Os Degraus Do Bandeirantes (As Vésperas Do IV° Reich) 6
Heitor Ferreira, ex-secretário particular dos presidentes Ernesto Geisel e de João Batista Figueiredo achou que "isso foi ótimo para nós", referindo-se à polarização do debate, por certo tempo do mesmo, entre Maluf e Quércia. Calim Eid também se mostrou satisfeito por Antônio Ermírio "ter ficado num plano secundário durante a maior parte do programa". A torcida de Maluf acompanha de perto o cartola nº um de sua agremiação política e partidária, o PDS. A polarização aconteceu mais acirrada entre Ermírio e Maluf. Promovendo vantagem para Quércia.
À pergunta de Matinas Suzuki aos candidatos sobre se são a favor ou contra a legalização do aborto no Brasil, Maluf respondeu ser pessoalmente contra o aborto, não só como católico, "mas também acredito que ninguém pode, em sã consciência, tirar a vida de alguém que foi gerado pelo amor". Houve um sussurro de desaprovação e muitos risos na plateia do debate quando da resposta malufista.
Todos sabem que os milhões de abortos são feitos por semicrianças, mulherzinhas que não sabem, nem tem em conta, de com quem transou, e de onde poderia provir o pai da criança. Transam por necessidade, por esporte, por compulsão, em troca de uma seção de "brizola", por dinheiro, por um cigarro de maconha, sem simpatia, azia e má digestão. Transam por qualquer coisa, menos por "amor" como insinuou demagógica e ridiculamente o candidato do PDS.
Maluf, com seu discurso propositadamente ingênuo e calhorda, manifestou-se contra o aborto. Talvez esteja pensando que, se todas estas distorções da geração abortada tivessem nascido, seriam um excelente mercado de trabalho para suas indústrias: trabalhadores sem exigências, grande parte deles laborando em troca de mantimentos, sem carteira assinada, e morando em casas de papelão na mata.
Quanto "espírito cristão". Quanta palhaçada. De quatro milhões de abortos, por ano, 400.000 terminam em óbito das mães. E os filhos crescerão nos contingentes voluntários do exército de trombadinhas, sem pai nem mãe. Tutela do mundo das ruas sem lei, esquadrão marginalia. A atitude em favor da discriminação do aborto por parte do PT é mais realista do que as atitudes "cristãs" do ex-governador interventor.
Ermírio acha que existe um sem número de maneiras de prevenir a gravidez e que "nós temos de ter responsabilidade de levá-la até o fim, como se realmente o é (sic) um ser humano". Definiu-se o empresário "definitivamente contra o aborto". Quanta "cristandade" na hipocrisia manifesta dessa opinião. Tão cristão assim só mesmo Maluf. Quércia alegou motivos éticos e religiosos para justificar opinião pessoal contra o aborto.
A MELHOR RESPOSTA à pergunta feita sobre o aborto, sem dúvida, deve ser creditada a Teotônio Simões, candidato do PH (Partido Humanista). O Partido Humanista é a favor da vida — afirmou — mas reconhece que "não vamos construir uma democracia brincando de avestruz". Teoricamente, todos os candidatos foram unânimes ao se manifestarem contra a pena de morte. Afinal eles querem mesmo, os marginais impunes nas ruas, praças e avenidas das cidades, semear o medo e a violência numa população de eleitores cada dia mais encolhida em suas salas de jantar. Mas as pessoas da sala de jantar... São as pessoas da sala de jantar...
A eleição de 1986 para Governador de São Paulo representa a mais disputada de todas as eleições para o Palácio dos Bandeirantes. Seus candidatos representaram no plano político a mais intensa demonstração do movimento Tropicália e seus discursos de palanque e falas nos debates TVvisivos superaram em muito a ironia musical brilhante do disco "Panis et Circencis" do qual participaram Caetano Veloso, Gilberto Gil, assessorados, entre outros por Tom Zé e Os Mutantes. Os candidatos sugeriam sempre entrelinhas uma atualização da letra da canção título:
"Esses eleitores da sala de jantar
São os eleitores da sala de jantar
Mas os eleitores da sala de jantar
São ocupados em nascer e morrer".
Quércia aprendeu com Tancredo a ser conciliador, porém exagerou ao querer conciliar omissão de opinião pessoal e fazendo de conta que "eu não tenho nada contra a UDR". Se essa organização se posiciona contra os princípios étnicos e/ou ideológicos do partido político ao qual pertence, ele deveria ser mais sensato, e pensar duas vezes antes de dizer em entrevista TVvisiva (após ter ganho a eleição), que nada tinha contra a União Democrática Rural.
Como se não tivesse reivindicado durante a campanha a intervenção da Polícia Federal, e do governo Romão Sarney, no sentido de desapropriar os rebanhos de boi gordo que aquela organização escondia do abate, ou escondia nos frigoríficos nos açougues. Uma política adversária não deve ser subestimada. Nem Tancredo foi tão conciliador, a ponto de conciliar com Maluf, nem Quércia, presumo, deveria sê-lo com siglas políticas como a UDR.
Perguntados pelo jornalista Boris Casoy qual a opinião que cada candidato tem a respeito de cada um de seus adversários, Quércia, conciliador, visando transmitir uma imagem de simpatia ao eleitorado de seus adversários, respondeu: "respeito todos os candidatos, não tenho nenhuma aversão contra nenhum". Esquecendo a enorme aversão que não poucos vezes demonstrou por candidatos em ataques verbais não apenas maliciosos, mas claramente ofensivos. Seriam esses ataques apenas coisas passageiras de compadres de campanha?
O debate a estas alturas do "basquete" eleitoral parecia mais uma reunião de bairro onde só aparecem comadres. Ermírio, dirigindo-se a Suplicy, conciliou:
— Meu caro Eduardo, o seu tio-avô e meu avô, no início deste século, começaram na mesma cidade, Sorocaba, dois negócios: o meu avô tinha uma banco de sapatos, o seu avô lidava com gordura animal, e construíram dois impérios. Fazendo a pergunta ao candidato do PT, o empresário indagou:
— Você acha que essa atitude do seu tio-avô e do meu avô foram erradas, ou eles contribuíram afetivamente para o desenvolvimento do Brasil?
Em resposta Suplicy disse achar que eles tiveram uma contribuição importante porque souberam organizar a produção. "Entretanto", prosseguiu o candidato do PT:
— Temos que ter uma visão critica da atitude de ambos e também de sua própria atitude em não levar em conta os reais interesses dos trabalhadores e a necessidade deles estarem participando das decisões sobre tudo as que ocorrem nas suas próprias empresas em Angatuba, Itapetininga ou Sorocaba. Os trabalhadores da Votorantim em Sorocaba reclamam de doenças, de pneumorragia (pneumosilicose: telethorax) e diversas situações afins...
