PORQUE NÂO PROCURAMOS OUVIR NOSSA MENTE?

O que fazer para nossos filhos ouvirem os nossos ensinamentos?

S.I.V. – Curitiba (PA)

Quase toda semana recebo perguntas com este assunto. Também já falei à diversas pessoas o que me ensinaram.

Vovó falava que precisamos falar 7.777 vezes a mesma lição para os filhos e, se dermos sorte, um dia eles ouvirão alguém falar a mesma coisa e se interrogarão: _ Onde foi que eu já ouvi isto?

Eu aprendi nas “logias” da faculdade, que de nada adianta falar, se não houver atitudes que demonstrem como agir. É uma verdade incontestável. E por que não agir assim?

Porque não basta pensar e acontece, como querem os “descobridores deste Segredo”.

Para que o gesto seja verdadeiro, ele tem que fazer parte do modo de ser pessoal. Aí entra todo o processo educativo: família coerente, escola coerente com o transmitir correto, o conviver com amigos adequados, questionar o máximo de atitudes tomadas e eu acrescento pela milésima vez: “Não ter medo de errar!”.

Uma senhora me enviou um pedido de orientação para compreender o que se passava com a filha, doente, respirando com aparelhos, sedada, com possível infecção viral.

Discuti com ela as possíveis causas, me passou diversos dados e tudo parecia se tratar de um processo psíquico, agravado por diversos momentos de doenças fugazes, que a colocavam abaixo da linha média para tais problemas. Assim que a filha começou a reagir, ela concluiu que, como mãe, deveria fazer um dos “milagrosos” cursos de controle mental, onde o mestre “apita” bastante, devido ao seu sobrenome.

Fiquei me perguntando: “por que as pessoas não aceitam a fragilidade de seu ser?” A resposta automática surgiu: “Porque não admitem ser frágeis!”.

O que não querem perceber é que carregam todo um complexo de culpa, por não conseguirem ser “à imagem e semelhança de Deus”. Assim elas se sobrecarregam de disfarces e diplomas, o que só agrava a fragilidade, pois carregar inutilidades as faz tropegas.

Uma cliente me disse assustada, ao final da consulta: “Entrei em panico ontem, ao ouvir minha filha de cinco anos contando que ela, duas amigas e um colega da escola pré-primária se esconderam da professora e foram mostrar suas diferenças genitais”. Exclamei: “Que coisa linda!” Mostre para ela que está feliz em perceber que ela é curiosa, que já sabe agora como são as diferenças com os meninos, responda ao que ela perguntar com palavras simples, sem fazer descrições além da curiosidade e não demonstrar vergonha. Mostre para ela que as diferenças existem para fazer homens e mulheres felizes, gostando muito um do outro”.

Ela me olhou espantada e disse: “Nunca pensei em agir assim; só não dei-lhe uma bronca, porque queria trocar idéias com o senhor”. Reagi: “Que coisa boa, temos mesmo que enfrentarmos nossas dúvidas e não agirmos instintivamente, sem pensar na nossa vergonha por uma brincadeira que toda criança faz”. “Se voce voltar à sua infância vai lembrar que deve ter tido dúvidas assim e que tentou resolve-las”.

Vi um olhar triste surgir e me disse: “Quando, certa vez, minha mãe descobriu eu e meu priminho brincando de casinha e nos despindo para fingirmos dormir, ela me bateu e tocou meu primo de casa...”

“E?...”, perguntei. “Às vezes creio que minha vida amorosa com meu esposo é sem graça, por ter aprendido errado!”.

“Portanto?...”, continuei. “Não posso fazer o mesmo que minha mãe! Preciso mudar de pensamento”.

Mostrei para ela como as pessoas não percebem a verdade em seu caminho, como a vida é singela e como não existe pecado em agir com alegria, sem culpa.

Ao sair eu percebi que ela não estava tão corcunda, como quando entrou.

Não estou demonstrando minhas técnicas, estou falando em tirar a cangalha, em sair para tomar sorvete e namorar o esposo, o namorado, paquerar sem maldade, não fazer sexo como moderna ação, mas por amar e sentir-se amado.

A única coisa que abomino integralmente na vida é um controle mental, mesmo que tenha embutido uma aparente verdade. Venha de qual crença vier.

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