ENTREVISTA PARA PROGRAMA "REVISTA VIVA" (Alemanha)

(Entrevista que concedi hoje, 16/1, à jornalista Tânia Gabrielli Pohlmann, que apresenta o programa Revista Viva, na osradio 104,8 (www.osradio.de), em Osnabruck, Alemanha. O programa é voltado para a difusão da cultura brasileira em território alemão.

Este mesmo depoimento será reapresentado na rádio Weser (www.radioweser.tv) na próxima segunda-feira, dia 21/1, às 17h (horário de Brasília). A trilha sonora foi embalada por canções do também brasileiro Gildo Passos, cantor da região de São Miguel, em São Paulo. Espero que gostem, obrigado!)

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“Muito boa noite, queridos ouvintes e bem-vindos à primeira hora do Programa Revista Viva, ao vivo pela osradio 104,8 fm ou via internet em www.osradio.de, ou ainda na retransmissão pela Rádio Weser Bremerhaven, no dia 21.01, ou seja na próxima segunda-feira, a partir das 17.00 horas, horário de Brasília, e das 20.00 horas horário europeu, também via internet em www.radioweser.tv. Responsável por Revista Viva via osradio 104,8 fm é Tânia Gabrielli-Pohlmann e responsável por Revista Viva via Radio Weser é Clemens Maria Pohlmann. A primeira hora do Revista Viva é parte do Projeto Boletim “A Casa dos Taurinos”, que tem por objetivo a divulgação da cultura brasileira. Você pode ler o Boletim “A Casa dos Taurinos” tanto em português, como em alemão em www.brasilienportal.ch No site da Radio Weser você deve selecionar o link para Bremerhaven. Ou então mande um mail para mim e eu passo os dados por escrito. Anote meu e-mail: rv@osnanet.de ou seja r de radio, v de verao, arroba, o de orelha, s de sapo, n de nariz, a de amor, n de nariz, e de elefante, t de tatu, ponto, d de dado, e de elefante, rv@osnanet.de . A segunda hora deste programa é produzido e apresentado por Clemens Maria Pohlmann...”

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Musik : CD Gido Passos – Track – 11 – Amor e Consciência – Länge: 3:59

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TGP: Guten Abend Escobar Franelas e seja muito muito bem-vindo ao Revista Viva, agora com viva voz!

EF: Obrigado. Eu é que agradeço a oportunidade de estar aqui, compartilhando e somando idéias com você, Tânia, e seus ouvintes.

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TGP: Escobar, para os ouvintes que ainda não tiveram a oportunidade de ler sua entrevista no Boletim A Casa dos Taurinos, conte um pouco a seu respeito. Quem é e o que faz Escobar Franelas pertencer a um rol de artistas contemporâneos dos mais respeitados por aqueles que realmente recepcionam a arte conscientemente...

EF: Bem, sou escritor, videomaker e educador. No mundo literário, tenho dois livros publicados (o livro de poemas “hardrockcorenroll”, e o romance “Antes de Evanescer”), além de participar de várias coletâneas de poesias e contos.

Como profissional do audiovisual, tenho alguns curtas e videoclipes produzidos. No momento, estou trabalhando na produção de um documentário sobre um movimento artístico muito forte que teve aqui em minha região, o Movimento Popular de Arte.

Também trabalho com educação não formal, quer dizer, em programas sociais mantidos pelo governo ou em instituições privadas. Atualmente desenvolvo trabalho 3 dias na semana com o Programa Jovens Urbanos, mantido por algumas organizações não governamentais.

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TGP: Há pouco li o seu “Antes de Evanescer” que se supera numa prosa que insere, no entanto, a poesia que você consegue extrair até mesmo de um contexto de agressividades extremas. Neste livro, repito, se nós nos reportarmos à outra entrevista que você me presenteou há alguns anos, o olhar do videomaker, a influência musical em seu trabalho poético e a poesia em si se reencontram, mas de formas e em momentos inusitados. Você retrata um momento da cidade de São Paulo, em 2006, em que a população se viu confrontada com uma violência espalhada, inconcebível, e de uma forma tão singular que ainda permitiu espaço para a sensibilidade... Fale um pouco de como você chegou à decisão de quebrar parâmetros e de entregar uma prosa tão enxuta, envolvente e inovativa...

