Os Degraus Do Bandeirantes (As Vésperas Do IV° Reich ) 4
Ermírio dissera que se candidatara para evitar a vitória do candidato do deputado e ex-govemador de São Paulo. Será que alguém acreditou nas palavras do político-empresário? Ou a aparente ingenuidade dos políticos envolvidos neste jogo de interesse, faz parte da estratégia de cada um e de todos eles? Uma pesquisa feita para analisar os efeitos da desistência de Ermírio, revelou que seus votos migrariam em porcentagens idênticas para Quércia assim como para o candidato do PT e numa parcela menor, para Maluf.
A transferência de votos para Quércia seria insuficiente para este ganhar as eleições, se o empresário não veiculasse sua desistência ao apoio consequente à candidatura peemidebista. Montoro, em vista dos desdobramentos dos acontecimentos, sugeriu a Quércia um novo adiamento da convenção do PMDB para o dia 6 de julho.
A candidatura a vice-governador ficaria em aberto porque Montoro alimenta a ilusão de ver o empresário aderir à candidatura Quércia, enquanto candidato a vice. Quanto ledo engano. É de causar pasmo. Montoro iludir-se com uma possibilidade tão remota. Talvez estivesse apenas a querer ganhar tempo para encontrar outra saída que encarasse a alternativa Maluf derrotando-a definitivamente.
Em Brasília, Maluf histriônico e daltônico, diz que o candidato que tiver o apoio de Montoro, estará previamente derrotado. Alegou histrionicamente que vencerá com um milhão de votos de vantagem, sobre o segundo colocado no pleito de 15 de novembro. Político bufão é o que não falta neste pleito. Euforia não ganha eleição. Mas Maluf investe em qualquer chalaça em que possa acreditar. Em qualquer fantasia na qual acredite possa ajudá-lo a enganar, mesmo provisoriamente, seu eleitorado.
Antônio Ermírio solicitou quarta-feira ao governador Montoro, uma união visando discutir a sucessão de São Paulo. Este encontro seria decisivo, no sentido de organizar um "centro democrático" capaz de evitar o retrocesso político que seria a eleição de Maluf. Na verdade, Ermírio estaria preocupado apenas, em argumentar em prol de sua candidatura. O empresário reúne-se à tarde na Assembleia Legislativa com a bancada de seu partido para discutir as possíveis coligações e "traçar o rumo da campanha".
Cada um por si é, em realidade, o verdadeiro e único "slogan" dos candidatos. E, neste palco os acontecimentos favorecem, neste momento passageiro, o candidato Maluf, que conta com uma percentagem acima de 30% do voto dos eleitores na faixa mais conservadora da população. A exemplo da direita, da extrema direita, dos pequenos empresários, dos niilistas, reacionários, neocapitalistas, e de uma incontável massa dos "lúmpen" habitantes das periferias das cidades no entorno de São Paulo.
Esses lúmpenes acreditam que sua miséria é culpa do atual governo, assim como acreditarão, ao fim do próximo governo, que sua condição miserável continuará sendo culpa do então atual governo. Desconte-se os dez por cento dos votos em branco e anulados, uns 30% canalizados para Maluf, e teremos os 60% restantes dos eleitores divididos entre Ermírio, Suplicy e Quércia.
O deputado José Gregori se movimenta no sentido de expor a Almino Affonso, presidente do partido em São Paulo, os motivos pelos quais se justifica a união entre PMDB e Ermírio, como única forma possível de derrotar o PDS de Maluf. "A coisa aqui está preta", como diria a canção. Até Quércia admite que, se fossem hoje as eleições, Maluf venceria e acrescentou: com a boa campanha que vamos fazer, não tenho dúvidas de que nos dará a vitória.
O vice-governador criticou, sem citar nomes, os deputados de seu partido que insistem na revisão de sua candidatura, a exemplo de Roberto Cardoso Alves: "Esse pessoal está ajudando Maluf", acrescentou que nada justifica o adiamento da convenção partidária marcada para o dia seis, pois qualquer possibilidade de negociação, deve ser concretizada até esta data. Fernando Henrique Cardoso, ao desembarcar ontem em Campinas, no aeroporto internacional de Viracopos, falou que o deputado Maluf não representa uma ameaça apenas para o PMDB, ou para a candidatura Quércia, "Maluf é uma ameaça para São Paulo, não para nós", pontificou. Poderia ter dito mais adequadamente que Maluf continua sendo ameaça para o Brasil.
Antônio Ermírio, com voz cansada, afirmou em comentário à sua candidatura que, no final das contas, é que se conclui que "estou trabalhando muito para eleger os outros". Acreditou que não podia imaginar que fosse tão difícil sua participação na campanha eleitoral. "Estou estuporado, imagine você que estou deitado na cama ainda de roupa, nem jantei — falou ao repórter — passo o dia todo tratando de coisas de pequena importância, que chegam aos meus ouvidos e causam grande emoção. Numa avaliação mais fria, vejo que elas são de pequena importância, mas causam desconforto de ordem psíquica, devido a meu temperamento".
Ermírio, num momento de sinceridade confessional, afirmou ainda que precisava aprender a ouvir as coisas, e fazer com que elas entrem, por um ouvido e saiam pelo outro. "Eu me emociono demais". O empresário finalizou a entrevista dizendo: "Estou no meu limite. A saúde está boa, o organismo resiste bem. O mal-estar é de ordem psíquica". É preciso ter estômago dr. Antônio Ermírio, imagine se não pudesse contar com todos os recursos financeiros e econômicos para somar à sua campanha.
Separando em dois: a parte do desgaste emocional de sua campanha deve-se à parcela demagógica da mesma. Ora, se o empresário tivesse realmente intenção de ceder seu lugar para outro partido, ou candidato, em beneficio da política brasileira, e em desproveíto da candidatura Maluf, não teria investido e abusado economicamente dos recursos promocionais da campanha multimilionária: quem investe tão maciçamente na compra de espaço TVvisivo para propaganda de suas empresas, e em "outdoor" e cartazes de rua, em quantidade muito superior à de seus adversários, NÃO PRETENDE, DE MODO ALGUM, CEDER UM MILÍMETRO DO ESPAÇO ELEITORAL no qual investiu quantias astronômicas.
Qualquer eleitor habitante da classe média teria dificuldades de avaliar, mesmo usando os mais modernos "telescópios" à venda nas óticas e lojas de artigos fotográficos, a quantidade de capital financeiro investido na campanha do empresário. O Halley fora um fiasco, mas a campanha do "cometa" político e empresário, se não logrou ganhar, não fora por falta de investimento nos recursos de PP&RP no marketing político. A mais agressiva das candidaturas milionárias. "OU TUDO OU NADA" sempre foi esta, e não outra, a disposição combatente do candidato do PTB.
Abrir o jogo ninguém abriu: todos os candidatos se preocuparam com suas próprias campanhas e discursos egomaníacos ou pseudolibertários. Da Constituinte se falou um mínimo possível, quanto a Quércia, poderia ter garantido para sua candidatura um tom pró-Constituinte inexistente em todas as outras. Um discurso pró-Constituinte significa burlar o tempo para outras argumentações da campanha para governador.
