RECANTO ENTREVISTA JANAINA CRUZ [Poe Anne Lieri]- http://recantodosautores.blogspot.com.br
[ANNE]Janaina, onde vc nasceu e onde mora hoje?
[JANAINA]Nasci no interior do Ceará, numa cidade chamada Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, mas há controvérsias, sinto-me nascida em outros lugares, precisamente outros mundos... [[risos]]
Morei em muitas outras cidades, bebi de outros sotaques, outros costumes, e me encontro novamente na cidade de origem, hoje cheia de novidades... Quem sabe agora, eu não me sinta realmente em casa?
[ANNE]Conte um pouquinho de sua família e de sua infância para nossos leitores.
[JANAINA]Sou filha mais velha dentre oito pessoinhas que em nada se assemelham, nem em pensamento e nem mesmo em ordem física, mas o amor sempre nos uniu de forma confortável, afetiva e criativa.
Fui uma criança imensamente peralta, do tipo que apenas palavras não bastavam, levei muitas palmadas e sei que mereci cada uma delas.
Comecei a ler escondido com seis anos de idade, era um livro de Nostradamos, falava nas adivinhações até o período suposto do fim do mundo, que seria em meados de Agosto de 1999 [lembro-me até hoje], e na época entendi, porque os adultos liam escondido e comentavam baixinho o que tinham entendido. Não posso dizer que foi uma travessura malcriada, pois depois desse livro, li outros também proibidos como: O segredo da Borboleta de Toni Tucci, e tantos e tantos mais...
Aos 12 anos eu já tinha um diário de sensações que escondia de baixo do meu colchão, como era meio bagunceira, ninguém se importava se tudo estava meio fora do lugar no meu quarto, por isso nunca ninguém o encontrou, ainda hoje o tenho amarelado pelo tempo, mas dou muitas gargalhadas de minhas inocências e de quanto fui adulta antes do tempo.
Também aos 12 ganhei meu primeiro concurso de poesias, era um concurso que era realizado anualmente pelo colégio de minha infância, a minha professora leu o meu poema e disse:
“Muito forte, não vai nem ser escolhido!”
E quando tirei o primeiro lugar, foi a ela que dediquei, embora a minha fala tenha saído tímida e pouco eloquente... Tinha preparado um discurso, mas a coragem foi menor.
O tempo correu e levou embora parte desse poeminha, mas dele ainda me lembro essa parte:
Esse rosto no espelho, não o reconheço, ficou preso nos espelhos do passado, o sorriso, o brilho no olhar será devolvido, no rosto que será visto por um espelho do futuro.
Janaina Cruz
[ANNE]Fale sobre o seu blog. Como resolveu ser blogueira? Deixe o link.
[JANAINA]Quando fazia faculdade de história, circulava pelos campos um jornalzinho onde as pessoas escreviam poesias, receitas, faziam propagandas e protestos, no final das folhas, havia um e-mail, em que poderíamos enviar qualquer uma dessas coisas.
Meu primeiro casamento estava péssimo, e eu precisava desabafar de certa forma, já que o tipo de coisa em que estava vivendo, não se contava assim, sem mais nem menos, então transformei a dor em versos, criei um codinome [Juliana Cruz] e mandei brasa, quando percebi que as pessoas estavam gostando e se encontrando nos meus versos, fiz um blog, no tempo em que fiz o blog estava lendo: O mundo de Sofia de Jostein Gaarder dei ao blog o nome: O mundo de Juliana.
O casamento acabou [graças a Deus, vejam bem não estou querendo fazer apologismo ao divórcio!] então pude assumir o meu nome real, fiquei feliz por muitos motivos, assim poderia crescer não apenas educacionalmente, profissionalmente e intelectualmente também [coisas que eram proibidas nesse casamento].
Tenho um blog com quase três anos, no começo postava criações desenhadas por mim, fotografias pessoais e poesias, o tempo passou e diminuíram as horas em que podia me dedicar a isso, então hoje posto poesias que amo, amo, amo fazer e algumas fotografias e figuras encontradas na internet.
Ele está aqui:
http://esferografia.blogspot.com.br/
[ANNE]Como surgiu o seu livro? Em que se inspirou? Fale um pouco sobre ele e aonde podemos adquiri-lo.
