PAULO D’BRAM É ENTREVISTADO POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS
Paulo D’Bram nasceu em 07 de outubro de 1987, na cidade de Salvador, Bahia, e viveu nesta cidade durante os primeiros anos de sua infância. Atualmente vive em Itinga, Lauro de Freitas, tendo chegado a este lugar quando ali ainda era mato. Apesar de seu forte interesse pela literatura, ele ingressou no Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal da Bahia - UFBA no ano de 2006, assim que concluiu o ensino médio, pressionado pela necessidade de ter uma profissão que lhe desse mais garantias de sobrevivência do que as letras. Apesar de assumir uma profissão distante de sua vocação, não deixou de lado o interesse pela arte. Devotou suas habilidades artísticas em blog’s e redes sociais, publicando contos, pequenos poemas e textos em editoras virtuais, sem muitas pretensões. Foi nesse ambiente que conheceu a fundadora da Editora Escândalo, a também escritora Giselle Jacques. Posteriormente, teve seu conto “O homem grávido” publicado pela Escândalo na coletânea Homossilábicas.
VALDECK: Quando e onde nasceu?
PAULO D’BRAM: Nasci no Hospital Sagrada Família, numa quarta-feira, noite de lua cheia, a uma e cinco da manhã. Meu parto foi um drama; nasci com dias de atraso, envolvido num saco, numa situação de quase morte; não chorei; fiquei algum tempo na UTI, mas quando todos pensavam que eu ia morrer, eu acabei vivendo. Acho que carrego até hoje essa imprevisibilidade (risos).
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
PAULO D’BRAM: Só conheço outros países através dos livros (risos). No Brasil só fui a São Paulo, por enquanto. Embora eu já tenha passado por várias cidades da Bahia, meu estado me instiga muito mais.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
PAULO D’BRAM: A literatura foi uma consequência natural em minha vida. Nasci pra isso. Eu tinha acesso a livros antigos em casa, enciclopédias, livros de poesia, etc. E, também, era cercado de histórias de família, de drama, eu respirava uma atmosfera dramática. Isso tudo insuflou em mim um desejo de representar as coisas, de retratar a realidade, as pessoas. Eu lia trechos, páginas, não comecei com livros inteiros. Meu entrosamento com as letras foi lento, mas pontual. Mas o interesse por escrever só ganhou força em mim tempos depois. Foi quando eu li “O Perfume”, de Patrick Süskind.
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
PAULO D’BRAM: Comecei a escrever poemas. Drummond me impressionava bastante. Depois, apareceram os romances e esse gênero se encaixou mais no meu perfil – embora a poesia continue inseparável da minha escrita.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
PAULO D’BRAM: Eu visualizo meu leitor como alguém de extrema inteligência e bom gosto, uma entidade presente o tempo todo no processo artístico, e busco levar o melhor pra ele; e o melhor, pra mim, é a inovação, a criatividade.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
PAULO D’BRAM: A princípio, romances. Minha forma de romancear é diferente. Como todo escritor, acredito no amor, na beleza. Mas instintivamente sigo caminhos diferentes pra retratar os velhos temas da humanidade. Não gosto das estradas “seguras e iluminadas”, gosto de caminhar por fora, pelos cantos, pela incerteza das trevas que cercam as questões, vou sempre aos pontos ignorados, aos silêncios; por isso pago um preço, serei sempre um marginal.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
PAULO D’BRAM: Eu preciso estar em crise. No mínimo, desencantado com a realidade. A dor abre minhas janelas e portas para realidade tal como ela é. Assim, as ideias surgem livremente, e eu não as julgo, controlo ou censuro. Aí tudo flui. Hoje eu controlo o processo e posso escrever em qualquer lugar, local, sem rituais. Mas eu prefiro escrever à noite por causa da tranquilidade·
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
PAULO D’BRAM: Não sou um leitor compulsivo. Leio pouco, mas leio o essencial. Lembrei dum trecho do poema de Drummond, “A Falta que Ama”:
“Entre areia, sol e grama / o que se esquiva se dá,/ enquanto a falta que ama /procura alguém que não há.” Acho que essa busca perdida, insistente, me define.
