INAÊ É ENTREVISTADA POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS
Inaê nasceu aquariana em 18 de fevereiro de 1976, em Ipirá, Sertão da Bahia. Sua primeira experiência profissional foi como cantora de banda de baile aos 16 anos. Depois começou a trabalhar como backing vocal com alguns cantores em Salvador. Inaê começa em 2000 a estudar teatro no projeto INTERCENA de Carmem Paternostro, ministrado por Meran Vargem, no Teatro Castro Alves. Depois, com Marcos Machado na direção, ela interpreta dois papéis na peça “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto, no Espaço Xisto da Bahia. Fez Dança do Ventre e Sapateado-Flamenco (aprendeu só, em casa). Em Paris, em 2007 ela estuda "Le français par le Thêatre", na Alliance Fraincaise de Paris, com a atriz e diretora Sylvaine Hinglais. Neste caminho de experimentações artísticas foi criado o espetáculo "Fêmeas". Com este espetáculo Inaê se apresentou em vários espaços em Salvador: Teatro SESI, CEPAIA, SESC-SENAC e em Paris, na MAISON DU BRÉSIL. Em fevereiro de 2008, apresenta "Mirante dos Astros", um monólogo, escrito e interpretado por ela, baseado no documentário "Estamira", de Marcos Prado. O espetáculo foi apresentado no SESI, SALA CINCO (faculdade de Teatro da UFBA), no Teatro Gamboa Nova e no Teatro Molière (Aliança Francesa). Em 2011 apresenta "Palavra há Tempo", monólogo de caráter filosófico. Inaê traz a Palavra caminhando no tempo, na história do pensamento. Inaê é Poeta e Escritora graduada em Letras pela Ufba. Há poemas seus em algumas antologias. Atualmente ela Imagina e Escreve. Por isso, Imaginadora e Escritora.
VALDECK: Quando e onde nasceu?
INAÊ: nasci em Ipirá, Sertão da Bahia. Era carnaval. Em dezoito de fevereiro de mil novecentos e setenta e seis. Eu nasci em casa e com ajuda de Parteira. Mãe Francisca, era como eu a chamava. Ela e todos me contam que eu nasci de bruços. Acreditam até que foi por isso que as ervas e mais remédios de farmácia, que minha mãe tomou, para me abortar, não deu certo, pela minha posição. Posição essa que popularmente se diz que "quem nasce com a censura virada pra lua tem sorte na vida" (Risos). Não sei como se manifesta o seu efeito.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
INAÊ: Sim.
Montes Claros-MG e Goiás-GO. Fora do país, Dinamarca e França.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
INAÊ: Desde criança eu escrevia. Claro que nada genial. Mas com uns doze anos eu escrevia e colecionava poemas que encontrava fosse de quem fosse. Bastava eu gostar que iria para o meu classificador. E eu lia e relia. Mando poesias para os meus namorados, desde os primeirinhos. Tinha uma árvore no Campo do Gado, uma pracinha perto da casa de minha avó que eu subia para ficar lendo poesia. Por que eu escrevo, só Deus pra responder (risos). Acho que a gente nasce para alguma coisa ou para várias coisas. Mas se for hereditário, eu tenho um tio poeta, Robson Luis, que escreve muito bem, obrigada. E tudo como manda o figurino das métricas e formas: Sonetos, versos livres e presos. Cresci vendo o meu tio escandindo versos nos dedos....
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
INAÊ: Escrever Realidade não existe. Porque no momento que você passa para o papel, mesmo que seja baseado em fatos reais, a história já virou ficção. É uma outra realidade. Mesmo o documentário, digo na linguagem cinematográfica, saiu da categoria de real para outra coisa. Porque foi editado e colocado sob um ou vários pontos de vista.
Eu escrevo tudo. Contos, crônicas poesia e peças de teatro - monólogo de preferência. Mas quase tudo que escrevo é com linguagem poética. Eu prefiro. Para uma dar um ritmo colorido ao texto. Exceto um texto cientifico. Ensaio ou artigo que se tende a evitar. Deve ser exigência da ciência que tem como vigília a Dona ABNT (risos).
