Carlos José Rosa Moreira (Ocupante da Cadeira 32) Escritor, veterinário, bacharel em Direito (aprovado na OAB), professor, analista judiciário, esportista. Nasceu em Niterói, em frente à Praia de Icaraí, em 11-3-1955. Passou a infância em Teresópolis, onde estudou no Colégio São Paulo (das Irmãs Angélicas) e no Colégio Estadual Edmundo Bittencourt. No início da adolescência retornou a Niterói. Fez seus estudos secundários no Colégio Salesiano de Santa Rosa. Formou-se em Veterinária pela Universidade Federal Fluminense – UFF (quando foi o orador de sua turma) no ano de 1981 e em Direito pelo Instituto Metodista Bennett, em 1998. Trabalhou na Secretaria Estadual de Agricultura, nas áreas de Zootecnia, Epidemiologia e Informação (Bioestatística) e Educação Sanitária e também na área de Saúde Pública, onde auxiliou a implantação e executou o primeiro serviço de Vigilância Sanitária do Estado do Rio de Janeiro após o advento do Serviço Unificado de Saúde (SUS).Treinou várias equipes de Vigilância Sanitária oriundas de municípios do interior do Estado do Rio de Janeiro. Planejou, coordenou e executou diversas campanhas de vacinação, além de trabalhos técnicos nos campos da epidemiologia e do combate às zoonoses. Aprovado no curso de mestrado da - UFF (não concluído), foi professor da Cadeira de Saúde Pública da Faculdade de Veterinária Plínio Leite. Esportista, jogou futebol de areia na adolescência e chegou a participar dos antigos torneios de Icaraí, entre eles, “A Semana de Icaraí”. Mergulhador, caçador submarino, montanhista, tenista, praticante de artes marciais. Foi titular da seleção estadual de caratê em diversos torneios entre estilos e academias, em campeonatos municipais, estaduais, regionais e nacionais. Possui diversos títulos da modalidade caratê esportivo. Exerceu, durante vários anos, a função de diretor cultural da Associação Brasil Japão de Artes Marciais, posterior Jinen Kan. Praticante de judô, fez parte de uma das primeiras equipes da UFF. É pintor diletante, foi aluno de Roberto Paragó e chegou a participar de exposição do Núcleo Figurativo e Paisagístico de Niterói, criado pelo saudoso artista e professor. Apaixonado pela Literatura e pelo estudo dos idiomas, fala francês, inglês e espanhol. Seu primeiro livro foi publicado em 2002 (esboços de romances escritos desde a década de 70 e 80, transformados em contos), resultado de um concurso literário. Em 2003, publicou Da janela do trem, contos. Em 2005, Brisas, marolas e rajadas de vento Sul, livro onde mistura crônicas e contos. Em 2007,Amanhã de manhã, em frente ao cinema, em Icaraí, também contos e crônicas (a capa e contracapa deste livro foram desenhadas pelo autor). Em dezembro de 2010 publicouA montanha, o mar, a cidade, livro de crônicas. Obteve primeiras colocações e menções honrosas nos poucos concursos literários de que participou. Está presente em antologias, entre as quais Os Fluminenses – Antologia contemporânea, vol.I , Ed. Nitpress (2007). Além de integrar os quadros da ANL, é membro do Grupo Mônaco de Cultura, do Cenáculo Fluminense de História e Letras e da Associação Niteroiense de Escritores. Participa do movimento cultural “Escritores ao Ar Livro”, criado pelo poeta Paulo Roberto Cecchetti. É colaborador do jornal Literato. ( do site da Academia Niteroiense de Letras)
1- Quando sentiu o chamado das letras?
Acho que o chamado das letras começou quando aprendi a ler. Tornei-me desde muito cedo um devorador de livros e demais leituras. Sempre tive ao meu dispor muitos livros e revistas em quadrinhos; e dentro de mim, o interesse em desvendar aquelas páginas. Meu interesse pela Literatura sempre foi muito grande, não era apenas diversão ou sonho, era interesse pelo conhecimento e segredos que os livros contém. Eu lia e pesquisava, os livros sempre me fizeram pesquisar, desde o início, e pesquisava a geografia contida nos livros, a história, as ciências e, sem saber, a literatura, com suas formas e desenhos
2- A natureza se mostra forte em seus textos. De que forma ocorreu essa integração?
