JOAQUIM MONCKS, O CAPITÃO DA ESPERANÇA

(Textos de Luciamen Winck, publicados no jornal “Zero Hora”, de Porto Alegre/RS).

Nos finais de tarde, os pardais que habitam o bairro Santa Tereza já não cantam com o mesmo vigor do amanhecer. Quando o sol se põe, deixando o céu avermelhado, as pequenas aves apenas sussurram em sinal de despedida. Em pouco tempo a noite chega. Cigarrilha preta com piteira no canto da boca, o tenente-coronel PM da reserva, ex-deputado estadual e poeta Joaquim Moncks, 46 anos, assiste a transformação da sacada de sua casa, na Rua Corrêa Lima. São momentos de paz e conforto. Inebriado, ele corre os olhos pela cidade recém iluminada como se estivesse buscando inspiração.

Nascido em Pelotas e primogênito de uma família de oito filhos, em 1964, Moncks veio morar em Porto Alegre para estudar no Centro de Instrução Militar, hoje Academia de Polícia Militar (APM), com sede na Avenida Coronel Aparício Borges, 2001, no Partenon. “A Revolução estava ocorrendo quando abri os olhos para o mundo”, diz. A carreira militar entrou na vida do ex-deputado meio na imposição. Oficial de fileira da Brigada Militar, o pai chegou ao posto de capitão e desejava ver o filho mais velho seguindo sua profissão. Não tendo como contestar, ele ingressou na corporação aos 17 anos e, em abril de 1990, pouco depois de atingir o posto de tenente-coronel, foi para a reserva.

Logo após concluir o curso de formação, em 1967, Joaquim Moncks voltou a Pelotas para servir no 4º BPM. Também comandou o destacamento de Canguçu, de 1969 a 1972, onde foi administrador do presídio municipal, presidente do Conselho de Desenvolvimento e da Liga de Defesa Nacional, secretário da 21ª Região Tradicionalista e professor de Educação Física na Escola Normal Nossa Senhora Aparecida e no Ginásio Estadual. Além de todas as funções que exercia no município, Moncks ainda se dedicava ao curso de Direito, na Universidade Federal de Pelotas – UFPel, tendo cancelado a matrícula em 1970, para dedicar-se com exclusividade às tarefas na comunidade canguçuense.

PRISÃO – No início de 1972 voltou à Capital para fazer o curso de Especialização em Polícia Militar (CEPM) e, tendo sido aprovado em 2º lugar, passou a lecionar na APM. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) concluiu a faculdade de Direito em 1976. No dia da formatura, foi protagonista de uma cena inusitada. “Recebi dois diplomas, o de bacharel em Direito e o especialização em Ciências Penais. Consegui esta façanha porque o edital previa que os professores do ensino jurídico poderiam frequentar o curso de aperfeiçoamento e eu me enquadrava neste requisito por lecionar na Academia de PM”, explica, enfatizando que também foi assistente militar da presidência do Tribunal de Justiça Comum do Estado.

Em 28 de julho de 1981, Moncks conseguiu abalar as estruturas da Brigada Militar ao criticar a ditadura. Seu discurso foi considerado ofensivo às Forças Armadas, segundo o comando da BM. “Entre outras coisas, eu pedi a revogação da Lei de Segurança Nacional por entender que os verdadeiros patriotas estavam de bocas fechadas”, afirma. Pela insubordinação, acabou trancafiado por 26 dias no Regimento Bento Gonçalves. Até 1979, enquanto eu não havia incomodado o sistema, era útil e prestigiado na corporação. Em 1974 fui promovido a capitão com menos de 03 anos no posto de 1º tenente. Depois, cheguei a esperar 13 anos por uma promoção”, argumenta.