Muito do que escrevo, não tem um tema específico que eu venha escolher. É muito do que sinto no momento e o que pretendo passar. Mas como sou uma boa aquariana egocêntrica, EU e Minha vida somos grandes motes para a minha escrita. Mesmo as peças de teatro.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
INAÊ: Claro que eu penso naqueles que irão ler o meu texto. E tenho TODOS os compromissos com o leitor. Porque tenho um compromisso com a humanidade. Os meus textos são engajados porque pretendo modificar o mundo. Acho que tem muita gente equivocada por aí. Quero que os seres humanos se toquem da espécie de animal que ele é. Do Sujeito social que cada um de nós é e, por isso mesmo, modificador da sociedade. Para que todos possam agir. Não dá mais pra ficar de braços cruzados achando que o compromisso é do Outro. Não dá pra ver seres humanos comendo Lixo no Lixo e achar que isso seja Normal. Pra mim, é nojento e revoltante.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
INAÊ: Não dá pra dizer o quê. Mas posso te adiantar que Escrever é uma paixão avassaladora.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
INAÊ: Da necessidade de me expressar. Sou muito sensível e por isso mesmo afetada com muita coisa. Nós, seres humanos, afetamos e somos afetados. Isso é fato. E estes afetos necessitam ser colocados pra fora. Ou você externaliza os seus afetos ou pode virar um câncer. Isso também é Fato REAL.
Minhas inspirações vêm dos incômodos dos afetos. Tudo o que me inquieta eu escrevo.
Moro sozinha e por isso tenho a minha liberdade de estar só e sem roupa. Gosto de estar em casa e gosto de estar só. Isso me proporciona escrever com espontaneidade. Eu escrevo na hora que me dá vontade, porque não tenho compromisso de limpar a casa quando acordo, fazer a comida para o meio dia, lavar os pratos logo depois do almoço. Tudo eu faço na hora que eu quiser. Têm dias que passo o dia inteiro escrevendo. Claro que com pausas, porque não aguento ficar muito tempo parada. Tenho uma energia por dentro que me incomoda (risos). Eu fico para lá e para cá, mudando de lugar. Tem momentos em que estou sentada na cadeira e escrivaninha, mas tem outro que venho para a cama. E o mais importante pra mim: O Silêncio. Ler e escrever requer silêncio.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
INAÊ: Todas que estão inteiras no Tempo e Memória eu gosto, porque os que não serviram eu joguei fora.
Mas gosto muito da minha última peça “Palavra há Tempo”. Esta peça foi a minha vivência durante sete anos em Letras e mais o que eu estudei para o mestrado e não passei. E sei que não passei porque eles não me quiseram por lá. Fiz a peça para mostrar que eu estava preparada para fazer o mestrado. A peça, além de ter uma qualidade lítero-artístico é de caráter filosófico. Acho até que com esta peça eu merecia o doutorado (risos). Mas parece que eles ficaram muito mais ofendidos do que lisonjeados. Gosto de muitas partes da peça, mas tem uma em especial que eu já fiz pensando na galerinha equivocadinha da branquitude e sua autoridade nazi-facista do ato institucional número cinco. Segue:
"(...) Tão querendo me emparedar!
Branquinho tá pensando que eu não tô vendo não? Eu enxergo pelos olhos da percepção. Tão pensando que eu não estou vendo não? Para a manutenção do Poder as estratégias de manipulação: Neguinho tem de acordar! Neguinho tem de parar de sonhar! Enquanto Neguinho tá sonhando com "I have a dream", branquinho tá lá.
Mas eu vou me vingar! Vou me vingar de Diogo Álvares Correia, o Caramuru pelo glotocídio do tronco tupi que ele fez por aqui, que foi do Rio de Janeiro até o Piauí. Vou me vingar! Do tratamento nada amistoso com requinte de perversidade que fizeram no navio Amistard. Vou me vingar. Dos algozes de Cruz e Souza que lhe tentou emparedar. Vou me Vingar!
