Poesia é o Ato Frankenstein
Poema descritivo. Ousadia, coragem, descoberta, tremor, euforia, paz. Mundo virgem vislumbrado, descoberto, conquistado. Gratidão à vida e à independência dos sentimentos.
Poesia, Mecanismo que Flui
Das duas uma: ou ela meditou bastante antes de escrever este poema e o "Ato Frankenstein", ou o reescreveu umas cinco vezes. Boas definições de poesia e do fazer poético, do ato criador.
Por Celebrar Demais
Lady confessa-se sozinha, sem muitas afinidades com seu círculo social. Talvez ela se isole muito para escrever. Ou para refletir sobre o que escreveu. Ou por sua própria maneira de ser. Em inúmeros trabalhos seus, ela se declara "estrangeira", "avessa" e “ácida”. E faz referência, com frequência, a “exílio”, confrontado a “pátria”.
O artista, ao eleger seu ofício como razão maior, peregrina por cem anos numa estrada de contingências paradoxais, sendo normalmente alijado, excluído da sociedade enquanto viver. Exemplos: Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa, Charles Baudelaire...
Por Façanha da Vida
Façanha, aí, engloba a acepção de concessão especial, complacência, indulgência.
"Por façanha da vida,
impedida de minha própria selvageria,
em mãos que misturam sonhos em
minha bebida e
me velam enquanto enlouqueço."
Minha interpretação:
impedida [de exercer] minha própria selvageria,
[permaneço] em mãos que misturam sonhos em
minha bebida e me velam enquanto enlouqueço.
Ora, espera-se de quem possui o poder, a ciência de misturar sonhos à bebida de alguém, que vele por seu descanso e esses sonhos enquanto ela repousa, e nunca enquanto ela enlouquece. Esta passagem pressupõe, por conseguinte, alguém com bondade suficiente para manter-se expectante quanto ao bem-estar da poetisa, o que não ocorre – e surge daí o estranhamento, a surpresa do leitor.
Este poema esperou mil anos para se libertar das trevas. Não se queira seja ele desvendado, compreendido inteiramente pela contemporaneidade em cinco, dez anos. E seu mistério de cabala, cantante, esotérico - enigma arrepiante?
Seus versos entremostram, à distância, um castelo repleto de saudades, de donzelas acenantes. Um fado brasileiro.
A autora veste suas ideias com os lírios da pureza verbal. Sentindo-se desajustada, rejeitada em seu meio, sem chances de se integrar à sociedade, ela expõe com melancolia tal situação, sem revolta, sem rompantes heroicos, em seu texto tão simples, complexo, paradoxal.
Porque nos Abraçamos, ainda que em Palavras!
A poetisa nos convence com suas palavras de prata e intenções de ouro. A amargura da saudade se presentifica melifluamente. Leitura que permanece flutuando em nós, inalcançável como um diamante na memória.
Porvir das Cicatrizes
Coincidência, Lady: também já fui plural...
Prova nas Asas
O sr. NinguémSemBem elaborou um poema sobre o poema. Ele também possui talento, e não é pouco.
"Lua obscura, fada verde!" - uma das diversas imagens originais conduzintes ao estranhamento no poema.
Que tal? Vamos jogar?
Este teu poema parece fluir em nós. Li-o uma vez apenas, e me inquietei aqui na cadeira, de madrugada, música espanhola, uvas e café, te lendo há três horas...
Química Imperfeita
A atormentada escritora conseguiu, mais uma vez, unanimidade estética: seu poema, um grito no interior das nossas almas faceiras, despreparadas, ingênuas, "mortais" no sentido de viver a vida, sem questioná-la, nos acorda e nos coloca perante o tempo, a morte, o destino, inapelavelmente.
Marcel Proust, autor de À la recherche du temps perdu, tem momentos literários como esse da Lady, absolutamente imensuráveis.
Reinvento-me
Novamente conseguiste reunir a leveza do pássaro pousando (imagens literárias sutis, surpreendentes, válidas esteticamente) e o simbolismo, a água corrente das palavras que marcam presença em nós.
Réquiem de Ninar
"lira interminável deste réquiem humano" - um verso e tanto, digno de permanecer neste poema de uma sinceridade confessional.