O candidato Suplicy pegou a deixa do empresário Antônio Ermírio e saiu do clima de conversa de comadres entre os candidatos, dizendo:
— No 12º dia de greve da Níquel Tocantins os trabalhadores ouviram de sua pessoa (Antônio Ermírio) a ameaça: "Se vocês continuarem a greve eu vou mudar a fábrica para Goiânia, para Goiás". Uma fábrica que foi construída com fundos do PIS/PASEP e com uma série de mordomias financeiras, empréstimos subsidiados à taxa de juros de 6% ou 8%, mais correção monetária limitada a 20%. E quando os trabalhadores colocaram estes dados na mesa, sua atitude foi dizer que trabalhadores não devem estar discutindo dados econômicos, que isto é apenas para a gerência. E que a comissão de fábricas e a comissão de trabalhadores apenas provocam o cáos.
Dito isto, Suplicy mostrou ao TVespectador um pouco do estilo empresarial de gerenciar característico do "bom patrão" Antônio Ermírio.
Apenas um adendo para esclarecer o leitor sobre o significado daqueles termos médicos usados pelo candidato do PT: as alterações radiológicas compatíveis com silicose são opacidades bilaterais, punção nodular micro, nodular ou estendidas predominantes na metade superior de ambos os campos pulmonares. A confluência dessas opacidades conduz à formação de massas tumorais e pseudotumorais cujo diagnóstico diferencial com cancro no pulmão com base bilateral e assimétrica pseudotumor massas... A definição clínica dessas patogenias é longa.
Na réplica entre Quércia e Maluf o candidato do PMDB acusou o ex-governador/interventor de São Paulo de ter construído a Rodovia dos Trabalhadores e que "o preço por quilômetro foi de seis milhões de dólares, enquanto o preço proporcional da rodovia dos Bandeirantes foi de dois milhões e trezentos mil dólares". Uma diferença gritante de preços aconteceu no governo anterior. E Quércia continuou a réplica:
— A Sabesp constrói, hoje, rede de esgoto a quatro UPCs, enquanto em seu governo, (de Maluf) eram oito UPCs. Como explicar esta sistemática de obras com preços mais caros, como sempre aconteceu em seu governo? Maluf, em resposta a Quércia, alegou que a quatro dias atrás, lhe foi fornecido um documento pelos engenheiros do Dersa, informando que neste governo (Montoro) "não se construiu um metro de autoestrada. E que o custo da rodovia dos Trabalhadores, é praticamente equivalente ao custo da rodovia dos Bandeirantes". Ao treplicar o candidato do PDS, Quércia dramaticamente falou:
— Vejam como a falta de veracidade é trágica em certos candidatos. Este governo (Montoro), fez quatro mil quilômetros de estradas pavimentadas no interior, estradas vicinais para escoar a produção agrícola. O governo passado (Maluf) fez duzentos quilômetros. É uma diferença brutal. O vice-governador afirmou ter em mãos um documento do Dersa provando que
— a Rodovia dos Trabalhadores ficou pelo dobro do preço equivalente a quase 46 milhões de cruzados e a rodovia dos Bandeirantes custou 22 milhões de cruzados. Quércia acrescentou que
— Este dinheiro gasto na Rodovia dos Trabalhadores daria realmente para ter construído a autoestrada até Taubaté. Finalizou dizendo que usar levianamente o dinheiro público é a mesma coisa do que praticar o ilícito. A mesma coisa do que roubar, meter a mão no bolso do contribuinte e levar o dinheiro deste para suas contas bancárias.
No calor dos debates, o jornalista Kleber de Almeida do "Jornal da Tarde" lembrou ao deputado Paulo Maluf que:
—Ainda na questão das ações contra o seu governo e contra o senhor, eu queria lembrá-lo de que o senhor ainda não se livrou da acusação de enriquecimento ilícito no caso Lutfalla. Atualmente corre inquérito na Polícia Federal. O senhor não se sente mal sendo um candidato "sub judice"?
Maluf, mostrando sempre um cinismo imperturbável disse:
— Me considero um dos poucos homens públicos que tem um atestado de idoneidade dado pelo atual governo. O processo a que se refere é do meu próprio governo (sic). Portanto, eu sou um homem que tenho atestado de idoneidade dado por este governo, o ex-governador falou e falou mais ainda, mas não respondeu a pergunta do repórter. Evidente que se ele respondesse com alguma mínima sinceridade haveria de dizer que se sente muito bem fazendo o que sempre fez com o dinheiro público.
Suplicy (interrogativo) — Com tantos escândalos havidos no governo anterior, empréstimos subsidiados do Banespa e da Caixa Econômica para aliciamento de políticos, impressão de propaganda do PDS na Imprensa Oficial do Estado, aumento dos funcionários da Vasp de 4.500 para 9.000, sem o aumento correspondente de taxas e serviços. Prisões de trabalhadores por estarem fazendo greve. O uso da RTC exclusivamente para propaganda... Com tudo isso, como é que o governo do PMDB deu, segundo diz Paulo Maluf, um atestado de idoneidade a ele?
Quércia (explicativo) — O ex-governador foi condenado a restituir ao erário estadual as quantias absurdas que gastou irregularmente com recepções, comendas, viagens, mordomias principescas e distribuição indiscriminada de flores. O governo Maluf (e Marin) gastou com verba de representação nada menos do que 153 milhões de cruzados. Está condenado. Existem 27 processos em andamento, 58 inquéritos policiais. O DAR move cinco ações de indenização pela utilização de máquinas e homens do Estado em terras particulares.
Quércia (enfático) — É preciso mencionar também a venda à Associação Comercial de São Paulo do prédio da rua Galvão Bueno, venda desnecessária, leviana e objeto de ação judicial do Governo de São Paulo.
Suplicy (esforçando-se para imprimir ênfase à sua fala) — O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Angatuba, Wilson Bertolai, confirmou as denúncias (sobre trabalho escravo em empresas ligadas a Maluf), bem como a secretária de Relações do Trabalho em São Paulo, Alda Marco Antônio e aqui estão as fotos de como vivem os trabalhadores em Angatuba, na própria fazenda Eucatex. Em seu governo, por que não impediu que ocorresse tal situação de trabalho escravo em toda a região de Angatuba e Itapetininga?
Maluf (evasivo, desconversa cinicamente) — A pergunta não tem pé nem cabeça, porque eu não sou governador hoje e a secretária do Trabalho é de outro governador.
Suplicy (reafirmando a acusação) — Aconteceu durante o seu governo!