Tão querendo me Emparedar. (...)
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
INAÊ: Com facilidade. Só basta eu começar.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
INAÊ: Desde criança que eu escrevo. Claro que nada genial. Mas com uns doze anos, eu escrevia e colecionava poemas que encontrava fosse de quem fosse. Bastava eu gostar que iria para o meu classificador. E eu lia e relia. Mando poesias para os meus namorados, desde os primeirinhos. Acho importante. Tinha uma árvore no Campo do Gado, uma pracinha perto da casa de minha avó que eu subia para ficar lendo poesia. Por que eu escrevo? Só Deus pra responder (risos). Acho que a gente nasce para alguma coisa ou para várias coisas. Pode ser atavismo e pode ser hereditário. Eu tenho um tio poeta, Robson Luis, que escreve muito bem, obrigada. E tudo como manda o figurino das métricas e formas: Sonetos, versos livres e presos. Cresci vendo o meu tio escandindo versos nos dedos....
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
INAÊ: Escrever Realidade não existe. Porque no momento que você passa para o papel, mesmo que seja baseado em fatos reais, a história já virou ficção. É uma outra realidade. Mesmo o documentário, digo na linguagem cinematográfica, saiu da categoria de real para outra coisa. Porque foi editado e colocado sob um ou vários pontos de vista.
Eu escrevo tudo. Contos, crônicas, poesias e peças de teatro - monólogo de preferência. Mas quase tudo que escrevo é com linguagem poética. Eu prefiro. Para uma dar um ritmo colorido ao texto. Exceto um texto cientifico. Ensaio ou artigo que se tende a evitar. Deve ser exigência da ciência que tem como vigília a Dona ABNT (risos).
Muito do que escrevo, não tem um tema específico a que eu venha escolher. É muito do que sinto no momento e o que pretendo passar. Mas como sou uma boa aquariana egocêntrica, EU e Minha vida somos grandes motes para a minha escrita. Mesmo as peças de teatro.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
INAÊ: Claro que eu penso naqueles que irão ler o meu texto. E tenho TODOS os compromissos com o leitor. Porque tenho um compromisso com a humanidade. Os meus textos são engajados porque pretendo modificar o mundo. Acho que tem muita gente equivocada por aí. Quero que os seres humanos se toquem da espécie de animal que ele são. Do Sujeito social que cada um de nós somos e, por isso mesmo, modificador da sociedade. Para que todos possam agir. Não dá mais pra ficar de braços cruzados achando que o compromisso é do Outro. Não dá pra ver seres humanos comendo Lixo no Lixo e achar que isso seja Normal. Pra mim, é nojento e revoltante.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
INAÊ: Não dá pra dizer o quê. Mas posso te adiantar que Escrever é uma paixão avassaladora.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
INAÊ: Da necessidade de me expressar. Sou muito sensível e por isso mesmo afetada com e por muita coisa. Nós, seres humanos, afetamos e somos afetados. Isso é fato. E estes afetos necessitam ser colocados pra fora. Ou você coloca pra fora os seus afetos. Ou esses afetos podem um câncer. Isso também é Fato e REAL.
Minhas inspirações vêm dos incômodos dos afetos. Tudo o que me inquieta eu escrevo.
Moro sozinha e por isso tenho a minha liberdade de estar só e sem roupa. Gosto de estar em casa e gosto de estar só. Isso me proporciona escrever com espontaneidade. Eu escrevo na hora que me dá vontade, porque não tenho compromisso de limpar a casa quando acordo, fazer a comida para o meio dia, lavar os pratos logo depois do almoço. Tudo eu faço na hora que eu quiser. Têm dias que passo o dia inteiro escrevendo. Claro que com pausas, porque não agüento ficar muito tempo parada. Tenho uma energia por dentro que me incomoda (risos). Eu fico para lá e para cá, mudando de lugar. Tem momentos em que estou sentada na cadeira e escrivaninha, mas tem outro que venho para a cama. E o mais importante pra mim: O Silêncio. Ler e escrever requer silêncio.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
INAÊ: Todas que estão inteiras no Tempo e na Memória eu gosto. Os que não serviram, eu joguei fora.