EF: O livro Antes de Evanescer surgiu no ápice daquela onda de violência de maio de 2006 aqui em São Paulo. Era uma coisa muito inédita que estava acontecendo, um grupo marginal atacando instituições públicas e privadas. Aí criou-se no imaginário popular diversas suposições a partir das notícias que apareciam na imprensa.

Eu ouvi uma vez uma conversa dentro de uma perua, dessas de lotação – que é muito comum aqui, em Sampa – e só depois, na época dos ataques, entendi o contexto do diálogo que tinha ouvido. Foi daí que o enredo surgiu, do entendimento de um contexto amplo, onde as partes estão alienadas do todo. Quer dizer, é tudo ficção, mas amparado pelos diversos fatos que aconteceram naquela época.

Basicamente, o que quis contar neste livro é a história de um garoto classe-média, que está deslumbrado com sua primeira conquista amorosa e de repente é seqüestrado – por engano – e, pra variar, a família está passando por problemas financeiros. Não bastasse isso, o grupo que o seqüestra é incumbido por uma instância superior – o grupo marginal que comanda o crime organizado – de cumprir outros trabalhos e eles largam o menino para trás, preso. Eles, os seqüestradores, estão certos de que irão executar as tarefas e depois resolver as pendengas desse seqüestro, que começa a demorar muito. Mas, para complicar ainda mais, outras coisas acontecem, tudo vai dando errado...

Mais eu não conto, senão perde a graça...

Bem, esse é o eixo central do livro.

Espero que essa pequena introdução desperte nas pessoas o desejo de lê-lo e, evidentemente, de comprá-lo.

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TGP: Durante a leitura deste livro, Escobar, o tempo todo a gente tem a sensação de estar num cinema, não apenas assistindo às cenas descritas, mas vivenciando inclusive as emoções extremas ali exploradas. Você já pensou em adaptar o “Antes de Evanescer” para um filme?

EF: A primeira pessoa que atentou para este detalhe foi o Alexandre D´Lou, fotógrafo que inclusive contribui com uma foto para a orelha do livro. Outras pessoas também perceberam essa ligação do texto com a influência que as imagens provavelmente têm em minha vida.

Então, naturalmente, a gente começa a pensar nessas possibilidades sim, de fazer um filme. Mas não consigo pensar nisso agora, pois estou muito concentrado em outra história que estou desenvolvendo – e que era anterior ao Antes de Evanescer. Então, quero terminar de escrevê-la para depois talvez retomar a esse enredo.

Também tem o fato de que estou com outros filmes em processo, um curta, um doc. Por enquanto, feliz ou infelizmente – não sei – tenho outras prioridades.

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TGP: E enquanto este projeto não se realiza, o que é que você tem feito ultimamente? Sei que você é um artista extremamente engajado em projetos culturais e sociais, inclusive em sua comunidade. Confere?

EF: Trabalho para uma organização não governamental chamada IPEDESH, que significa Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Social e Humano. Esta ONG desenvolve seus trabalhos sobre 3 eixos principais, que é arte e cultura, educação e meio ambiente. Este é o meu paraíso, é sobre estes eixos que gosto de trabalhar e pretendo continuar, entende?

Essa ONG, por exemplo, dá sustentação para um projeto muito bacana chamado Memórias Musicais, dirigido pelo poeta Akira Yamasaki, que registra em cd trabalhos que estariam fadados talvez ao esquecimento, pois não tinham sido gravados ainda. Este cd que estamos escutando, do Gildo Passos, é um dos frutos desse projeto.

Outra coisa muito bacana mantido pelo IPEDESH é o Programa Jovens Urbanos, de que já falei aqui. Ele é feito com ajuda financeira do Itaú Social e administrado por uma instituição chamada CENPEC, e que trabalha com jovens de 14 a 20 anos. O foco desse programa é o exercício pleno da cidadania, passando por temas como mobilidade urbana, sustentabilidade, cultura, políticas públicas para o universo juvenil, e outros.

