Entrevista com o escritor Leandro Goulart sobre Tony Pinta Roxa
Araxá, 27 de março de 2011
Encontrei o escritor sentado na sala de sua casa mostrando certa impaciência com meu atraso enquanto brincava com seus dois cães da raça belga, que são muito dóceis por sinal, espirrei com um forte perfume, desculpando-me pelo espirro e pelo atraso iniciei a entrevista:
Eduardo Rocha: Como começou tudo?
Leandro Goulart: Foi numa tarde, eu estava entediado e fui me deitar, sem sono comecei a criar fantasias, com tudo em mente resolvi escrevê-las.
Eduardo Rocha: Por se tratar de um romance, porque escolheu um lugar como um presídio para se passar toda História?
Leandro Goulart: Porque foi em um presídio que tudo aconteceu!
Eduardo Rocha: Embora não existam registros, corre uma lenda no México de certo homossexual que fez muito sucesso nos presídios do país, Tony Pinta Roxa é ele?
Leandro Goulart: Pode até ser, mais acredito que não, Tony tem vida própria.
Eduardo Rocha: Você inventou Tony ou ele realmente existiu?
Leandro Goulart: Nada se inventa mais, meu querido, tudo tem seu fundo de verdade!
Eduardo Rocha: Então esse muso sexual que você descreve em seu livro é real?
Leandro Goulart: Quando a obra ainda estava só na minha mente acreditava que não, mas a partir do momento que comecei a escrevê-la, a pesquisar mais, descobri que Tony Pinta Roxa tinha vida própria.
Eduardo Rocha: E ele era tão belo e sedutor como você o descreve?
Leandro Goulart: Mesmo que não fosse eu teria que fazê-lo assim, pois só um Apolo, deus da beleza para encantar e seduzir todos os homens, hétero ou não!
Eduardo Rocha: E você chegou a conhecê-lo?
Leandro Goulart: Não sou dos mais novinhos não, nossas histórias acontecem em décadas diferentes, além do mais logo que ele saiu do Muralha tomou destino desconhecido por todos, a ultima noticia que temos dele está no final do livro, na Argentina. Mas o vejo sim todos os dias, basta sair na rua que vejo Tony Pinta Roxa a cada passo que dou!
Eduardo Rocha: E o Muralha, por que não quis revelar seu nome real?
Leandro Goulart: Segundo minhas pesquisas existem desde a década de oitenta vários presídios no México que empregam o sistema de cela aberta e de trabalho em troca de diminuição de pena, mas não queria criar um lugar certo para Tony Pinta Roxa viver, não queria criar um endereço pra ele, pois personagens vivem onde cada um imagina.
Eduardo Rocha: Mais a cela dele você descreve detalhadamente, lhe dando até número, a 204!
Leandro Goulart: Claro, não dei o endereço, mais o numero nada me impede!
Eduardo Rocha: Sabendo que seu personagem se chama Antony Pessona, o vulgo Tony Pinta Roxa foi criado por você ou era realmente esse?
Leandro Goulart: Foi eu que criei, ficaria muito monotono e fora dos padroes do romance se mantece apenas o nome Antony Pessona, estou falando no livro de um famoso prostituto e assim como se tinha Dona Beja, Tieta do agreste, Hilda Furacão e Xica da Silva e todas eram chamdas por esses seus vulgos e não pelos seus nomes reais tinha que criar um vulgo de impacto e que marcasse o personagem. Aproveitando uma marca de nascença que ele tem no corpo criei esse apelido pra ele.
Eduardo Rocha: O cenário que você criou no livro é um tanto ilúdico, como a cela de Tony que lembra mais uma casa, era a intenção, era realmente assim, ou veio de sua imaginação?
Leandro Goulart: Regalias dentro dos presídios sempre existiram, custam caro mais existem, vemos isso há todo instante nos jornais, porque para Tony e os bons da boca do Muralha seria diferente, e no mais, seja num palácio ou numa cadeia, estamos falando de uma estrela, e mesmo que da forma mais simples possível, ele tinha que ter uma cela a altura de sua grandeza!
Eduardo Rocha: Parte da fantasia do livro roda em torno de uma aliança que supostamente carrega o destino de Tony nela, você acredita em tal verdade?
Leandro Goulart: Se coloquei lá é porque acredito sim, a Cinderela tinha o sapatinho de cristal que fez toda diferença na história, Tony tem uma aliança, uai!
Eduardo Rocha: O Alberto, narrador dá historia é você mesmo?
Leandro Goulart: Mais ou menos, tem boa parte de mim, mas como o Tony ele vive com suas próprias pernas! É até casado não é mesmo? (risos)
Eduardo Rocha: Mesmo tendo Tony Pinta Roxa como eixo central de toda História, o livro nos apresenta vários outros personagens, todos são reais?
Leandro Goulart: Todos, mais só alguns fizeram parte realmente da história, outros eu integrei nela.
Eduardo Rocha: E você pode me dizer quais deles viveram com o Tony no Muralha?
Leandro Goulart: Não posso te afirmar nada sobre isso, acho que quebra o encanto, mas te garanto que todos existiram, uns ainda estão vivos!
