25/03/2010
Tecido Poético
Teço recordações amarguradas
Com a seda dos teus cabelos
Deixada no meu travesseiro
Em noites esfomeadas de desejo
Desenhadas pela mão dum cupido
Brincalhão, infantil e traiçoeiro.
E nas lembranças torcidas e retorcidas
Com cheiro de canela e jasmim,
Sussurro de sax soprado por Vênus
Vou rebordando o traçado do cetim
Da minha vida com delírios poéticos
Que você impregnou em mim.
Vou aos poucos transformando
O tecido desfigurado de solidão
Alinhavado por rios de angústias
E costurado pela agulha cruel
Que beijou a flor do meu peito
Em dias deslumbrados de verão.
A meu pedido, ela alterou dois vocábulos:
1 - "amarrotados por rios de angústias"
(onde “amarrotados se achava deslocado no verso, roubando a beleza arrasadora dos rios).
Ficou assim:
“alinhavado por rios de angústias”
(que se correlaciona coerentemente a “Teço”, “tecidas”, “rebordando” “cetim”, “tecido” e “costurado”), termos ocorrentes (e apropriadíssimos) no enunciado.
2 – "e costurado pela agulha assassina"
(onde “assassina" comprometia o verso sombria e pesadamente, pois que alijado da leveza, da delicadeza do poema). Assim ficou:
“e costurado pela agulha cruel”
Texto tenso. Título a ele bem casado. Inovação, empatia. Sofrimento delicioso e envolto nas reminiscências de alguém, na recordação do que passou sem passar. Imagens, metáforas e hipérboles atuando em nós como partituras musicais bem executadas, faltando as mãos (dele e dela) se unirem sob a música - ausência das ausências.
Resultado: um tecido suprapoético dessa professora bonita. Aprovada!
Notas:
Para a obra de Jeane Caldas (pesquisar e aplicar):
Eufemismo
Gradação
Hipérbole
Metáfora
Metonímia
Prosopopéia ou personificação
As expressões: Movimentos Literários, Escolas Literárias e Estilos de Época se equivalem.
No prefácio a Suspiros Poéticos e Saudades (Gonçalves de Magalhães, 1961), lê-se:
“Poesias d’alma e do coração, e que só pela alma e pelo coração devem ser julgados.”
Lembrando que “Suspiros...” inaugurou o Romantismo no Brasil, em 1836. E que esse movimento literário durou até 1988, quando tem início o Realismo/Naturalismo, com Machado de Assis e Aluísio Azevedo.
O Romantismo abarcou, entre outros temas e tendências:
amor
comportamento rebelde
condoreirismo (poesia social e libertária – derivado do condor, ave dos cimos da cordilheira dos Andes)
egocentrismo
emoção
escapismo (devaneios extremos)
exaltação da mulher
exaltação da morte
exaltação da Natureza
evasão consciente, planejada
folclore
idealização do mundo
nacionalismo
imaginação versus razão, com predomínio daquela
sentimentalismo exacerbado
subjetivismo.
A frustração de tantos sonhos irrealizáveis gera o tédio, com a fuga da realidade (álcool, ópio, cigarros, charutos e prostíbulos).
No plano formal, surgiu o verso livre (sem métrica e sem estrofação rígida) e o verso branco (sem rima).
No Classicismo, predominavam as formas poéticas fixas; no Romantismo, a versificação livre.
Temas recorrentes, caros aos românticos: as causas sociais (liberdade, abolição da escravatura), a formação de uma literatura nacional e outras.
Fontes de consulta:
Gramática e Literatura Brasileira – Curso Completo,
de Douglas Tufano. Ed. Moderna, SP, 1996.
Língua, Literatura e Redação, de José de Nicola. Vol.
I, p. 266-269. SP, Editora Scipione, 1999.
Português para o Ensino Médio, de Ernani Terra &
José de Nicola. 570 p. Ed. Scipione, SP, 2007.
Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de
Magalhães. Editora Agir, RJ, 1961.
Para o texto: Tecido Poético
24/03/2010
Agonias
Busco na escuridão da minha saudade
a sinfonia perfeita da fome do teu beijo
devastando canteiros de menta e alecrim
sob o balé do meu corpo extasiado
em noite de lua rosa e afrodisíaca
de inverno perdido no mês de agosto.
Busco no sótão da minha solidão
estilhaços de noites de amor
germinados por banhos de sussurros,
passos de tangos e sons de castanholas
de orgasmos virgens descontrolados
sob a presença de bruxas eróticas.
Busco no porão da minha angústia
o calor sensual e apaixonante
do último abraço desabrochado
do teu corpo perfumado,
para confortar as manhãs de agonias
dos meus dias fatídicos e enclausurados.
***
Há figuras de linguagem que enriquecem o enunciado, como a repetição dos primeiros versos de cada estrofe: "Busco...", com variações cheias de criatividade.
O poema, no seu todo, representa um ai de sofrimento contido, e por isso mais alto e forte, mais audível a quem o lê várias vezes. Algo como uma sinfonia que continua em nós, o fazendo-nos platéia participante do seu desespero pelo abandono e a ausência indesejada.
Para o texto: Agonias
24/03/2010
Este artigo está completo, Jeane?
Para o texto: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
15/03/2010
Descaminho
E de repente
Me sinto assim...
Tão à-toa.
Sem prumo,
Sem rumo,
Sem caminho,
Sem graça,
Sem raça,
Tão sozinha.
Pois a saudade
Me consome,
Me corroi,
Me espezinha.
