ADRIANO EYSEN É ENTREVISTADO POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS

Adriano Eysen Rego (1976), poeta, contista e crítico literário, é natural de Salvador. Licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, Especialista em Estudos Literários pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB, professor de Literatura Portuguesa e Brasileira da UNEB – Campus XXII – Euclides da Cunha, Mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS, doutorando em Literaturas de Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-Minas e membro efetivo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. O autor publicou os livros: “Diário de um Louco” (2001 – contos – MAC); “Sopros” (2002 – poemas – MAC) e “Imagens do Sertão na poética de Castro Alves” (2005/06 – ensaio – UESB); “Cicatriz do silêncio” (vencedor do concurso de poesia Banco Capital, 2007); “Assombros Solares” (2011 – poesia – Editora Via Litterarum) e participou da Coletânea de Contos Machado de Assis (Prêmio SESC-DF, 2007-2010) e da Coletânea de Poesias Carlos Drummond de Andrade (Prêmio SESC-DF, 2010). Tem artigos publicados em revistas, a exemplo de Outros Sertões e Iararana, e jornais como A Tarde Cultural e Tribuna Feirense. Coordenou o Café Literário no Congresso de Educação (Vitória da Conquista-BA, 2005 a 2007); o I Colóquio em Estudos Literários e Linguísticos (Imaginário, Memórias e R(e)leituras (UNEB, Euclides da Cunha-BA, 2009); a I Semana de Letras (UNEB, Euclides da Cunha-BA, 2009); o Projeto Verso e Prosa nas Veredas do Sertão (UNEB, Euclides da Cunha, 2007 a 2009); o Projeto Travessia Poética (Feira de Santana-BA, 2009), da e fez parte da Comissão Organizadora do XXIII Congresso Internacional da ABRAPLIP (Salvador, 2009) e compõe a coordenação do Núcleo Regional Nordeste 02, da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa (2010/2011). O autor foi membro do júri do Concurso de Literatura Banco Capital (Salvador-BA, 2009) e por duas vezes membro do júri inicial do Concurso Portugal Telecom de Literatura (São Paulo, 2009/2010).
 
 
VALDECK: Quando e onde nasceu?
ADRIANO EYSEN: Nasci na capital baiana, em 07 de dezembro de 1976, sob a regência mítico-poética das águas da Bahia de Todos os Santos.
 
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
ADRIANO EYSEN: Sim, tenho viajado um pouco mais pelo Brasil com intuito de conhecer nossa diversidade sócio-cultural. Entretanto, preciso explorar mais a América Latina, berço de importantes civilizações.
 
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
ADRIANO EYSEN: Por volta dos 14 anos notei que a linguagem poética era uma forma de habitar o mundo. Nesse sentido, começava minha travessia pelo universo mágico das palavras. Com efeito, percebi gradativamente que escrever é (re)inventar a vida para aquém e além de nós mesmos. Vale ressaltar que os meus primeiros versos acentuam uma maneira de presentificar a minha existência no tempo (Kronos). Desse modo, escrever é arquitetar pontes entre o mundo interior e exterior.
 
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
ADRIANO EYSEN: O ser humano é um grande inventor de ficções. Nesse aspecto, há um trânsito permanente entre a ficção e a realidade em que nos recriamos o tempo todo. Assim, o que escrevo caracteriza-se como uma percepção da realidade. Daí, como poeta e/ou ficcionista, eu garimpo os sentidos da vida a fim de reuni-los no tecido de signos do texto literário. Dessa maneira, não acredito na criação literária fora da realidade. Quer na poesia, quer na prosa, o autor escreve a partir das suas mais diversas experiências enquanto ser no mundo.
Notadamente, dedico-me mais à poesia, mas tenho escrito também contos e crônicas. Em 2007 e 2010, por exemplo, participei da Coletânea de Contos Machado de Assis (Prêmio SESC-DF) e tenho algumas crônicas publicadas no antigo caderno cultural do jornal Tribuna Feirense (impresso na cidade de Feira de Santana-BA).
 
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
ADRIANO EYSEN: Não há compromisso nenhum com o leitor. Escrever para mim é um rito existencial; uma forma de pertencer ao mundo. É certo que depois do texto escrito, o diálogo com o leitor pode se dar em vários níveis afetivos e intelectivos. Acredito que a liberdade de criação é primordial ao artista. Este é um momento indizível de reencontro consigo mesmo. São instantes epifânicos em que podemos escutar a musicalidade do silêncio e os tumultos do espírito humano.
 