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
PAULO D’BRAM: A escrita flui com facilidade, mas eu vou descobrindo as coisas aos poucos e isso torna o processo gradual. Enquanto não termino não fico sossegado, sou obsessivo quando quero realizar algo e isso me deixa angustiado. Primeiro, eu abro caminho no mato, escrevo um primeiro esboço. Descanso e depois retorno para reescrever, editar, cortar, incluir. Essa etapa é mais agradável. O começo é mais doloroso.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
PAULO D’BRAM: Foi justamente “O homem grávido”. Até chegar a versão final eu fiquei longos meses pensando, sofrendo e reescrevendo. E o pior é que eu fazia isso sem esperança de nada, o que aumentava meu sentimento de culpa. Por um lado, era um tempo “perdido”, pois escrever, no contexto em que eu vivo, é nadar contra maré. Escrever pra quê, se não dá dinheiro? – acusam alguns dos meus familiares. Mas algo mais forte do que eu me obrigava a seguir em frente. É uma necessidade quase física.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
PAULO D’BRAM: Vou concluir agora em 2012. Pretendo, sim, seguir carreira na literatura, com todas as minhas forças.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
PAULO D’BRAM: Muitos. Todos os que li eu admiro de alguma forma. Mas Virginia Woolf já me emocionou bastante. O final que ela teve não foi nada inspirador, mas depois de Virginia tudo se tornou possível.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
PAULO D’BRAM: Não acredito em receitas. A arte é livre, assim como o artista. Mas na literatura considero o amor pela escrita algo importante. O escritor tem que gostar de escrever e, mais do que isso, precisar disso como se precisa comer e beber. Através desse amor ele vai desenvolver talentos e habilidades de comunicação. Se ele vê na literatura apenas um ganha pão, ele pode ser tudo menos um escritor legítimo.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
PAULO D’BRAM: O “Paulo D’Bram” é um personagem. Paulo D’bram é o que eu queria ser, é minha porção livre, artística, distante da minha vida pessoal. Paulo Fernando é o que eu tenho que ser no dia-a-dia, é a parte chata.
VALDECK: Como foi a tua infância?
PAULO D’BRAM: Péssima. Triste.
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
PAULO D’BRAM: Escrever é sagrado pra mim. O processo de criação, como eu disse, é sofrido, mas no final eu sinto uma imensa felicidade. Não tem balada que substitua esse prazer. Boa parte do meu tempo é reservada pra arte, mesmo quando não estou colocando nada no papel. Como disse Virginia Woolf em “Orlando”:
“Daria todo o dinheiro que possuía (tal é a malignidade do germe) para escrever um pequeno livro e tornar-se famoso; contudo, nem todo o ouro do Peru compraria para ele o tesouro de uma linha bem torneada.”
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
PAULO D’BRAM: O homem grávido. Editora Escândalo.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
PAULO D’BRAM: Contabilista.
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
PAULO D’BRAM: Não. Não acho que as pessoas precisem ser teleguiadas. Pessoalmente não acredito em “verdades”. Convido os leitores para que pensem por conta própria. Gosto da diversidade de pensamento.
VALDECK: Qual sua Religião?
PAULO D’BRAM: Agnóstico.
VALDECK: Quais seus planos como escritor?
PAULO D’BRAM: Pretendo publicar um romance ainda esse ano, e se der certo financeiramente publicarei outros. Tudo depende da maneira como serei recebido pelas pessoas. Mas independente dos resultados, dando certo ou não continuarei escrevendo, nem tenho opção do contrário. Preciso escrever para me manter vivo.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
VALDECK: Quando e onde nasceu?
PAULO D’BRAM: Nasci no Hospital Sagrada Família, numa quarta-feira, noite de lua cheia, a uma e cinco da manhã. Meu parto foi um drama; nasci com dias de atraso, envolvido num saco, numa situação de quase morte; não chorei; fiquei algum tempo na UTI, mas quando todos pensavam que eu ia morrer, eu acabei vivendo. Acho que carrego até hoje essa imprevisibilidade (risos).
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
PAULO D’BRAM: Só conheço outros países através dos livros (risos). No Brasil só fui a São Paulo, por enquanto. Embora eu já tenha passado por várias cidades da Bahia, meu estado me instiga muito mais.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
PAULO D’BRAM: A literatura foi uma consequência natural em minha vida. Nasci pra isso. Eu tinha acesso a livros antigos em casa, enciclopédias, livros de poesia, etc. E, também, era cercado de histórias de família, de drama, eu respirava uma atmosfera dramática. Isso tudo insuflou em mim um desejo de representar as coisas, de retratar a realidade, as pessoas. Eu lia trechos, páginas, não comecei com livros inteiros. Meu entrosamento com as letras foi lento, mas pontual. Mas o interesse por escrever só ganhou força em mim tempos depois. Foi quando eu li “O Perfume”, de Patrick Süskind.