Mas gosto muito da minha última peça “Palavra há Tempo”. Esta peça foi a minha vivência durante sete anos em Letras e mais o que eu estudei para o mestrado e não passei. E sei que não passei porque eles não me quiseram por lá. Fiz a peça para mostrar que eu estava preparada para fazer o mestrado. A peça, além de ter uma qualidade lítero-artístico é de caráter filosófico. Acho até que com esta peça eu merecia o doutorado (risos). Mas parece que eles ficaram muito mais ofendidos do que lisonjeados. Gosto de muitas partes da peça, mas tem uma em especial que eu já fiz pensando na galerinha equivocadinha da branquitude e sua autoridade nazi-facista do ato institucional número cinco de Letras (rs). Segue:
"(...) Tão querendo me emparedar!
Branquinho tá pensando que eu não tô vendo não? Eu enxergo pelos olhos da percepção. Tão pensando que eu não estou vendo não? Para a manutenção do Poder as estratégias de manipulação? Neguinho tem de acordar! Neguinho tem de parar de sonhar! Enquanto Neguinho tá sonhando com "I have a dreams", branquinho tá lá!
Mas eu vou me vingar! Vou me vingar de Diogo Álvares Correia, o Caramuru pelo glotocídio do Tronco Tupi que ele fez por aqui, que foi do Rio de Janeiro até o Piauí. Vou me vingar! Do tratamento nada amistoso com requinte de perversidade que fizeram no navio Amistad. Vou me vingar. Dos algozes de Cruz e Souza que lhe tentou emparedar. Vou me Vingar!
Tão querendo me Emparedar. (...)
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
INAÊ: Com facilidade. Só basta eu começar.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
INAÊ: “Palavra há Tempo”, porque escrevi muito mais do que o que foi apresentado no palco. O texto foi podado e moldado.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
INAÊ: Sou graduada em Letras pela UFBA. Com certeza vou seguir com a Literatura. Quem nasce com uma missão na vida, se não cumprir é desonesto com quem lhe deu.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
INAÊ: Eu admiro muitos artistas e de várias áreas artísticas. E gosto de inventar ídolos (risos). Cada tempo de minha vida eu invento um e quero ser como aquela pessoa quando eu crescer (risos). Mas por um motivo ou outro o ídolo cai por terra, porque tudo muda o tempo todo. Agora antes de quaisquer ídolos inventados, a grande inspiração de meu trabalho sou Eu mesma (risos). Me acho bem narcisista. E gosto disso. Te dá uma liberdade e independência...
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
INAÊ: Saber sentir. E sentir é usar os sentidos, ler, ouvir, ver, comer, tocar BEM. Pra escrever você precisa se abastecer. Ler é fundamental pra escrever bem. Até porque a estética do texto só se conhece vendo/lendo. A estética na literatura é Beleza na Forma.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
INAÊ: Uso o verdadeiro. Já usei com sobrenome, mas agora só Inaê. Já acho suficiente.
VALDECK: Como foi a tua infância?
INAÊ: Traumática.
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
INAÊ: Eu me divirto em casa. E criar faz parte disso.
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
INAÊ: Foi uma vez na Tribuna da Bahia. Ildásio Tavares que o escolheu. Eu mandei vários para ele. E o que ele mais gostou foi um que eu fiz para Hélène Lamesch. "Anjo maduro". Fiquei tão feliz que chorei. Porque Hélène merece.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritora?
INAÊ: Um monte. Vou escrever em terceira pessoa e sem vírgula. Para falar sem respirar (risos): Canta dança interpreta faz crochê faz cochicho pinta borda produz traduz e seduz e ainda sapateia (riros) Mas enquanto isso para ganhar dinheiro. Sou professora de português para estrangeiros quando tem aluno tem dinheiro e quando não tem dinheiro toma dinheiro emprestado. Fora o de minha irmã que é dado (meu slogan risos).