Sou um indivíduo totalmente envolvido pela natureza, seja a do mundo selvagem, seja da natureza humana. Profissionalmente, esportivamente e de várias formas sempre fui voltado para o mar, as montanhas, a selva, são ambientes que me fascinam, assim como o urbanismo intenso das grandes cidades. Perambulo feliz de um ponto a outro. Me fascina estar num ambiente remoto e selvagem, seja em terra ou no mar, e, no dia seguinte, estar no centro de uma grande metrópole.
3- Como costuma elaborar seus textos?
Os textos nascem de várias formas, podem ter origem num fato mínimo e banal, podem nascer de velhos conhecimentos e reflexões, podem surgir de leituras ou de pensamentos interessantes que, repentinamente, nos assaltam. A alma de escritor dá importância a esses fatos e pensamentos surgidos. Isso passa batido para a maioria das pessoas, mas o escritor retém e, até mesmo inconscientemente, guarda para si. Escritores são observadores do mundo, de certa forma, são "turistas" o tempo todo mesmo dentro de suas casas.
4- De que forma vê o cenário literário em termos de Brasil?
Há de tudo em termos de Brasil, mesmo porque não somos um, somos vários. Temos estados com nível de leitura igual ou bem próximo ao dos países mais adiantados, e outros onde pouco se lê, e são a maioria. Percebo que a moda de "celebridades" atinge também a Literatura. Há certos tipos de literatura em moda, sustentados por uma propaganda forte, são livros de escritores estrangeiros muito semelhantes entre si, "best-sellers" que seguem um após outro apoiados em propaganda. Há também individuos que aparecem de forma estranha, com, por exemplo, performances ou apelos para chamar atenção sobre seus livros. Há o consumo grande da autoajuda e dos livros religiosos. E nas editoras o setor de marketing é que diz quem é bom escritor e quem não é. Paralelo a isso tudo, acho que muitas escolas ainda não se adaptaram à realidade da criançada cibernética, informatizada e digital. É preciso haver sabedoria nos currículos escolares para colocar a Literatura na vida das crianças. As ciências e as matemáticas formarão o profissional, mas quem forma o cidadão é a Literatura, a Filosofia e a História. Há muitos bons escritores surgindo no país, nossa Literatura é interessante e rica, é preciso adaptar o ensino a essa vida informatizada.
5- Como tem sido sua relação com as editoras?
Tenho uma editora que publica meus livros, é com ela o meu contato.
6- É difícil o reconhecimento nacional para um escritor de valor , mas não midiático?
Muito difícil o reconhecimento. E acho que essa pergunta está respondida acima, mas acrescento um fato. Tenho um amigo vencedor do mais importante prêmio nacional, e isso não lhe trouxe nenhuma facilidade, pois para ter facilidade é preciso ser, como você diz, midiático. Se ele fizesse uma loucura qualquer na FLIP ou em outro local com muita visibilidade, se desfilasse peladão ou inventasse outra bobagem qualquer, num instante seus livros seriam impulsionados pela mídia, pode ter certeza. A qualidade em si, o talento, não assegura vida boa ao escritor. É o marketing quem manda nas editoras, acabou-se o tempo do grande José Olympio.
7- Fale-nos sobre novos projetos literários.
Estou a escrever um livro de crônicas e tenho projeto de um romance. Sou um cronista, mas vou fazer uma experiência, há muito desejada, no "nado longo", um romance ou novela.
8- Se pudesse fazer algo para melhorar o cenário cultural em nossa cidade, o que faria?
Niterói precisa ser lida. Há páginas e páginas para serem lidas e ninguém vê. O que eu faria? Criaria um grande projeto cultural no município, uma coisa abrangente, importante, febril, em todas as áreas culturais. Por exemplo: Niterói tem "livros" que precisam ser lidos, gravados e resguardados; pessoas de idade, cultas ou não, cheias de conhecimento do passado, de vida. Vasculharia o município registrando tudo, fotografando, pintando, premiando, resguardando: os conhecimentos interessantes, as histórias, as múltiplas memórias, a culinária, os que para aqui vieram, as artes , tudo. E para isso estariam, por muito tempo, irmanados os meios culturais, intelectuais, alunos, professores, empresários. Dinheiro para isso? Se temos dinheiro para pagar vereadores e seus assessores, e suas despesas muitas, teríamos também para um projeto cultural no município.
9- Sente-se realizado com a receptividade do leitor aos seus textos?
Apesar de ser um escritor da minha aldeia, sinto-me contente com a receptividade. O simples fato de estar sempre no meu meio, que é o literário, me deixa feliz.
10- Alguma mensagem para os leitores?