Scripta Manent, verba Volant (Mors Omnia Solut)
(poema dela)
Que mapa ou compasso
guiariam minhas razões?
Razão e instinto colidem.
Meu coração é uma bomba atômica;
e minha alma vê estrelas demais.
Estou passeando através dos campos de minhas loucuras
enquanto você desperta eu ainda estou sonhando.
Como disse...
minha alma é um delirante sonho,
há de pagar pelos meus próprios enganos,
por ter chamado assim, ansiosamente, outra alma!
Ah! Laura...
suas melodias errôneas...
do piano doce à estrada deserta, abrigo incerto,
quando tudo que você queria
era o som de um anjo.
Se você me perguntasse,
talvez lhe contasse meu coração
o que eu desejaria dizer,
mas agora ele deu um passo à frente,
rasgou o peito e passou através de mim...
Voa agora no profundo abismo
filho do vento que sopra,
ave de rapina
mergulhada nas cinzas...
Tem agora o sangue mais denso,
muito mais de quando lhe deram asas e lhe tiraram o chão.
***
Ainda sem comentários do Jô.
Sempre Fértil
Palavras de quem nada mais espera da vida. De quem já se sabe perdida, derrotada pelo gigantismo das coisas e circunstâncias que a cercam e que a levarão ao nada, com ou sem o seu consentimento. Poema de valores permanentes: tristeza, súplica, consciência da fatalidade... Ela sabe inúteis quaisquer gestos ou atitudes.
Inteligentes e lindos os versos abaixo de "Tudo me interessa".
Seu Calor, Como Queria!
Os bons poetas transformam temas banais em grandezas insubstituíveis. Tirando algo e botando algo, o poema ficará ainda maior.
Lúcia Constantino disse, em seu percuciente comentário, boa parte do que eu não consegui palavrizar. Notei, Lady, que o poema tem um início fraco, digamos prósico, sincero mas ainda sem qualquer arroubo maior. A partir da terceira estrofe, ele cresce a uma dimensão superior - até o final.
Num dos seus momentos de maior sinceridade e realização formal, ela confessa, admite a infinita solidão que a envolve e oprime, em seu frágil momento de simples mortal. E produz um poema onde almeja languidamente um lar a dois, uma vida cômoda e previsível, crianças, beijos caseiros, papeis espalhados, telefonemas, esperas...
Conseguiu Lady criar um pequeno mundo de delícias domésticas, um instante inefável, completamente iluminado, felicíssimo, longe dos seus pesadelos, masmorras, grilhões, carrascos, ironias, queixas e da universal indiferença. Possuidora de um potencial literário amadurecido, um vocabulário obediente, fiel, cúmplice, um conhecimento de mundo suficiente, uma sensibilidade refinada, ela criou versos tão curtos quão longos, que hão de permanecer no tempo, testemunha de um sonho de paz cotidiana, de afetos aflorantes, de um lar real.
Só o Mar Sabe de Mim
Do sofrimento advém a redenção, a paz, a felicidade, ao compararmos vidas e vidas. A amargura deste seu poema nos cerca, nos despe e nos entristece tanto, tanto, que meditamos e crescemos bastante espiritualmente.
Sorrindo de mim mesma
Lenda corsária, ritual, celebração da autoestima, do autoconhecimento. compreensão súbita do ser-no-mundo e suas possibilidades de conquistar e viver, a cada dia, a felicidade.
Esta frase é parte de um poema onde se acotovelam conceitos e práticas guerreiras, vitórias triunfantes, esperanças sorrintes, hinos (canções) subjacentes. Retrata a surpresa de se perceber sobrevivente e em pleno combate, lança e espada, descobrindo-se possante, pujante, competente, ágil, mutante e continuamente adaptada às circunstâncias, fatos e acontecimentos. E vencendo as adversidades e tirando uma lição de cada coisa; lenda pirata contornando os recôncavos repletos de corvos dolorosos e ressurgindo ensolarada...
Dialeticamente, "memórias" se revela como uma reverência ao seu legado intelectual, à sua herança enquanto produção escrita. Sementes brotadas de preces. Minuto dividindo a Eternidade.
Fonte de consulta:
Dicionário Aulete Digital.
