JAIME POLICENA ENTREVISTA ARY CARLOS

Jaine Policena Freitas

PROFESSOR ARY CARLOS MOURA CARDOSO

PROJETO MEMÓRIAS DE PROFESSORES DO CURSO DE PEDAGOGIA DE PALMAS

Entrevista com o professor Ary Carlos M. Cardoso, Atividade Integrante História, Memória e Educação V, Curso de Pedagogia, Campus de Palmas da Universidade Federal do Tocantins – UFT, como atividade da disciplina.

Professora: Dra. Jocyleia Santana dos Santos

Palmas - Tocantins

2012

AGRADECIMENTO

Agradeço imensamente ao professor Ary Carlos M. Cardoso por me conceder esta entrevista, pois, em momento algum, colocou obstáculo para que a mesma acontecesse. E ainda foi compreensivo quando não pude comparecer na semana marcada, por problemas de saúde que estive passando. E também à professora Dra. Jocyléia Santana, pela oportunidade de participarmos desta Atividade Integrante.

Data da Entrevista: 21/02/2012

Sobre o Entrevistador

Nome: Jaine Policena Freitas

Curso: Pedagogia, Disciplina: Atividade Integrante História e Memória da Educação V.

Professora Orientadora: Dra. Jocyleia Santana dos Santos

Sobre o Entrevistado

Nome: Ary Carlos Moura Cardoso

Formação: Bacharel e Licenciado em Letras – UGF -, Mestre em Literatura – UnB, Especialização em História da Filosofia – UGF, Especialização em Administração da Educação, Políticas, Planejamento e Gestão – UnB,

Área de atuação: Ensino e Pesquisa

APRESENTAÇÃO

O mestre Ary Carlos é professor na Universidade Federal do Tocantins, escritor, colunista do Jornal do Tocantins, autor em alguns sites: Recanto das Letras, Beco dos Poetas, Jornal de Poesias, Academia Virtual Brasileira de Letras, Mural dos Escritores e também participa de alguns blogs. Como professor, é um dos poucos que, ao primeiro contato com a turma, consegue despertar admiração total ou rejeição total ao mesmo tempo. Não tem como ficar apático em suas aulas. Talvez isso aconteça porque ele busca despertar o lado crítico de seus alunos. Uma de suas características marcantes é o jogo com as palavras e com a ausência das mesmas. Pois, como ele costuma frisar em sala-de-aula, os maiores problemas são as palavras não ditas, afinal, até o silêncio é carregado de intenções. O texto de uma pessoa revela o que ela deseja mostrar, mas, não revela o que ela deseja esconder.

Um pouco da história do professor Ary Carlos Moura Cardoso: é natural do Maranhão, casado e pai de quatro filhos, Bacharel e Licenciado em Letras(1991) pela Universidade Gama Filho – UGF. Em 2003, concluiu o mestrado em Literatura, Universidade de Brasília – UnB. Possui especialização em História da Filosofia – UGF e Administração da Educação, Políticas, Planejamento e Gestão – UnB. Ele também possui algumas graduações interrompidas, como é o caso do mestrado em Filosofia, foi acadêmico de Filosofia (Uerj) e Direito na UGF. A busca por conhecimentos também o levou ser acadêmico do curso de Teologia no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil – STBSB, também no Rio de Janeiro.

Sua vida de docência universitária começou em 1992 na UNITINS como professor assistente no curso de Letras, trabalhando as seguintes disciplinas: Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Teoria da Literatura e Pesquisa Educacional. Em 2004 passou a integrar o quadro de professores da Universidade Federal do Tocantins – UFT, onde trabalha nos cursos de Pedagogia, Engenharia de Alimentos, Economia, Administração e Ciências Contábeis, ministrando as seguintes disciplinas: Leitura e Prática de Produção Textual, Metodologia Científica e Sociologia. Atualmente, também está coordenando um projeto de pesquisa: “A literatura infanto-juvenil no sistema público tocantinense”, com conclusão prevista para 2013. Foi Membro da "Comissão de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão (COPPEX)" do campus de Miracema da Universidade Federal do Tocantins – 2005 a 2006. Foi Presidente da "Comissão Organizacional de Avaliação de Docente do Curso de Administração (COAD)", campus de Palmas, da Universidade Federal do Tocantins de 2007 a 2010. Vale ainda ressaltarmos seu envolvimento com o projeto PARFOR.