O discurso visando o poder localizado da eleição para governador é mais importante do que o discurso dirigido a informar e elucidar a população sobre a importância da Carta Magna da Nação Constituinte. A população de eleitores informá-la sobre suas alternativas constitucionais... Bom. Quer dizer... Isto talvez não seja tarefa para nenhum candidato a Governador do Estado de São Paulo. Desde que para os candidatos parlamentares constituintes, também não é. Sobra quem? Quem vai informar os eleitores da eleição Constituinte?
De meu mui modesto ponto de vista, acredito numa negligência dos políticos quanto a se isentarem da responsabilidade de informar os eleitores a propósito da questão constituinte.
Hoje, 21 de junho, o empresário comentou a declaração de Quércia, segundo a qual só haveria negociação se ele, Ermírio, retirasse sua candidatura para governador, dizendo: "Então não há negociação, pronto". Disse ainda ser uma inverdade lamentável a notícia de que sua família estaria a pressioná-lo no sentido de que retirasse a candidatura.
Por parte do candidato Maluf há uma disposição infindável em galhofar e fazer pouco do público em declarações como estas: se os candidatos gastarem em suas campanhas, até o limite máximo permitido pelo projeto de lei aprovado anteontem na Câmara, estarão de fato abusando do poder econômico, embora o objetivo do projeto seja o oposto. Segundo projeto do deputado Manoel Costa Jr., do PMDB-SP, o limite máximo para a campanha ao governo com recursos próprios do candidato é de Cz$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de cruzados). —"Quantia generosa demais", segundo Maluf, "não vamos gastar tudo isso". Sabe-se que os gastos das campanhas milionárias ultrapassaram em muitíssimas vezes esta quantia-limite.
Delfim Neto chamou Suplicy de "nosso Coluche só que menos engraçado". "Realmente o ex-ministro não pode me achar engraçado, (sic) porque eu nunca achei graça da maneira dele desrespeitar os trabalhadores" —retrucou Suplicy— "recusando-se a ouvi-los enquanto escutava banqueiros internacionais e empresários, na hora de definir as diretrizes econômicas". E prosseguiu afirmando não ter achado graça, da maneira como Delfim aplicou recursos da Caixa Econômica Federal no Grupo Coroa Brastel, quando tinha plena consciência de que a administração daquele grupo estava caracterizada por ações irregulares, e crimes do "colarinho branco", praticados com sua conivência.
Os motivos que levaram Delfim a chamar Suplicy de palhaço (Coluche é o nome do humorista francês que morreu esta semana), devem ser exatamente estes que o candidato do PT alegou: "palhaço é quem não mete a mão nos recursos públicos, é quem não enriquece ilicitamente, é quem não abusa do poder econômico". Palhaço são todos os que defendem uma moralização e humanização no setor dos investimentos governamentais.
Já na conjuntura política do século XXI o humorista Tiririca eleito deputado federal, afirmou uma adjetivação do termo “palhaço” com outro sentido. Tiririca afirmou que pensava ser ele palhaço, mas quando viu a quantidade de fazedores de graça que estão presentes no Congresso Nacional, ele não mais se julga um bom palhaço. Em comparação aos ilustres companheiros congressistas.
Afinal, palhaços são os raros parlamentares que não usam e abusam de seus mandatos para incrementar os conchavos e a corrupção entre congressistas? "Ri melhor quem rir por último", está escrito nas entrelinhas da resposta de Suplicy. Sobre a declaração do candidato do PDS de que, quem tivesse o apoio de Montoro estaria derrotado, é bom lembrar que, em 82, Reynaldo de Barros foi derrotado quando somou à sua candidatura o apoio de Maluf.
A DIRETORIA NACIONAL do Partido dos Trabalhadores, escolheu a nova Comissão Executiva e manteve na presidência o candidato a deputado federal Luís Inácio Lula da Silva, 40. A decisão do último encontro partidário proibindo qualquer tipo de apoio aos candidatos da Aliança Democrática está valendo mais do que nunca. Lula disse que o PT "critica abertamente a posição pró-latifúndio do ministro da Justiça, Paulo Brossard".
Seduzir é um recurso feminino que os candidatos pretendem acentuar com relação a seus eleitores. O candidato que melhor souber usar os recursos de sua ânima, estará mais próximo de conseguir eleitores, do que seus adversários menos sedutores. O caminho da sedução para o PT, passa pelo que Florestan Fernandes define como sendo "as raízes verdadeiramente clássicas do marxismo".
Florestan criticou a tentativa de fornecer um ar muito civilizado às pretensões das classes trabalhadoras, suavizando desta forma o impacto fundamental, a partir do qual as classes trabalhadoras podem e devem ser motivadas. Suplicy seria um candidato excessivamente dócil, sem um discurso ideológico claro, parece fazer o mesmo jogo camaleônico que seus adversários fazem. "Para defender o Socialismo é preciso muito mais do que a mísera convicção ideológica de que ele é capaz". As ideias de Suplicy, muita gente no PT duvida que ele seja capaz de ter ideias próprias. à boca pequena dizem que "em tempo de Suplicy, cada um por si".
Neste Estado e neste país estamos a viver numa guerra civil não deflagrada oficialmente, onde policiais armados lutam todos os dias, contra contingentes cada vez maiores da população civil, marginalizados pelo processo econômico: o analfabetismo, o desemprego, a subdesnutrição, a revolta calada contra a corrupção política e o ódio interclasse. Marginalizados também por seus próprios instintos, insatisfeitos por suas pulsões recalcadas, a "massa crítica" média, está a se engajar cada dia mais, nos caminhos cada vez mais naturais da marginalidade, como único recurso de sobrevivência.
A estratégia "ligth" do PT é incipiente, frágil, conjectural e, absolutamente, não condiz com a tradição de luta pelo poder, onde quer que tenha havido, ou haja, um Partido dos Trabalhadores. Um Partido dos Trabalhadores só pode ser concebido, a partir de sua "intencionalidade" política de partido Revolucionário. Suplicy parece ter saído de um quadro renascentista, onde sua expressão facial lembra a docilidade das figuras retratadas nos quadros de Boticelli e de outros pintores de madonas financiados pelo Vaticano da idade média provençal. Não convence a ninguém, acredito que nem a si mesmo, como líder socialista do PT.
Sabe-se que as "conversações de paz" entre Ermírio e Montoro, não poderão resultar em nada. O empresário é irredutível quanto a sua candidatura, e Quércia é também, e compreensivelmente, irredutível em sair candidato ao governo pelo PMDB. Logo, para que tais "conversações de paz"? Como diria a canção do cantor e intérprete Sérgio Ricardo: “blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá”. Nada mais.
Eduardo Muylaert é nada menos do que o quarto secretário de Segurança Pública de Montoro. Seu antecessor, José Carlos Dias, caiu após a apresentação do "pacote de segurança", exposto por Quércia em uma reunião da Executiva paulista do PMDB. José Carlos Dias seria o símbolo maior da política de direitos humanos, preconizada pela administração Montoro e também seu bode expiatório, agora que os rumos desta política vão mudar.
