QUICOÇÔ?

Hoje usarei a Coluna, para contar-lhes algo muito interessante e proveitoso. Se todos tivessem essa orientação, hoje estaríamos engolindo menos “SARMALUF”, praga muito perigosa e contagiante..

Conheci há muitos anos uma pessoa, que mal sabia rabiscar seu nome e era portadora de epilepsia.

Ganhava seus ‘trocados’ catando papelão, para vender na reciclagem. Isto lhe rendia cerca de 450 reais por mês, completados pelos 600 reais que a esposa recebia como doméstica.

Éramos muito amigos e sentíamos alegria quando nos encontrávamos.

Suas crises convulsivas foram desaparecendo, à medida que o tratamento dava bons resultados.

Nossa amizade tinha um detalhe: ele mal sabia desenhar seu nome, mas sua inteligência mostrou-me coisas fantásticas, que a vida lhe ensinara. A forma como vou descrever nosso contato não é perfeitamente a que usou, mas direi em linguagem “simples/corrente”, mesmo porque não me recordo de tudo como falou.

Certo dia, curioso, perguntei-lhe sem medo: _ Como é viver com dois filhos, a esposa e ganhar um total de 1.050 reais por mês, comprando medicamentos com frequência?

_ E quem disse a você, que eu só ganho esta ‘merreca?’ Ele respondeu.

Alarmei-me e lhe respondi: _Você, se somarmos os dois salários que vocês recebem.

A réplica: _Explico tudo pra você: meu irmão trabalhava numa fábrica grande de Limeira que faliu, onde não podendo pagar a indenização que tinha pra receber, ganhou do ex-patrão um ‘mato vazio’, com o dobro do meu terreno, e o mais importante, era vizinho ao meu lote onde fiz minha casa. “O ‘mato’ era um “capinzar” e ruim de “arcançá”.

“Pra não ficar sem ‘recebê’, ele aceitou o acordo. Como ele já tinha sua casinha e não podia construir outra, falei pra ele que usasse o terreno. Depois de muito quebrar a cuca, decidimos fazer uma horta e vender as plantas ‘pros quitandeiro e feirante.”

“Fui ‘aprendê como plantá verdura, legume e as fruta’ e hoje cada um de nós tira de 2.500 a 3.000 reais por mês, com as plantações.”

Surpreendi com a lucidez dele e inquiri: _ Como você chegou a esta conclusão?

Resposta: _ O segredo está no que aprendemos com nosso pai, homem sofrido com a lavoura, mas que aprendeu com o pai dele, que aprendeu com meu bisavô, que aprendeu com o tataravô e assim por diante.

Perguntei: _Me ensina esta dica, pois parece maravilhosa!

Ele: _ Meu pai disse, quando eu era moço, que o cara pra ser gente, precisa se ‘fazê catro pregunta’, sem medo. A primeira ‘é ‘Quicoçô’. “Nestora, temu que olhar para dentro da gente, sem medo de vermo como somo de corpo e de alma, vendo nossos erros, covardias, relações com as pessoas, nossa falta de certeza (insegurança), nossos sonhos, nossos desejo e tudo que for possíve vê”. Com base nesta “enxergança, nóis podemo concruí que brechas podi sê abridas, para ter melhora de vida, concerto de nossas macaquices e uma boa prosa”.

“Adepois precisamos di arespondê, com base nesta ‘enxergação’ honesta, quais as coisa qui se podrá fazê.“

“Aí vinha a sigunda pregunta’: _’Quicoquero’? Daí a gente ‘miorava’ as amizade, as bondade verdadera, pensava no futuro e via quar coisa pudia ser feita. Nem sempre ascertava de premera, mas acabava achano algo bão e fazia a tercera pregunta;_Prondé- covo?”

“O sinhô, pur exemplu, dicidiu sê médicu.” Noi concordamo em cê prantadô de horta.”

“Adecidi í pro Seu Zê Romeu, ele sabia de tudo isso e minsinaria.”

“I adepois fiz a cuarta pregunta: Cumécovô? “Dicidi i de charrete e ripití as visita, até ficá craqui nas prantação.”

“Cumu o sinhô vê, o povo num sabe sê simple, busca só increnca.”

“ Bastaru as quatri pregunta qui o pai insinô: ‘QUICOÇÔ’, ‘QUICOQUERO’, ‘PRONDÉCOVÔ’ e ‘CUMÉCOVÔ”, sem mai procura.”

“ ETA povo bobu, cumpricado, NE?”

Esta história verdadeira serve para nos mostrar como as coisas podem ser encontradas facilmente, bastando, como aprendi que o nosso rumo pode ser traçado, a partir do encontro com nós mesmos ‘quicoçô’, sem culpas, vendo a realidade, entendendo-as, corrigindo dentro da verdade,

Isto nos fará ver quais as nossas competências, ‘quicoquero’, dentre as quais podemos escolher uma; a perseguimos, tentamos realizá-la, abandonando-a se não virmos um futuro compensador, não nos maltratando; e buscar outra função, ou outras, até nos sentirmos felizes, sem esquecer que estamos buscando entender “prondecovô” e “cumécovô, pois não adianta sonhar com futuros inalcançáveis; temos que ser felizes com a realidade.

