ENÉZIO DE DEUS É ENTREVISTADO POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS

Enézio de Deus Silva Júnior é Advogado (OAB-BA nº 20.914); Autor dos livros: “A Possibilidade Jurídica de Adoção Por Casais Homossexuais” (5ª edição, Juruá Editora) e “Retirolândia: Memória e Vida” (Juruá Editora); Coautor dos livros: “Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo” (Editora Revista dos Tribunais) e “O Regresso” (Juruá Editora); Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz-BA (UESC); Servidor Público (Gestor Governamental) Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (SAEB, Bahia); Especialista em Direito Público (UNIFACS); Mestre em Família na Sociedade Contemporânea (UCSAL); Doutorando em Família na Sociedade Contemporânea (UCSAL); Membro-pesquisador do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), do Núcleo de Estudos sobre as Mulheres e as Relações de Gênero (MULIERIBUS-UEFS) e do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Juventude, Cultura, Identidade e Cidadania (NPEJI-UCSAL); Professor de Direitos Humanos (Academia da Polícia Civil do Estado da Bahia e Faculdade de Tecnologia e Ciências/FTC-EAD); Membro-honorário da Academia de Cultura da Bahia (ACB – posse em 2007) e da Academia de Letras, Artes e Ciências da Argentina (posse em 2008).

VALDECK: Quando e onde nasceu?
ENÉZIO DE DEUS: Nasci no dia 2 de janeiro de 1981, no Hospital Municipal da cidade de Retirolândia (Bahia).

VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
ENÉZIO DE DEUS: Conheço boa parte do nosso país, mas ainda não ultrapassei as fronteiras nacionais. Em breve, farei isto, por conta de atividades relacionadas ao Doutorado (que estou cursando atualmente).

VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?

ENÉZIO DE DEUS: Tomei gosto pela escrita já nas primeiras séries (do então chamado Curso Primário), quando as minhas professoras me estimulavam a elaborar textos variados. E, em especial, devo este gosto (que se transformou em uma paixão) à minha mãe, Luzia Carneiro, que foi minha Professora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação do sexto ao nono anos do Ensino Fundamental – no Colégio Estadual Olavo Alves Pinto, na minha querida Retirolândia.

VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
ENÉZIO DE DEUS: Como professor e militante dos Direitos Humanos, a minha escrita preponderante é a acadêmica (teórico-científica), especialmente com o recorte na defesa dos direitos da vasta e heterogênea população LGBTTT (composta pelas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e outros transgêneros). Exemplo de produção neste sentido é o meu livro A POSSIBILIDADE JURÍDICA DE ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS, que foi o primeiro a ter sido lançado no Brasil (em 2005) sobre este tema e que, atualmente, encontra-se na sua 5ª edição (Editora Juruá). Mas já enveredei pelo campo memorialista, quando escrevi RETIROLÂNDIA: MEMÓRIA E VIDA (pela mesma Editora), traçando um histórico da minha terra natal, particularmente quanto às suas origens. Incursionei pelo campo romancista, quando, em 2011, lancei, em parceria com a amiga-irmã Patrícia Lima (coautora), o livro O REGRESSO (Editora Juruá). Como cantor e compositor, eu me aproximo também dos versos e da arte literário-musical e conto com 148 canções de minha autoria (devidamente registradas; algumas já gravadas por mim em quatro CD’s). De todas estas canções, a que mais me representa e me emociona é o HINO DE RETIROLÂNDIA (letra e música de minha autoria que foram oficializadas como o Hino da minha cidade natal pela Lei Municipal nº 166/2005).


VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
ENÉZIO DE DEUS: O especial compromisso que tenho com o meu leitor é conduzi-lo, cada vez mais, a refletir sobre o preconceito e a lutar contra toda forma de discriminação, visando a continuarmos a construção de uma sociedade mais livre, mais justa e mais solidária.

VALDECK: O que mais gosta de escrever?
ENÉZIO DE DEUS: É a pesquisa acadêmico-científica que mais me atrai, reforçando, em mim, o desejo de lutar por uma sociedade igualitária e respeitosa para com as diferenças – especialmente as de cunho sexual e de gênero.

VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
ENÉZIO DE DEUS: Como pesquisador, os meus escritos nascem da leitura, do aprofundamento teórico-científico em determinada direção... Não tenho “hora predileta” ou “ambiente” para escrever. Eu exercito a escrita a todo o momento e em qualquer lugar que me ofereça a mínima condição de concentração.

VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
ENÉZIO DE DEUS: Todas as minhas obras, igualmente, ocupam o mesmo patamar de importância em minha trajetória.


VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
ENÉZIO DE DEUS: Minha escrita brota com rapidez e facilidade consideráveis... Mas, como um escritor atento, releio e burilo sempre as “obras de arte textuais” que produzo.

VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
ENÉZIO DE DEUS: O REGRESSO (romance contextualizado no Recôncavo baiano do século XIX, que trata do relacionamento amoroso entre uma escrava e um senhor de engenho) foi a obra que mais demorou a ficar pronta. Ao todo, foram nove anos de produção. Isto de deveu, especialmente, ao fato de que eu a amiga-irmã Patrícia Lima a escrevemos em coautoria e nem sempre tínhamos os horários compatíveis para os necessários encontros de revisão textual. Por outro lado, como nos dedicamos com esmero, o resultado da produção nos deixou muito felizes e o livro está tenho uma excelente circulação em todo o país.


VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
ENÉZIO DE DEUS: Concluí o Curso de Direito (na UESC) em 2003, já cursei Especialização (em Direito Público, UNIFACS), Mestrado (em Família, na UCSAL) e, atualmente, encontro-me no Doutorado (na mesma área e instituição do Mestrado). E que venha, em breve, o pós-doutorado! Risos... Quanto à carreira de escritor, tenho certeza que essa me acompanhará por todos os anos da minha vida, seja no campo científico ou artístico-literário. Afinal, como já deixei claro, escrever é a maior paixão da minha atual encarnação.


VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
ENÉZIO DE DEUS: São muitas as minhas fontes de inspiração, mas cito algumas. No campo da Literatura, José Saramago e Machado de Assis. No âmbito acadêmico-científico, Norberto Bobbio e Michel Foucault. No aspecto da produção religiosa, Chico Xavier e Divaldo Franco (obras psicografadas). Na seara musical, Dorival Caymmi (compositor) e Elis Regina (intérprete). 

VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
ENÉZIO DE DEUS: Estar comprometido com o pleno respeito à dignidade humana, exercitar sempre a humildade, alimentar o senso crítico-transformador e, finalmente, ler; ler muito e constantemente.


VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
ENÉZIO DE DEUS: Pretendo, em todas as minhas produções, utilizar o meu nome verdadeiro, assumindo, direta e integralmente, a responsabilidade sobre a minha escrita.

VALDECK: Como foi a tua infância?
ENÉZIO DE DEUS: Foi permeada de muitas alegrias, por um lado; e, por outro, de desafios na seara da descoberta e da progressiva compreensão da sexualidade. Hoje, para mim, essa é uma dádiva, após atingir a plena sintonia com a minha orientação homoafetiva. Orgulho-me, no sentido positivo, de toda a história que venho construindo até o presente! Como somos metamorfose a todo instante, quanto ao futuro... esse é um terreno incerto a ser conquistado – aqui ou na Espiritualidade; e esta conquista só valerá a pena se for pautada no pleno respeito a todas as coisas e pessoas, sem distinção de qualquer natureza.

VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
ENÉZIO DE DEUS: Procuro administrar o meu tempo, com a sapiência de fazer de tudo um pouco: ler, pesquisar, escrever, divertir-me, dedicar-me à minha família e à minha relação afetiva...

VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
ENÉZIO DE DEUS: Todas as minhas publicações me enchem, igualmente, de prazer e regozijo. Mas, em especial, senti-me muito feliz com o lançamento de RETIROLÂNDIA: MEMÓRIA E VIDA (cujas rendas eu destinei à APAE), pela relevância e contribuição histórica que deu à minha terra natal.

VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
ENÉZIO DE DEUS: Além de advogado e professor, sou servidor público do quadro permanente do Estado da Bahia, pertencente à carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ligada à Secretaria da Administração, SAEB).

VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
ENÉZIO DE DEUS: A principal mensagem a ser transmitida é a necessidade de respeitarmos todas as coisas e pessoas em sua integralidade, independente de raça, credo, orientações religiosas, políticas, sexuais ou quaisquer outros traços que as componham.

VALDECK: Qual sua Religião?
ENÉZIO DE DEUS: Nasci em berço católico e, desde quando comecei a estudar a Doutrina Espírita Kardecista (em 1999), tornei-me espírita por convicção. Sou, portanto, um cristão espírita. Mas, para muito além deste ou daquele “rótulo doutrinário-religioso”, respeito todas as escolhas ou encontros na seara da fé, da transcendência - que é inexplicável somente aos olhos da matéria.

VALDECK: Quais seus planos como escritor?
ENÉZIO DE DEUS: Planejo continuar escrevendo e vendo publicados os meus livros. Para este ano, serão publicadas duas grandes obras: uma, de comentários à decisão do STF
que, em 2011, equiparou a união homoafetiva à união estável entre homem e mulher (livro sob a minha Coordenação) e outra, fruto da minha Dissertação de Mestrado, sobre assassinatos de homossexuais e travestis no Brasil. Atualmente, dedico-me à minha tese de Doutorado (que pretendo ver, também, publicada) e a um livro de poesias (de cunho espírita, que estou psicografando, cuja autoria é da minha mentora, a Irmã Luíza).


(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 18/03/2012
Código do texto: T3561880
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