Lexicon Editora. SP, 2010.
Poema descritivo. Ousadia, coragem, descoberta, tremor, euforia, paz. Mundo virgem vislumbrado, descoberto, conquistado. Gratidão à vida e à independência dos sentimentos.
Poesia, Mecanismo que Flui
Das duas uma: ou ela meditou bastante antes de escrever este poema e o "Ato Frankenstein", ou o reescreveu umas cinco vezes. Boas definições de poesia e do fazer poético, do ato criador.
Por Celebrar Demais
Lady confessa-se sozinha, sem muitas afinidades com seu círculo social. Talvez ela se isole muito para escrever. Ou para refletir sobre o que escreveu. Ou por sua própria maneira de ser. Em inúmeros trabalhos seus, ela se declara "estrangeira", "avessa" e “ácida”. E faz referência, com frequência, a “exílio”, confrontado a “pátria”.
O artista, ao eleger seu ofício como razão maior, peregrina por cem anos numa estrada de contingências paradoxais, sendo normalmente alijado, excluído da sociedade enquanto viver. Exemplos: Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa, Charles Baudelaire...
Por Façanha da Vida
Façanha, aí, engloba a acepção de concessão especial, complacência, indulgência.
"Por façanha da vida,
impedida de minha própria selvageria,
em mãos que misturam sonhos em
minha bebida e
me velam enquanto enlouqueço."
Minha interpretação:
impedida [de exercer] minha própria selvageria,
[permaneço] em mãos que misturam sonhos em
minha bebida e me velam enquanto enlouqueço.
Ora, espera-se de quem possui o poder, a ciência de misturar sonhos à bebida de alguém, que vele por seu descanso e esses sonhos enquanto ela repousa, e nunca enquanto ela enlouquece. Esta passagem pressupõe, por conseguinte, alguém com bondade suficiente para manter-se expectante quanto ao bem-estar da poetisa, o que não ocorre – e surge daí o estranhamento, a surpresa do leitor.
Este poema esperou mil anos para se libertar das trevas. Não se queira seja ele desvendado, compreendido inteiramente pela contemporaneidade em cinco, dez anos. E seu mistério de cabala, cantante, esotérico - enigma arrepiante?
Seus versos entremostram, à distância, um castelo repleto de saudades, de donzelas acenantes. Um fado brasileiro.
A autora veste suas ideias com os lírios da pureza verbal. Sentindo-se desajustada, rejeitada em seu meio, sem chances de se integrar à sociedade, ela expõe com melancolia tal situação, sem revolta, sem rompantes heroicos, em seu texto tão simples, complexo, paradoxal.
Porque nos Abraçamos, ainda que em Palavras!
A poetisa nos convence com suas palavras de prata e intenções de ouro. A amargura da saudade se presentifica melifluamente. Leitura que permanece flutuando em nós, inalcançável como um diamante na memória.
Porvir das Cicatrizes
Coincidência, Lady: também já fui plural...
Prova nas Asas
O sr. NinguémSemBem elaborou um poema sobre o poema. Ele também possui talento, e não é pouco.
"Lua obscura, fada verde!" - uma das diversas imagens originais conduzintes ao estranhamento no poema.
Que tal? Vamos jogar?
Este teu poema parece fluir em nós. Li-o uma vez apenas, e me inquietei aqui na cadeira, de madrugada, música espanhola, uvas e café, te lendo há três horas...
Química Imperfeita
A atormentada escritora conseguiu, mais uma vez, unanimidade estética: seu poema, um grito no interior das nossas almas faceiras, despreparadas, ingênuas, "mortais" no sentido de viver a vida, sem questioná-la, nos acorda e nos coloca perante o tempo, a morte, o destino, inapelavelmente.
Marcel Proust, autor de À la recherche du temps perdu, tem momentos literários como esse da Lady, absolutamente imensuráveis.
Reinvento-me
Novamente conseguiste reunir a leveza do pássaro pousando (imagens literárias sutis, surpreendentes, válidas esteticamente) e o simbolismo, a água corrente das palavras que marcam presença em nós.
Réquiem de Ninar
"lira interminável deste réquiem humano" - um verso e tanto, digno de permanecer neste poema de uma sinceridade confessional.