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
INAÊ: Claro! Eu, como sujeito social e, portanto, modificador da sociedade, mas também fazendo parte de uma Minoria. Leia-se: Mulher mestiça (negra e índia) e por todo um contexto histórico, Pobre. Eu trabalho justamente com esta parte. Quero mostrar para o resto do mundo que somos os grandes responsáveis por injustiças na sociedade e somos nós mesmos quem devemos consertá-las.
VALDECK: Qual sua Religião?
INAÊ: Sou candomblecista, mas com o pé em várias outras religiões. A Fé me interessa.
VALDECK: Quais seus planos como escritora?
INAÊ: Escrever.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro "Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden", já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site
www.galinhapulando.com
VALDECK: Quando e onde nasceu?
INAÊ: nasci em Ipirá, Sertão da Bahia. Era carnaval. Em dezoito de fevereiro de mil novecentos e setenta e seis. Eu nasci em casa e com ajuda de Parteira. Mãe Francisca, era como eu a chamava. Ela e todos me contam que eu nasci de bruços. Acreditam até que foi por isso que as ervas e mais remédios de farmácia, que minha mãe tomou, para me abortar, não deu certo, pela minha posição. Posição essa que popularmente se diz que "quem nasce com a censura virada pra lua tem sorte na vida" (Risos). Não sei como se manifesta o seu efeito.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
INAÊ: Sim.
Montes Claros-MG e Goiás-GO. Fora do país, Dinamarca e França.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
INAÊ: Desde criança eu escrevia. Claro que nada genial. Mas com uns doze anos eu escrevia e colecionava poemas que encontrava fosse de quem fosse. Bastava eu gostar que iria para o meu classificador. E eu lia e relia. Mando poesias para os meus namorados, desde os primeirinhos. Tinha uma árvore no Campo do Gado, uma pracinha perto da casa de minha avó que eu subia para ficar lendo poesia. Por que eu escrevo, só Deus pra responder (risos). Acho que a gente nasce para alguma coisa ou para várias coisas. Mas se for hereditário, eu tenho um tio poeta, Robson Luis, que escreve muito bem, obrigada. E tudo como manda o figurino das métricas e formas: Sonetos, versos livres e presos. Cresci vendo o meu tio escandindo versos nos dedos....
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
INAÊ: Escrever Realidade não existe. Porque no momento que você passa para o papel, mesmo que seja baseado em fatos reais, a história já virou ficção. É uma outra realidade. Mesmo o documentário, digo na linguagem cinematográfica, saiu da categoria de real para outra coisa. Porque foi editado e colocado sob um ou vários pontos de vista.
Eu escrevo tudo. Contos, crônicas poesia e peças de teatro - monólogo de preferência. Mas quase tudo que escrevo é com linguagem poética. Eu prefiro. Para uma dar um ritmo colorido ao texto. Exceto um texto cientifico. Ensaio ou artigo que se tende a evitar. Deve ser exigência da ciência que tem como vigília a Dona ABNT (risos).
Muito do que escrevo, não tem um tema específico que eu venha escolher. É muito do que sinto no momento e o que pretendo passar. Mas como sou uma boa aquariana egocêntrica, EU e Minha vida somos grandes motes para a minha escrita. Mesmo as peças de teatro.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
INAÊ: Claro que eu penso naqueles que irão ler o meu texto. E tenho TODOS os compromissos com o leitor. Porque tenho um compromisso com a humanidade. Os meus textos são engajados porque pretendo modificar o mundo. Acho que tem muita gente equivocada por aí. Quero que os seres humanos se toquem da espécie de animal que ele é. Do Sujeito social que cada um de nós é e, por isso mesmo, modificador da sociedade. Para que todos possam agir. Não dá mais pra ficar de braços cruzados achando que o compromisso é do Outro. Não dá pra ver seres humanos comendo Lixo no Lixo e achar que isso seja Normal. Pra mim, é nojento e revoltante.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
INAÊ: Não dá pra dizer o quê. Mas posso te adiantar que Escrever é uma paixão avassaladora.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
INAÊ: Da necessidade de me expressar. Sou muito sensível e por isso mesmo afetada com muita coisa. Nós, seres humanos, afetamos e somos afetados. Isso é fato. E estes afetos necessitam ser colocados pra fora. Ou você externaliza os seus afetos ou pode virar um câncer. Isso também é Fato REAL.