Maluf (na falta de argumentos) — Entretanto, é uma sórdida exploração em ano eleitoral. No meu governo, como em toda a minha vida pública, todos os trabalhadores sabem que ninguém foi mais amigo ("muy amigo") do trabalhador. O mercado de trabalho que demos através das obras do governo do Estado eu posso dizer que em matéria de trabalhador eu sou o trabalhador nº 1 (sic).
Reportemo-nos agora a uma parte da discussão entre Ermírio e Maluf que mais tarde teria seus desdobramentos em outras ocasiões da campanha.
Maluf (tentando inutilmente parecer sério e testemunhal) — É lamentável que o candidato tenha perdido a esportiva... Não tem condições de falar em moral porque você cortejou Jânio Quadros. Você disse que política é a arte de pedir votos aos pobres, recursos aos ricos, e mentir para ambos depois. Portanto, você é incoerente quando se rastejou pro Jânio Quadros. E você era incoerente quando frequentava o Palácio dos Bandeirantes como colaborador.
Ermírio (afirmativo) — Eu nunca frequentei seu Palácio meu caro dr. Maluf.
Maluf (querendo parecer inquisitivo) O senhor nunca frequentou o Palácio?
Ermírio (imperturbável) — Não senhor. Eu estive no seu Palácio durante seus dois anos e meio, uma única vez.
Maluf (a parecer ridículo, redundante) — Não, você esteve no Palácio, como não? Está aqui a fotografia. Está aqui a fotografia.
Ermírio (como se punindo um contraventor) — Uma vez...
Maluf (merecendo o escárnio da plateia) — Ah. Então esteve. Nunca frequentou! Está aqui a fotografia.
Ermírio (com enfado) — Como eu disse ao senhor, estive lá uma vez.
Maluf (abusivo) — Frequentava o Palácio sim, além de ser incoerente nas suas afirmações, o senhor está mentindo.
Ermírio (sentindo o absurdo repetitivo da acusação) — O senhor é que é mentiroso!
Maluf (sem “desconfiômetro”) — O mentiroso é você! Você esteve no Palácio.
Ermírio (com visível enfado) — O senhor é um grande mentiroso. O senhor é conhecido como mentiroso. Conhecido como mentiroso e autoritário. Mentiroso. Eu não vou admitir!
Maluf (insensato, birrento e irado) — É o senhor que é mentiroso, pois aqui está a sua fotografia no Palácio.
Um absurdo! Um espetáculo absolutamente "non sense". Dois candidatos ao governo da mais pujante economia do país, dois empresários, um dos quais de há muito político, usaram e abusaram de uma réplica e de uma tréplica sem sentido político, social, econômico, intelectual.
Por que ao contrário de perderem tanto tempo neste blá-blá-blá de besteiras sem nenhum sentido eleitoral, eles não dedicaram seus discursos lembrando à população que esta é também uma eleição para o Congresso Constituinte? Quem quer ouvir uma discussão entre adultos que se comportaram como crianças rixentas, brigando pela posse de uma verdade que a ninguém interessa? Exceto a um eleitorado e à uma discussão política demencial? Estavam impetuosamente empenhados em atualizar a letra da canção “Panis et Circenses”:
"Esses eleitores da sala de jantar
São os eleitores da sala de jantar
Mas os eleitores da sala de jantar
São ocupados em nascer e morrer".
Mas esses eleitores que foram votar nesses candidatos da sala de jantar... Mereciam com toda certeza, candidatos mais interessados em solucionar os problemas de uma cidade atormentada pela violência urbana, pela marginalidade crescente, por uma educação de comadres, um trânsito em transe, pelas enchentes que transformam suas ruas em córregos com correnteza provisória de rios caudalosos. Uma cidade com uma corrupção política endêmica, com uma impunidade jurídica para criminosos de todos os naipes, com ênfase para os do colarinho branco. Como afirma a canção do Tom Zé: "São Paulo quanta dor, São Paulo, meu amor".
Milhões de pessoas diariamente gastam seu tempo que poderia ser útil, em horas de condução dirigindo-se para seus "lares-doces-lares" de subúrbio, indo e voltando de seus empregos. Como aguentam essa Via Crúcis todos os dias sem mais nem menos? Como aguentam esses políticos e suas ingresias de candidatos, de parlamentares, de governantes? Onde está o amor-próprio e a autoestima dessas pessoas da sala de jantar? A aceitarem essa programação TVvisiva para que seus filhos sucateiam desde muito cedo seus corações e suas mentes, tornando suas vidas vazias de sentido político, intelectual, pessoal e social? Por que votar neles? Para quê?
As agressões entre os candidatos do PDS e do PTB prosseguiram após a realização do debate resumido em seus pontos de destaque nos parágrafos acima mencionados. Ontem, 26 de agosto, Antônio Ermírio afirmou, referindo-se a Maluf, ter "chegado a hora de enterrarmos definitivamente esse corrupto sem vergonha, esse cara de pau”. Ele não merece o respeito de nenhum cidadão brasileiro ou paulista, pois não passa de um oportunista.
O empresário afirmou ainda que "o dinheiro de dona Maria, mãe de Maluf, nunca existiu”. O dinheiro está todo guardado na Suíça. Dinheiro do povo que pagou honestamente seus impostos. Esse dinheiro é o mesmo da Paulipetro, das usinas hidroelétricas, da construção da Rodovia dos Trabalhadores, e de outras obras que todo mundo sabe foram todas super-superfaturadas.
Maluf neste troca-troca de impressões digitais, desqualificou Ermírio, xingando o empresário de "celerado, desequilibrado mental, ladrão de casaca e canalha". O ex-govemador afirmou que processará o candidato do PTB pelas acusações feitas à sua pessoa e a sua família. Seguiu-se a leitura de uma nota redigida em junho pelo próprio candidato do PDS a qual reproduzo neste parágrafo:
— Devolvo-lhe a baixeza, corrupto e sem vergonha é você, Antônio, que rouba o pobre trabalhador com o preço extorsivo do cimento, encarecendo a construção, aumentando o preço da construção das casas populares do (ex) BNH.
Maluf (sabendo-se antecipadamente perdedor) — Oportunista é você Antônio Ermírio que roubou a vida inteira e quer hoje, em vão, apresentar-se como santo. Dê-me uma procuração para vasculhar seus depósitos em dinheiro no exterior, de sua família e de suas empresas que eu vou provar, em respeito ao povo, que o ladrão é você... O povo não aceita suas baixezas. Peço tranquilidade aos companheiros. O derrotado, como você em seu desespero, perde todo o senso de dignidade. Hoje, Antônio, você me atingiu, obrigando-me por um momento, a descer ao seu nível de canalha.