Algumas curiosidades sobre este professor: ele possui uma das maiores bibliotecas particulares do Tocantins, talvez até mesmo Brasil, com cerca de sete mil volumes nas áreas de Humanas e Ciências Sociais. É verbete no "Dicionário Biobibliográfico do Tocantins", de Mário Ribeiro Martins, editora Master, 2010, páginas 932-934. Possui participação em alguns livros, por exemplo, “Diário do Escritor 2003”; “Nas Asas da Imaginação” e “Diário do Escritor 2011”, todos pela editora Litteris, do Rio de Janeiro. Aparece no topo da primeira página de pesquisa do Google ao se digitar “Ary Carlos”.

Sobre a entrevista com ilustríssimo Ms. Ary Carlos, podemos perceber que ele é professor por vocação, ele gosta de ensinar. O objetivo dele, como professor, é despertar o lado crítico de seus alunos, “os dois processos: análise e práxis”. Sobre as políticas públicas da educação, ele aponta que elas nos mantém acorrentados ao processo educativo sob interesses dos capitalistas. Sobre a formação docente da UFT, ele diz que um curso de formação de professores deve ser “aquele que alargue o exercício de cidadania emancipada”. E que “a coisa não se restringe ao tripé eficácia, dominação e posse. Hoje, sem dúvida, a verdadeira educação exige o professor Dialético. Aquele que faz silêncios falarem”. Ao ser perguntado se recebe formação continuada na UFT, afirmou que sua formação continuada advém da aquisição de livros, que ele próprio faz. O que o possibilita ter uma das maiores bibliotecas particulares do Estado.

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

Policena – Como se deu seu ingresso no âmbito da educação?

Ary Carlos – Por, digamos, vocação consciente.

Policena – Quando você iniciou seu trabalho na UFT e quais eram as suas perspectivas?

Ary Carlos – Sou da segunda turma. Quando do primeiro concurso, estava concluindo um Mestrado na UnB. Minhas perspectivas estavam ligadas ao exercício crítico e autocrítico do Magistério.

Policena – Quais os cargos que você já desempenhou?

Ary Carlos - Minha vocação é Professor. Sala de aula é meu campo de labuta.

Policena – Qual foi a sua maior realização ou conquista no âmbito educacional e especificamente na UFT?

Ary Carlos – Contribuir para o despertar crítico de alguns de meus alunos. Incluamos, claro, os dois processos: análise e práxis.

Policena – Conte-nos como era a estrutura da UFT quando você chegou aqui?

Ary Carlos – Pouco diferente do que é hoje. De modo geral, a universidade brasileira é precarizada em vários sentidos. Rituais e certos movimentos procuram, no fundo, velar essa verdade. Há sempre aquele papo: “veja, não tínhamos isso, aquilo e aquilo... Ora, Universidade transcende sua infraestrutura.

Policena – Como era formado o corpo administrativo?

Ary Carlos – Com os mesmos componentes atuais: reitoria, pró-reitorias, coordenações, secretaria e agentes administrativos etc.

Policena – No seu ponto de vista as políticas públicas educacionais têm cumprido suas propostas?

Ary Carlos – À luz do que se espera de um modelo como o nosso – liberal conservador – sim. A estrutura imoral de nossa organização social é reproduzida nas políticas públicas de ponta a ponta. Estamos cantando acorrentados, entende?

Policena – Quais as suas observações sobre as mesmas ao longo dos tempos?

Ary Carlos – Olha, elas outra coisa não fazem senão colocar o processo educativo a serviço dos interesses capitalistas. De maneira geral, predomina a “razão instrumental”, nos arrastando para a acomodação e à falta de imaginação. As pedagogias embutidas em tais políticas nos querem submissos, ignorantes, sob um tipinho de cidadania rastaquera, ou seja, cidadania tutelada, embora, em termos retóricos, apregoem o contrário.

