LIBERTÉ - LIVRE OUVERT
FECHEI NEGÓCIO COM A LIBERDADE

Sobre meus cadernos de escolar
quero agora fazer poemas como nunca quis
Sobre minha escrivaninha e as árvores
até transbordarem uma inegável doçura
Sobre o sabre e sobre a neve
saboreando a imortalidade pueril
Eu escrevi teu nome

Sobre todas as páginas lidas
invento o que é irrevogável para gerar
Sobre todas as páginas brancas
a imaginação fértil de gerações
Pedra sangue papel ou cinza
sobre a nossa sepultura
Eu escrevi teu nome

Sobre as imagens douradas
o meu e o teu nome e um silêncio
Sobre as armas dos guerreiros
onde ficarei à noite aportado
Sobre a coroa dos reis
como navio num cais
Eu escrevi teu nome

Sobre a floresta e o deserto
escrevo o Universo em cada verso
Sobre os ninhos sobre os ornamentos
descendo no pormenor
Sobre os ecos de minha infância
de cada letra
Eu escrevi teu nome

Sobre as maravilhas das noites
acreditarei que vens e ficas nas estrelas
Sobre o pão branco das jornadas
entre as entre-linhas escritas
Sobre as estações
no berço das palavras
Eu escrevi teu nome

Sobre os campos sobre o horizonte
só o destino predestinará meus erros
Sobre as asas dos pássaros
onde planarei livre no vento
E sobre o moinho das sombras
até ter o peso do voo
Eu escrevi teu nome

Sobre cada sobre de aurora
deixarei por testamento um testemunho
Sobre o mar sobre os barcos
do tamanho dum punho fechado
Sobre a montanha demente
tudo à conta da Liberdade!
Eu escrevi teu nome

Sobre a espuma das nuvens
depois tão calmo quanto é possível ser
Sobre os suores das tempestades
deixarei correr o sangue em mim
Sobre a chuva espessa e monótona
em cada pulsação da vida
Eu escrevi teu nome

Sobre as formas cintilantes
já não haverá flores na jarra e será ela
Sobre os sinos de cores
a forma escolhida para o centro
Sobre a verdade física
onde lembrarei teu corpo
Eu escrevi teu nome

Sobre os sentimentos despertados
os gestos delicados onde se recolhem
Sobre as rotas percorridas
as memórias todas que ficam
Sobre os lugares que passamos
dos nossos dias Futuro
Eu escrevi teu nome

Sobre a lâmpada que acende
não me culpo de não ter culpa nem invento
Sobre a lâmpada que apaga
uma mágoa que não magoa jamais
Sobre minhas casas reunidas
a eternidade deste momento
Eu escrevi teu nome

Sobre o fruto cortado em dois 
onde uma onda é sempre sobre a onda 
Do espelho e do meu quarto
com a imagem certa fertilizando
Sobre minha cama vazia
os equinócios dos ócios
Eu escrevi teu nome

Sobre meu cão guloso e terno
semeio semelhante às plantas sementes
Sobre suas orelhas em pé
que espero se ouçam a crescer
Sobre sua pata manca
no vagar duma leitura
Eu escrevi teu nome

Sobre o trampolim de minha porta
aqui nenhum lugar estará pela ausência
Sobre os objetos familiares
ocupado antes de ser passagem
Sobre a onda do fogo abençoado
entre uma margem e outra
Eu escrevi teu nome

Sobre a carne viva
como uma ferida será o fio onde penduras
Sobre a face dos meus amigos
a roupa lavada para o sol secar
Sobre cada mão que se estende
na companhia do vento
Eu escrevi teu nome

Sobre a vidraça das surpresas
seremos todos companheiros transparentes
Sobre os lábios atentos
a transparência beijaremos à vez
Bem embaixo do silêncio
como uma deusa em nós
Eu escrevi teu nome

Sobre meus refúgios destruídos
romperei num choro purificador a lágrima
Sobre minhas frases desabadas
duma alegria tão feliz como está
Sobre os muros do meu tédio
esta maneira mais certa
Eu escrevi teu nome

Sobre a ausência sem desejo
de esperar sem desesperar esperando
Sobre a solidão nua
a esperança nossa de cada dia
Sobre as marcas da morte
alimentando a alegria
Eu escrevi teu nome

E pelo poder de uma palavra
fui escrevendo os meus versos simples
Eu recomeço minha vida
como se não houvesse verso
Eu nasci para te conhecer
neste nosso face a face
Para te nomear:
LIBERDADE
Liberdade

(Tradução de Paulo Lima)
Paul Éluard 
http://www.geocities.com/cumbucapoetica/?200720
Francisco Coimbra 
http://www.recantodasletras.com.br/autores/Francisco