Minhas inspirações vêm dos incômodos dos afetos. Tudo o que me inquieta eu escrevo.
Moro sozinha e por isso tenho a minha liberdade de estar só e sem roupa. Gosto de estar em casa e gosto de estar só. Isso me proporciona escrever com espontaneidade. Eu escrevo na hora que me dá vontade, porque não tenho compromisso de limpar a casa quando acordo, fazer a comida para o meio dia, lavar os pratos logo depois do almoço. Tudo eu faço na hora que eu quiser. Têm dias que passo o dia inteiro escrevendo. Claro que com pausas, porque não aguento ficar muito tempo parada. Tenho uma energia por dentro que me incomoda (risos). Eu fico para lá e para cá, mudando de lugar. Tem momentos em que estou sentada na cadeira e escrivaninha, mas tem outro que venho para a cama. E o mais importante pra mim: O Silêncio. Ler e escrever requer silêncio.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
INAÊ: Todas que estão inteiras no Tempo e Memória eu gosto, porque os que não serviram eu joguei fora.
Mas gosto muito da minha última peça “Palavra há Tempo”. Esta peça foi a minha vivência durante sete anos em Letras e mais o que eu estudei para o mestrado e não passei. E sei que não passei porque eles não me quiseram por lá. Fiz a peça para mostrar que eu estava preparada para fazer o mestrado. A peça, além de ter uma qualidade lítero-artístico é de caráter filosófico. Acho até que com esta peça eu merecia o doutorado (risos). Mas parece que eles ficaram muito mais ofendidos do que lisonjeados. Gosto de muitas partes da peça, mas tem uma em especial que eu já fiz pensando na galerinha equivocadinha da branquitude e sua autoridade nazi-facista do ato institucional número cinco. Segue:
"(...) Tão querendo me emparedar!
Branquinho tá pensando que eu não tô vendo não? Eu enxergo pelos olhos da percepção. Tão pensando que eu não estou vendo não? Para a manutenção do Poder as estratégias de manipulação: Neguinho tem de acordar! Neguinho tem de parar de sonhar! Enquanto Neguinho tá sonhando com "I have a dream", branquinho tá lá.
Mas eu vou me vingar! Vou me vingar de Diogo Álvares Correia, o Caramuru pelo glotocídio do tronco tupi que ele fez por aqui, que foi do Rio de Janeiro até o Piauí. Vou me vingar! Do tratamento nada amistoso com requinte de perversidade que fizeram no navio Amistard. Vou me vingar. Dos algozes de Cruz e Souza que lhe tentou emparedar. Vou me Vingar!
Tão querendo me Emparedar. (...)
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
INAÊ: Com facilidade. Só basta eu começar.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
INAÊ: Desde criança que eu escrevo. Claro que nada genial. Mas com uns doze anos, eu escrevia e colecionava poemas que encontrava fosse de quem fosse. Bastava eu gostar que iria para o meu classificador. E eu lia e relia. Mando poesias para os meus namorados, desde os primeirinhos. Acho importante. Tinha uma árvore no Campo do Gado, uma pracinha perto da casa de minha avó que eu subia para ficar lendo poesia. Por que eu escrevo? Só Deus pra responder (risos). Acho que a gente nasce para alguma coisa ou para várias coisas. Pode ser atavismo e pode ser hereditário. Eu tenho um tio poeta, Robson Luis, que escreve muito bem, obrigada. E tudo como manda o figurino das métricas e formas: Sonetos, versos livres e presos. Cresci vendo o meu tio escandindo versos nos dedos....