Há um pavor com relação a ascensão de Maluf, por parte dos políticos peemedebista. E não sem razão. Vacilou nesta eleição, e o cachimbo do PMDB e da Nova República, começaria a cair de maneira irreversível com o PDS/PFL governando São Paulo. Uma tragédia pública, eleitoral e política. Uma tragédia da servidão humana: a falta de valores como sendo um valor.
O problema de segurança e da Justiça não se resolverá a partir da proposta de Quércia. Só os presídios que desejaria construir, custariam aos cofres públicos nada menos de um bilhão de cruzados. O milionário e paupérrimo Estado de São Paulo, não pode arcar com a responsabilidade deste investimento na gestão Quércia Governador. Um bilhão de cruzados é quanto deverá gastar um dos milionários candidatos ao governo de São Paulo. Em sua campanha. Particular. De interesses particulares.
Como o governador paulista fatura um salário de dezesseis mil cruzados mensais, precisaria de nada menos de 5.028 anos para custear uma campanha com esse orçamento: Cz$ 1.000.000.000,00. Os Cz$ 60.000.000,00 que, segundo Maluf, nenhum candidato gastaria tudo isso, não correspondem nem a 10% do que o milionário da Votorantim vai aplicar tentando se eleger governador... Isto é um investimento como qualquer outro investimento, e é preciso que se diga que o candidato ganhador, qualquer que seja ele, pretender reaver com juros e "correção monetária", todo o capital investido durante a campanha. Para os que perderem, terá valido o divertimento. A escola de samba das eleições desfila seus enredos políticos de quatro em quatro anos. A pomba-gira democracia está solta.
A pomba-gira Democracia é a porta-bandeira dessa escola de samba milionária. Das eleições de interesses oligárquicos.
Os eleitores de São Paulo, mais "ingênuos" do que seus espertos candidatos, entraram inconscientemente num mórbido círculo vicioso de votarem compulsivamente no pior candidato, como que pretendendo mostra a todos, e a eles mesmo que, quem não tem nada a perder, não perde nada votando no candidato mais desprestigiado pelos intelectuais, pelos jornalistas, pelos escritores e pela classe média mais informada.
Isto aconteceu em 1985, em São Paulo, com a eleição de Jânio derrotando Fernando Henrique Cardoso, candidato prestigiado pelo PMDB, e pelas lutas em prol do estabelecimento do regime democrático da Nova República. É preciso ser "zangado", "do contra", muito bravo mesmo para conseguir sobreviver neste difícil mercado, onde milhões de seres humanos sentem suas vidas escapando de suas mãos, de uma maneira miserável... Irreversível. Enquanto a geração de seus filhos mergulha na marginalidade a partir de uma educação para o tráfico e a prostituição.
Sentem seus sonhos sem possibilidade de realização, mesmo os mais humildes, sentem a possibilidade de estarem sufocados definitivamente, pelas "possibilidades aparentes" do subemprego, da subalimentação, e da falta total de uma orientação educacional no sentido de, pelo menos, poderem situar-se mais dignamente perante a si mesmos, e os vizinhos que lhes cercam.
Os eleitores são ilhas de revolta a contemplarem o mar dos sargaços de suas frustrações mútuas. Por que votar no outro candidato, se tudo vai continuar a mesma coisa? Vamos votar no mais incoerente, no mais engraçado, no mais safado.
— "Vamos votar em nós mesmos". Parecem querer dizer as populações excluídas das políticas financeiras e econômicas dos governos assalariados. Num mundo "non sense", por que fazer sentido?
Reencontrar-se com os candidatos a quem derrotou, faz parte da estratégia dos eleitores coniventes com sua própria derrota e a de seus sonhos quotidianos. Estas forças rivais do ponto de vista social refletem uma enorme frustração coletiva. Perdedores por natureza de sua condição social, não são capazes de poder lograr sair de sua condição infame, de revolta contida e pobreza material e espiritual.
Alguém pode ser espiritualmente pobre? Sim, basta depreciar as virtudes saudáveis do próprio corpo, da própria mente para que espiritualmente não se manifestem, exceto larvas semiespiritualizadas, súcubos e íncubos, na terminologia "cientifica" do ocultismo.
Seres humanos são mutações raríssimas na atual geração. Homens e mulheres com saúde física e espiritual são uma raridade na geração paranoica que não se humanizou e que, pior, não sabe o que significa ser humano. Ser humanoide basta. Esta tragédia de inconsciência conduz a "massa crítica", a um distanciamento definitivo do que Teilhard de Chardim denominaria de "ponto ômega do universo".
A política e os políticos deveriam aproximar a sociedade do "ponto ômega", do nível de sobrevivência e de raciocínio lógicos, a partir dos quais seus eleitores pudessem crescer como seres humanos. E não se fossilizarem enquanto androides. Crescer em dignidade, e não em degradação de seus recursos naturais: físicos e psicológicos, materiais e espirituais.
Suplicy é milionário, porém o PT que pseudolidera enquanto candidato, sem nenhum carisma, é um partido de Trabalhadores, um partido aparentemente pobre de recursos, porém o mais realmente rico partido em recursos humanos que, se organizados, será também o mais rico partido, não apenas de ideal social pró-trabalhadores, será o Partido dos Trabalhadores brasileiros, transição provável entre pornôcracia e a democracia possível de construir a paz e a dignidade entre os povos:
A Democracia Socialista e não a puta velha democracia do capital explorando o trabalho. A puta velha democracia do “Reich Dos Mil Banqueiros” explorando por preços irrisórios, a força de trabalho da brava gente brasileira. É evidente que, uma vez no poder, certamente seguirá a trilha dos outros partidos que, como se fossem quadrilhas organizadas, assaltam famigeradamente o patrimônio público. O PT breve vai mostrar que, uma vez no poder, não difere nada daqueles políticos que hoje detrata.
OS DEGRAUS DO
BANDEIRANTES
(As Vésperas do IVº Reich)
JULHO DE 1986
Minorar a exploração capital versus trabalho, em meio às candidaturas não-ideológicas, isto é difícil, tal como afirmou o filósofo comunista francês Garaudy: "Se você afirma que o socialismo não pode ser construído por meio de uma delegação de poder a um partido e a seus dirigentes, então você aparece como um perigo para todos os partidos e não apenas um. Um utópico, um herético, um anarquista. Um antissocial. Isto significa pôr em xeque o conjunto da sociedade. É necessário ter em conta de que, novos partidos e novos políticos, são apenas novas formas de operacionalizar as mesmas e antigas alienações do pluripartidarismo vigente".
O natural desdobramento político da humanidade é a Democracia Socialista. Dignidade, em política, e moral em política, é trabalhar por elas. Quem sabe faz a hora. Não espera acontecer. Acontece que não há novos paradigmas políticos, econômicos e sociais. O que há são canibais famintos por verbas públicas para encaminharem em direção aos paraísos fiscais onde esperam suas gordas contas bancárias.