SE AGOSTO É considerado pela superstição popular "o mês dos desgostos", a vituperação entre Ermírio e Maluf (PTB versus PDS), nivelou realmente por baixo, os dois mais votados na preferência do voto popular nas pesquisas de opinião. Acredito que eles começavam a perder a campanha a partir deste evento lamentável da troca de "cortesias" entre ambos. Isto sem esquecer que no dia quatro deste mês Maluf afirmou peremptório: "Não contem comigo para baixar o nível da campanha". É brincadeira?
Não pode haver coerência na opinião segundo o qual Ermírio estaria agindo no sentido de provocar o candidato do PDS de acordo com uma atuação deliberada, uma estratégia visando expor o ex-governador às suas idiossincrasias. O temperamento explosivo de ambos, com pavios curtos para provocações, fora a causa que originou o efeito da comédia bufa, e impulsividade compulsiva, o boxe verbal sobre o sexo dos anjos que proporcionaram vergonhosamente ao eleitorado paulista e paulistano.
A Constituinte eles não discutiram. Nem lhes interessou mais esse assunto que o povo brasileiro, de um modo geral, nem sabe ao certo o que significa essa coisa de nome estranho na política. Constituinte para o eleitor brasileiro é um medicamento farmacêutico indicado contra "o desânimo e a vida difícil" segundo a propaganda do "Vinho Constituinte Silva Araújo". Na bula há as seguintes indicações:
Cada cálice (30ml) contém fosfato de cálcio monobásico (0,12g), peptona (0,048g); extrato fluido de quina mineira (0,036ml), extrato fluido de genciana (0,06ml); tintura de casca de laranja amarga (1,2ml), vinho virgem (1,2ml), vinho tipo Porto q.s.p. (30ml).
Em política os eleitores desconheciam o significado das palavras Eleição Constituinte. E não seriam os políticos, com seus discursos tatibitates e egomaníacos, que contribuiriam para a divulgação da importância vital em defesa dos direitos constitucionais que as classes trabalhadores, e/ou as classes médias, devem e podem garantir para si mesmas, via Constituinte. O mundo deles é outro. A Casa Grande Senado em Brasília e os palácios governamentais nada sabem nem querem saber do Povo Eleitor Brasileiro. Exceto que serve para ir as urnas em dia de eleição.
Se estes direitos não forem defendidos nominalmente na Constituinte, do ponto de vista prático, não poderão vir a ser cobrados ou serem exercitados. 90% dos Constituintes ("não penso, logo inexisto"), foram eleitos para defender seus próprios interesses, e os interesses da práxis política do grupo de pressão a que pertencem.
Vide o PMDB, pós-eleições, imitando demasiadamente a política econômica da república da ditadura dos militares. Pacotão II e decretos-leis. Enquanto 60% da classe trabalhadora ganha menos de dois salários mínimos, as divergências entre capital e trabalho duplicaram agora em 1986. Em 1985 foram feitas 465 greves. O Plano Cruzado de Romão Sarney dobrou a quantidade de greves e a insatisfação do trabalhador. Só que a imprensa, o 4º Poder por vezes silencioso, silencia sobre as greves.
É necessário um plano de campanha ostensivo com 900 "outdoors", só em São Paulo, chamando os eleitores a atenção, para se dedicarem ao estudo coletivo dos parágrafos e capítulos da Constituinte. Se os meios de Comunicação e Informação forem realmente mobilizados neste sentido, no período de 45 dias, posterior ao evento, far-se-á, não uma farsa de Constituinte, mas uma Constituinte de acordo com as aspirações do povo por dias melhores ou, pelo menos, menos difíceis e miseráveis. Se o empresário houvesse divulgado em seus "outdoors" a Constituinte, teria garantido, talvez, sua eleição para governador de São Paulo.
Os advogados de Maluf disseram que não caberiam recursos ao Judiciário e não mais vão processar Ermírio por calúnia, injúria e difamação, tal como garantiu que faria anteriormente. Maluf teria se valido do "direito de retorsão" (represália) devolvendo "de chofre" ao empresário, na mesma proporção, as supostas injúrias, calúnias e difamações.
Transformou-se numa verdadeira epidemia a opinião segundo a qual a candidatura Quércia estaria derrotada pelas pesquisas promovidas pelo SNI, instituição política e governamental que controla e dirige os resultados de suas investigações, com a finalidade de exercer poder e influência grupal, na comunidade nacional dos Estados. Todos parecem estar aderindo a Antônio Ermírio e, com certeza, com a ajuda sub-reptícia da central de informações, sob o comando militar do SNI. Os motivos são para todos os gostos: desde o papel preponderante dos empresários na queda da ditadura, à noção de que Maluf deve ser derrotado, e que só Antônio Ermírio teria esta condição de vencer nas urnas o ex-govemador, ex-interventor de São Paulo, Paulo Maluf.
Orestes Quércia, fortalecido pelo posicionamento monolítico do PMDB em termos de apoio à candidatura, garante sua participação no folclore desta disputa eleitoral. Aproveitando a deixa da briga entre os candidatos Ermírio e Maluf, argumentou que "em brigas de comadres revelam-se verdades", de acordo com a máxima do interior sobre assuntos afins.
Soltando uma farpa também em direção à Ruth Escobar, afirmou o vice-governador que há vedetes com porte de estadista como Ulysses Guimarães, e "vedetes de teatro", referindo-se também à popularização da briga verbal, e aos insultos que se dirigem mutuamente os candidatos do PTB e do PDS, após agressões mútuas, ameaçam se tomar, de vez, as vedetes da disputa eleitoral.
As pesquisas mais cretinas, na opinião geral do eleitorado, são as promovidas pelo SBT/TVS que, sempre e religiosamente, apresentam Maluf com uma diferença de 15 pontos do candidato Antônio Ermírio, e de 30 pontos do candidato do PMDB. É estratégia eleitoral pra camelô nenhum botar defeito.
No comício do PMDB, "comício da virada", houve menos gente do que se esperava, cerca de 11 mil pessoas, segundo a metodologia usada para calcular este número. A área ocupada pelo público presente ao comício, fora de aproximadamente 3.120 metros quadrados. Desta área, 1.092 metros tinham uma média de ocupação de seis pessoas por metro quadrado, somando 6.500 pessoas. Uma média de quatro pessoas por metro, ocupou o espaço de 576 metros quadrados, totalizando 2.304 pessoas. Na periferia da praça, mais distantes do palanque, os cálculos resultam na presença de 2.372 pessoas. A metodologia e os resultados foram levantados pelo Data/Folha.
OS DEGRAUS
DO BANDEIRANTES
(As Vésperas do IVºReich)
SETEMBRO DE 1986
129 intelectuais, artistas, profissionais liberais e empresários, entre os quais se destacam o jornalista Rodolfo Konder, Glória Menezes, Norma Benguell, Kito Junqueira, Tisuka Yamasaki e Raul Cortez, entregaram ao presidente Romão Sarney uma cópia do manifesto em favor da candidatura do empresário Antônio Ermírio.
