Sobre a existência do novo papel eletrônico
Estamos numa revolução digital, já em curso, vivenciamos sem perceber a velocidade desse processo permanente de atualização. Hoje é inevitável pensarmos que um adolescente “nativo digital” dessa nova era, irá ler os jornais diários como seus pais e avós faziam desde os anos 30.
Já é possível verificar essa constante no convívio do nosso dia-a-dia. São celulares que disparam e compartilham mensagens, fotografias, vídeos, mensagens instantâneas e demais arquivos multimídia. Cada vez mais modernos e sofisticados os aparelhos digitais tendem a atender necessidades muito mais complexas dos que as que conhecemos hoje nos desktops de mesa imóveis e desproporcionais a necessidade de compatibilidade com espaço e movimento dos novos usuários.
Logo mais, com a crescente demanda de comunicação digital iremos vivenciar a segunda fase dessa expansão tecnológica, exatamente como os europeus e japoneses já demonstram nas feiras internacionais de alta tecnologia. Nos países em desenvolvimento iniciaremos com passos quase simultâneos essa experiência da segunda fase da usual convergência entre os meios tecnológicos.
Será possível, por exemplo, ler, resenhar e comentar e-books direto de um pal-m conectado numa e-commerce de uma livraria e/ou biblioteca on-line, assim que o autor e sua edtora o torná-lo disponível na rede. Isso é se haver a necessidade de uma editora. Pois a crescente entrada de autores on-line já é um fato muito saudável que poderá fortalecer e melhorar muito mais a capacidade de aprendizagem e troca de informações.
Para o jornalista americano Robert Cauthorn, pioneiro da informação on-line, a revolução digital nos meios de comunicação promete aposentar o jornalismo diário em papel em apenas uma geração. Segundo o responsável pela adaptação à web de jornais como o “San Francisco Chronicle”, premiado pela Newspaper Association of America como o “pioneiro digital”, a geração nascida com internet prescinde de folhear as páginas impressas em jornal. A questão é só uma questão de os preços do “papel eletrônico” e das conexões sem fio chegarem a um nível acessível, disse ele na entrevista abaixo, dada ao “Le Monde”.
Quer dizer então que o jornal de papel vai desaparecer?
Robert - Um livro impresso sempre terá razão de ser, já que pode ser lido várias vezes ao longo de muitos anos. Mas quais serão as vantagens do papel para um jornal? A força do hábito para muitas gerações de leitores e o conforto da leitura em folhas grandes, mais agradável do que a leitura na tela.
Mas tudo vai mudar com a chegada, após a generalização da banda larga, da tinta eletrônica e das telas flexíveis.
Para produzir um jornal de papel, árvores são cortadas transportadas, transformadas em celulose e depois em rolos gigantes de papel que serão transportados para gráficas.
Jornais são impressos, embalados, carregados sobre caminhões e depois descarregados nos ponto-de-vendas.
Os consumidores os compram , os levam para suas casa e, depois, os jogam no lixo. Eles são recolhidos por caminhões e, na melhor das hipóteses, levados a centros de reciclagem.
Tudo isso guarda mais relação com a logística do que com a informação! Para um produto tão imediato quanto um jornal, esse desperdício é obsoleto.
Como as organizações de imprensa vão se adaptar?
Os jornais nunca foram precursores, mas o modelo econômico do jornal em papel, que já se encontra sob pressão há dez anos, será cada vez mais pressionado. Quase todos os jornais dos países desenvolvidos perdem dinheiro entre segunda e quinta-feira e são luvrativos apenas três por semana.
O leitor que compra seu jornal sete dias por semana praticamente desapareceu. Doze anos atrás, eu criei para o “San Francisco Chronicle” um dos cinco primeiros sites de informação na internet.
Dentro de 12 anos, duvido que os jornais impressos ainda sejam diários. Dentro de cinco a dez anos vão surgir jornais impressos três dias por semana: às sextas e aos sábados e domingos. Paralelamente, eles ofereceram informações na internet ou outras plataformas digitais durante sete dias por semana, 24 horas por dia.
O conteúdo desses jornais em papel será o mais contextualizado, lembrando o das revistas atuais; os furos ou informações quentes já terão sido dados na versão digital.
Que conteúdo os jornais deverão propor?
Hoje os jornais oferecerem uma informação generalista. Amanhã, terão que se adaptar aos universos diferentes dos leitores. Estes vão querer uma informação concisa e pertinente, que lhes seja entregue “on demand” (por encomenda).
Assim, os longos artigos narrativos sempre existirão, mas de maneira menos dominante. Hoje mesmo as pessoas já tem a tendência a ler apenas os títulos. Dentro das próprias redações dos jornais, é dificil encontrar pessoas que lêem um jornal inteiro. Essa tendência vai se ampliar.
Os jornais se tornarão um produto de consumo amplo?
É claro que não! Uma paisagem feita de informações que respondem apenas à demanda seria deplorável.
Entretanto, para serem lidos, os artigos terão que ser ainda mais surpreendentes, em vista da enorme concorrência representada pela profusão de informações disponíveis. Os jornalistas terão que pensar de maneira diferente e se peocupar mais com seu público.
Fonte: Folha de São Paulo - caderno Mais