Novos dramaturgos, novas histórias
Novos dramaturgos, novas histórias 09. 02. 2012
Artes
Por Samara Chedid
Na foto ao lado, cena do espetáculo Sete
Uma história a ser contada. Um corpo em ação. Um texto a ser dito. É a dramaturgia que entra em cena. São as palavras do papel que, ditas em voz alta, ganham interpretação e vida. Uma peça de teatro, seja comédia ou drama, sempre terá páginas escritas com algum enredo. E o dramaturgo responsável por isso pode estar presente ou não no processo de criação de um espetáculo. Sua função pode ser de dramaturgista – quando adapta um texto clássico ou literário para as necessidades do grupo que irá encená-lo – ou criar um trabalho autoral.
Na cena teatral atual, é possível notar novos nomes que assinam a dramaturgia. O último espetáculo da Cia. Club Noir, de São Paulo, é da dramaturga Dione Carlos, que estreia nos palcos com seu texto “Sete”, sob a direção de Juliana Galdino.
“Assistir a Sete foi uma das experiências mais marcantes da minha vida. Para mim, não há nada mais recompensador do que ser surpreendida diante das palavras que escrevi. A resposta poética é o que me interessa”, relata Dione.
No Rio de Janeiro, a Cia. Objetores de Arte irá estrear o texto “Quem Matou Laura Fausto”, escrito por Gustavo Berriel e Raphael Antony, ambos membros do grupo. Os autores são fãs de Agatha Christie e escreveram o texto já com o pensamento nos atores que iriam encená-lo, e “em pouco menos de um mês, o texto estava pronto”, conforme contam os dramaturgos. Para eles, a maior dificuldade no início “é a busca por uma identidade própria. É encontrar a ponte entre os atores e a concepção criada pelos autores”.
O dramaturgo é aquele que aparece em cena através das palavras que são ditas. Mas sua função vai além: “É quem compartilha conhecimento teórico, material poético e pensamento crítico com o grupo. É quem olha de fora, estando dentro”, comenta Dione. Para os cariocas Gustavo e Raphael, dentro de um grupo, o dramaturgo tem que colocar no papel os anseios de seus integrantes e se perguntar: “Sobre o que queremos falar?“.
A dramaturga Dione diz que é interessante ver como as palavras que escreveu reverberam no diretor, nos atores, na luz, no som, no cenário e na plateia. “Eles mergulham no mar que eu, de certa forma, criei”, conclui. Ela afirma que, durante o seu processo de escrita, gasta o tempo visualizando imagens e lendo várias vezes em voz alta. ”Ao entregar estas palavras ao mundo, creio que já possuíam uma trajetória própria, única e que eu jamais controlaria. Acredito no enigma”. Dione escreve para dar conta do indizível, do invisível, do inominável, de tudo aquilo que está ao seu redor, mas que permanece intocável. “É pintar palavras”.
Cena do espetáculo Cabaret Stravaganza, da Cia. Os Satyros
A Cia. Os Satyros, que está em cartaz com a peça “Cabaret Stravaganza”, com a direção de Rodolfo García Vázquez, também possui uma estreante na dramaturgia, Maria Shu, que vê pela primeira vez seus escritos compartilhados com uma plateia. O texto foi criado a partir de cenas, imagens e improvisações dos atores, durante o processo criativo. “Meu objetivo era apresentar um espetáculo em que o discurso da obra fosse um discurso coletivo, sem, contudo, perder de vista o meu rigor poético”.
O papel de um dramaturgo dentro de um grupo de teatro é cada vez mais solicitado. As companhias desejam experimentar e montar histórias ousadas e diferentes dos textos clássicos. Shakespeare, Tchekhov, Pirandello, Brecht, Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, entre tantos outros nomes conhecidos mundialmente pelas suas peças, continuam vivos nas montagens cênicas. Mas, a necessidade dos grupos teatrais de assinarem aquilo que querem colocar em cena é uma crescente nos espetáculos, principalmente nos núcleos de pesquisa teatral. Maria Shu diz que ao dramaturgo cabe a tarefa de oferecer escritura potente da cena, e não uma escrita literária. E, para isso, o dramaturgo ganha destaque.
(http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/43997)