Mais destaques entre os que subscreveram o documento: Lygia Fagundes Telles, Walter Clark, Fernanda Montenegro, Bruna Lombardi, Juca Kfouri, Sábato Magaldi, Yan Michalsky, Alberto Dinis, Marco Antônio Rocha, Nélida Pinõn, Aparício Basílio da Silva. E o mascote do candidato do PTB, o cantor Roberto Carlos. Segue transcrito literalmente, o último parágrafo do manifesto:
"É hora de uma solução acima dos partidos. É hora de uma solução que garanta a participação da sociedade civil, e de todas as forças democráticas na discussão das diretrizes do futuro governo. É hora de eleger quem possa dirigir o Estado mais importante do país com grandeza do horizonte nacional (sic), imprimindo velocidade às mudanças que o Brasil requer. Esta solução tem um nome e as pesquisas de opinião o comprovam: Antônio Ermírio de Moraes".
O intelecto político dos membros da classe artística brasileira que subscreveu esse manifesto em prol da candidatura Ermírio está por volta dos oitenta pontos. No máximo.
A "conspiração branca" contra o PMDB cresce. O biscateiro Joel Anadão Magalhães denunciou uma suposta trama contra a candidatura Quércia e as candidaturas do PMDB ao Senado. Joel, e mais três comparsas, estariam sendo induzidos a aceitar a quantia de 15 mil cruzados para, em troca, roubarem carros que seriam pintados com a propaganda dos candidatos peemedebista, para depois serem abandonados em locais ermos, onde seriam encontrados pela polícia, visando incriminar indiretamente os políticos do PMDB.
Joel disse ter recebido os primeiros 15 mil cruzados, e roubou três carros da marca "gol" e um "passat" na zona leste" de São Paulo, porém antes de abandoná-los em locais estratégicos, matou a tiros duas cunhadas, Rita e Andréia, e por isso desistiu de prosseguir no esquema.
Ele denunciou o complô contra o PMDB negando-se a revelar os mandantes ao dizer: "se eu contar, eles vão complicar a minha vida na cadeia e podem até mandar me matar". Joel pertencia ao PPB (Partido do Povo Brasileiro), e era postulante à candidatura a deputado federal, sendo que não chegou a ser registrada no Tribunal Regional Eleitoral.
Esse partido, PPB, faz parte da coligação malufista denominada "União Popular". Em seu poder a polícia apreendeu uma carteira de convencional do PPB. Os policiais de Guararema que desvendaram o duplo homicídio, são da opinião de que Joel sabe muito mais do que contou à polícia, e que há gente influente envolvida na história. "Não fosse desta forma, por que ele se daria ao trabalho de pintar os carros roubados com o nome dos candidatos do PMDB?". Perguntou o delegado Moreira Mota. Ele prosseguirá investigando no sentido de apurar as eventuais conexões políticas.
Analisando as opções Ermírio e Quércia, o empresário é candidato das manobras e articulações do meio empresarial e não, candidato por iniciativa político partidária. Ermírio não poupou esforços no sentido de angariar a simpatia e a adesão de políticos sem nenhum compromisso com a transição democrática: tais como Jânio Quadros e o cacique político do PFL, José Maria Marin.
Segundo a opinião pessoal do deputado federal Alberto Goldman, "em nenhum momento o empresário preocupou-se em posicionar a questão da unidade dos democratas acima de sua ambição política pessoal. Com Antônio Ermírio estão o empresariado, os tecnocratas e os detentores dos meios de comunicação e informação, para não mencionar os ministros comprometidos com sua candidatura, a exemplo de Marco Maciel".
A candidatura do PTB cresceu rapidamente porque há muito tempo a mente popular está desestabilizada, assim como o Sistema Nervoso Central de grande parte da população. A "esperança", característica dos brasileiros, está sempre sendo boicotada pela tibieza dos atos governamentais favoráveis à população. Atos governamentais estes, que estão sempre a perder terreno (Plano Cruzado I), quando em confronto com grupos econômicos que fazem frente ao poder central com sede no Planalto, de forma a defini-lo como sendo apenas um apêndice da classe patronal e/ ou dos produtores do lucro e da mais-valia.
Por falar em classe patronal, em banqueiros e em produtores rurais, o primeiro nome que vem à mente é o PFL, partido que representa os ideais políticos dessas classes, como bem afirmou o governador Esperidião Amin do PDS de Santa Catarina: "O PFL é um grupo de banqueiros cercado de malufistas por todos os lados". Equivale dizer que o PFL é um "lobby" da classe patronal mais do que, ou tanto quanto, é um partido político.
Não vai ser com discursos pusilânimes de conteúdo sub-reptício que os líderes do PMDB e da Nova República que traiu a si mesma conseguirão manter a paz social e a confiança que hoje ainda inspira timidamente o presidente Romão Sarney, líder da política das MUDANÇAS JÁ.
Neste momento o Planalto está com Ermírio, e os artistas, os empresários, os intelectuais de coquetel, as atrizes, os tecnocratas, esperam o instante de, oportunamente, aderir de maneira fundamentalista à candidatura do empresário. A "massa crítica" há muito tempo incorporou o conceito de que políticos são incompetentes e corruptos por profissão. Em consequência disto, o empresário, que é novo em política, pode contar com a simpatia de não poucos segmentos sociais de eleitores.
A política, ao contrário dos que pensam ao contrário, é uma chance que possuem os indivíduos de mudar (MUDANÇAS JÁ) o rumo do navio da sociedade brasileira, ora navegando sobre a calmaria do mar dos sargaços, prenúncio de acontecimentos fantásticos e até catastróficos, em decorrência da miséria, sofrimento, subnutrição, subemprego, ignorância, loucura, alienação, toxicomania, fome e marginalidade de cerca de 77% de seus passageiros de segunda e terceira classes.
Eu também não quero vê o circo dos horrores pegar fogo, porém, as forças sociais e políticas mais conservadoras pressionam, cada vez mais incansavelmente, no sentido de provocar uma revolta social tipo guerra civil, como sendo a única alternativa da "massa crítica" não permanecer submergindo, cada vez mais, nas águas turvas da sarjeta. E de uma educação para a marginalidade e a prostituição. Maciça.
NOVA PESQUISA FOLHA, e os resultados não surpreendem: Antônio Ermírio está com 32%, subiu três pontos com relação à pesquisa dos dias 16, 17 e 18 de agosto. Maluf caiu para 20% na preferência do eleitor, ficou com dois pontos a menos dos 22% que contava na pesquisa anterior. Orestes Quércia manteve-se nos 14%.
