FELICIDADE

Dr. Márcio – Como o Senhor consegue explicar a Felicidade? Vejo pessoas só fazendo burrices, agressões e ainda assim, se sentem importantes, crentes que comandam o destino do mundo.

Clóvis - A felicidade, conforme mostra a prática diária, é observada nas pessoas que têm consciência de viverem momentos de desafios, com tarefas variadas. Para estas pessoas, por mais difíceis se mostrem os obstáculos, maior o prazer sentido na obtenção dos resultados.

Tropeços, sustos, erros no percurso, são considerados como uma volta na montanha russa:

Solavancos, subidas e caídas, com enorme vazio na barriga, em nada impedem a satisfação de terem vencido algo, que de início, parecia perigoso.

Isto se explica pelo fato de ao nascermos, trazermos registrados em nossa mente, numa parte chamada de inconsciente, cravados dois instintos básicos, que dirigem nossas vidas:

O instinto de prazer, também chamado de Eros, que nos leva a buscar principalmente o prazer, a aventura, a alegria.

E o instinto de morte (anulação, ou sofrimento), conhecido como Tanatos, que busca nos defender contra a morte, contra as agressões que sofremos em nosso dia a dia.

Quando Eros não consegue trazer a satisfação, brota a frustração, dor, infelicidade, inferioridade.

Para que ele seja bem sucedido, existem condições impostas para esta satisfação, muitas captadas com o aprendizado: 1- permissões pela consciência coletiva, que contém informações herdadas dos antepassados e que já nascem com o indivíduo. Dentre estas informações, existem dados já consagrados como certos ou errados; 2- permissão social, para realização de algum desejo, sem violentar o senso comum e o não rompimento com o aprendido sadio (ético); 3- resposta do outro, ou da sociedade, de forma satisfatória;

A infelicidade: surge em função do aumento das defesas contra os erros; ou por crer o indivíduo, que gerará uma agressão resultante do seu erro. Isto cria o medo de ser rejeitado.

Apesar de ser esta, a regra social mais imposta, os indivíduos não percebem a permissão que a sua própria natureza o ensina: ”o erro é inerente ao aprendizado”. O medo de errar cria uma defesa como alerta, que distrai a atenção do aprendizado, aumentando, isto sim, as chances de erro.

As pessoas são induzidas a uma confusão, quando lhes fazem pensar, que “somos criados a imagem e semelhança do Criador”, o que as leva a crer que deverão atingir o estágio de perfeição do criador (onipotência e onisciência, pelo menos). Esta meta, impossível de ser alcançada, leva-as a fingir que o são e para despistarem, muitas delas procuram ter ou afundam-se num servilismo inútil, pois foge da maior verdade: “só é possível gostar da vida, do outro, se nos sentirmos capazes de gostarmos de nós mesmos”.

A felicidade depende do conhecimento da simplicidade dos sentimentos, dos eventos, das coisas; isto porque as soluções são sempre simples, depois que são compreendidas.

Para se chegar a este estágio, temos que tentar acertar, fazendo tentativas, onde o erro, geralmente, é inevitável, quanto mais trabalhosa for a busca; e consequentemente, mais valorizada será a descoberta da solução. Temos, para conseguir pensar assim, que obtermos um equilíbrio entre o físico, o psíquico e o social (saúde), o mais saudável possível. Temos que ter nossas substâncias químicas cerebrais em harmonia.

Existe uma área capaz de interpretar o prazer; ela se chama septo pelúcido e está situada na ligação das duas metades do cérebro.

A felicidade é a capacidade do ser humano de sentir-se em harmonia consigo e com o ambiente. Quando está feliz, e se satisfaz com pequenos acontecimentos ou percepções agradáveis.

Ser feliz é saber enfrentar as dificuldades, cair, levantar, tornar a cair e sentir-se capaz de viajar nesta montanha russa, chamada de vida.

Existem pessoas que lutam por toda uma vida; estas são invencíveis, porque descobriram que são capazes, livres e que não são felizes todo o tempo, mas se agradam, se afagam, se recompensam por vitórias pequenas, mas importantes. Triste é constatar, que as pessoas têm o hábito de guardar a felicidade, onde nunca a procurarão e procuram onde ela nunca está como já disse o poeta.

Vejo pessoas buscando tentar ferir seu próximo, para tentarem esconder seus erros graves.

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Marcio Funghi de Salles Barbosa

Psiquiatra – Terapeuta - Consultor de Relações Humanas