[JANAINA]O meu livro teve uma gestação de anos e anos, ”Mais dia menos dia” foi feito de poesias guardadas, poesias esquecidas, poesias envelhecidas, poesias de amor, de ódio, de admiração de escárnio, poesias marginais...
Que jamais teriam nascido se não fosse pelo esforço do meu amado, Leandro Medeiros Santos, meu esposo atual e para sempre [Queira Deus], ele quem catalogou todas as poesias que eu tinha, inclusive às escondidas, entrou em contato com editoras, levantou o dinheiro e acompanhou cada fase do nascimento.
Eu fiquei na época tão nervosa e apreensiva, apenas agora consigo falar sem pesos desse presente que ele me proporcionou!
Obrigada meu amor, tu fizeste por mim, o que ninguém teve coragem de fazer, e acreditastes em mim, mesmo até quando nem eu acreditei.
O livro possui 146 poemas, foi lançado na 22ª bienal internacional do livro de São Paulo pela LP-books e está à venda no site da editora
[[[ http://www.livropronto.com.br/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=577]]]
[ANNE]Musica preferida.
[JANAINA]Gosto de tudo que mova alguma coisa dentro de mim, alguma coisa que ajude a construir a minha paz, a minha guerra, ou qualquer coisa que me fortifique.
[ANNE]Cor preferida.
[JANAINA]Vermelho
[ANNE]Animal preferido.
[JANAINA]Minha cadelinha Sofia, e gatos, eu amo felinos...
[ANNE]Lugar preferido.
[JANAINA]Meu quarto, se possível fosse, a minha casa seria um imenso jardim com um quarto no meio, as visitas seriam encaminhadas para lá, ficariam entre as minhas bonecas e livros, faríamos longos piqueniques nos jardins e tomaríamos eternos banhos de chuva.
[ANNE]Flor preferida.
[JANAINA]Gérbera vermelha, Rosas de todas as cores e margaridas
[ANNE]Uma poesia sua.
[JANAINA]O mulato [para meu amado]
Amo a tua mulatês convidativa e, a disposição dos teus pelos macios, cheios de noite. Teus olhos, duas obras primas que desdormem a beleza do dia, duas águias conversando sobre teologia com Deus, admiráveis águias negras que me capturam e fazem de mim o que quiserem.
Carnudos e polêmicos lábios teus, asas onde voam meus desejos mais irracionais, neles é que verdadeiramente mato a minha sede, possuem um vinho feito para os deuses.
Língua em hélice meu mito fundamental, frisson diurno e noturno, feito pinceis de Brodovski a criar no céu de minha boca. Teus temperos e feitiços...
Ai, o teu peito debruçado sob um forte tórax, ágil e musculoso, meu travesseiro de devoções, tabuleiro perfeito para criações de inimagináveis poesias...
Quando nossos corpos estão despidos, colados, a sensatez nos assiste de binóculos, há uma necessidade instintiva a nos deduzir escandalosos. E depois, no teu peito deitando harmonicamente a minha cabeça, hospedas-me em tua paz, acaricia os meus cabelos, enquanto divido contigo a minha poesia e minha religião.
Tua dança não me cansa e, sei que até te assusto, quando depois de tudo as minhas mãos tão curiosas ainda insistem em perder-se nas principais alamedas do teu corpo, corpo tão bem construído por Deus... Minhas mãos quase repousam inquietas e clandestinas no lugar que rapidamente está hirto. Não há demora, te esperneias, teu corpo latente reclama o teu.
E nos misturamos, a minha luz de leite e a tua mulatês de Esfinge que devora...
Em horas sãs
Horas e horas sãs...
Inserido sem freios em meu ventre, fazendo-me vislumbrar estrelas esferoides que passeiam anonimamente em meu prazer, teu prazer, em meus prazeres, em teus prazeres...
Explodimos fascinado pela perturbação interna, unindo nossas composições naturais, na vibração de um milagre, na tapeçaria de felicidade simples e concreta.
Janaina Cruz
[ANNE]Uma frase para nossos leitores.
Vamos ousar, ousar e desejar ser um ser muito melhor, para isso não é preciso querer o mundo entre as mãos, basta querer o justo.
[ANNE]Muito obrigada Janaina, pela gentileza de sua entrevista.
Foi muito bom conhecer esse jovem talento da literatura e desejo muito sucesso e felicidade em tudo que fizer!
Beijos da Anne!