Essa pesquisa, realizada nos dias 30 e 31 de agosto entrevistou três mil eleitores na capital, na Grande São Paulo e no interior. Eduardo Suplicy do PT, aparece com 08% e decide, incontinenti, paralisar sua campanha até domingo próximo. Hoje, quinta-feira, 08:40 da manhã, alegou o candidato do PT precisar de um tempo para melhor poder avaliar "o que está acontecendo comigo e com o próprio partido. Quero estar muito comigo mesmo, por alguns dias, encontrar e aprumar o meu eixo".
Enquanto Suplicy está a procura de seu "eixo", quero crer que este foi mais um acontecimento memorável, que só serviu para depreciar ainda mais a trôpega candidatura de Eduardo Matarazzo Suplicy do Partido dos Trabalhadores. Caranguejo é quem anda para trás. Este, sem dúvida, não era o momento próprio para parar. A campanha de um candidato, uma vez saída da contagem regressiva para o impulso inicial, só pode e deve parar quando houver ganho a eleição ou, pelo menos, após o candidato depositar seu próprio voto na urna de 15 de Novembro.
Parou dançou, dormiu o cachimbo caiu, rezam os ditos populares. Suplicy justificou-se dizendo que ontem assistiu partes do debate de que participou e viu que não estava em seu natural. "Sei que sou muito melhor do que aquilo", concluiu.
Suplicy, o candidato em sua residência, entrevistado pela reportagem da Folha, disse que diversos fatores conduziram-no à decisão de parar por uns dias. Entre estes fatores está a necessidade de saber o que está errado nos rumos da campanha do PT e o que está errado com ele próprio.
Afirmou estar ciente da gravidade de sua decisão, mas que "existem momentos na vida em que decidir é imperativo". E ele decidiu parar alguns dias. Marta Suplicy, sexóloga e mulher do candidato, comunicou o afastamento do marido dizendo: "O Eduardo tentou seguir a orientação do partido e se deu muito mal. Acho que ele decidiu interromper a campanha porque percebeu que ainda dá para ganhar a eleição". Dona Marta, ao fazer essa afirmação, talvez tenha participado, pouco antes, de um evento em que serviram doses maciças da caninha 51.
Eu diria que a eleição do candidato Suplicy virou o suplício de uma saudade. Desde que não possui nenhuma remota possibilidade de reagir à superioridade incontestável das condições econômicas e conjunturais dos outros demais candidatos.
Marta Suplicy ainda disse dele: "saiu daqui falando que vai ganhar o voto dos eleitores que gostaram desta sua atitude que é uma atitude verdadeiramente dele". Se fugir da raia no momento decisivo é uma "atitude verdadeiramente dele", então Suplicy não mais deveria ser candidato a cargo majoritário pelo PT. No pique da campanha parar, não é boa manha.
Lula declarou-se perplexo. O candidato do PT disse que não pretende renunciar à sua candidatura: "Vou voltar para ganhar". E que está disposto "a comparecer a qualquer debate (sic, não haveria mais nenhum), entre os candidatos, seja de que modelo ou formato for".
O candidato do PT disse estar certo de que fez a coisa certa no momento azado, de maneira a corrigir o que parece errado. Suplicy disse ainda que, dele se deve esperar uma campanha eleitoral feita na base de iniciativas de impacto, nas quais se mostrará como realmente é, do jeito que é, e não de outro jeito. Lula, reforçando o apoio a Suplicy após ter-se declarado "perplexo", falou que ele é, sem sombra de dúvida, o melhor candidato, "o único que não tem o rabo preso". Pelo menos na época, olhando o perfil posterior do candidato, Suplicy não tinha rabo nenhum. Como poderia tê-lo preso?
A polêmica Maluf/Ermírio prossegue. O ex-govemador/interventor busca, através de artifícios verbais, manter-se nas manchetes dos jornais. Aumenta o Ibope da polêmica entre ambos. Ontem em Araçatuba, Paulo Salim disse que "Antônio Ermírio é autoritário, e representa um retomo ao passado, porque maltrata seus empregados e não permite greve em suas empresas. Se eleito fosse, o empresário não teria interesse em servir a São Paulo porque é ele, e não eu, quem quer fazer de São Paulo um trampolim para Brasília".
Ao comentar a afirmação de Ulysses Guimarães de que ele e Ermírio haviam baixado o nível da campanha, o candidato do PDS afirmou ser Antônio Ermírio quem não tem estabilidade emocional. "Ele envolveu o nome de minha santa mãezinha na discussão e por isto vai ter troco." Ermírio não deixou por menos e, apesar de ter jurado jamais pronunciar o nome ou polemizar outra vez com o ex-govemador/interventor de São Paulo, sacou destas outras palavras: “Paulo Maluf é o campeão do autoritarismo no Brasil e, quem sabe, até mesmo na América do Sul”.
Ermírio disse ainda que “todos sabemos que ele é um homem que nasceu do autoritarismo. Ele não nasceu para a política de uma eleição direta ou de um apoio popular". Acrescentou que “Paulo Maluf é "Ph.D em autoritarismo e reacionarismo, isto já foi demonstrado e provado pelo candidato do PDS. Esse candidato é página virada na minha vida", finalizou o empresário.
Visando levantar mais dados sobre a personalidade de cada um dos candidatos, com o objetivo de poder informar melhor seus eleitores, a grafóloga Odette Loevy aceitou a tarefa de analisar uma amostragem de manuscritos fornecida pela Folha, com a condição de que todos eles precisariam fornecer, para isto, uma autorização de próprio punho.
Leiamos os resultados da análise grafológica da letra de Quércia. Ela revela que ele é inteligente e conta com a facilidade de poder se adaptar às exigências da campanha e seguir metodicamente, como um bom menino, o programa eleitoral estabelecido. Associa as ideias com facilidade. Astucioso e superdesconfiado pode guardar mágoa ou rancor de seus adversários, porém esconde estes sentimentos negativos em proveito de seus objetivos políticos.
Quércia, segundo a grafóloga, "é prudente e vaidoso; sabe buscar soluções para problemas que possam destacá-lo". É segundo a interpretação dela, o tipo do político que, quanto mais descerrar o pano sobre as plaquetas de inauguração de obras em seu governo, com seu nome gravado e a data do evento, mais emocionado sentir-se-á em saber que, das cinzas e do pó, ele escapará, através do nome inscrito nas placas das vaidades "transcendentais" da história política de São Paulo.
