EU NÃO ESTOU PREOCUPADO
Eu não estou preocupado com o que os outros pensam ou deixam de pensar sobre mim. Ora, houve um tempo em que eu, morando no Mosquito, povoado do município de Pastos Bons, eu caminhava, na BR 230, 7 quilômetros até chegar a escola: na Boa Esperança. De volta: mais 7 quilômetros. No total: 14 quilômetros por dia a pé. Isso acontecia ao meio-dia.
Certa vez, ao chegar da escola, mais ou menos às 18 horas, eu escutei alguém dizendo, a uma distância de uns duzentos metros de mim, estas palavras, bem alto, a meu respeito: "Aquele vai endoidar".
Já desci e subi ladeira para poder estudar, na Barra, povoado no Município de Pastos Bons.
Eu não desisti do que eu queria: estudar.
Já fui chamado de preguiçoso, de malandro, quando, na verdade, era eu quem abastecia a minha família de água no Mosquito. A água era distante. Ficava a uns quatro quilômetros ou mais. Eu ia ao mato colher bacuri, pequi etc. Ainda pisava arroz no pilão. Alguém se lembra do tempo do pilão? Eu só não trabalhava na roça. Nunca gostei.
Muitas vezes, eu fui chamado de louco por estudar muito.
Esta é apenas uma parte da minha árdua história.
Digo isso para mostrar que eu não desisto dos meus ideais. Conheço o que é bom. Conheço o belo. O homem que eu sou hoje analisa todo o seu passado até agora. Sei o que me foi essencial, o que me foi fundamental, o que me ajudou a trazer até aqui, o que me exaltou, o que me foi verdadeiro. Conheço a superficialidade deste mundo, as ilusões, a falsidade. Conheço também o que é autêntico e digno da minha reverência, amor e louvor. Não uso bebida alcoólica, não fumo, não tenho vícios.
Eu, portanto, não desisto do bem que eu conheço, da beleza que eu tenho o prazer de amar, contemplar e aplaudir.