A impressão de esvaziamento da eleição em São Paulo só não é maior devido à presença do "showman" Roberto Carlos nos comícios do "diretor de circo" empresário. Um a serviço do outro milionário. Um canta promessas eleitorais, o outro, um coração de melão derretido com coca-cola. Cheirar a poluição de São Paulo é uma virtude dos que nela moram. Com Ermírio é isto aí: pão e circo para a "massa crítica" que ela merece. Roberto Carlos, quinto na lista dos contribuintes do leão do Imposto de Renda, pessoa física, canta como um passarinho, um canarinho, esquecido que o balanço das horas e o balanço da gaiola, se fundem e se confundem mutuamente.
Não sou Garaudy nem filósofo do Partido Comunista Brasileiro, porém as equivalências estão ai para quem souber vê-las. Roberto Carlos, Roberto Campos, Roberta Close, Roberto Marinho e muitos robertos para um país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza. Carnaval pra essa gente é todo dia que Deus deu, que Deus dá. Para eles neste país onde cantam os romantismos anacrônicos dos sabiás só tem um mês: Fevereiro.
O JOGO DAS palavras cruzadas, essa diversão de mulher malcasada e comadres faniquitas, é diversão também para os adversários mais agressivos da candidatura Quércia. Chamam-no de "o Maluf do PMDB", esquecidos de que o vice-governador teria realmente malufado se cedesse sua candidatura de "mão beijada" ou de "mão melada" ao candidato turista no meio político, o empresário Antônio Ermírio.
Se na convenção partidária nem Ulysses Guimarães se arriscou em concorrer com Quércia, Antônio Ermírio muito menos. O vice-governador ameaçou não comparecer ao almoço hoje na residência do presidente do PMDB, ao ser informado de que no cardápio das conversações políticas havia um prato que ele repugnava digerir: a possibilidade de compor a chapa do partido como vice-governador de Ulysses Guimarães.
Quércia afirma acertadamente sua candidatura irreversível. Qualquer cambalacho no sentido de ceder sua candidatura pode ser fatal ao candidato do PMDB. A oxigenação necessária da candidatura Quércia acontecerá após a convenção haver homologado sua candidatura, e a do vice-governador Almino Affonso, na chapa do PMDB. A partir daí, como diria o Martinho da Vila, "a vida vai melhorar, a vida vai melhorar". A vida ávida dessa candidatura.
Abre-se um espaço neste livro para uma nota muito lamentável: representantes do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro dirigiram-se ao Centro de Estudos e Conferências do Ministério das Minas e Energia em ltaipava distrito de Petrópolis (onde a Comissão Provisória de Estudos Constitucionais está reunida), para distribuir uma nota em defesa da exigência da obrigatoriedade do diploma de jornalista. Este evento trágico lembra a situação dos "jornalistas no Estado do Piauí".
Quando aparece um cidadão comum nas redações dos jornais piauienses, os "jornalistas" destes ficam como que possessos e apavorados, com a possibilidade do individuo ser, ou vir a ser, um concorrente à sua vaga de "jornalista". Eles todos têm um temor patológico de ficarem sem seus empregos, ao disputarem um espaço na redação dos jornais, com quem tenha talento e criatividade para escrever noticias e editoriais, sem os clichês usuais e tatibitates, através dos quais garantem seu azedo e indigesto pão de cada dia.
Ficam estas criaturas dos jornais, agregadas a seus diplomas, e a nada mais que possa e deva garantir seus empregos de burocratas. Jornalistas que se respeitam não temem a concorrência leal com seus conterrâneos de profissão não diplomados. Jornalista que merece este apelido, não seria capaz de apelar para um instrumento humilhante, como uma petição, ou nota, em defesa da obrigatoriedade do diploma, se confiassem um mínimo no exercício diário de pesquisa, interpretação e divulgação de notícias. 100% lamentável este episódio. Jornalistas não são burocratas da informação. Os que merecem este qualificativo.
Ermírio transmite uma imagem do candidato que começou a perder o controle sobre os acontecimentos. Muito emocional para ser político, o empresário, em resposta a Jânio, que havia lhe atribuído a pecha de "ingênuo", ele agrediu o prefeito dizendo, literalmente, que alguém já lhe havia chamado de ingênuo.
—"Mas eu prefiro ser ingênuo e honesto a safado e mau caráter". A reação de Ermírio é justificável do ponto de vista de seu temperamento emocional, que "não leva desaforo para casa", como diria o ditado machista e chauvinista. A principal causa da revolta de Ermírio, fora o telegrama que o prefeito enviou ao presidente da república, sugerindo a Romão Sarney que convencesse o empresário a retirar sua candidatura. Outro motivo teria sido o não cumprimento das promessas de apoio feitas por Jânio Quadros. O candidato do PTB desabafou à reportagem dizendo que, por não interferir na vida do ex-presidente, "ele também não deve interferir na minha vida".
Quércia mostrou confiança ao dizer que vai "fazer chegar o relho naquele turco", e Maluf reagiu dizendo que São Paulo se orgulha de seus imigrantes, turcos, judeus, negros, sírios, libaneses, espanhóis e outros. "Quércia se revela fascista e anticristão", disse o candidato do PDS. De um copo d'água, o deputado quis fazer uma tempestade. E não conseguiu. O PMDB paulista homologou ontem, 6 de julho, em uma convenção tumultuada, realizada na Assembleia Legislativa, no Ibirapuera, as candidaturas ao governo:
Quércia governador e Almino vice, e os senadores Fernando Henrique e Mário Covas, e mais 90 candidatos a deputado federal, e 123 a deputado estadual. O partido decidiu não mais analisar as coligações que seriam efetuadas com o PCB, PCdoB, PSB e PCN. Alega a Executiva, que a legislação eleitoral é muito complicada nesta questão, e que o PMDB não quer colocar a chapa majoritária na dependência das convenções dos outros partidos. O presidente estadual do PCdoB, Jarbas de Holanda, opinou ser este o caminho para o estreitamento da chapa encabeçada por Quércia, e da reprodução da estreiteza política, que fora a causa preponderante da derrota do candidato Fernando Henrique na eleição municipal de São Paulo.
Olavo Setúbal, ao desistir de sua candidatura pelo PFL, abriu espaço para o empresário da Votorantim, também neste partido. Ermírio provavelmente pensou poder utilizar este espaço para si, o espaço que o banqueiro Setúbal ocupava no PFL. Surgiu um enquanto candidatura do outro. Este oportunismo "centrista", ou "Centrão”, visava aglutinar forças políticas à esquerda e à direita. Desconfiado de seus correligionários pefelistas, o empresário ingressou no PTB.