De Antônio Ermírio, o diagnóstico grafológico diz o óbvio ululante sobre seus dotes de inteligência, assimilação ágil das situações, e espírito analítico. Teimoso e de "pavio curto", nem sempre leva em consideração a opinião de terceiros, no que reflete uma personalidade autoritária, próxima a manifestações agressivas e semi-histéricas. Minucioso, seu sentido de economia e prudência beira a paranoia; quer conhecer previamente as pessoas com as quais mantém interesses de compra e venda. Vale salientar que a análise da grafóloga Odette Loevy está permeada da interpretação deste Autor, e de comentários sobre o texto original.
Suplicy busca um relacionamento de acordo com seus padrões de educação de filho de industrial e neto de conde, milionário por natureza, cordial por vocação. Tem sensibilidade para captar sentimentos por ser intuitivo, sabe conquistar amizades. Sua necessidade de se destacar dos demais por necessidade de autoafirmação, conduz seu tino político à conciliar opiniões divergentes. Sintoniza-se com facilidade com o ambiente fornecendo às palavras e aos gestos, grande vivacidade e convicção pessoal. Não foi educado para ser Líder de Trabalhadores. Nem tampouco se adaptará a essa condição inteiramente contrária à sua formação familiar.
Maluf é ostensivamente vaidoso. Sua inteligência não costuma se distrair e compor com ideias improvisadas. Desafios são para ele incentivos para sair da monotonia e do tédio da boa vida. Vaidoso e autoritário deseja impor seus mandos e desmandos sem admitir contestações à sua fleuma e liderança. É ambicioso e capaz de reações inesperadas. Exibicionista, tem interesses artísticos que reforçam seu culto à própria personalidade. Egomaníaco, o afã de mandar é uma de suas tônicas.
"Heil Maluf". "Mein Kampf"' deve ser seu livro predileto de cabeceira, e Adolf Hitler seu paradigma político. Seu "calcanhar de Aquiles" são os regimes de força porque, nestes, estabelece-se os limites máximos de distanciamento entre classe que governa e o resto da sociedade.
Tal distanciamento atinge níveis inusitados que reforçam a ilusão de mando, poder e influência como só os grandes conquistadores conseguiram usufruir: Gengis Khan, Mussolini, Pinochet, Hitler e juntas militares golpistas, jogam todos no mesmo time. O time da vertigem do poder. A seleção dos que não mediram esforços para consegui-lo (o poder), segundo a filosofia de mando maquiavélica: "os fins justificam os meios".
O casal de atores Eva Wilma e Carlos Zara publicaram um "informe publicitário" declarando seu apoio ao candidato Orestes Quércia. Assim sendo, diz a nota, foi com surpresa que viram seus nomes incluídos como signatários em manifesto de apoio a Antônio Ermírio. Afirmaram não ter assinado seus nomes e lamentaram seu uso sem a autorização de ambos. O informe finaliza dizendo que, como artistas e, sobretudo como cidadãos, "continuamos, como sempre fizemos, a luta pela democracia, pela soberania nacional e pela justiça social". Nesta conjuntura política Quércia é quem mais representava essa luta.
Geraldo Siqueira do PT pediu que o partido dê uma prova de identificação mais clara com a angústia da população, em decorrência da cobrança sistemática de ágio, e com a falta de mercadorias nas prateleiras dos supermercados, em vez de ficar discutindo apenas os temas tópicos do programa de governo. Estamos a dez de setembro e a falta de água mineral, cerveja, uísque, carne de gado e de frango, ovos e outras mercadorias nas mercearias e supermercados não pararam de acontecer até hoje, 28 de setembro, quando está sendo escrito este capítulo.
É pertinente a denúncia de Geraldo Siqueira, desde que o governo de Sarney, teoricamente garante o Plano Cruzado, quando, na prática, o povão vem sofrendo sistematicamente com o boicote dos gêneros alimentícios, e com o pagamento sistemático do ágio pela população, quando tenta adquirir produtos em escassez ou em falta.
Se nem o governo federal pode moralizar o fornecimento e punir os infratores, quem mais poderá fazê-lo? Os produtores rurais, os banqueiros e a classe patronal são os reais governantes deste país. Como quem governa pertence àquelas classes e elites, a coisa fica por isso mesmo. A lei pela não lei. O dito pelo não dito. É Orwell. É "1984".
Cadê o PMDB? A coisa fica por isso mesmo porque maior parte de seus parlamentares não têm interesse em MUDANÇAS JÁ por serem também eles patrões, latifundiários ou deputados eleitos pelo poder econômico dos “lobbies", que não representam os interesses das classes populares que querem MUDANÇAS JÁ. A Nova República do PMDB existe para trabalhar, ao nível político da representatividade de seus eleitores, por MUDANÇAS JÁ.
A religião dos parlamentares do PMDB deve e pode ser MUDANÇAS JÁ. A Constituinte que não é xarope deve e pode garantir MUDANÇAS JÁ. A Nova República existe porque existe o slogan MUDANÇAS JÁ. O PMDB existe porque existe uma promessa em praça pública de seus parlamentares: MUDANÇAS JÁ. Mas parece que com esses parlamentares e políticos quanto mais a coisa muda mais a coisa fica igual.
SUPLICY AFIRMOU NA tribuna da Assembleia, que os problemas da maioria da população dificilmente terão solução no sistema capitalista. E em tom de acusação disse que o Socialismo não é compreendido da mesma maneira por todos os que seguem a estrela vermelha do partido. "Aqui há cristãos, socialistas e marxista-leninistas". Ora, desde quando ser cristão, socialista e marxista são posicionamentos ideológicos contraditórios?
Contraditório é ser cristão e não ser socialista ou vice-versa. Na Vila Madalena, um dos redutos da boa ideologia pró-PT, está em voga uma rima que diz maliciosamente: "Em tempo de Suplicy cada um cuide de si". Querendo dizer que, enquanto Suplicy for candidato, o pessoal do PT se dispersa: uns votam no PMDB, outros nos PCs, outros ainda debandam para o Partido Socialista. Que fazer? Plínio de Arruda Sampaio e Florestan Fernandes são melhores opções?
Não poucos petistas acreditam que sim. Um candidato que não produz empatia com seus eleitores, até por uma questão de ordem social, por ter nascido numa classe da "elite" econômica e educado nela e para assumi-la, não pode produzir a empatia com membros da classe trabalhadora, que nasceram das classes desfavorecidas e foram educados para nela permanecerem, sem muito estardalhaço.
Abalado pelos resultados ultra desfavoráveis nas pesquisas o candidato petista deve ter descoberto que sua atitude de se afastar provisoriamente da campanha, deve ter somado contra sua candidatura, com os episódios que envolveram petistas ou pseudopetistas, na crônica policial e que produziram na opinião pública reações adversas ao Partido.