Policena – Quais as suas considerações sobre o curso de Pedagogia da UFT e a formação docente da contemporaneidade?

Ary Carlos – Não tenho dados mais profundos sobre o curso. Mas, não hesito em dizer: a formação docente há de ser aquela que alargue o exercício de cidadania emancipada. Melhor, uma formação que permita ao Educador “saber o que quer, por que quer e como quer”. A coisa não se restringe ao tripé eficácia, dominação e posse. Hoje, sem dúvida, a verdadeira educação exige o professor Dialético. Aquele que faz silêncios falarem. O descobridor de “inéditos viáveis”.

Policena – Você fez concurso para o curso de Pedagogia ou Normal Superior?

Ary Carlos – Pedagogia, em Miracema.

Policena – Quem era o coordenador do curso quando você tomou posse?

Ary Carlos – Acho que era a professora Francisca Costa. Hoje, terminando um Doutorado em Educação.

Policena – Você participou da construção do Projeto Pedagógico do curso?

Ary Carlos – Não, pois não sou do Colegiado

Policena – Quais são os principais eventos da Pedagogia de Palmas?

Ary Carlos – O principal, creio, é o “Simpósio de Educação”, lembro-me ainda do PET.

Policena – Você teve formação continuada durante o período que atua na UFT? Quais foram os cursos?

Ary Carlos – Formação continuada o faço através de meus investimentos intelectuais. Afinal, disponho de minha própria biblioteca, seguramente, uma das maiores do estado.

Policena – Sob seu olhar, o que difere os profissionais da educação de tempos atrás com os da atualidade?

Ary Carlos – Em essência, digamos, nada. As questões humanas são as mesmas. Claro que há problemas quanto ao intelecto e aos salários. Educar envolve sempre o legado científico-cultural e a realidade na qual estejamos inseridos a fim de avançarmos para realizações melhores e menos feias.

Policena – Qual a experiência ou vivência você considera a mais importante ao longo de sua vida/jornada acadêmica?

Ary Carlos – Como disse alhures, a de provocar meu aluno no sentido de leituras críticas das realidades. Precisamos superar essa alienação competitivo-reprodutivista – geradora de uma educação operacional – e chegarmos à emancipação política, à democracia cognitiva. Enfim, em qualquer área, hão de valer a qualidade, a relevância social e a relevância cultural.

Policena – Mesmo que as políticas educacionais de hoje não sejam suficientes para atender as demandas sociais, percebemos que não há manifestações por parte da população em busca das mesmas. O que difere a sociedade de outrora com a atual, nesse sentido?

Ary Carlos – Essa cordialidade do brasileiro o faz um ser passivo ante o estabelecido. Cria-se uma espécie de acocoramento crítico e uma desnutrição cultural. Instala-se o maldito jeitinho e se prostra na expectativa de um “redentor”. O negócio é a folastria e o hedonismo. Não há uma utopia, um sonho social justo, uma mobilização consciente. As instituições refletem isso, mormente o sistema escolar.

Policena – Você já participou de alguma manifestação pública?

Ary Carlos – Várias, de Araguaína a Brasília. Em passeatas, carroceatas e carreatas.

Policena – Descreva a UF ao longo de sua trajetória e seu olhar sobre a mesma daqui a alguns anos.

Ary Carlos – A UFT é produto de uma concepção “normal” de universidade, seu futuro é cumprir o que a classe dominante espera dela. Tende a ser uma organização social e não uma Instituição Social trabalhando o conhecimento libertador, a ciência sem ideologias, estudando o mundo, a cultura. Enfim, quisera que ela fosse o que chamo de “Pluriversidade”.

Policena – Poderia falar sobre seus Planos/Projetos?

Ary Carlos – Como disse, sou um professor e, como tal, pretendo continuar minhas atividades próprias deste profissional, sobretudo, a de ensinar. Desenvolver uma pesquisa sobre a problemática da Literatura Infanto-Juvenil no Tocantins e ampliar sempre minha biblioteca a fim de melhor me preparar. No frigir dos ovos, posso dizer: meus projetos são os estudos, os estudos, os estudos e o compartilhar disto com meus alunos. Valeu!