O PFL, em peso, estava com Paulo Maluf e não abria nem pro trem da central do Brasil. Quando Setúbal descobriu a trama, caiu fora, enquanto Ermírio mergulhou na crença de que obteria o apoio do PFL, quer através da gestão de Jânio Quadros neste sentido, quer crente na atração de seus pretensos partidários pefelistas. Jânio, como é de seu estilo, saiu fora do pseudo compromisso na hora que quis. Após entrevistar-se com o presidente Romão Sarney, Ermírio ganhou novo ânimo, e Gusmão falou que agora a campanha entraria no ar a todo vapor. Vapor caro. Vapor barato só na música popular brasileira.
O empresário argumentou que, se retirasse sua candidatura, o principal beneficiado seria o deputado Paulo Maluf. E que não retiraria sua candidatura em hipótese alguma porque, se assim o fizesse, estes votos estariam canalizados para eleger o candidato da extrema direita. Ermírio disse ainda que o quadro político de São Paulo é sério, e deixa todo paulistano responsável apreensivo. A argumentação é autêntica, válida e inserida no contexto da sociedade paulista e paulistana. A parte sã da sociedade que não quer ver Maluf na política nacional de jeito nenhum. Nem de terno verde-oliva.
O empresário acredita que a rejeição à sua candidatura pelo PFL, fora motivada por razões financeiras mais do que políticas. Acrescentou que seus adversários deverão gastar entre 50 e 60 milhões de dólares nesta eleição, e que significaria em média a quantia de 22 dólares por voto. No câmbio oficial 60 milhões de dólares representam oitocentos e trinta milhões e quatrocentos mil cruzados, aproximadamente uns 20 mil automóveis modelos "fusca".
Maluf respondeu dizendo: "se a eleição para governador fosse cara, só poderia ser financiada por Antônio Ermírio que é o maior patrão do país, diretor-superintendente do mais próspero grupo industrial privado do país: o Grupo Votorantim".
Gusmão não explicou os motivos pelos quais não mais será candidato ao Senado pela legenda do PTB. Candidato ou não, Gusmão estaria sendo considerado irrelevante para a candidatura Ermírio. Os assombradinhos do PMDB, estão propalando a notícia de que, ao partido, resta uma aliança capaz de derrotar Maluf. Querem eles, o deputado Ulysses Guimarães encabeçando a chapa para governador, e Ermírio vice-governador.
É impressionante como o delírio anda mais solto nos dias das eleições, do que em tempos de carnaval, ou Copa do Mundo de futebol. Maluf não dispensa provocações, após considerar "levianas" as acusações de corrupção que Ermírio lhe dirigiu a propósito do orçamento de sua campanha, vituperou em troco: "em termos de poder econômico, quem poderia corromper seria o empresário, porque ele é o patrão mais rico da América Latina, e tem o maior poder de compra do país".
José Maria Marin, presidente regional do PFL quis ser mais contundente, ao dizer que não sabia a qual Antônio Ermírio deveria responder, e que o empresário "não pode ser levado a sério nem tem credibilidade". Lembrou que após o candidato do PTB ter elogiado o prefeito Jânio Quadros, denominando-o "grande líder", e dito que seria "um grande presidente da República", logo depois veio a xingá-lo de "safado" e "mau-caráter", para novamente vir a abraçá-lo na sacristia de uma igreja, e numa festa de aniversário à qual ambos compareceram.
Quércia, desgostoso com o resultado das pesquisas publicadas ontem pelos jornais, com Maluf em primeiro lugar, afirmou que todos têm direito de fazer "ficção política", gênero a que faria jus a pesquisa (Folha/dia 6 de julho), segundo opinião do vice-governador. Informações sobre esta pesquisa revelam que, tanto Quércia como Maluf, sofrem uma redução em suas "votações'' na capital proporcional ao aumento da renda familiar dos eleitores pesquisados. Os maiores índices dos dois candidatos estão na faixa de eleitores que faturam de um a quatro salários mínimos.
Os resultados obtidos na capital, pró-Maluf, apresentam 28% e 29% entre homens e mulheres respectivamente. As intenções de voto no candidato do PDS caem, à proporção que aumenta o nível da escolaridade. Ele consegue 32% entre os eleitores com instrução até o 1º grau, e 29% junto aos eleitores com nível superior de instrução.
Orestes Quércia obteve 16% da preferência dos eleitores masculinos, e 12% do eleitorado feminino. Entre os jovens obteve 17%, e 16% dos eleitores com nível de instrução até o segundo grau. A melhor performance do eleitorado masculino está com Antônio Ermírio com 24%. Entre os eleitores com mais de 40 anos, está com 23%, e na faixa de renda mais elevada, 28% das preferências dos eleitores foram para o empresário.
Maluf, não conformado em ter nas mãos o controle do PFL, veio a público para dizer que, na metade dos municípios em que o PTB tem diretórios organizados, uma parcela substancial de seus integrantes, manifestou disposição em apoiá-lo publicamente. O apoio ao deputado vem da área mais reacionária do partido, a exemplo de Manoel Nicodemus, Ciro Striani e Ibis Cruz.
Nicodemus é assessor do ex-ministro do arrocho salarial, Delfim Neto, candidato a deputado federal pelo PDS. Esse pessoal sempre esteve e estará dobrado à vontade política de Maluf. Sujeito aos puxões da mão direita de suas coleiras curtas. A este processo de "cristianização", Antônio Ermírio está submetido dentro do PTB, o empresário deverá tentar conter mais defecções, estimuladas pelos 19 anos de vida pública de Maluf.
Dentro do PDT paulista, o grupo malufista também não dorme em serviço: 312 dos 475 delegados à convenção pedetista subscreveram um documento propondo uma coligação com o PDS. Leonel Brizola, surpreso e perplexo, afirmou ser esta conduta um desvio ideológico inaceitável. Para Ademar de Barros Filho, presidente do PDT paulista, uma aliança dessas, desfigura a proposta partidária e fere a credibilidade do PDT. A intervenção, ou mesmo a dissolução do PDT de São Paulo, foram as hipóteses consideradas por Doutel de Andrade, em caso de haver aliança partidária com Maluf.
Através da coligação PDS-PFL-PDC, o deputado Maluf pelo PDS, lançará 180 candidatos à Câmara dos Deputados, e 252 à Assembleia Legislativa. Estes números configuram o triplo do número de vagas, e o máximo permitido pela Lei n.a 7.493, de 17 de junho de 1985. Ainda que a coligação fosse entre mais de três partidos, o artigo 9º desta lei, estabelece que esta é a quantidade limite de candidatos possíveis. Este modelo de aliança chama-se "coligação vertical", ou seja: para eleições majoritárias e proporcionais, e não seria possível fazer tal união com outro partido qualquer, desde que o limite das candidaturas estaria totalmente preenchido.
O CRESCIMENTO DE Maluf nas pesquisas deriva da incapacidade do eleitorado manter um senso crítico sobre os desgovernos do ex-governador e/ou interventor de São Paulo. A política do candidato do PDS não fora praticada em nome de uma sociedade fraterna, mas em nome de uma fraternidade entre amigos dos cambalachos eleitorais, dos contratos furtivos e absurdos, a exemplo da Paulipetro, e da construção de estradas por preços exorbitantes, a partir de conchavos entre governo e empreiteiras empresas que defendem este tipo de desgoverno e de candidato.