Eduardo Rocha: Segundo o que pesquisei um homem viveu em um presídio mexicano que tinha o perfil do Profeta, seu personagem, você buscou inspiração nele?
Leandro Goulart: Sim, esse foi sim, não poderia contar a história de um presídio mexicano sem falar de tal homem que é tão comentado.
Eduardo Rocha: Já que você afirmou que todos personagem são reais, Roberto Pancadão por exemplo, era esse o nome dele mesmo?
Leandro Goulart: Não, como se vê no livro não se passou nem trinta anos ainda, muitos deles ainda estão vivos, como o Roberto por exemplo, não posso correr o risco de revelar seu verdadeiro nome!
Eduardo Rocha: E toda história de amor entre ele e o Tony foi real?
Leandro Goulart: Acredito que sim, mas não posso afirmar nada, afinal o próprio livro deixa essa dúvida no ar a todo instante!
Eduardo Rocha: Da forma que escreve, usando nomes fictícios fica difícil buscar a verdade, principalmente sobre Tony Pinta Roxa e
Roberto Pancadão.
Leandro Goulart: Mas é esse meu intuito, deixar os leitores a beira da realidade e da fantasia. Mas garanto que existiu sim alguém e uma história muito parecida ou até mesma idêntica à dos dois que me inspirou!
Eduardo Rocha: No seu livro você dá tanta certeza aos fatos que pode chegar a ser comparado com um livro de não ficção, você não teme que seus personagens criem uma vida real, como por exemplo a Hilda Furacão de Roberto Drummond?
Leandro Goulart: Adoraria isso, Hilda mesmo não existiu, é um nome fictício, mas a mulher que inspirou Roberto Drummond sim, como o Tony mesmo. Se existe porque não ficar mais real ainda!
Eduardo Rocha: Sua história ao mesmo tempo que é dramática e um conto de fadas, achou que ficaria bom juntar os dois gêneros?
Leandro Goulart: A história embora seja um conto de fadas conturbado se passa num presídio, né? Não tem como fazer um romance na cadeia sem ter drama!
Eduardo Rocha: Tony Pinta Roxa é um personagem muito complexo, hora alegre demais, ou triste demais, o mesmo tempo que tem o pulso forte, fraqueja, isso é dele mesmo ou você que criou?
Leandro Goulart: É dele mesmo, acredito que toda grande pessoa é assim, todo mito tem essa instabilidade! Faz parte do ser humano isso!
Eduardo Rocha: Essa é sua primeira obra, tem em mente mais alguma?
Leandro Goulart: Sim, tenho várias!
Eduardo Rocha: E a próxima vai ser no gênero de Tony Pinta Roxa?
Leandro Goulart: Ainda não sei, vai depender da repercussão dessa primeira.
Eduardo Rocha: Tony Pinta Roxa é um livro mais dedicado ao publico GLS ou não?
Leandro Goulart: Embora conte a história de um homossexual, não acredito que seja só para esse público não, vai da cabeça de cada um, Tony Pinta Roxa tem um pedaço de cada pessoa, tem muito de hétero nele, vale à pena todos lerem sem preconceito.
Eduardo Rocha: Desculpe, mas vendo você sinto como se visse o Tony, você usou muito de você nele?
Leandro Goulart: Nada pra falar a verdade, não temos nada em comum além da coragem dele que é igual a minha, somos bem diferente, em tudo, a começar que ele é bonito e eu sou feio! (mais risos)
Eduardo Rocha: E você não teme encontrar um dia cara a cara com Tony Pinta Roxa, e que ele não goste de como você escreveu a história?
Leandro Goulart: Jamais, tirei opiniões com ele para tanto, acho que se sente é lisonjeado!
Eduardo Rocha: Mais a pouco você praticamente afirmou não conhecê-lo, nem ao menos saber seu paradeiro!
Leandro Goulart: (risos novamente) Embora não ter seu paradeiro, quando estou sozinho tenho meus meios de falar com ele!
Eduardo Rocha: Ainda acho que ele é você, seu modo de portar e mais algumas coisas são muito parecidos!
Leandro Goulart: Já te disse, Tony existe, e seu fosse ele teria agora mais de sessenta anos! (dessa vez gargalhadas)
Eduardo Rocha: O que você diria para os leitores para que eles se interessassem ainda mais pelo livro?
Leandro Goulart: Olha, eu diria que se você é uma pessoa que se olha toda hora no espelho buscando seu verdadeiro eu e não encontra! Tem que ler o livro, vai se achar um pouquinho em cada um dos personagens!
Terminamos nossa entrevista com um bom vinho e fui-me, mais duas coisas ficaram matutando na minha cabeça: Leandro, o autor usava um roupão idêntico ao que Tony Pinta Roxa vestia escrito por ele em um dos capítulos do livro, outra, o perfume, o que me fez espirrar, perto do autor não sentia que ele usava algum, mais aquela sala cheirava o mesmo perfume usado pelo seu personagem no livro, era como se Tony Pinta Roxa estivesse ou houvesse passado a pouco por ali.
Observação:
Essa entrevista foi cedida pelo escritor Leandro Goulart ao estudante de jornalismo Eduardo Rocha para um trabalho universitário sem fins lucrativo de ambas as partes.