De frente ao espelho

20/10/2011

De Frente Ao Espelho

“Eu já plantei uma árvore, tive uma filha e escrevi uma peça. Posso morrer amanhã.” Com essa frase, um pedaço da enorme intensidade de Maria Shu, aprendiz de Dramaturgia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco se revela e, em poucas palavras, ela desnuda sua alegria em ver, pela primeira vez na vida, seu nome estampado na ficha técnica de um espetáculo como “dramaturga”.

Hoje, os textos que tanto habitaram seus pensamentos e, que, também, surgiram de performances individuais de cada ator que integra o elenco do espetáculo “Cabaret Stranganza”, se transformam em arte e vida, na estreia da peça que será realizada às 21h, no Espaço Satyros I.

Shu conta que sua trajetória sempre foi um “golpe de sorte” e que, há anos, leu o texto “Território Banal”, de Marici Salomão, sua coordenadora no curso de Dramaturgia da Escola, e, encantada, fez questão de marcar uma conversa com sua mestre sobre as palavras que acabara de ler.

Pouco tempo depois, quase não se lembrava do acontecimento, quando foi surpreendida ao ser chamada por Marici com um convite para uma assessoria dramatúrgica da peça “Azul Celeste”, adaptação de “Território Banal” que havia recebido o PROAC. Shu aceitou prontamente, e, nas sequência desse trabalho, participou do projeto Ouvi Contar, durante a Satyrianas 2010, com seu texto “Giz”.

Encantada com o resultado do trabalho de sua aprendiz, Marici a indicou para um estágio com Rodolfo García Vázquez, (coordenador do curso de Direção da Escola e co-fundador da Cia. Os Satyros ao lado de Ivam Cabral, que também é diretor executivo da SP Escola de Teatro), que planejava uma nova criação e, assim, Shu deu continuidade à sua trajetória. “Um dia, ele (Rodolfo) me pediu para escrever uma cena. Aquela que abriria o espetáculo. Quando percebi, eu já tinha elaborado muitas outras e, assim, de estagiária passei para dramaturga”, revela Shu.

As Cenas

A dramaturga explica que as cenas que compõem o espetáculo nasceram fragmentadas, e como resultado de uma árdua sequência de improvisações dos atores e do encenador. “Rodolfo entregava um tema único para todo o elenco, que tinha a tarefa de transformar aquilo em uma cena. Na sequência, todos apresentavam e uma delas era selecionada. Neste momento, discutíamos se haveria uma criação de texto para aquele instante do espetáculo ou se ele seria só imagético.”

“As cenas mais impactantes e potentes foram selecionadas e todas se relacionavam com temas como transhumanidade e teatro expandido. Podemos dizer que foi um trabalho coletivo e, também, muito corajoso, pois os atores desnudavam suas individualidades e alguns aspectos de sua vida pessoal”, explica Shu.

Encaixando as Peças

Com as cenas prontas, articular os fragmentos e juntar as peças do espetáculo foi o papel de Maria Shu. “As cenas eram díspares, chegou um momento que tive a necessidade de descobrir uma metáfora que interligasse tudo para, assim, criar um diálogo fluente entre as cenas. Para mim, a mais importante metáfora foi a do “espelho”, aquele objeto que serve para observar as modificações que o corpo sofreu com o tempo; com as marcas da vida; com a tecnologia; e com o advento dos farmacológicos. É por meio desse espelho que a gente realmente e, literalmente, se encara”, observa Shu.

A dramaturga conta, inclusive, que um dos trechos do espetáculo a levou aos prantos para o banheiro do Espaço Satyros durante um ensaio. “Era uma improvisação que tratava da Síndrome do Pânico, feita por meio de conversas entre mim e outros dois atores que sofrem com ela. Quando eu vi aquele meu texto elevado a 10ª potência pelo diretor, mergulhei em uma crise que não tinha há anos. Foi muito forte e voltei exatamente no momento em que escrevi a cena”, revela.

Encarar-se

Para Shu, assistir ao espetáculo pode ser assustadoramente perigoso, pois, além de “Cabaret Stravaganza” falar dos dramas mais terrenos dos humanos, repensa o papel de aproximação dos indivíduos por meio da tecnologia. “As pessoas podem se ver ali, no palco, na pele dos atores. Lá, essas figuras se desnudam como indivíduos, ainda que em uma esfera performática”, conclui.

Vai encarar? Então não perca a temporada até 17 de dezembro no Espaço Satyros I.

Serviço:

“Cabaret Stravaganza”

Onde: Espaço dos Satyros I

Praça Roosevelt, 214

Quando: de quinta-feira à sábado, sempre às 21 h

Ingresso: R$ 20

Informações: (011) 3258-6345 | www.cabaretstravaganza.com.br

(http://spescoladeteatro.org.br/noticias/ver.php?id=1441)

Renata Forato
Enviado por Maria SHU em 27/01/2013
Código do texto: T4107567
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