que estão bem longe de serem reais. Mas que existem como teorias. E sei que isto fará o nariz de muita gente torcer, sou anglófilo. Meus personagens não são brasileiros, se bem que algumas das minhas histórias têm como pano de fundo, o Brasil. Infelizmente nosso país jamais ganhou um Nobel e exceção feita ao físico César Lattes e ao astrônomo Augusto Damineli, produzimos pouco ciência ou, que pelo menos, seja relevante no contexto mundial. Quer queiramos ou não, os Estados Unidos e a Europa, estão na frente desta corrida e isto é fundamental para meus trabalhos.
4 – Quais os autores que mais o influenciaram?
Três: Júlio Verne, H.G.Wells, Isaac Asimov.
5 – Em que ano você começou a publicar seus livros na internet?
A Partir de 2005.
6 – Relacione, por favor, todos os livros que você já publicou e onde.
Se me permite vou considerar somente aqueles publicados no formato de livro, seja na forma de papel ou digital. Os dois tipos estão disponíveis na Livraria Saraiva e na livraria virtual AGBOOK. Poderia considerar também alguns trabalhos feitos em parceria com o amigo Carqueija, que exceção feita a VINCI 238, encarregou-se da revisão de alguns destes títulos que cito abaixo. Devo salientar que os trabalhos, espalhados por diversos sites e revistas virtuais não estão aqui incluídos e por serem muitos e decidi não enumerá-los. Que eu me lembre, muitos deles foram expostos no site do Miguel Carqueija, escritor, leitor, revisor e um grande divulgador da ficção cientifica na Internet.
Pela ordem são eles:
Inventário Final: 2005
Regresso À Máquina do Tempo: Partes I e II: 2006/7
4891 Parte I: 2008
VINCI 238: 2009
Somente um Dia: 2010
Superposição: 2011
O Paciente do quarto 42: 2012
O Viajante do Tempo e o enigma da Besta: 2013
O Titanic e a esfera Alienígena: 2014
Freaks, uma experiência para lá de normal.
7 – Como você vê a ficção científica brasileira? Algum autor chama a sua atenção?
Confesso que leio pouco autores nacionais. Cheguei a ler muita coisa relacionada a Jorge Luiz Calife e tenho o livro Horizonte de Eventos de sua autoria, que me parece ser um bom escritor hard. Leio mais traduções de autores famosos, onde é claro, se destaca os Estados Unidos, ou mesmo europeus. Pensar em ficção é pensar em escritores americanos por excelência. Não que os nacionais não consigam apresentar bons trabalhos. Mas como leio pouco do que aqui se publica, quando o publicam; a divulgação no Brasil é mínima, não posso apresentar uma lista ou trabalhos de autores nacionais que tenha lido e gostado. Mas tenho certeza que há muitos e de qualidade superior à minha.
8 – Quais os seus atuais projetos?
Até onde for possível continuar escrevendo. Tenho dois projetos atuais. Um deles, que está em processo de revisão por meu amigo e parceiro Miguel Carqueija, é a segunda parte de 4891. No momento escrevo o Homem da Biosfera XIII. Um personagem, que vivia uma vida pacata em uma das poucas biosferas que restaram na superfície da Terra e de repente vê se mundo virar de cabeça para baixo. A vida de seus filhos e de sua esposa dependem de como alterará a história. Em sua linha temporal não aconteceram a I e a II guerras mundiais. O que levou a Terra ao colapso pela superpopulação. Isto precisa ser mudado. E abordo uma alternativa aos paradoxos temporais. O segundo trata de um viajante do tempo – sempre são eles, não é? – que escolheu a década de cinquenta para viver. Uma das suas versões procura um detetive para pedir ajuda. É preciso matá-la, pois a Humanidade corre o risco de ser extinta. Mas como fazer isso, sem criar paradoxos? Por enquanto é apenas uma ideia.
9 – Fale um pouco dos seus métodos. Um detalhe importante que noto em suas obras é que você se esforça em explicar todos os fatos, com minúcias de detalhes, de modo a não deixar pontas soltas (não confundindo com ganchos propositais para possíveis continuações).
Na verdade é um martírio. Evitar contradições é difícil, difícil mesmo. E preciso ler muito, muito mesmo para corrigir tais erros que são inevitáveis. A sorte é que lido com poucos personagens, o que torna mais fácil não cair nessa armadilha. Mas gostos de detalhes. Quanto mais, melhor. Isto ajuda o leitor a visualizar as linhas do texto. A dar-lhe realidade.
10 – Fizemos algumas parcerias. O que você pensa da utilidade de produzir obras em co-autoria, levando em conta que duas pessoas nunca pensam igual e devem portanto se harmonizar de algum modo quando escrevem juntas?
Bem. No meu entender é preciso, antes de tudo, consenso. Vamos fazer assim ou assim, mas tem que existir concordância. Às vezes uma cabeça tem uma ideia genial que nem passou pela cabeça da outra. Isto ajuda a complementar a obra.
11 – Finalmente, deixo você à vontade para suas considerações finais e o que você desejar acrescentar.
Muito obrigado por conceder esta entrevista que é a primeira que eu faço com um autor de ficção científica.
Eu creio ser esta parte a mais difícil. Agradeço a oportunidade e agradeço também a ajuda, sempre inestimável. Apenas quero ressaltar que não há limites para a imaginação e sempre parto do principio do “e se?” que nos leva a destinos inimagináveis, mas que pelas mãos do escritor torna-se um meio para se chegar a ele.
Considero-me apenas um amador. Um apaixonado pela leitura e pela Ciência. E claro, por uma boa história que consiga prender a atenção do leitor do começo ao fim. De levá-los a onde a imaginação pode, já que não sabemos o que o futuro nos reserva. Talvez, como já aconteceu, muito do que é imaginação hoje, pode ser a realidade do amanhã.