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
PAULO D’BRAM: Comecei a escrever poemas. Drummond me impressionava bastante. Depois, apareceram os romances e esse gênero se encaixou mais no meu perfil – embora a poesia continue inseparável da minha escrita.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
PAULO D’BRAM: Eu visualizo meu leitor como alguém de extrema inteligência e bom gosto, uma entidade presente o tempo todo no processo artístico, e busco levar o melhor pra ele; e o melhor, pra mim, é a inovação, a criatividade.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
PAULO D’BRAM: A princípio, romances. Minha forma de romancear é diferente. Como todo escritor, acredito no amor, na beleza. Mas instintivamente sigo caminhos diferentes pra retratar os velhos temas da humanidade. Não gosto das estradas “seguras e iluminadas”, gosto de caminhar por fora, pelos cantos, pela incerteza das trevas que cercam as questões, vou sempre aos pontos ignorados, aos silêncios; por isso pago um preço, serei sempre um marginal.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
PAULO D’BRAM: Eu preciso estar em crise. No mínimo, desencantado com a realidade. A dor abre minhas janelas e portas para realidade tal como ela é. Assim, as ideias surgem livremente, e eu não as julgo, controlo ou censuro. Aí tudo flui. Hoje eu controlo o processo e posso escrever em qualquer lugar, local, sem rituais. Mas eu prefiro escrever à noite por causa da tranquilidade·
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
PAULO D’BRAM: Não sou um leitor compulsivo. Leio pouco, mas leio o essencial. Lembrei dum trecho do poema de Drummond, “A Falta que Ama”:
“Entre areia, sol e grama / o que se esquiva se dá,/ enquanto a falta que ama /procura alguém que não há.” Acho que essa busca perdida, insistente, me define.
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
PAULO D’BRAM: A escrita flui com facilidade, mas eu vou descobrindo as coisas aos poucos e isso torna o processo gradual. Enquanto não termino não fico sossegado, sou obsessivo quando quero realizar algo e isso me deixa angustiado. Primeiro, eu abro caminho no mato, escrevo um primeiro esboço. Descanso e depois retorno para reescrever, editar, cortar, incluir. Essa etapa é mais agradável. O começo é mais doloroso.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
PAULO D’BRAM: Foi justamente “O homem grávido”. Até chegar a versão final eu fiquei longos meses pensando, sofrendo e reescrevendo. E o pior é que eu fazia isso sem esperança de nada, o que aumentava meu sentimento de culpa. Por um lado, era um tempo “perdido”, pois escrever, no contexto em que eu vivo, é nadar contra maré. Escrever pra quê, se não dá dinheiro? – acusam alguns dos meus familiares. Mas algo mais forte do que eu me obrigava a seguir em frente. É uma necessidade quase física.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
PAULO D’BRAM: Vou concluir agora em 2012. Pretendo, sim, seguir carreira na literatura, com todas as minhas forças.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
PAULO D’BRAM: Muitos. Todos os que li eu admiro de alguma forma. Mas Virginia Woolf já me emocionou bastante. O final que ela teve não foi nada inspirador, mas depois de Virginia tudo se tornou possível.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
PAULO D’BRAM: Não acredito em receitas. A arte é livre, assim como o artista. Mas na literatura considero o amor pela escrita algo importante. O escritor tem que gostar de escrever e, mais do que isso, precisar disso como se precisa comer e beber. Através desse amor ele vai desenvolver talentos e habilidades de comunicação. Se ele vê na literatura apenas um ganha pão, ele pode ser tudo menos um escritor legítimo.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
PAULO D’BRAM: O “Paulo D’Bram” é um personagem. Paulo D’bram é o que eu queria ser, é minha porção livre, artística, distante da minha vida pessoal. Paulo Fernando é o que eu tenho que ser no dia-a-dia, é a parte chata.
VALDECK: Como foi a tua infância?
PAULO D’BRAM: Péssima. Triste.
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
PAULO D’BRAM: Escrever é sagrado pra mim. O processo de criação, como eu disse, é sofrido, mas no final eu sinto uma imensa felicidade. Não tem balada que substitua esse prazer. Boa parte do meu tempo é reservada pra arte, mesmo quando não estou colocando nada no papel. Como disse Virginia Woolf em “Orlando”:
“Daria todo o dinheiro que possuía (tal é a malignidade do germe) para escrever um pequeno livro e tornar-se famoso; contudo, nem todo o ouro do Peru compraria para ele o tesouro de uma linha bem torneada.”
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
PAULO D’BRAM: O homem grávido. Editora Escândalo.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
PAULO D’BRAM: Contabilista.
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
PAULO D’BRAM: Não. Não acho que as pessoas precisem ser teleguiadas. Pessoalmente não acredito em “verdades”. Convido os leitores para que pensem por conta própria. Gosto da diversidade de pensamento.
VALDECK: Qual sua Religião?
PAULO D’BRAM: Agnóstico.
VALDECK: Quais seus planos como escritor?
PAULO D’BRAM: Pretendo publicar um romance ainda esse ano, e se der certo financeiramente publicarei outros. Tudo depende da maneira como serei recebido pelas pessoas. Mas independente dos resultados, dando certo ou não continuarei escrevendo, nem tenho opção do contrário. Preciso escrever para me manter vivo.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com