Entrevista com o autor e jornalista Sérgio Rodrigues 02/04/2013
O Epifania entrevistou o autor e jornalista Sérgio Rodrigues, responsável pelas belíssimas colunas Todo Prosa e Sobre Palavras na Revista Veja, com uma abordagem leve e instigante sobre uso da lingua e produções literárias. Sérgio é autor de seis livros e possui livro novo em fase de finalização, que em breve será divulgado por aqui. Aproveitem!
EPIFANIA : A quanto tempo você trabalha para a Revista Veja?
SÉRGIO: Lancei o Todoprosa na revista eletrônica NoMínimo (hoje extinta) em 2006. Ele passou pelo iG e estreou no site Veja.com em junho de 2010, quando então ganhou a companhia da coluna Sobre Palavras. Há quase três anos, portanto.
EPIFANIA: A escolha do nome da coluna Todo prosa foi sua?
SÉRGIO: Sim, foi uma ideia minha.
EPIFANIA: Em sua opinião, a internet ajuda ou atrapalha desenvolvimento da leitura e da escrita dos mais jovens?
SÉRGIO: Por envolver muito a palavra escrita, mais do que os meios audiovisuais que eram dominantes até o surgimento dela, acho que a internet pode ser uma grande aliada de escrita e leitura. Mas a educação formal precisa ajudar e estar à altura dessa oportunidade. Não faltam problemas ao Brasil, mas considero nossa educação tragicamente deficiente o maior deles.
EPIFANIA: No artigo “O literário como fetiche” voce afirma que vivemos um “estranho tempo de muito escritor para pouco leitor.” Como você define o papel do autor em um tempo em que a literatura se “ popularizou” tanto?
SÉRGIO: O desafio diante dos escritores de verdade é o mesmo que sempre foi: escrever da melhor forma que puderem. O que não é nada fácil. Para isso não se deve ficar pensando muito no suposto charme da "vida literária", mesmo porque ele é imaginário em sua maior parte.
EPIFANIA: Como você lida com a crítica de forma geral?
SÉRGIO: A crítica é fundamental. Mesmo quando é menos feliz, pouco lúcida, às vezes até desonesta, é um mal necessário. Um mundo em que a crítica não existisse seria um mundo mais pobre.
EPIFANIA: A utilização das regras da nova ortografia da LP foi adiada para 2016. Para você, o que o Novo Acordo Ortográfico representa e o que significa esse longo processo até que finalmente entre em vigor?
SÉRGIO: Achei o adiamento um erro, uma vez que o acordo já está praticamente implantado no Brasil. Só aumenta a insegurança num momento de transição que, por definição, já é meio confuso. Sou a favor do acordo, apesar de considerar seu texto frustrante em alguns aspectos. Desde que, é claro, ele seja realmente adotado por todos os falantes de português. Se for um "desacordo", teremos jogado fora tempo, dinheiro e paciência.
EPIFANIA: Qual gênero textual você classificaria como preferido pelos brasileiros?
SÉRGIO: Não sei ao certo. Pelo que informam as listas de mais vendidos, talvez sejam fantasia (escrita por estrangeiros) e auto-ajuda de fundo religioso (escrita por brasileiros).
EPIFANIA: Que relação voce estabelece entre literatura e jornalismo impresso?
SÉRGIO: São mundos distintos, mas com algumas passagens estreitas entre eles. Para mim, como escritor, ter sido jornalista a vida inteira, com a obrigação de escrever todo dia com horário, ampliar ou enxugar textos, foi uma grande escola. Mas as linguagens são completamente diferentes.
EPIFANIA: O jornalismo On line, a criação de e-books e tantos outros recursos tecnológicos ameaçam de algum forma a produção de material impresso em seu ponto de vista?
SÉRGIO: Não acredito que livros de papel desapareçam por completo um dia, embora devam sofrer (já estão sofrendo, mundo afora) um encolhimento em sua participação de mercado. Revistas e jornais físicos talvez estejam mais ameaçados. Mas não ponho tanta ênfase no suporte material. Literatura no e-reader ainda é literatura, jornalismo no tablet ainda é jornalismo.
EPIFANIA: O que você deixaria como conselho ou orientação a um novo autor em busca de espaço no mercado editorial?
SÉRGIO: Leia muito e escreva da melhor forma que puder, com a maior honestidade que puder. Seja seu maior crítico. Desconfie dos elogios dos familiares. Nunca foi tão fácil publicar. Por isso mesmo, nunca foi tão difícil fazer a diferença no meio da multidão de textos que imploram para ser lidos.
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