Entrevista com o cordelista Edivanjo Alves Campos
1- Transcrição da entrevista
Entrevista com o cordelista Edivanjo Alves Campos
Nome: Edivanjo Alves Campos
Lugar: Fazenda Campos
Data: 15-12-2011
Entrevistador: Leon Cardoso
O entrevistado se chama Edivanjo Alves Campos, seu principal livro se chama “Crime na Fazenda Juazeiro”, atualmente o principal poeta de literatura de cordel do Junco que é distrito de Jacobina (BA). Ele é morador da Fazenda Campos, aproximadamente 1 km do Junco, mas pertencente ao município de Quixabeira. Devemos esclarecer que embora o autor fale com desenvoltura de literatura, filosofia, entre outros temas, ele nunca frequentou universidades e pouco frequentou o sistema regular de ensino.
Leon: Edivanjo, para início de conversa, gostaria que você falasse um pouco do que você entende como literatura popular.
Edivanjo: por literatura popular, entendo uma literatura que tem suas raízes nas tradições culturais do povo, principalmente do povo nordestino. É uma literatura que informa as massas populares, isto é, as massas incultas que não tem muito contato com a literatura clássica. A literatura popular é aquela que chega ao alcance da compreensão do homem simples, do povo comum. Dessa forma, é uma literatura que retrata o gosto dessas pessoas e está relacionada, fundamentalmente, com as tradições populares. O poeta popular cria esta literatura para agradar as massas populares, pois essa literatura não tem aquela sofisticação da literatura clássica e por isso chega mais facilmente à compreensão dos sujeitos populares. É isso o que entendo como literatura popular.
Leon: então é uma literatura que trata da linguagem e da realidade do povo. É dessa forma uma literatura feita pelo povo e destinada ao sujeito popular?
Edivanjo: com certeza.
Leon: qual o seu contato com a literatura de cordel?
Edivanjo: meu contato com essa literatura se deu, principalmente, quando eu tinha 11 anos de idade quando comecei a ler as obras que me impressionavam muito. Obras de Minelvino Francisco da Silva “História do valente João Acaba Mundo e a serpente negra”, a obra “Lampião: o rei do cangaço” que não me lembro agora o nome do autor, a obra de Manoel D’Almeida Filho “Os cabras de Lampião”, a obra “A donzela Teodora” de Leandro Gomes de Barros, “A triste sorte de Jovilina” de Severino Borges de Oliveira e muitas outras obras que eu via quando criança. Quando aprendi a ler assim numa faixa de dez para onze anos de idade a primeira coisa que fiz foi adquirir esses livretos de cordel na feira e aí comecei a ler. Mais tarde tive a ideia de escrever livros de cordel. Por isso, o primeiro contato que eu tive com a literatura, de uma forma geral, começou com a literatura de cordel, quando eu tinha de oito para dez anos de idade.
Leon: então podemos dizer que essa literatura lhe auxiliou no processo de formação leitora?
Edivanjo: com certeza. Meu primeiro contato com os textos se deu sem professores. Eu fui um auto-instrutor. Então aprendi a ler soletrando os livros de literatura de cordel. Por isso que eu digo que aprendi a ler a partir do contato com a literatura de cordel. A minha primeira base de instrução no mundo das letras foi com a literatura de cordel.
Leon: você conseguia esses folhetos por conta própria ou alguém adquiria pra você e fazia alguma leitura pra você nesses seus primeiros passos na leitura de literatura?
Edivanjo: com a idade de 11 anos eu mesmo adquiri esses livros na feira. Naquele tempo, as pessoas vinham de Capim Grosso, de Senhor do Bonfim, de Juazeiro, eram ambulantes que andavam vendendo de feira em feira vendendo livros de literatura de cordel. De quinze em quinze dias, de três em três semanas eles apareciam aqui na feira do Junco vendendo esses livros. Colocavam uma lona no chão e espalhava os folhetos, sentavam num canto com as pernas cruzadas e lia os livros cantando para as pessoas que passavam na feira. E eu menino, via meu pai recitar os livros de cordel em casa. Nesse tempo, eu sentava a noite para ouvir meu pai recitar. Quando eu via aqueles vendedores recitando e cantando os livros de cordel na feira para o povo ouvir, então eu lembrava dos livros que meu pai recitava de memória. Então eu adquiria esses livros, trazia pra casa e algumas vezes pedia para as pessoas ler pra mim. Mais tarde quando aprendi a ler, eu mesmo lia. Pra mim mesmo, era eu quem adquiria os livros.