Em nosso dia a dia, como já chamamos a atenção para este fato, nos deparamos com pessoas que “comem xuxú e arrotam peru”, não sustentando por muito tempo o seu arroto e vomitando besteiras, que o destituem de uma roupagem que não vestirão, por perderem tempo, fazendo filmes de ficção.

Dentre os falsos existem caminhos que podem ser trilhados e ocultam por longo tempo as suas falcatruas; mas por mais que sorriam, mintam, esnobem, seu interior será o de alguém infeliz, que às vezes compra o que quer, com a desgraça do alheio.

Pensemos um pouco na saúde: vi há poucos dias, uma senhora de outra cidade, trazida por um cliente que viera para a consulta, que possui parte de seu hemisfério esquerdo do cérebro destruido, por causas de má vascularização por uma trombose grave que sofreu. Anda arrastando-se, dependurada em um andador e me pediu se eu poderia interferir junto ao SUS com um pedido de atendimento rápido, para que adiantassem sua consulta, marcada para daí a trinta dias, após os exames que fizera e teria que levar para sua médica.

Fiquei muito triste, pois além de pessoa pobre, com uma aposentadoria vagabunda deixada pelo falecido esposo, tendo um quadro tão grave, o SUS sobrecarregado de consultas iria vê-la só neste prazo, quase infinito, por uma médica que nem imaginava a gravidade do caso, pois a vira antes de saber do acidente trombótico, quando sofreu uma tontura, que a deixou dois dias de cama e teve que ser levada pela vizinha de taxi para consulta.

Resolvi abrir os resultados de exame e já na tomografia, percebia-se o tamanho do prejuízo e as sequelas que surgiriam.

Fiz uma carta detalhando o caso, pedindo urgência no atendimento e a resposta do coordenador, apesar de verdadeira, me deixou indignado. Foi dito ao portador da carta: “Diga ao Doutor, que já estamos fazendo milagres, mas ainda falta a nossa canonização pelas entidades, contratando mais médicos a preços honestos, pois este sistema é infelizmente, o único de saúde, que a canalhada dedica à população. Vou tentar uma hora extra, sem remuneração, da doutora, para ver o que podemos conseguir.”

Este fato foi relatado a mim dois dias após a minha tentativa de ajuda; à noite a senhora foi se encontrar com o esposo no céu.

Vivemos engolindo mensalões, notícias que ex-políticos bilionários estão viajando com o nosso dinheiro, fazendo média de estarem divulgando o Brasil, críticos sem profundidade, falando dos cretinos, que estão armazenando bilhões e nós rezando para que novas curas sejam rapidamente descobertas, com as merrecas que ganham os serviços de pesquisas e atendimentos.

O Leitor deve estar se perguntando: “Onde quer chegar o escritor deste artigo?”.

Quero voltar ao início do mesmo, onde cada um de nós precisa fazer as quatros perguntas, que um não estudado nos ensina: “QUICOÇÔ’, “QUICOQUERO’, ‘PRONDECOVÔ’ e “COMECOVÔ”; senão estaremos fingindo, usando as eleições como fazem as torcidas dos clubes de futebol, escolhendo canalhas que só querem tirar sua parte e que no fundo querem que a população se dane, como diz maravilhosamente o personagem dA Praça é Nossa: “O POVO QUE SE DANE!”

Tomara lancemos nosso olhar para dentro e deixemos de fingir ser “O QUE SABE TUDO, POR ISTO NÃO ME ABORREÇA!”

Há alguns anos tive uma idéia, onde os intencionalmente desinteressados, tentaram me fazer esquecê-la.

Lançaríamos a primeira parte: cada bairro seria convidado, ou estimulado por um decreto lógico a criar a sua “Sociedade de Amigos do Bairro”, elegendo o seu Presidente, dentre os mais competentes.

A seguir iríamos reunir algumas Sociedades e criarmos uma “Região de Sociedades de Amigos de Bairros” Continuando faríamos uma eleição dentre os Presidentes, buscando eleger o(s) mais capacitado(s) para Vereador(es), que representaria(m) aquela Região, lutando por suas necessidades na Câmara. Mesmo que não fosse(m) eleito(s), participaria(m) dos Horários livres, para divulgar as pendências e urgências de sua Região.

Unindo várias Regiões, poderíamos até ter candidatos a Prefeito e quiçá vários vereadores, ou mesmo (mais à frente) um Deputado estadual, se ele provasse saber muitas realidades, no mínimo que quiçá, não é CUICA, como o fez um governador mineiro, já falecido.

A moda pegando, por ser válida, uniria com tempo e prova de capacitação, Regiões representativas de várias cidades, criando o chamado voto DISTRITAL, que já foi desejado, existe em alguns paizes, com seus cantões, mas o bloqueio oportunista de quem se prejudicaria, não permitiu ir adiante. Só houve a tese.

Estou sonhando? Sou um megalomaníaco, ou a sociedade não se importa em continuar sendo usada, desde que coma seu angu sem sal?

Ter paz, só acontece quando nos amamos e traçamos uma meta útil também à sociedade.

Pense Nisto!

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Dr. Márcio Funghi de Salles Barbosa

recanto@drmarcioconsigo.com