Quem pensar que Suplicy foi o primeiro político a jogar a toalha branca na lona do ringue eleitoral para pedir um tempo é porque não conhece os antecedentes: Antônio Ermírio, candidato do PTB ao governo de São Paulo, e o deputado federal Mário Covas, que disputa o Senado pelo PMDB, sofreram internações hospitalares. Internado no dia 17 de junho no Hospital da Beneficência Portuguesa e submetido a uma sineangiocoronariografia, Ermírio ficou certo de que suas coronárias estavam bem, sofrera apenas uma gastroenterocolite.
Mário Covas, em 15 de julho, fora internado no Instituto do Coração com um infarto agudo na parte inferior do coração. Ficou dez dias internado, e trinta longe da campanha. Ele, que viria a ser o candidato mais votado de todos os tempos no Brasil, com quase oito milhões de votos, teve que parar para não enfartar mais intensamente.
Ermírio reconheceu, após seu internamento, que as dores devem ter sido puramente resultado da tensão emocional. Reconheceu também que as não poucas dificuldades da campanha, contribuíram para que o distúrbio impedisse que prosseguisse a campanha no mesmo pique: "É uma vida à qual tenho de me acostumar e tenho a impressão de que preciso ser mais calmo". Após sugerir à imprensa que passasse no Cemitério São Paulo daqui a dois dias ("vão me encontrar lá, porque não me deixam morrer em paz?"). Depois pediu desculpas e disse outra vez que teria de ficar mais calmo e não se desesperar com pequenos problemas.
O candidato do PTB não está sozinho nisso: a tensão emocional, o "stress" convoca nada menos de 30% dos 479 deputados federais. Há os que sofrem de hipertensão arterial e há os que tiveram de compartilhar a intimidade biológica com o enfarto do miocárdio. O desgaste físico está presente também, ainda que esporadicamente, entre os parlamentares que estão simplesmente a usufruir das mordomias delegadas aos representantes do poder e da influência político-social no congresso. Em Brasília.
Maquiavélicos por natureza e por força do quotidiano da profissão, não poucos parlamentares sentem os efeitos do desgaste físico e psicológico, proveniente da tensão pessoal e social, consequência do processo político camaleônico do qual participam, não poucas vezes, como simples marionetes do "governo invisível".
João Ubaldo Ribeiro, escritor residente em ltaparica, terra boa mina rica, é da opinião de que Política não é apenas uma coisa que envolve discursos, promessas, eleições e muita sujeira. "Política é a condução de nossa própria existência coletiva e individual, na prosperidade ou na pobreza". Quando você não se preocupa com Política está a favorecer, ou está favorecendo aqueles que usam e abusam de seus mandatos para boicotarem a coletividade, como os políticos que criaram mas não foram capazes de gerir o Plano Cruzado de forma eficaz, permitindo aos produtores boicotarem o povo e a política que beneficiaria os eleitores.
"Há uma trama contra a sociedade brasileira. Há uma política contra a sociedade brasileira", afirmou Teotônio Vilela. A UDR e a TFP são paradigmas dessa política, exercida por gente rica e de "bom" caráter, que objetiva prosseguir boicotando os planos econômicos e sociais paliativos, em nome dos quais existem e sobrevivem as autoridades políticas da Nova República que, com o Plano Cruzado lI, traiu a si mesma. Como já havia traído com o Plano Cruzado I, que não foi capaz de gerir de maneira responsável, deixando que os produtores rurais e empresários boicotassem as diretrizes socioeconômicas do Plano.
Segundo a inacreditável opinião do ministro Funaro, "a sociedade brasileira não foi afetada pelas sequelas socioeconômicas do Plano". É brincadeira ministro? Enquanto vossa excelência dizia isto, havia falta de gêneros alimentícios e de refrigerante e bebidas alcoólicas nos supermercados. Nos restaurantes não se podia comer carne devido sua inexistência de oferta. Os juros do ágio subiam em proporções tão inacreditáveis como suas palavras.
A política é uma atividade que se impõe aos interesses dos cidadãos em defesa dos mesquinhos interesses da elite, com o objetivo de privilegiar a sociedade dos banqueiros e a classe patronal rural e urbana. Apenas. E o que é pior: dos banqueiros internacionais. O poder, qualquer poder político, visa alterar ou manter o comportamento das pessoas, visando submetê-las e resigná-las a uma situação imposta sem participação política majoritária.
O Cruzado II foi uma imposição, não do PMDB enquanto partido impôs-se a partir das projeções econômicas de um ministro e de seus subordinados. Não é um plano popular e não será. Serviu apenas para desgastar as simpatias da "massa crítica" com que o Plano Cruzado I havia conseguira privilegiar o governo da Nova República de Romão Sarney. O Plano Cruzado II derrubou o prestígio do governo. E do PMDB.
A campanha maciça pró-Antônio Ermírio resultou no mais espetacular índice de intenções de votos em favor do candidato do PTB na pesquisa Folha feita nos dias 13 e 14 deste mês, com três mil eleitores na capital (1.020) no interior (1.484) e na Grande São Paulo (496). Ermírio de Moraes detém 37% da preferência dos eleitores.
Maluf vem em segundo lugar com dezenove e em terceiro Quércia com apenas 12%. Eduardo Suplicy está com 7% e Teotônio Simões do PH com 1%. A se acreditar neste quadro eleitoral, dir-se-ia que as eleições de São Paulo estariam definidas, e Ermírio eleito em 15 de novembro. O empresário pelo menos estava convencido disto quando, em entrevista, admitiu que, sem presunção, já estavam passando por sua cabeça alguns nomes para compor o secretariado. Cantar vitória antes do tempo de apuração é, em eleição, fatal.
Sobre a eventual participação do PMDB em seu governo, manifestou a opinião de que o importante não é ver siglas, é ver os homens, é, segundo ele, "escolher primeiro os homens de bem e depois ver as siglas". Ermírio crê que será eleito com 35% dos votos e que será forçado a negociar com gente que se adapte ao perfil do candidato. Apesar da euforia inicial, o empresário buscou mostrar-se cauteloso e, reproduzindo o velho ditado mineiro, disse que "mineração e eleição só se sabe o resultado depois da apuração". Depois da euforia, a ponderação.
Maluf acredita que os repórteres que acompanham sua atuação popular devem estar rindo dos resultados e acrescenta: "se eu não soubesse que a Folha é um jornal honrado, eu diria que é uma pesquisa fajuta e manipulada". Quércia limitou-se a afirmar que os dados da pesquisa não corresponderiam à realidade das intenções de voto do eleitor.
Paulo Maluf, para não contrariar a ideologia de seu estilo, pronunciando-se a propósito do covarde massacre dos presos capturados e massacrados em Presidente Wenceslau, opinou (ignorando a selvageria e a truculência dos policiais), que "a medida foi acertada. Se eu fosse governador teria decidido da mesma maneira". Provou que não pode ser governador.