Leon: então você escutava as pessoas lendo os livros, conseguia memorizar algumas coisas dessas leituras e aliá-las ao impresso da literatura de cordel? Podemos dizer que assim você aprendeu a ler e escrever com o auxílio dessa literatura?
Edivanjo: isso influenciou bastante porque a partir do momento em que eu li essa literatura despertou em mim o desejo de escrever. Aí eu pensava assim: será que vou conseguir escrever versos de literatura de cordel? Foi pensando assim que eu disse pra mim mesmo: eu vou tentar fazer. Se sair certo ou errado, se sair torto ou de qualquer forma simplesmente é uma coisa que vou fazer pra mim mesmo. Aí comecei fazer. Nos primeiros versos (risos) só eu tinha o gosto de ler porque na realidade não era uma coisa assim aperfeiçoada, mas fui fazendo, fui tentando, fui escrevendo, fui insistindo cada vez mais e a coisa parece que foi melhorando. Eu digo melhorando porque eu mesmo não sabia se aquilo ali estava melhorando, mas pela opinião das pessoas que ouvia... Eu lia aqueles versos para as pessoas e emprestava os livretos para o povo ler e me parece que eu estava melhorando porque o povo gostava.
Leon: gostaria que você falasse um pouco de suas experiências com essa literatura ou citasse algum livro em particular.
Edivanjo: como falei no início, comecei a ler essa literatura quando eu era criança. Então fui aperfeiçoando a minha leitura e a minha compreensão a respeito desses textos. Fui adquirindo cada vez mais títulos. Fui aperfeiçoando, também, a minha capacidade de recitar versos e tudo, e aquilo ali ia divertindo as pessoas. Então o meu primeiro contato com a literatura de cordel foi esse que já falei no início. Primeiramente, vi meu pai recitar os versos de cor, depois adquiri o gosto e os livros na feira e depois passei a escrever realmente esses versos que também começou a agradar as pessoas, versos criados por mim mesmo. As obras que me influenciaram bastante foram as de Manoel D’ Almeida Filho e Delarme Monteiro da Silva com o seu livro “Joana D’arc a heroína da França”. Essas foram as principais obras que tive contato durante a minha infância e por isso me influenciaram e me colocou em contato com a literatura de cordel propriamente dita.
Leon: você escreveu um livro de cordel bastante importante e significativo para o Junco, uma vez que o personagem principal do seu livro foi um morador do Junco e um típico personagem tratado pela literatura de cordel que retrata a valentia e a bravura do sertanejo. Essa pessoa foi conhecida como Ferrinho. O que levou você a escrever um livro de cordel com essa temática?
Edivanjo: naquele tempo em que comecei a entrar em contato com a literatura de cordel eu vi o seguinte: o principal tema retratado na literatura era a bravura, a valentia. Aqueles heróis sertanejos como Lampião, como Antônio Silvino, como Corisco e aqueles valentes e bravos sertanejos como João Abade e Pajeu os principais jagunços de Canudos e outros personagens da história do sertão nordestino eram pessoas valentes. Quando eu era menino, chegou aqui na região do Junco um homem de nome João de Barros que ficou conhecido como Ferrinho. Passou a residir a mais ou menos 1 km do povoado e então começou a fazer muitas barbaridades, naquela época, aterrorizando o Junco. O Junco, naquele tempo, era duas vezes menor e duas vezes mais atrasado do que o que é hoje. Então é o seguinte, ele começou a barbarizar, a fazer e acontecer e mandava nessa localidade. Ele maltratava algumas pessoas. Com o passar do tempo mataram ele. Foi morto na fazendo com sua esposa Cleonice, de uma forma muito cruel. Então como eu tinha contato através da literatura de cordel com temas de valentia e bravura que a literatura de cordel retratava tive a ideia de escrever a trajetória de Ferrinho desde o tempo em que chegou aqui até a época em que morreu. O patrão dele se chamava Benedito, depois foi morte e ele se apossou da fazenda e expulsou a sua sogra que era mão de Cleonice. Então eu disse, vou escrever e aí escrevi. Escrevi para mim mesmo, mas quando apresentei os versos para o povo, notei que os versos agradavam. Agradavam, principalmente porque era um tema regional, era um tema local. As pessoas tinham conhecido ele e a esposa, toda a história do tempo em que ele tinha ficado no Junco da época em que chegou até a época que morreu. Isso aí empolgou demais a população do Junco porque era um tema local. Foi isso que mais agradou as pessoas e me agradou também (risos).