Scripta Manent, verba Volant (Mors Omnia Solut)
(poema dela)
Que mapa ou compasso
guiariam minhas razões?
Razão e instinto colidem.
Meu coração é uma bomba atômica;
e minha alma vê estrelas demais.
Estou passeando através dos campos de minhas loucuras
enquanto você desperta eu ainda estou sonhando.
Como disse...
minha alma é um delirante sonho,
há de pagar pelos meus próprios enganos,
por ter chamado assim, ansiosamente, outra alma!
Ah! Laura...
suas melodias errôneas...
do piano doce à estrada deserta, abrigo incerto,
quando tudo que você queria
era o som de um anjo.
Se você me perguntasse,
talvez lhe contasse meu coração
o que eu desejaria dizer,
mas agora ele deu um passo à frente,
rasgou o peito e passou através de mim...
Voa agora no profundo abismo
filho do vento que sopra,
ave de rapina
mergulhada nas cinzas...
Tem agora o sangue mais denso,
muito mais de quando lhe deram asas e lhe tiraram o chão.
***
Ainda sem comentários do Jô.
Sempre Fértil
Palavras de quem nada mais espera da vida. De quem já se sabe perdida, derrotada pelo gigantismo das coisas e circunstâncias que a cercam e que a levarão ao nada, com ou sem o seu consentimento. Poema de valores permanentes: tristeza, súplica, consciência da fatalidade... Ela sabe inúteis quaisquer gestos ou atitudes.
Inteligentes e lindos os versos abaixo de "Tudo me interessa".
Seu Calor, Como Queria!
Os bons poetas transformam temas banais em grandezas insubstituíveis. Tirando algo e botando algo, o poema ficará ainda maior.
Lúcia Constantino disse, em seu percuciente comentário, boa parte do que eu não consegui palavrizar. Notei, Lady, que o poema tem um início fraco, digamos prósico, sincero mas ainda sem qualquer arroubo maior. A partir da terceira estrofe, ele cresce a uma dimensão superior - até o final.
Num dos seus momentos de maior sinceridade e realização formal, ela confessa, admite a infinita solidão que a envolve e oprime, em seu frágil momento de simples mortal. E produz um poema onde almeja languidamente um lar a dois, uma vida cômoda e previsível, crianças, beijos caseiros, papeis espalhados, telefonemas, esperas...
Conseguiu Lady criar um pequeno mundo de delícias domésticas, um instante inefável, completamente iluminado, felicíssimo, longe dos seus pesadelos, masmorras, grilhões, carrascos, ironias, queixas e da universal indiferença. Possuidora de um potencial literário amadurecido, um vocabulário obediente, fiel, cúmplice, um conhecimento de mundo suficiente, uma sensibilidade refinada, ela criou versos tão curtos quão longos, que hão de permanecer no tempo, testemunha de um sonho de paz cotidiana, de afetos aflorantes, de um lar real.
Só o Mar Sabe de Mim
Do sofrimento advém a redenção, a paz, a felicidade, ao compararmos vidas e vidas. A amargura deste seu poema nos cerca, nos despe e nos entristece tanto, tanto, que meditamos e crescemos bastante espiritualmente.
Sorrindo de mim mesma
Lenda corsária, ritual, celebração da autoestima, do autoconhecimento. compreensão súbita do ser-no-mundo e suas possibilidades de conquistar e viver, a cada dia, a felicidade.
Esta frase é parte de um poema onde se acotovelam conceitos e práticas guerreiras, vitórias triunfantes, esperanças sorrintes, hinos (canções) subjacentes. Retrata a surpresa de se perceber sobrevivente e em pleno combate, lança e espada, descobrindo-se possante, pujante, competente, ágil, mutante e continuamente adaptada às circunstâncias, fatos e acontecimentos. E vencendo as adversidades e tirando uma lição de cada coisa; lenda pirata contornando os recôncavos repletos de corvos dolorosos e ressurgindo ensolarada...
Dialeticamente, "memórias" se revela como uma reverência ao seu legado intelectual, à sua herança enquanto produção escrita. Sementes brotadas de preces. Minuto dividindo a Eternidade.
Fonte de consulta:
Dicionário Aulete Digital.
Lexicon Editora. SP, 2010.