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
INAÊ: Escrever Realidade não existe. Porque no momento que você passa para o papel, mesmo que seja baseado em fatos reais, a história já virou ficção. É uma outra realidade. Mesmo o documentário, digo na linguagem cinematográfica, saiu da categoria de real para outra coisa. Porque foi editado e colocado sob um ou vários pontos de vista.
Eu escrevo tudo. Contos, crônicas, poesias e peças de teatro - monólogo de preferência. Mas quase tudo que escrevo é com linguagem poética. Eu prefiro. Para uma dar um ritmo colorido ao texto. Exceto um texto cientifico. Ensaio ou artigo que se tende a evitar. Deve ser exigência da ciência que tem como vigília a Dona ABNT (risos).
Muito do que escrevo, não tem um tema específico a que eu venha escolher. É muito do que sinto no momento e o que pretendo passar. Mas como sou uma boa aquariana egocêntrica, EU e Minha vida somos grandes motes para a minha escrita. Mesmo as peças de teatro.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
INAÊ: Claro que eu penso naqueles que irão ler o meu texto. E tenho TODOS os compromissos com o leitor. Porque tenho um compromisso com a humanidade. Os meus textos são engajados porque pretendo modificar o mundo. Acho que tem muita gente equivocada por aí. Quero que os seres humanos se toquem da espécie de animal que ele são. Do Sujeito social que cada um de nós somos e, por isso mesmo, modificador da sociedade. Para que todos possam agir. Não dá mais pra ficar de braços cruzados achando que o compromisso é do Outro. Não dá pra ver seres humanos comendo Lixo no Lixo e achar que isso seja Normal. Pra mim, é nojento e revoltante.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
INAÊ: Não dá pra dizer o quê. Mas posso te adiantar que Escrever é uma paixão avassaladora.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
INAÊ: Da necessidade de me expressar. Sou muito sensível e por isso mesmo afetada com e por muita coisa. Nós, seres humanos, afetamos e somos afetados. Isso é fato. E estes afetos necessitam ser colocados pra fora. Ou você coloca pra fora os seus afetos. Ou esses afetos podem um câncer. Isso também é Fato e REAL.
Minhas inspirações vêm dos incômodos dos afetos. Tudo o que me inquieta eu escrevo.
Moro sozinha e por isso tenho a minha liberdade de estar só e sem roupa. Gosto de estar em casa e gosto de estar só. Isso me proporciona escrever com espontaneidade. Eu escrevo na hora que me dá vontade, porque não tenho compromisso de limpar a casa quando acordo, fazer a comida para o meio dia, lavar os pratos logo depois do almoço. Tudo eu faço na hora que eu quiser. Têm dias que passo o dia inteiro escrevendo. Claro que com pausas, porque não agüento ficar muito tempo parada. Tenho uma energia por dentro que me incomoda (risos). Eu fico para lá e para cá, mudando de lugar. Tem momentos em que estou sentada na cadeira e escrivaninha, mas tem outro que venho para a cama. E o mais importante pra mim: O Silêncio. Ler e escrever requer silêncio.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
INAÊ: Todas que estão inteiras no Tempo e na Memória eu gosto. Os que não serviram, eu joguei fora.
Mas gosto muito da minha última peça “Palavra há Tempo”. Esta peça foi a minha vivência durante sete anos em Letras e mais o que eu estudei para o mestrado e não passei. E sei que não passei porque eles não me quiseram por lá. Fiz a peça para mostrar que eu estava preparada para fazer o mestrado. A peça, além de ter uma qualidade lítero-artístico é de caráter filosófico. Acho até que com esta peça eu merecia o doutorado (risos). Mas parece que eles ficaram muito mais ofendidos do que lisonjeados. Gosto de muitas partes da peça, mas tem uma em especial que eu já fiz pensando na galerinha equivocadinha da branquitude e sua autoridade nazi-facista do ato institucional número cinco de Letras (rs). Segue:
"(...) Tão querendo me emparedar!