Leon: como você disse, primeiro você escreveu para você mesmo. Na literatura, a gente observa que muitos escritores escrevem para atingir um determinado público, você faz o movimento contrário primeiro procura satisfazer a você próprio e em seguida a um determinado público. Por isso quero perguntar pra você, qual a sua satisfação própria em ter escrito essa obra?
Edivanjo: minha principal satisfação é que eu estava escrevendo sobre um tema local e verídico. Já escrevi vários livretos de literatura de cordel, mas alguns retratando temas que não faziam parte do contexto local, de coisas acontecidas aqui. Isso aí me empolgou um pouco e também a população local porque se tratava de um tema não apenas regional, mas também, local. Um incidente que as pessoas haviam tomado conhecimento, uma coisa que as pessoas haviam presenciado. E isso me deu empolgação. Quando escrevi esse livro e mostrei as pessoas elas leram e gostaram, então percebi que tinham ficado satisfeitas e ao ver a satisfação delas também fiquei satisfeito.
Leon: então você escreveu movido por um gosto próprio, mas de alguma forma isso acabou repercutindo no gosto e na realidade do povo do Junco. Seu livro se chama “Crime na Fazenda Juazeiro”. Qual a data em que esse livro foi escrito?
Edivanjo: quando escrevi esse livro, ele tinha metade das estrofes que tem hoje. Nesse tempo ele tinha quarenta e poucas estrofes e se chamava “Valente em terra fria”. Mais tarde eu o reescrevi, primeiramente manuscrito a caneta e mais adiante eu o digitei em uma máquina de escrever, eu mesmo escrevendo. Então de quarenta e poucas estrofes eu aumentei para cento e vinte e oito estrofes e foi então que mudei o título para “Crime na Fazenda Juazeiro” para que as pessoas que entrassem em contato com esse livro vissem que se tratava de um tema regional. “Valente em terra fria” era um título muito vago e que as pessoas poderiam pensar que não se tratava de um acontecimento aqui da região. Mas o “Crime na Fazenda Juazeiro” retratava que realmente isso tinha ocorrido nessa região, nos arredores do Junco porque todos conheciam a Fazenda Juazeiro.
Leon: então você escreveu esse livro em dois processos diferentes. A primeira parte você escreveu “quarenta e poucas estrofes” e a segunda cento e vinte e oito estrofes. Você lembra o ano em que escreveu estas duas partes do livro?
Edivanjo: a primeira parte eu escrevi em 1985. O incidente relatado no livro se deu na noite de 5 para 6 de junho de 1984. Então eu escrevi o livro por volta de julho de 1985, um ano depois. E reescrevi novamente em 1991, também no mês de julho cerca de sete anos depois que tinha ocorrido o incidente.
Leon: o que levou você a acrescentar, nesse processo de criação do cordel, mais estrofes seis anos depois de ter escrito a primeira parte do livro?
Edivanjo: o que me levou a acrescentar mais estrofes foi que com o tempo eu tive outras informações de incidentes que haviam acontecido, coisas que ele (Ferrinho) tinha protagonizado que eu ao escrever a primeira parte do livro não tinha tomado conhecimento. Então eu acrescentei estas informações neste segundo período. E outra coisa foi que, também, eu criei algumas estrofes de sentido filosófico para explicar as leis da vida como as de retorno, de causa e efeito, a de ação e reação com o objetivo de dizer como estas leis funcionavam a respeito do que você faz nesse mundo realmente retorna pra você. Isso a respeito das coisas, por exemplo, que as pessoas falam muito em provérbios populares e aí eu procurei retratar esses provérbios por meio de acontecimentos de que trata a história do livro que realmente é uma história verdadeira.