Outra vez a frase de Tancredo sobre "Maluf: se este país fosse civilizado, este cidadão não poderia ser candidato a nada". "A fraternidade entre os membros de uma sociedade nasce", segundo Dom Luciano Mendes de Almeida, "do reconhecimento e da promoção da dignidade da pessoa humana, e não do reconhecimento, a priori, de que a pessoa humana é venal, sem caráter, e pode ser comprada". É, a partir dai, que todas as indignidades se tornam possíveis de promover, pelo autoritarismo e pelo arbítrio, pois estariam sendo agenciadas contra uma sociedade que não mereceria mais do que ser policiada e agredida pelos governos que promovem o desprestígio moral das pessoas, para depois ter como justificar por que perseguí-las e encarcerá-las.
Cerca de 120 malufistas do PDT paulista, comemoraram e bebe moraram ontem no Hotel Othon Palace, na praça Patriarca, o direito de propor hoje à convenção do partido, a coligação com o PDS. Este direito fora assegurado pela liminar concedida ao mandado de segurança impetrado junto ao Tribunal Regional Eleitoral. O custo de hospedagem dos 120 convencionais do PDT no Hotel Othon Palace, será pago pela comissão pró-Maluf.
Outro episódio lamentável que obscureceu de modo premeditado, ainda mais uma vez, as perspectivas eleitorais do Partido dos Trabalhadores, verificou-se no dia 11 de julho, entre boias-frias cortadores de cana contra soldados da Polícia Militar. Eles estavam em greve a dezenove dias, e faziam um piquete às seis horas, no bairro de Santa Rita em Leme, a 192 quilômetros ao Norte de São Paulo. Orlando Correia e Sibely Aparecida Manoel morreram, ao serem atingidos por balas que a Justiça provou, posteriormente, terem sido disparadas por membros da organização policial militar.
Nesta ocasião, segundo depoimentos de oficiais e soldados da PM, os tiros teriam partido de um dos dois opalas da Assembleia Legislativa de São Paulo, ocupados por deputados do Partido dos Trabalhadores e por dirigentes sindicais. Esta versão mentirosa e distorcida dos fatos foi, de maneira veemente, negada pelos petistas parlamentares e dirigentes do partido: Djalma de Souza Bom, José Genoino Neto, Anísio Batista, e pelo virtual candidato a vice-governador do partido, Paulo Otávio Azevedo. Eles foram presos e mais tarde liberados. A imunidade parlamentar não vale para deputados petistas? Victor Nogueira, cortador de cana ferido no confronto com a PM, afirmou terem sido os policiais mesmo que atiraram.
Esta versão foi comprovada também por não poucas testemunhas do irracional evento. Eduardo Muylaert, atual secretário de Segurança, perdeu uma boa oportunidade de ficar calado ao dizer que, se os deputados do PT estivessem ausentes de Leme, ninguém teria morrido. Sabe-se que deputados do Partido dos Trabalhadores devem sempre estar, e sem nenhum favor de suas partes, onde estejam manifestações de trabalhadores membros ou não do PT. É um dever da profissão de deputado. Estranho é que hajam membros que nem sequer, ou só mui raramente comparecem às sessões da Assembleia para a qual foram eleitos.
Não poucas pessoas foram incansável e barbaramente espancadas, até mesmo dentro de suas precárias moradias. É de se alegar que, se a PM não estivesse lá, nada disto teria acontecido. Nem nenhuma desordem ou violência teria sido agenciada. Este episódio de violência policial do governo Montoro foi alvo de não poucas acusações por parte dos malufistas que, devido a truculência policial do governo Maluf, não tinham até agora, respaldo moral para fazer as justificadas acusações.
Para o deputado Airton Gomes a UDR teria preparado este nefasto confronto. Apesar de só ter servido para malbaratar a imagem do PT, os ministros Marco Maciel e Brossard, e o delegado Romeo Tuma, acusaram a CUT e o PT de provocarem "agitações no campo", com a finalidade de desestabilizar a Nova República.
Especula-se que pesquisas secretas do SNI teriam revelado um possível aumento das chances do PT nas urnas de 15 de novembro. Quem estaria interessado na repressão dos boias-frias? O Partido dos Trabalhadores por certo e definitivamente, (como ficou provado algum tempo depois da abertura do inquérito), seria o último dos suspeitos de ter agenciado o malefício de Leme. Por que tanto interesse em prodigalizar o PT de acusações sem nenhum fundamento lógico, completamente absurdas e contraditórias? "Freguesia do Leme" lembra lamentavelmente o governo Maluf. É preciso não esquecer que o governante que se mostra mais severo do que a lei, é nada menos do que um tirano. E isto vale para a facção militar do governo Montoro.
A proposta de coligação do PDT com o deputado federal Paulo Maluf, virtual candidato pelo PDS, obteve 52% dos 430 votos dos delegados do partido. Não alcançou porém os 248 votos mínimos necessários à sua aprovação. Antônio Ermírio obteve 151 votos. O deputado federal Osiro Silveira que, por ser membro do PDT, precisaria de 216 votos, obteve apenas 41. A convenção de sábado, 12 de julho, aprovou lista com 126 candidatos à Assembleia Legislativa, e 90 candidaturas ao Congresso Constituinte. O presidente nacional do PDT, Doutel de Andrade, disse que a direção do partido em São Paulo, examina a possibilidade de adotar medidas punitivas contra os 226 convencionais que votaram pró-Maluf.
Voltando ao assunto "Freguesia do Leme", por que a presença de policiais armados para dispersar um piquete de grevistas? Em ocasiões semelhantes, a técnica policial menos adequada foi usada para reprimir uma manifestação legitima e pacifica, um piquete de boias-frias transformou-se numa manifestação de violência policial antidemocrática, própria de regimes autoritários de força. Balas de borracha e jatos-d'água seriam o apetrecho policial adequado para uma tal ocasião. Falta treino à PM para lidar com o público nestas ocasiões, e falta também uma orientação civil, um comando civil desta organização militar, para que não se venham a repetir episódios deste gênero.
Por que os excessos de violência e repressão se a PM, através de mandado judicial, visava tão somente garantir a entrada no serviço dos boias-frias que não haviam aderido a greve? A resistência dos piquetes era previsível, e para enfrentar trabalhadores subnutridos e subpagos, até mesmo cassetetes é covardia usar.
Nos primeiros dias de maio de 1986, um Plano de Campanha visando popularizar o PT nestas eleições, fora distribuído em alguns comitês partidários e entre simpatizantes do Partido dos Trabalhadores. O "slogan" da campanha afirmava aos militantes simpatizantes, aos membros filiados ou não ao partido: TODOS NESTA ELEIÇÃO SOMOS UM SÓ CORAÇÃO: PT. Ou ainda: O CORAÇÃO POPULAR VAI BATER E VAI ENTRAR NO PALÁCIO DOS BANDEIRANTES.