Com sua prisão, nascia a figura do Capitão da Esperança, alcunha política criada pelo atual senador Pedro Simon, em um discurso na Vila São Lucas, em Viamão, onde traçava um paralelo entre Joaquim Moncks e Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança. Em 1982, concorreu a deputado estadual, tendo obtido 8.756 votos. Sua votação foi importante para a oposição no RS, porque o comandante da BM, Coronel Milton Weirich, também concorreu a deputado pelo PDS, e faltaram ao mesmo cerca de 900 votos para lograr a eleição, votos possivelmente classistas que foram para o Capitão da Esperança. Depois de uma passagem meteórica pelo Comando do Corpo de Bombeiros, resolveu dedicar-se prioritariamente à política. Em 1986, elegeu-se 5º suplente da bancada do PMDB, com 16.099 votos. Devido ao afastamento de colegas da bancada convocados pelo governador Pedro Simon para o secretariado, assumiu como deputado estadual, e participou da elaboração da Constituição Estadual como presidente da comissão temática de Educação, Cultura, Desporto, Ciência, Tecnologia e Turismo. Antes de chegar ao término do mandato, em abril de 1990, perdeu o mandato em razão do retorno de um deputado titular à Assembleia, Moncks pediu afastamento do serviço ativo para tentar nova candidatura. Já na reserva da BM, apesar da cansativa campanha, não obteve êxito.

Poeta prepara um novo livro sobre o lado místico da vida – L.W.

Homem de vida agitada, Joaquim Moncks ainda não conseguiu tempo para dedicar-se à poesia. Era um garotinho quando começou a escrever. Hoje, a sua inspiração vem do alto do Morro Santa Tereza. É visto com frequência no belvedere, contemplando o pôr-do-sol. Como bom torcedor do Sport Club Internacional, também observa a movimentação da torcida colorada no Estádio Beira Rio. Está em fase de conclusão do livro O Poço das Almas, sobre o lado místico da vida.

Quando não está fazendo “cooper” pelas ruas do bairro ou comendo cachorro-quente e tomando cerveja em um trailer ao lado do portão de acesso às dependências da TV Educativa, Moncks se refugia em sua biblioteca particular ou brinca com as cadelas filas, Alfa e Delta. Sensível, diz que é apaixonado pelos filhos Larissa, de 19 anos, e Luíz Inácio, de 12. Mesmo estando separado de Maria de Fátima há um ano e cinco meses, ele decidiu ficar morando com a família. “Eu fiquei na mesma casa para administrar junto a criação das crianças”, explica.

Ele diz que deve à ex-mulher, assessora do deputado estadual Mendes Ribeiro Filho, grande parte do sucesso profissional e na política. Moncks costuma freqüentar os bares noturnos do bairro Menino Deus e Cidade Baixa. Adora ir ao Van Gogh, no Bar Fascinação, na Cia. dos Sanduíches e na cervejaria Getúlio Vargas.

PRÍNCIPE – Na poesia Joaquim Moncks encontrou motivação. Autor dos livros Ensaio Livre (1973), Força Centrífuga (1979), Itinerário? (1984), O Eu Aprisionado (1986) e O Sotão do Mistério (1992), também participou de várias coletâneas e antologias, sendo Modernidade Poética do Rio Grande do Sul a mais expressiva. Atualmente exerce o cargo de presidente da Casa do Poeta Rio-Grandense – CAPORI, com sede na Rua Visconde do Herval, 386, no Menino Deus. Moncks ingressou na CAPORI em 1977, quando passou a conviver com o movimento comunitário de Porto Alegre, especialmente na Federação Rio-Grandense de Associações Comunitárias e de Moradores de Bairros – FRACAB, onde a Casa do Poeta tinha representação no seu Conselho Deliberativo. Por estas participações respondeu a várias portarias pelas quais o comando da BM pedia explicações sobre o seu engajamento político com a FRACAB.

“A militância na Casa do Poeta resgatou em mim o cidadão e eu consegui aperceber que o primeiro dos oito filhos do brigadiano, por sua formação para o oficialato da Brigada Militar, havia se aburguesado e perdido suas raízes proletárias”, recorda. Para Moncks, a formação militar havia transformado o filho plebeu em príncipe.

– Recolhido do Jornal dos Bairros: Santa Teresa; edição encartada no Jornal ZERO HORA, Porto Alegre/RS, 30.04.1993.

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