Branquinho tá pensando que eu não tô vendo não? Eu enxergo pelos olhos da percepção. Tão pensando que eu não estou vendo não? Para a manutenção do Poder as estratégias de manipulação? Neguinho tem de acordar! Neguinho tem de parar de sonhar! Enquanto Neguinho tá sonhando com "I have a dreams", branquinho tá lá!
Mas eu vou me vingar! Vou me vingar de Diogo Álvares Correia, o Caramuru pelo glotocídio do Tronco Tupi que ele fez por aqui, que foi do Rio de Janeiro até o Piauí. Vou me vingar! Do tratamento nada amistoso com requinte de perversidade que fizeram no navio Amistad. Vou me vingar. Dos algozes de Cruz e Souza que lhe tentou emparedar. Vou me Vingar!
Tão querendo me Emparedar. (...)
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
INAÊ: Com facilidade. Só basta eu começar.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
INAÊ: “Palavra há Tempo”, porque escrevi muito mais do que o que foi apresentado no palco. O texto foi podado e moldado.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
INAÊ: Sou graduada em Letras pela UFBA. Com certeza vou seguir com a Literatura. Quem nasce com uma missão na vida, se não cumprir é desonesto com quem lhe deu.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
INAÊ: Eu admiro muitos artistas e de várias áreas artísticas. E gosto de inventar ídolos (risos). Cada tempo de minha vida eu invento um e quero ser como aquela pessoa quando eu crescer (risos). Mas por um motivo ou outro o ídolo cai por terra, porque tudo muda o tempo todo. Agora antes de quaisquer ídolos inventados, a grande inspiração de meu trabalho sou Eu mesma (risos). Me acho bem narcisista. E gosto disso. Te dá uma liberdade e independência...
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
INAÊ: Saber sentir. E sentir é usar os sentidos, ler, ouvir, ver, comer, tocar BEM. Pra escrever você precisa se abastecer. Ler é fundamental pra escrever bem. Até porque a estética do texto só se conhece vendo/lendo. A estética na literatura é Beleza na Forma.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
INAÊ: Uso o verdadeiro. Já usei com sobrenome, mas agora só Inaê. Já acho suficiente.
VALDECK: Como foi a tua infância?
INAÊ: Traumática.
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
INAÊ: Eu me divirto em casa. E criar faz parte disso.
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
INAÊ: Foi uma vez na Tribuna da Bahia. Ildásio Tavares que o escolheu. Eu mandei vários para ele. E o que ele mais gostou foi um que eu fiz para Hélène Lamesch. "Anjo maduro". Fiquei tão feliz que chorei. Porque Hélène merece.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritora?
INAÊ: Um monte. Vou escrever em terceira pessoa e sem vírgula. Para falar sem respirar (risos): Canta dança interpreta faz crochê faz cochicho pinta borda produz traduz e seduz e ainda sapateia (riros) Mas enquanto isso para ganhar dinheiro. Sou professora de português para estrangeiros quando tem aluno tem dinheiro e quando não tem dinheiro toma dinheiro emprestado. Fora o de minha irmã que é dado (meu slogan risos).
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
INAÊ: Claro! Eu, como sujeito social e, portanto, modificador da sociedade, mas também fazendo parte de uma Minoria. Leia-se: Mulher mestiça (negra e índia) e por todo um contexto histórico, Pobre. Eu trabalho justamente com esta parte. Quero mostrar para o resto do mundo que somos os grandes responsáveis por injustiças na sociedade e somos nós mesmos quem devemos consertá-las.
VALDECK: Qual sua Religião?
INAÊ: Sou candomblecista, mas com o pé em várias outras religiões. A Fé me interessa.
VALDECK: Quais seus planos como escritora?
INAÊ: Escrever.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro "Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden", já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site
www.galinhapulando.com