Autoria deste Autor, o plano de campanha fora distribuído em maio e os eventos antipetistas começaram a acontecer: não sei se a propósito das chances de eleger seus candidatos e do medo consequente dos outros partidos de que a campanha do PT pudesse realmente acontecer, (logo após divulgado o mencionado Plano de Campanha) o episódio de Leme e o assalto malogrado ao BB, em Salvador, foram acontecimentos que desprestigiaram publicamente o Partido dos Trabalhadores.
As suspeitas de boicote proposital da campanha do PT, denunciado pelo candidato Suplicy, não devem ser descartadas como sendo produto da imaginação do candidato do Partido ao governo de São Paulo. As suspeitas podem, se confirmadas, estarem na ordem do dia dos serviços de informação e desestabilização da candidatura Suplicy.
O presidente do PCB paulista, Jarbas de Holanda, está articulando uma frente democrática de apoio a Quércia. Ele defende também, e inexplicavelmente, um (im)possível entendimento com Ermírio. Disse ele que o anticomunismo a que Paulo Maluf apela, é usado pelos setores mais retrógrados da sociedade, visando confundir as pessoas para, após eleitos, candidatos tenham possibilidades de restringir a participação social nas eleições e assembléias e golpear a democracia.
Sobre o apoio dos delegados do PDT a Maluf, Ademar de Barros Filho afirmou que o partido vai iniciar um processo lento e sistemático de renovação dos quadros nos diretórios para convencer as bases a tirar a velha e concorrida camisa do PDS e vestir a camisa das posturas políticas realmente características do PDT.
Antônio Ermírio, sem citar nomes, afirmou em entrevista à emissora de rádio de Cangaíba, que mais de uma vez recebe com certa tristeza, referindo-se à notícia do resultado da convenção do PDT, "que interesses econômicos estão suplantando em muito os interesses sociais. Isto é lamentável", afirmou o empresário, como se não fosse ele o mais representativo candidato dos interesses econômicos que criticou.
Ora, se a participação do empresário na campanha serviu pelo menos para ele compreender isto, então justificou-se plenamente a presença de Antônio Ermírio, candidato a governador de São Paulo pelo PTB. Então terá sido válido, autêntico e inserido no contexto o anúncio publicado na Folha, p.6, 3ª feira, 15 de julho, e em outros jornais, que teve por título a frase: "Está nascendo um novo trabalhismo. Este novo trabalhismo será uma forma livre de viver e de construir a democracia. Uma ideia traduzida num programa realista, visando a escolha de legisladores que representam os anseios de toda o país, e a eleição de governadores dignos, sérios e capazes".
O anúncio não diz em que escola estes inéditos e não apenas novos legisladores e governadores estudaram ou vão estudar. Se alunos da escola tradicional da política dos velhos PTB, PSD (anagrama do PDS) e UDN, então o novo trabalhismo começa velho e gagá, a exemplo da frase de efeito do candidato do PTB que aparece sorrindo ao lado da legenda do partido: "Ainda tremula sobre nós a bandeira em favor do povo. Hoje eu empunho esta bandeira com humildade e determinação".
Esta frase feita, isto é que é "bandeira" Antônio Ermírio, isto é demagogia à velha república do Estado Novo. Os brasileiros estão intoxicados desse estilo, mais do que de gases poluentes tóxicos de suas indústrias, e da química econômica e empresarial que lidera. Este anúncio é assinado pelo convite à convenção estadual do Partido Trabalhista Brasileiro. Dia 19 de julho na Assembleia Legislativa.
REPORTEMO-NOS AO DIA do mês de agosto/78 em que Maluf, após ter ganho a convenção da Arena paulista em junho, respondeu a um repórter que o entrevistara:
Repórter:- Foi a vitória do candidato dissidente, é isto?
Maluf:- De maneira nenhuma. Foi a vitória do candidato coerente...
Repórter:- Mas a sua candidatura era um desafio ao poder central.
Maluf:- De maneira nenhuma. Eu acreditei no "pacote de abril". E segui fielmente o que pregava o "pacote".
Naquela ocasião após a apuração dos votos convencionais, eufórico por ver garantida sua vitória, ele dissera ainda: "ofereço a vitória ao presidente Geisel, eminente estadista que, através de sua coerência, manteve a reforma de abril, que permitiu aos convencionais escolher os candidatos num pleito livre e democrático. Ao general João Batista Figueiredo, nosso candidato à presidência da República. Agradecemos seus discursos na Convenção Nacional da Arena, em que também se comprometeu com a democracia possível, apoiando as medidas do presidente Geisel".
Este "flash", visa traçar com tintas realistas o perfil psicológico do virtual candidato ao governo de São Paulo. Em outra ocasião, Maluf manifestou seu apoio ao AI-5 dizendo que este ato inconstitucional de despotismo político "foi uma medida necessária na época. Isto não quer dizer que no ano 2001, o presidente de então não venha a editar o AI-12".
O deputado Maluf prossegue sendo uma força a serviço do autoritarismo desvairado, pelo menos até o início do próximo milênio. Olho de vigília nos malufes da política, e eles não voltarão nunca mais. Nem aquele Brasil que se banqueteou antropofagicamente da carne e do salário das classes médias, e dos trabalhadores, no período de vigência dos governos que Maluf tanto elogiou. Aquele Brasil Nunca Mais. Maluf Nunca Mais.
Quanto a estas eleições, o malufismo conta com aliadas do mesmo modelos dos discursos e agressões verbais de alguns de seus partidários. São os programas de rádio "Afanásio Jazadji", que vão ao ar das oito às dez horas, na rádio Capital, e "O povo na capital", no ar das 11h45m às 13 horas. O ministro Antônio Carlos Magalhães, das Comunicações, assinou a Portaria de nº 192, publicada ontem no Diário Oficial da União. Os fiscais do Dentel, munidos da portaria, suspenderam por 72 horas as transmissões da rádio Capital, a partir das 11h41m de ontem dia 15 de julho. A emissora não fora lacrada porque seu diretor geral, e sócio da rádio, acatou a determinação.
O superintendente da emissora, Paulo Max, admitiu que os termos usados por Afanásio, "afetam a imagem da emissora e não estamos contentes com o que está sucedendo". O avanço da candidatura Maluf nas pesquisas dever-se-ia, em parte, aos vitupérios e palavrões contra as autoridades constituídas do governo Montoro, ao qual definiu como sendo "energúmeno e crápula". Vale salientar que a rádio Capital vive e sobrevive, em parte, do sensacionalismo barato e mau caráter dos programas do Afanásio. Ele não afeta a imagem da emissora. Ele é a imagem da Emissora.
Afanásio candidato a deputado estadual pelo PDS, foi justamente indiciado pela "prática continuada de crimes contra a honra". Este cidadão, eleito deputado estadual pelo PDS, merece que se lhe submeta a um exame de acuidade mental e, após comprovada sua acentuada alienação, deve ser internado em camisa de força num sanatório do Estado: mesmo depois de toda a carga de agressões do mais reles baixo nível contra o governo Montoro, e consequentemente contra Quércia, ao vê-lo vitorioso nas urnas de 15 de novembro, colou um adesivo do candidato do PMDB na jaqueta, e adentrou com ele o Ibirapuera, onde os resultados pró-Quércia já haviam definido as eleições em seu favor.