O meu ego
Geme, grita.
Me aporrinha.
Essa dor estranha
Aumenta,
Me atormenta
Me assombra...
E o seu amor
Tão longe,
Tão distante
Apaga a minha esperança.
***
O Romantismo pertence cronologicamente ao século XIX. Perpassou o século XX. Entramos no século XXI (2010) e sua temática poderosa acompanha a Humanidade, seja em gestos, atos ou recusas... e em versos e prosas.
É o caso do teu singelo poema, que se enquadra perfeitamente no estilo de época atual, hodierno, mantendo as mesmas características literárias do seu surgimento, porém enriquecido com palavras e posturas novas, recentes, da tua e da nossa vida. Um romantismo atualizado, no melhor sentido. Sem a ingenuidade hoje inacreditável, inaceitável, ridícula até dos primeiros escritores e poetas do século XIX, e acrescido de tonalidades carregadas de honestidade, silêncios implícitos e vozes verdadeiras do ponto de vista literário.
Para o texto: Descaminho
14/03/2010
Paixão Dilacerante
Compus versos sanguíneos
retirados da essência
do meu ser perplexo
e absorvido pelo marasmo
do instante.
Compus versos feridos
na ilha do meu coração
cansada, vazia,
sufocada e agonizante.
Compus versos embriagados
pela ansiedade e incerteza
da indefinição do teu olhar
que me põe reclusa
dessa paixão dilacerante.
***
Há uso competente de imagens poéticas e evidência de figuras de linguagem, que identificarei com mais calma, caso possível.
E parabéns pela originalidade, notável a cada verso.
Para o texto: Paixão Dilacerante
14/03/2010
Busca
Debruço-me
Sobre o muro
do tempo cruel que reúne
estilhaços de retratos sem cor
e partículas de espelhos multicores
decorados de angústia e dor.
Debruço-me
sobre a roda da fortuna
farejando a esperança
fortalecida pelo cálice
repleto de sonho
que guarda em seu útero
o açúcar da sua saliva,
a fragrância do teu sexo
na penumbra do meu olhar.
Debruço-me
sobre o vendaval
de um amor singular
que vomita estrelas
e realimenta o desejo
de sempre te buscar.
***
Percebe-se que neste poema você testa, experimentalmente, os vocábulos. Ressalvo que nisto, nesta experimentação aflitiva e inebriante, reside a verdadeira criação literária. Poema ainda fraco de conceitos e estilo. Alguns achados estilísticos, algumas descobertas, apenas.
Para o texto: Busca
14/03/2010
Digressão
O sono perdeu-se
Na madrugada cruel e fria...
Na boca, um gosto seco
De saudade.
No peito, um vazio
Infinito e voraz.
Sinto-me desnorteada
No meu próprio eu...
Uma lágrima de sangue
Declina sobre a minha face
Quente e salgada.
Uma dor pavorosa
Enche meu íntimo
De soluço e marasmo.
Essa dor corrosiva
Parece não querer cessar.
Mas a lembrança
Do teu olhar de estrela
Retira do meu íntimo
A estaca e os cravos
Que fazem meu coração
Estilhaçado sangrar.
***
Faltou o transbordamento da ausência absoluta - o que elevaria mais tua elocução, teu dizer lírico, tuas palavras quase súplices.
Para o texto: Digressão
14/03/2010
Saudades
Carrego no peito
flores sangrando
dos beijos trocados
em noites escarlates
e dos gemidos extravasados
entre lençóis perfumados
por odores de corpos
vertendo desejos inéditos
em madrugadas famintas
aquareladas de orvalho
e orquestradas pelo
sussurro do vento.
Carrego no peito
memórias vorazes
de êxtases perfeitos
embalados pela rede
dessa louca paixão.
acompanhada de
gargalhadas de bruxas,
sorrisos afroditianos,
brindes de deuses,
risadas irônicas de
cupidos contemporâneos,
e flechas embebidas
de mel, vinho e ópio
que cravaram meu coração.
***
Que facilidade de expressão - não de qualquer expressão, qualquer enunciação, porém uma predisposição tocante deveras...
Para o texto: Saudades
14/03/2010
Sedução e Magia
Teu suor
É banho de cachoeira,
É água de fonte,
É espuma de banheira.
Teu sorriso
É brilho reluzente,
É pura beleza,
É sol poente.
Tua boca
É água que sacia,
É pão, é vinho,
É fogo que incendeia.
Tua mão
É espuma macia,
É veludo, é brisa,
É bebida que vicia.
Teu abraço
É corrente que me prende
É carícia, é energia,
É sopro que me acende.
Teu cheiro
É perfume de tarde sombria,
É aroma campestre.
É sedução, é magia.
***
Símplice, rudimentar, mas digno poema.
Para o texto: Sedução e Magia
14/03/2010
Recuerdo
Tu ausencia
Hiere mi alma
Como flecha mortífera
Y atormenta
Mi sueno
Como um murciélago
Sin abrigo.
Este alejamiento
Pone em mi vena
El antídoto
De la angustia
Y de la ansiedad.
El tiempo
Me violenta
Como um hombre cruel medieval.
Y em mi aflicción
Lanzo mano
Del mi único trofeo...
El recuerdo
De despertar
A tu lado desnuda,
Despeinada, libre
Como uma niña mimada.
***
Espero ardentemente que sofras mais e mais, para que nos oferte outros versos tão cruciantes quais estes!
Para o texto: Recuerdo