Leon: você toca num ponto bastante significativo para os estudiosos que tratam da literatura de cordel. Isso porque você fala dos ditados populares, especificamente de características filosóficas que ajudou você a aprofundar no seu livro “Crime na Fazenda Juazeiro”. A partir disso, gostaria de saber se você lê outras literaturas e se lê gostaria de saber se elas lhe auxiliaram, quer dizer, de alguma forma lhe ajudaram no processo de criação do seu livro?
Edivanjo: esse é uma característica pouco visualizada pelos primeiros cordelistas, esse negócio de filosofia, a busca por um sentido da vida. Essas coisas, poucos cordelistas retrataram-nas de forma direta. Então procurei retratá-las assim, pensando a respeito dos acontecimentos e então procurei colocar em foco nos meus escritos. Isso foi uma coisa que me ajudou bastante, porque, na realidade os provérbios populares como, por exemplo, “não há mal que sempre dure”, “não há valentão que não encontre outro”, “por detrás de um pau grosso há sempre outro superior”, “a cabeça começa muito cedo indo ao poço, até que um dia vai e lá mesmo deixa o pescoço”, essas coisas assim. São temas que os provérbios, a sabedoria popular retrata. E outros escritos filosóficos que li dos filósofos franceses, ingleses e americanos também influenciaram muito nesse contexto.
Leon: você pode citar alguns nomes de escritores que você leu e que podem ter ajudado nesse processo de criação do cordel?
Edivanjo: Emerson foi o principal deles nascido em 1803 e morto em 1872 com a idade de 79 anos, Henry Davi Doreau outro filósofo transcedentalista e, também, o grande vulto da literatura francesa o famoso escritor Victor Hugo com o seu clássico “Os miseráveis”, o escritor Voltaire, enfim escritores que viam a vida por este prisma.
Leon: cite outros escritores cordelistas que você admira.
Edivanjo: Manoel D’ Almeida Filho que eu considero, particularmente, como o maior poeta popular da literatura de cordel do nordeste, cito, também, Severino Borges de Oliveira, Minelvino Francisco da Silva, Delarme Monteiro da Silva, Rodolfo Coelho Cavalcante o grande escritor de literatura de cordel que foi morto em Salvador e, admiro, também, tantos outros nomes que não estou lembrando aqui agora, mas que me influenciaram muito nesse processo de conhecimento da literatura de cordel tanto da leitura, quanto da escrita.
Leon: então você coloca Manoel D’Almeida Filho como o principal escritor de literatura de cordel do nordeste. Sabemos, também, que Leandro Gomes de Barros foi um escritor do nordeste e considerado por muitos pesquisadores como o maior escritor cordelista do Brasil, mas no seu modo de ver Manoel D’ Almeida Filho é que deve ser encarado como o maior escritor de literatura de cordel do Brasil?
Edivanjo: isso eu digo para mim. Leandro Gomes de Barros foi o precursor de literatura de cordel do Brasil e foi, sem dúvida, um grande nome dessa literatura, mas eu não tive muito contato com a obra dele. Só tive contato com apenas duas, a primeira não me recordo o nome, mas a segunda lembro perfeitamente foi “A donzela Teodora” um livro que gostei muito e que bastante me influenciou. Mas o contato mais profundo que eu tive com essa literatura foi principalmente com as obras de Manoel D’ Almeida Filho, li muitas obras dele e certamente foi o escritor que mais li se tratando de literatura de cordel. Então, pra mim ele foi o maior escritor de literatura de cordel do nordeste porque tive mais contato com as obras dele do que com as obras dos outros escritores, embora eu saiba que Leandro Gomes de Barros foi o precursor de literatura de cordel e um grande nome nessa literatura.
Leon: você escreveu o cordel “Crime na Fazenda Juazeiro” entre 1985 e 1991 que foi seu cordel de maior sucesso no sentido de reconhecimento e importância para conhecermos a cultura do Junco nesse período. E hoje há algum planejamento ou projeto para escrever um novo cordel?