É de atos canalhas como este, que sobrevive parte substancial da política brasileira. O radialista e deputado Afanásio, foi eleito com os votos de milhares de milhares de zés e marias Ninguém que ouvem seus programas de rádio onde a esculhambação, avacalhação e o sensacionalismo mais reles pontificam. A polícia de Montoro que ele tanto pixava, salvou-o na ocasião de ser linchado sumariamente.
A propaganda de Maluf, através de cada painel de "outdoor" em que na fotografia em primeiro plano aparece sorridente, dizendo ter feito dezenas de obras em seu governo, mereceu do governo Montoro um desmentido oficial, feito através de cadeia estadual de rádio e tv, no dia 15 de julho, pelo atual governador.
Montoro mencionou, também e principalmente três obras do ex-governador Maluf que não aparecem em sua campanha via "outdoor". A primeira, a rodovia dita dos Trabalhadores, custou a quantia absurda de 360 milhões de dólares, a mais cara e escandalosa despesa com construção de estradas no Brasil: nada menos de 200 milhões além do custo normal. Segundo o pronunciamento de Montoro, o preço de custo de uma escola hoje, é metade do preço das escolas construídas na gestão Maluf.
Afirmou Montoro que a grande obra do governo passado é a Paulipetro. A vergonhosa obra que custou 500 milhões de dólares, ou oito trilhões de cruzeiros no câmbio de então e não descobriu sequer uma garrafa de petróleo ou um litro de gás. Montoro completou seu pronunciamento com estas frases: "500 milhões de dólares gastos, jogados rigorosamente fora, que São Paulo perdeu devido ao sonho e as ambições da corte faraônica do ex-governador". 500 milhões de dólares que enriqueceram ainda mais as empreiteiras a serviço da corrupção no governo dele.
Não é fenômeno social e político pertinente apenas aos dias de hoje os eleitores das grandes cidades e das pequenas comunidades rurais levarem seu voto para candidatos apenas porque é dia de votação. Eles perderam a esperança no resultado de seus votos. Todos aceitam que, após as eleições, as promessas dos candidatos são esquecidas e eles, a partir daí, desconhecem seus eleitores... Até a próxima campanha eleitoral.
Fazer uma democracia que trabalhe e realize os anseios de parte substancial da totalidade dos eleitores, é tarefa para a sociedade. E não apenas para os políticos. E a política da democracia deve ser feita não em nome deles, políticos, mas partir de pressões e iniciativas dos próprios eleitores.
O governador Franco Montoro disse ontem que estão contra a Reforma Agrária os egoístas que não querem o avanço social e os terroristas que, através da violência querem impedir uma Reforma efetiva e realista. Provavelmente, o governador ao usar o adjetivo "terrorista", se reportava a setores da CUT que pregam a invasão de terras improdutivas visando dinamizar a Reforma Agrária. Ao responder as declarações do governador, Paulo Azevedo da direção petista, foi taxativo, dizendo que o projeto de Reforma Agrária apoiado pelo governador é mais atrasado do que o Estatuto da Terra aprovado por Castelo Branco, e concluiu: "terroristas são os latifundiários e não nós, que lutamos pela ampliação da Reforma".
Em declarações à imprensa, os candidatos ao governo de São Paulo foram todos unânimes na aprovação da emenda constitucional pela Assembleia Legislativa instituindo os dois turnos para a eleição de governador. Se os candidatos estavam tão unânimes em afirmar uma opção democrática pelos dois turnos, então, quem poderia demovê-los a desistir deste modelo eleitoral? Os militantes e filiados de seus partidos não participaram desta decisão, nem puderam opinar sobre, se queriam ou não, eleições em 2 turnos.
A princípio a candidatura Ermírio estaria favorecendo o candidato Maluf, que teria interesse em mantê-la para poder dividir os espaços políticos que não se decidiram por sua candidatura. As contas do maquiavelismo cucaracha ou malufista, não computaram que, dentre seu fiel eleitorado, não existem apenas cães de fila, obedientes e hipnotizáveis, ou vulneráveis à sua argumentação arrivista. Existe, mesmo no curral eleitoral malufista, uma enorme parcela de gente que sofre, de gente com fome, de gente que sofre, de gente com fome, de gente, de gente que sofre, de gente com fome, com fome, de gente saturada de políticos modelo "standard". De gente que vota nele por ignorar o que ele representa. Em termos de deterioração das relações sociais.
Seus eleitores sabem, tanto quanto os políticos pefelistas de São Paulo, que apoio à candidatura Maluf significará uma desmoralização dos acordos políticos eleitorais do PFL no resto do país. A conexão com Maluf desmotivará, provisória e inexoravelmente, a atitude política (de Tancredo) de esvaziar qualquer perspectiva política para este candidato e sua "turma".
A opção do PFL paulista não fora em favor de uma atitude política coerente com as metas sociais de MUDANÇAS JÁ, a partir das quais existiu a Aliança Democrática, desde que, se o PFL paulista não precisa apoiar a Nova República, é mais do que necessário que a Nova República desestabilize a participação restante do PFL paulista e de seus políticos nacionais pefelistas coniventes com a candidatura Maluf.
Esses políticos antropofágicos foram radicais até mesmo com a candidatura Ermírio e desprezaram quaisquer ideal social ou político-econômico em nome dos quais existe a Nova República. Em nome de que ideais a Nova República tolera dividir uma fatia de seu poder e de sua influência, com seus notórios e ensimesmados adversários? Marco Maciel, ermirista ou não, é PFL. Por que ser conivente com aqueles que quiseram dividir, entre si mesmos, o poder e a influência que representa a "patota" de Maluf?
Se democracia é correr esse risco, então há algo de muito errado na democracia, de Platão a Romão Sarney, há "algo de podre no reino do príncipe da Dinamarca". Nada pode fazer-se valer contra a política malufista da exploração demagógica revoltante da insegurança psicológica e social (mascarada na pseudo "segurança", via incremento arbitrário da repressão).
Ninguém pode fazer nada em favor dos compromissos políticos com as Reformas e MUDANÇAS JÁ, sem as quais a Nova República reina mas não governa? 90% do PFL apoiou a candidatura Maluf. Dentre os 436 delegados, 385 ficaram com a composição Maluf, também e previsivelmente, o PND e PDC somaram com o PDS.
Tais resultados confirmaram o controle partidário do grupo liderado por José Maria Marin que em dezembro de 1985 elegeu a executiva regional do partido, de maneira a não sobrar nada e nenhum espaço, para a influência partidária em favor da então possível candidatura de Olavo Setúbal. A coligação em tomo de Maluf tem por apelido o nome populista de "União Popular". O "slogan" SOCIALISMO JÁ deve ser a nova bandeira de dignidade do PMDB. Não o nacional socialismo tipo militarista. Nem tampouco o "socialismo" de butim, produto da pilhagem de recursos públicos.