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TGP: Movimentar tudo isto significa, para você, o exercício da cidadania?

EF: Sem dúvida. O exercício da cidadania é primordial nos dias atuais, em que as relações estão rarefeitas, sob o efeito inebriante do consumo fácil, principalmente quando pensamos que o Brasil entrou de forma espalhafatosa no espectro de luz das nações ditas “emergentes”, e isso significa, antes de tudo, que o Brasil se tornou uma das “bola da vez” no quesito consumo.

Acho que poucos param pra pensar que essa é uma curva ascendente, mas muito perigosa. Muito consumo significa desobrigar-se de cumprir metas de respeito ao meio ambiente, por exemplo. Muito consumo significa trocar de carro sempre que possível, e esse escalonamento exponencial cria sérios entraves, que tendem a se agravar mais e mais. Muito consumo também significa entrar numa aceleração contínua que, quando vem as crises – e elas sempre vêm, afinal são cíclicas – as pessoas se peguem atônitas perguntando “e agora?”, “eu não sei mais escrever à mão”, "não sei mais lavar roupa no tanque”, “não sei mais andar de transporte coletivo”, entende? Essas questões ficaram muito evidentes na crise de 2008, mas que foi logo esquecida porque os governos – do Brasil, inclusive – se endividaram para manter a economia aquecida. E “aquecida”, nesse contexto, significa continuar cozinhando, queimando outros produtos porque a lenha acabou, não é?

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TGP: Penso ser este um exemplo de consciência do papel social, também, do artista, concorda?

EF: Totalmente. O artista, como dizia Ezra Pound, é “antena da raça”. Entende-se por isso que ele está sempre possuído de um olho a mais, um ouvido mais apurado, com a pele mais sensível.

O que, contudo, não deve ser pensado como o único manto que irá cobrir sua criação. O artista também deve ser o investigador do futuro, como queria McLuhan, evitando a todo tempo que essa compreensão social dos fatos não sirvam para as práticas de dominação política ou cultural.

Essa, infelizmente, é a forma mais visível que vemos da arte hoje, por conta do completo predomínio da cultura de massa, que transforma a arte sempre em simples entretenimento, atenuando as complexidades e instaurando o reinado do óbvio e do compreensível.

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TGP: Você gostaria de dizer mais alguma coisa para o nosso público, Escobar?

EF: Obrigado. Danke. Thanx.

Agradeço a boa vontade daqueles que se dispuseram a ouvir-me, esperando, claro, que minhas palavras possam ter contribuído de alguma forma para apontar caminhos, questionar verdades alicerçadas na tradição e no uso comum, e levantar um pouco de pó deixado debaixo dos tapetes.

Queria agradecer muito ao pessoal do Movimento Popular de Arte de São Miguel (especialmente ao Gildo Passos, cuja música embalou nossa conversa aqui), aos meus alunos maravilhosos do Programa Jovens Urbanos, e à Célia, Sueli e Claudemir, que são meus companheiros nessa empreitada pela educação e cultura.

Quem quiser entrar em contato comigo, estou no Youtube e no Facebook, é só procurar Escobar Franelas, é bem fácil. Quem quiser conhecer alguns de meus trabalhos, meu blogue é http://escobarfranelas.blogspot.com e – por último – meu e-mail é efranelas@yahoo.com.br

Obrigado, Tânia, pela oportunidade. Muitas luzes, cores e flores pra você!

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TGP: Nós poderíamos passar horas presenteando os ouvintes com seus pensamentos e ações, Escobar, mas infelizmente o tempo nos limita. Agradeço imensamente pela carinhosa participação e por tantos anos de dedicação e lucidez!

EF: Eu sei. O tempo sempre entra em conflito com nossa ambições. Mas fique tranquila, acho que temperamos bem essa conversa.

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TGP: Agora vou continuar com o CD de Gildo Passos, que você também tão gentilmente nos enviou. Um abraço e felicíssimo 2013!

EF: O Gildo faz parte de uma turma muito boa. Depois vou enviar outras maravilhas para degustação de todos, por aqui e aí. Curtam bastante ele!

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Musik : CD Ouvindo o Coração – Track – 01 – Ficar – Länge: