Entrevista minha (bate papo) ao site Arca Literária (Ceiça Carvalho)

1. Fale-nos um pouco de você.

Sou um meditador. Medito tanto segundo a idéia ocidental de meditar, que é filosofar sobre um assunto, refletindo e talvez emitindo uma opinião, quanto no modo oriental, que é esvaziar a mente para que se chegue a uma completude espiritual. Eu sou neosannyasin segundo a linha do OSHO e também faço orações católicas porque minha família vem dessa origem. Já fui anarquista e hoje guardo com carinho essa experiência, atuando com minhas próprias idéias e contribuições quando acho que devo. Gosto de fazer caminhadas ao ar livre e ler livros e histórias em quadrinhos nos mais diversos espectros de gênero e assunto. Freqüento assiduamente exposições de arte, livrarias e bibliotecas.

2. O que vc fazia/faz além de escrever? de onde veio a inspiração para a escrita?

Minha formação é visual, sou formado em Desenho Industrial , habilitação em Programação Visual (o famoso design gráfico) na UFRJ e por isso sinto e vejo as coisas antes do que verbalizo. Isso começou desde pequeno com a minha coleção de histórias-em-quadrinhos e foi se desenvolvendo de acordo com os cursos que fiz de desenho artístico. Depois da faculdade trabalhei nove anos como designer e ilustrador, mas agora estou dedicado às artes visuais juntamente com a literatura e a poesia. A inspiração para a escrita vem do mundo pop, não posso negar a influência que os quadrinhos, os desenhos animados e o cinema bem como as outras mídias tem sobre mim. Porém atualmente, a espiritualidade vem tomando cada vez mais espaço na minha vida e me inspirando tanto profissionalmente quanto na vida pessoal.

3. Qual a melhor coisa em escrever?

Cada vez que começo a escrever as possibilidades são imensas. Eu posso tanto dar continuidade a um texto que estava escrevendo (um romance por exemplo) ou começar do zero e aí criar um mundo totalmente novo. Isso é muito enriquecedor em todos os sentidos. Recentemente estava e ainda estou participando do Desafios dos Escritores, programa do Núcleo de Literatura da Câmara dos Deputados de Brasília. O tema era sobre Santelmo, uma cidade imaginária e escrevemos contos e crônicas sobre essa cidade com carta branca para criar tudo. Foi muito empolgante participar.

4. Você tem um cantinho especial para escrever? (envie-nos uma foto)

Tenho um cantinho especial para desenhar e pintar que é uma parte da área na entrada da casa onde fica separada, com uma divisória, a minha mesa de desenho. Mas quando são telas muito grandes, improviso a mesa da sala. Para escrever geralmente começo nessa mesa da sala, escrevendo à mão com caneta ou vou direto no computador, digitando.

5. Qual seu gênero literário? já tentou passear em outros gêneros?

Escrevo poesia, coisa que nunca pensei que iria fazer na minha vida (quando mais jovem eu tinha até medo de ler poesia para não “entrar no poema” e não “conseguir sair mais”). Meus poemas giram em torno de questões espirituais ou sociais geralmente, mas também utilizo outros temas, transitando sempre por um imaginário que me permita questionar a realidade e o status quo. É uma poesia do desassossego, como eu costumo dizer, plagiando o Fernando Pessoa e guardando as devidas dimensões. Escrevo contos (fantásticos ou sociais) e escrevo romances, estou finalizando o romance Os Arcanos também pelo Desafios dos escritores. Pretendo me aventurar em roteiros (e desenhos) de histórias em quadrinhos, coisa que eu já tinha feito há alguns anos atrás, mas que deixei de lado.

6. Fale-nos um pouco sobre o livro “Teu silêncio gritou”

O poema cujo título é também o mesmo título do livro é esse:

O teu silêncio gritou

Vozes estridentes me acordam à noite.

Num sobressalto eu levanto

e não consigo localizar

o que seria,

quem seria.

Procuro em vão,

nada encontro.

Algo que me indique quem gritou?

A consciência vem ao meu auxílio.

Diz ela: só podem ser as vozes

do teu silêncio

quando da grande explosão

de esperança, amor e arte da vida

O teu silêncio gritou.

Nesse livro eu procuro perceber o poético na espiritualidade, na filosofia e na transcendência sem utilizar de linguagens rebuscadas ou termos incompreensíveis para o leitor médio. O livro dividi-se em Descobrindo o místico, Descobrindo o inusitado e Descobrindo o infinito. Até agora muitas pessoas já adquiriram e gostaram muito. Espero que continue assim.

7. Onde encontra inspiração para os nomes dos personagens?

O nome dos personagens, bem como sua personalidade, dependem do contexto do que eu estou escrevendo e, às vezes, do efeito particular que eu quero que aquele personagem exerça sobre o leitor. Sem ser maniqueísta, eu procuro conduzir o leitor por um caminho, mas ele(a) pode tomar outro caminho no meio da leitura. Por exemplo, no conto Apartamento 606 . questionamentos, eu queria que o narrador, Yuri tivesse opiniões extremas a respeito da vida e muitas não compartilhadas por uma grande parte da população, porém que representassem mais ou menos um consenso entre as partes “avançadas” das pessoas. Por isso dei a ele um nome não muito usual, mas que em alguns lugares estivesse “na moda”.

8. Qual tipo de pesquisa você faz para criar o "universo" do livro?

A pesquisa vai desde a consulta ao buscador da internet e leitura de mapas, livros, enciclopédias, dicionários em casa ou em bibliotecas até o simples observar de pessoas na rua ou em determinados ambientes. Eu costumo criar um texto, conforme a necessidade, sobre cada personagem e sobre o cenário que vou utilizar, mas, às vezes, vou escrevendo sem esse texto, baseado nas minhas conjecturas a respeito do que vou escrever.

9. Você se inspira em algum autor ou livros para escrever?

Gosto muito da poesia de Carlos Drummond de Andrade (ele escrevia mini-contos fantásticos também), Cecília Meireles, Regina Maria Moura e Mário Quintana. Estou lendo a poesia de Carlos Nejar e Ferreira Gullar atualmente. No romance, meu gosto é muito eclético, vai desde de George Orwell até Paulo Coelho, passando por F. Scoot Fitgzerald e Mário de Andrade. Não posso dizer que nenhum desses é um guia ou modelo, (a não ser a Maria Regina Moura com quem eu fiz um curso de Produção textual na editora Canteiros) mas me inspiram, sem dúvida

10. Você já teve dificuldade em publicar algum livro? Teve algum livro que não conseguiu ser publicado?

As dificuldades para publicar um livro no Brasil são enormes, principalmente se você é um escritor iniciante. Tenho utilizado o Clube de Autores como ferramenta de auto-publicação sob demanda em todos os meus livros fora as participações em coletâneas e antologias. Mas já participei e solicitei orçamentos de muitas editoras médias através do site Mesa do Editor e fora dele, todas sem sucesso por limitações financeiras minhas.

11. O que você acha do novo cenário da literatura nacional?

De acordo com Nelson de Olveira em A Oficina do Escritor, são publicados por ano, segundo a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL) perto de cinqüenta mil títulos, entre lançamentos e reedições. É muita gente escrevendo e não digo que seja uma maioria de baixa qualidade, mas grande parte é mesmo de baixa qualidade. No entanto, muitos nomes novos – e muito bons – surgiram e continuam a surgir, sem dúvida. Espero que o número de livrarias (principalmente as médias e pequenas) aumente no Brasil; afinal, material para venda é o que não falta.

12. Recentemente surgiram vários pessoas lançando livros nacionais, uns são muito bons, outros nem tanto, outros são até desesperadores, o que você acha sobre este boom?

É como eu disse na pergunta anterior, na década de 1990 e anteriores era muito difícil ser editado, principalmente se você era iniciante. Hoje o custo caiu e existem editoras aos montes e livrarias de menos, porque também se vende pela internet e até mesmo somente no formato de e-books. Não tenho nada contra. Mas o prazer estético de folhear um livro nas mãos é dificilmente reproduzido por uma leitura online ou em e-book baixado, a não ser que você tenha um e-reader com tela fosca pronto para leitura. Mas não parece, até agora pelo menos, que vai existir uma substituição dos livros físicos, mas que esses duas mídias vão conviver durante muito tempo. Eu poderia citar novos nomes nacionais como Michel Melamed ou Daniel Pellizzari e Veronica Stigger mas não conheço profundamente a obra de nenhum deles. Acho que tem muitos autores fantásticos iniciando e outros nem tanto. A peneira do tempo às vezes demora – às vezes dura a vida toda do autor – tanto para o bem quanto para o mal. Em certos casos, um autor que fazia muito sucesso quando vivo, é totalmente esquecido quando morre e, em certos casos, ocorre o contrário.

13. Qual sua opinião sobre os preços elevados dos livros nacionais?

Se o governo federal pensasse um pouco mais, incentivaria a cultura e, principalmente a literatura, com isenções fiscais para as editoras ou coisa parecida. Mas parece que está mais interessado em construir portos em Cuba e em perdoar dívidas de países com governos ditatoriais e sem nenhuma distribuição de renda na África. O governo do Estado do Rio, para não dizer que não faço elogios, está com uma boa iniciativa agora, com as livrarias no Poupa Tempo vendendo livros novos e de grandes editoras por R$ 2,00 ou no máximo, R$ 3,00. Mas isso é mal divulgado e não tem muita abrangência.

14. Qual livro você falaria: "queria ter tido esta ideia"?

Macunaíma, o herói sem nenhum caráter é realmente uma obra-prima de Mário de Andrade, eu gosto muito e escreveria, talvez, uma história parecida se fosse o meu estilo.

15. Se tivesse que escolher uma trilha sonora para seus livros qual seria? (nome da musica + cantor)

Gosto das músicas new age do Vangelis principalmente a trilha sonora para o filme O caçador de andróides. Ou Kitaro, também new age, com a música Kokoro.

16. Já leu algum livro que tenha considerado "o livro de sua vida"?

Teologia Mística . Discursos sobre o tratado de São Dionísio do OSHO.

17. Você tem novos projetos em mente? Se sim, pode falar sobre eles?

Estou traduzindo por conta própria e em traduções livres, o livro Pantheism and Christianity de John Hunt (1884) e disponibilizando num site à medida que vou traduzindo. Mas planejo publicar o livro completo traduzido algum dia.

18. Você acompanha as críticas feitas por blogueiros nas redes sociais? o que você acha sobre isso?

Não, eu não acompanho. Mas acho muito produtivos e proveitosos os blogs, quando vou fazer uma pesquisa, sempre me deparo com bons blogs

19. Se pudesse escolher um leitor para seu livro (escritor, alguém que admire) quem seria?

Escolheria a Maria Regina Moura e a Patrícia Custódio, autoras que me acompanharam no curso de Produção Textual, na editora Canteiros.

20. Qual a maior alegria para um escritor?

A maior alegria é ser lido, sem dúvida. Eu já tive, nesses 8 anos, mais ou menos de carreira, a alegria de ter emocionado tanto uma leitora que ela chorou ao ler o livro Conspiração Literária . antologia de contos neoístas de minha autoria. É gratificante e eu poderia dizer até, transcendente, ser lido, porque quem lê reconstrói a história junto com quem escreve.

21. Deixe uma mensagem a nossos leitores e para aqueles que estejam iniciando no mundo da escrita literária.

Para os leitores: dê uma chance ao seu coração de experimentar autores novos, fora das linhas editorais vendidas pelas megastores. Certamente você vai se surpreender com a alta qualidade do que é produzido alternativamente ou fora do mainstream literário. Para os autores iniciantes: trate da sua personalidade com carinho. É ela que vai ditar o que você escreve, o que você cria. E se a sua personalidade não valer a pena, a sua literatura também não vai valer.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) e Ceiça Carvalho
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 16/01/2015
Código do texto: T5104245
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