Edivanjo: estou buscando temas atuais por meio de pesquisas. Quero alguma coisa que esteja em foco na atualidade. Nesse sentido, umas das coisas que tem mais chamado a atenção das pessoas hoje em dia é o problema das drogas, principalmente do crack. É uma droga que tem destruído parcela da juventude brasileira e vem devastando muitos sonhos e objetivos da população jovem. Então é um tema muito atual. Não sei se mais tarde vou ter tempo de fazer isso, mas uma coisa que desejo muito e escrever uma obra conscientizando as pessoas sobre os males causados por essa droga.
Leon: pra você, qual a relação entre as obras de literatura que estão na historia da literatura brasileira e os folhetos de cordel? Faço essa pergunta por que como já foi dito, você lê muitas obras da literatura canônica, além de ser um escritor e leitor da literatura de cordel. Então, como você acha que funciona essa relação?
Edivanjo: tudo é literatura brasileira, porque estamos falando apenas de literatura brasileira. Algumas pessoas, principalmente essa camada mais acadêmica, deram muito mais importância à literatura chamada clássica ou canônica como Machado de Assis, José de Alencar, Érico Veríssimo e tantos outros escritores de renome porque é uma literatura que pertence a uma camada social mais alta, de maior poder aquisitivo além de não ser uma literatura nordestina. A literatura popular nordestina, que cresceu entre as classes populares nordestinas tendem a ser mais desvalorizada. Como sabemos, a maioria das pessoas de outros estados tem sempre virado as costas para o nordeste tanto no sentido político, como também, no sentido popular especificamente de uma arte popular ou arte literária popular. Penso que a literatura popular tem a mesma importância que a literatura canônica. Na verdade, acredito que a literatura brasileira, de uma forma geral, tem um fundo popular, por isso essa literatura tem uma relevância muito grande.
Leon: de uma forma geral, você pode dizer qual a importância da literatura de cordel para as pessoas?
Edivanjo: primeiramente, a literatura de cordel está ao alcance das pessoas comuns. Das pessoas sem um nível de instrução mais alto. Até mesmo as pessoas analfabetas que não têm instrução nenhuma conseguem entender a literatura popular, a literatura de cordel. Isso não acontece com a literatura clássica, com a literatura canônica cuja linguagem é muito mais acadêmica, sofisticada, em muitos casos. Eu acho que a literatura de cordel tem sua principal relevância por ser de fácil entendimento e isso não é porque ele seja inferior não. Há muitos folhetos que tratam da arte de viver, a arte de viver o dia-a-dia, a arte de ver as coisas como elas realmente são. Então muitos dos folhetos populares auxiliam no processo de conscientização das massas para a arte de viver e para que se compreenda mais facilmente o que acontece no seu dia-a-dia.
Leon: então podemos dizer que muitas obras da literatura popular assumem o caráter de filosofia do povo no sentido de fazê-los refletir sobre a vida e sobre o lugar em que estão inseridos?
Edivanjo: me referi a isso há alguns momentos atrás. Realmente a filosofia está na simplicidade. Existiu um escritor francês que disse assim “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”. Então o que é a poesia? Ela é criada não apenas para a intelectualidade, mas é uma coisa muito mais profunda do que o próprio intelecto porque ela vem do coração. Por isso a compreensão da vida está na expressão do sentimento. Aquilo que exprime o sentimento faz com que a pessoa compreenda a essência da vida e isso a poesia consegue fazer, especialmente a poesia popular por ser uma poesia mais simples. Sinceramente acredito que a poesia popular consegue realizar esse objetivo ao fazer com que as pessoas compreendam a vida, sintam a beleza da vida, aprendam a arte de viver e tenha uma visão ampla sobre os principais aspectos da vida. Acredito que a literatura canônica jamais conseguirá influenciar tanto a mente das pessoas comuns como a literatura popular faz.
Leon: obrigado pelas respostas Edivanjo. Chegamos aqui ao final da entrevista. E pra finalizar, gostaria que você desse algum conselho ou algumas dicas para os novos escritores de cordel.
Edivanjo: primeiramente a pessoa tem que sentir para escrever. Acredito que quando uma pessoa quer muito uma coisa e batalha para que isso aconteça, ela consegue. Como falei no princípio da entrevista, a pessoa que deseja escrever tem que escrever sem se preocupar muito se vai sair certo ou errado. Se a pessoa tem o desejo de escrever ela tem que exprimir, botar pra fora, dar expressão àquele desejo sem se preocupar muito com o resultado futuro.