Aos leitores digo que continuem a ler, de tudo, sempre. Não se deixem levar pela mídia, procurem escritores que não estão na mídia, gênios que já não vendem, pelo menos neste país. Leiam a crítica, mas não sejam cegos, sejam críticos da crítica se assim perceberem. Leiam nossos grandes que estão esquecidos. Apesar de a Literatura ser também diversão, assim como um filme trepidante e esquecível de ação, como são, normalmente, os "best-sellers" estrangeiros, não se esqueçam dos clássicos nacionais ou estrangeiros. Um livro diversão passará em sua vida, assim como um filme de James Bond, mas a Literatura de peso vai lhe oferecer muitas coisas mais. E sejam sempre desconfiados, críticos, indagadores e curiosos.
Um Texto
Momento
Já rodei a casa toda. Tomei café, bebi água, liguei computador e fiquei na janela. Faz um dia lindo, tem até um ventinho para espantar o calor. Mas a minha vida é triste neste momento, triste e só ou triste porque é só. Ligo o aparelho de som, escolho um CD. A voz cristalina de Elis toma a casa e parece brincar com o ventinho refrescante: “Olha, está chovendo na roseira...”. O pensamento voa... E voa ao seu encontro, que está não imagino onde. Está viva e bem de saúde, isto eu sei, pelo menos assim estava há cerca de um ano. Contaram-me de você, encontraram-na no aeroporto. Você viajava para a Itália com um namorado piemontês. Disseram que parecia feliz. O Piemonte não é muito distante da Provence, finalmente esteve lá? Lembrou-se de mim, de nós?
O piano do Tom, no intervalo das estrofes, me faz imaginar um casal a passear de mãos dadas. Somos nós naqueles anos tão passados. Queríamos ir à Provence, conhecer os “villages”, admirar o Monte Sainte Victoire e olhar os campos de lavanda tentando fazer olhos de Cézanne. Engraçado... Imaginar a sua felicidade tirou-me da tristeza. Vejo-a sorrir nesse sonhado sul da França e esqueço que talvez estivesse com o piemontês a tiracolo. Não importa, é bom lembrar o seu sorriso com esse jeito de levar as duas mãos à boca como se quisesse comprimir a emoção. Se foi à Provence, acredito que se lembrou de mim. É bom acreditar-se lembrado num momento de solidão e tristeza. Tenho vontade de dormir e sonhar com você, mas você já me fez bem, afastou um pouco essa melancolia enjoada. Sinto-me mais leve e tenho vontade de caminhar. Preferia que fosse sob o sol manso da Provence, mas será aqui mesmo, debaixo desse furibundo sol do verão brasileiro, que irá queimar minha pele e talvez transformar em cinzas a tristeza que faltou você espantar.
Já rodei a casa toda. Tomei café, bebi água, liguei computador e fiquei na janela. Faz um dia lindo, tem até um ventinho para espantar o calor. Mas a minha vida é triste neste momento, triste e só ou triste porque é só. Ligo o aparelho de som, escolho um CD. A voz cristalina de Elis toma a casa e parece brincar com o ventinho refrescante: “Olha, está chovendo na roseira...”. O pensamento voa... E voa ao seu encontro, que está não imagino onde. Está viva e bem de saúde, isto eu sei, pelo menos assim estava há cerca de um ano. Contaram-me de você, encontraram-na no aeroporto. Você viajava para a Itália com um namorado piemontês. Disseram que parecia feliz. O Piemonte não é muito distante da Provence, finalmente esteve lá? Lembrou-se de mim, de nós?
O piano do Tom, no intervalo das estrofes, me faz imaginar um casal a passear de mãos dadas. Somos nós naqueles anos tão passados. Queríamos ir à Provence, conhecer os “villages”, admirar o Monte Sainte Victoire e olhar os campos de lavanda tentando fazer olhos de Cézanne. Engraçado... Imaginar a sua felicidade tirou-me da tristeza. Vejo-a sorrir nesse sonhado sul da França e esqueço que talvez estivesse com o piemontês a tiracolo. Não importa, é bom lembrar o seu sorriso com esse jeito de levar as duas mãos à boca como se quisesse comprimir a emoção. Se foi à Provence, acredito que se lembrou de mim. É bom acreditar-se lembrado num momento de solidão e tristeza. Tenho vontade de dormir e sonhar com você, mas você já me fez bem, afastou um pouco essa melancolia enjoada. Sinto-me mais leve e tenho vontade de caminhar. Preferia que fosse sob o sol manso da Provence, mas será aqui mesmo, debaixo desse furibundo sol do verão brasileiro, que irá queimar minha pele e talvez transformar em cinzas a tristeza que faltou você espantar.