LIBERTÉ - LIVRE OUVERT

Sobre meus cadernos de escolar
Sobre minha escrivaninha e as árvores
Sobre o sabre e sobre a neve
Eu escrevi teu nome

Sobre todas as páginas lidas
Sobre todas as páginas brancas
Pedra sangue papel ou cinza
Eu escrevi teu nome

Sobre as imagens douradas
Sobre as armas dos guerreiros
Sobre a coroa dos reis
Eu escrevi teu nome

Sobre a floresta e o deserto
Sobre os ninhos sobre os ornamentos
Sobre os ecos de minha infância
Eu escrevi teu nome

Sobre as maravilhas das noites
Sobre o pão branco das jornadas
Sobre as estações
Eu escrevi teu nome

Sobre os campos sobre o horizonte
Sobre as asas dos pássaros
E sobre o moinho das sombras
Eu escrevi teu nome

Sobre cada sobre de aurora
Sobre o mar sobre os barcos
Sobre a montanha demente
Eu escrevi teu nome
Sobre a espuma das nuvens
Sobre os suores das tempestades
Sobre a chuva espessa e monótona
Eu escrevi teu nome

Sobre as formas cintilantes
Sobre os sinos de cores
Sobre a verdade física
Eu escrevi teu nome

Sobre os sentimentos despertados
Sobre as rotas percorridas
Sobre os lugares que passamos
Eu escrevi teu nome

Sobre a lâmpada que acende
Sobre a lâmpada que apaga
Sobre minhas casas reunidas
Eu escrevi teu nome

Sobre o fruto cortado em dois
Do espelho e do meu quarto
Sobre minha cama vazia
Eu escrevi teu nome

Sobre meu cão guloso e terno
Sobre suas orelhas em pé
Sobre sua pata manca
Eu escrevi teu nome

Sobre o trampolim de minha porta
Sobre os objetos familiares
Sobre a onda do fogo abençoado
Eu escrevi teu nome

Sobre a carne viva
Sobre a face dos meus amigos
Sobre cada mão que se estende
Eu escrevi teu nome

Sobre a vidraça das surpresas
Sobre os lábios atentos
Bem embaixo do silêncio
Eu escrevi teu nome

Sobre meus refúgios destruídos
Sobre minhas frases desabadas
Sobre os muros do meu tédio
Eu escrevi teu nome

Sobre a ausência sem desejo
Sobre a solidão nua
Sobre as marcas da morte
Eu escrevi teu nome

E pelo poder de uma palavra
Eu recomeço minha vida
Eu nasci para te conhecer
Para te nomear:
Liberdade

(Tradução de Paulo Lima)
Paul Éluard

FECHEI NEGÓCIO COM A LIBERDADE

quero agora fazer poemas como nunca quis
até transbordarem uma inegável doçura
saboreando a imortalidade pueril

invento o que é irrevogável para gerar
a imaginação fértil de gerações
sobre a nossa sepultura

o meu e o teu nome e um silêncio
onde ficarei à noite aportado
como navio num cais

escrevo o Universo em cada verso
descendo no pormenor
de cada letra

acreditarei que vens e ficas nas estrelas
entre as entre-linhas escritas
no berço das palavras

só o destino predestinará meus erros
onde planarei livre no vento
até ter o peso do voo

deixarei por testamento um testemunho
do tamanho dum punho fechado
tudo à conta da Liberdade!

depois tão calmo quanto é possível ser
deixarei correr o sangue em mim
em cada pulsação da vida

já não haverá flores na jarra e será ela
a forma escolhida para o centro
onde lembrarei teu corpo

os gestos delicados onde se recolhem
as memórias todas que ficam
dos nossos dias Futuro

não me culpo de não ter culpa nem invento
uma mágoa que não magoa jamais
a eternidade deste momento

onde uma onda é sempre sobre a onda
com a imagem certa fertilizando
os equinócios dos ócios

semeio semelhante às plantas sementes
que espero se ouçam a crescer
no vagar duma leitura

aqui nenhum lugar estará pela ausência
ocupado antes de ser passagem
entre uma margem e outra

como uma ferida será o fio onde penduras
a roupa lavada para o sol secar
na companhia do vento

seremos todos companheiros transparentes
a transparência beijaremos à vez
como uma deusa em nós

romperei num choro purificador a lágrima
duma alegria tão feliz como está
esta maneira mais certa

de esperar sem desesperar esperando
a esperança nossa de cada dia
alimentando a alegria

fui escrevendo os meus versos simples
como se não houvesse verso
neste nosso face a face
LIBERDADE

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 20/05/2007
Reeditado em 20/05/2007
Código do texto: T493951