Quantas línguas existem no mundo?
No Brasil, a língua 'arikapu' hoje é falada por apenas seis índios. Quando os portugueses chegaram ao País, povos indígenas falavam mais de mil idiomas. Línguas faladas na Sibéria e Alaska também estão em extinção
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Colete Grinevald, professora de lingüística da Universidade Lyon II, na França é especialista no assunto. Foi convidada pela Unesco para traçar um panorama dos idiomas falados no mundo.
Um resultado assustador: das seis mil línguas faladas hoje na Terra só a metade resistirá até o ano 2100. Nas Américas e na Austrália, 90% das línguas vão desaparecer até o fim deste século.
As línguas são como as espécies animais e vegetais em perigo no planeta. A vida delas também está por um fio. Atualmente 97% das pessoas do mundo falam apenas 240 dos seis mil idiomas existentes.
Você conhece o ranking das línguas mais faladas?
Em primeiro lugar vem o Mandarim, da China, falado por 1 bilhão de pessoas. A segunda é o inglês, mais falada por 510 milhões de pessoas. Em terceiro lugar vem o Hindi, da Índia, falada por 500 milhões de pessoas. Em quarto lugar está o espanhol, língua falada por 400 milhões de pessoas. O russo aparece em quinto lugar, idioma falado por 280 milhões de pessoas.
Em sexto está o árabe, língua falada por 250 milhões de pessoas. O Bengali, da índia, é o sétimo idioma mais falado, por 210 milhões de pessoas. O português, falado por 190 milhões de pessoas aparece em oitavo lugar. Em nono lugar está o indonésio, idioma falado por 180 milhões de pessoas. E em décimo lugar o francês, uma língua falada por 130 milhões de pessoas.
Nenhuma das 10 línguas mais faladas hoje corre algum risco. Por outro lado a Amazônia vai sofrer uma devastação na sua diversidade lingüística. Triste fim para a parte do planeta mais rica em idiomas.
“Ninguém reinventa uma língua que desapareceu. Tem grupos indígenas que tentam reviver uma língua que já todo mundo deixou de falar. A única coisa que eles podem fazer é lista de vocabulário e mandar os meninos aprenderem. Lista de vocabulário não é a língua. Ou seja, o que se perdeu definitivamente são as regras abstratas que estão na mente dos falantes. Isso se perdeu definitivamente. Uma língua que desaparece, desaparece para sempre”, diz o lingüista Francisco Queixalos.
Uma das razões para o desaparecimento é que a metade de todas as línguas é falada por comunidades pequenas, com menos de 2500 habitantes/ idioma, segundo dados do Worldwatch Institute, uma organização privada que estuda as tendências culturais em todo o mundo. E, de acordo com a Unesco, para passar de uma geração a outra, uma língua precisa ser falada por pelo menos 100 mil nativos.
Guerras, genocídios, desastres naturais, a difusão de línguas dominantes como o chinês e o russo, assim como as proibições oficiais de se falar uma língua, também contribuem para a extinção de um idioma. Em janeiro, por exemplo, um terremoto devastador na Índia matou 30 mil kutchi. Hoje sobram apenas 770 mil pessoas que falam esta língua. "De certa forma, o processo de desaparecimento de uma língua é semelhante a de um animal", comenta Payal Sampat, investigador do Worldwatch.
As perspectivas para os idiomas udihe, eyak e arikapu, falados na Siberia, Alaska e no Brasil, respectivamente, são as piores possíveis. Apenas cem pessoas falam o udihe, seis se comunicam em arikapu e somente uma fala o eyak, segundo o instituto Worldwatch.
Hoje, os povos indígenas no Brasil falam mais de 170 línguas e dialetos diferentes. Acredita-se que quando os portugueses chegaram aqui, este número girasse em torno de mais de mil idiomas, segundo o Instituto Sócio Ambiental. Hoje se conhece a existência de dois grandes troncos lingüísticos, o Tupi e o Macro-Jê, e 36 famílias lingüísticas. Apenas nove línguas indígenas têm acima de 5 mil falantes: Guajajara, Sateré-Mawé, Xavante, Yanomami, Terena, Makuxi, Kaingang, Ticuna e Guarani, estes últimos com 30 mil indivíduos. Cerca de 110 línguas contam com menos de 400 falantes.