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
ADRIANO EYSEN: O processo da escrita é um encontro incomensurável com algo que parece ser a força essencial da existência humana. Escrever é evocar o aparentemente indizível que está dentro de nós. Não tenho predileções por temas, pois o que me motiva são os graus de perplexidade que tenho ao me deparar com o complexo espetáculo da vida planetária. Em outras palavras, quero dizer que situações aparentemente banais, como um cão na esquina dormindo ao lado de um homem, podem ser temas fulcrais de um poema.
 
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
ADRIANO EYSEN: O que escrevo origina-se dum silêncio primordial que é quebrado quando tento estabelecer elos entre o Eu e o mundo. Nesse sentido, os textos nascem das múltiplas experiências do homem-artista ao longo da vida. Nenhuma obra de arte surge do vazio, ou seja, o artista marcadamente necessita de uma força motivadora só possível de existir na sua correlação consigo mesmo e com o outro.
Não há um ambiente específico ou um ritual para escrever. Na verdade, como já sublinhei em outras palavras, a própria escrita é um rito. De forma singular, há momentos nos quais a criação é inevitável. Daí, o poeta ver-se surpreendido pela poesia que avança sobre ele a qualquer instante.
 
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
ADRIANO EYSEN: Prefiro não eleger uma obra como predileta, mas trabalhar de forma incansável em busca do inatingível: uma obra que me fizesse silenciar definitivamente!
 
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
ADRIANO EYSEN: Acredito na criação como trabalho; estado de solidão que entrelaça emoção e intelecto. Um encontro solitário comigo mesmo no qual busco o rigor estético. Assim, dou ênfase à carpintaria do texto numa tentativa de revelar imagens poéticas de rara beleza lírica. É válido dizer que um texto pode nascer de um fluxo criador, de um instante de pura epifania, mas o alto nível de exigência do escritor pode levá-lo a reescrever uma obra aparentemente acabada.
 
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
ADRIANO EYSEN: Não saberia medir o tempo de criação de uma obra. Esse período de elaboração do texto tem a ver com algo de sagrado no qual se fundem o tempo Kronos e o Kairós. Na esteira desse pensamento, uma obra pode permanecer interminável.
 
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
ADRIANO EYSEN: Atualmente, faço doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e leciono Literatura Brasileira e Portuguesa na Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
 
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
ADRIANO EYSEN: Elaborei uma lista em que elejo o meu cânone, mas, neste momento, gostaria de destacar alguns para cumprir o protocolo: Machado de Assis, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Fernando Pessoa e João Guimarães Rosa.
 
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
ADRIANO EYSEN: Ler grandes autores (as) e, como nos ensinou Rainer Maria Rilke, “encontrar o centro vivo de sua atividade”. Enfim, alcançar a difícil lucidez de sua natureza, de seu mundo, sem se afastar dele.
 
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
ADRIANO EYSEN: Utilizo sempre meu nome. Ele faz parte da constituição identitária do meu ser! Afinal, já o ouvia ainda bebê quando acalentado pelas vozes de Didi e Joana, queridas mães negras, e por Trude Eysen, minha tão adorada genitora. Os pseudônimos só aparecem quando submeto os textos às bancas de concursos literários.
 
VALDECK: Como foi a tua infância?
ADRIANO EYSEN: Entre as encantarias do litoral e do sertão! Nesse trânsito lúdico aprendi a respeitar a natureza e a escutar homens e mulheres do campo com seus saberes cheios de ternura e beleza. Nasci na cidade grande, mas não me deixei contaminar pelo gás carbônico e nem pelo barulho infernal das máquinas. Posso dizer que tive o privilégio de ser criança; brincar no quintal da casa de meus avós, subir em árvores, ouvir cantigas de roda e tomar banho de chuva. Ser criança é nascer a cada instante para o dinâmico espetáculo da vida!
 
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
ADRIANO EYSEN: Dedico-me de forma visceral à leitura e à criação literária. Como acentuou Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego: “A arte tem valia porque nos tira de aqui”. Do contrário, nos perdemos na banalização da vida e nos tornamos portadores de uma cegueira assustadora.
 
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
ADRIANO EYSEN: Lembro-me com satisfação dos meus primeiros poemas publicados, no dia 27 de novembro de 1998, no jornal NoiteDia a convite de Anchieta Nery, professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual de Feira de Santana.
 
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
ADRIANO EYSEN: Além do grande exercício espiritual de ser pai, sou professor assistente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
 
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
ADRIANO EYSEN: Não me preocupo em transmitir mensagens. Não acredito na literatura como receituário de salvação da humanidade. Vejo a obra literária numa perspectiva de potencialização dos nossos sentidos. As mensagens, portanto, estão na dinâmica intelectual e afetiva que se estabelece entre leitor e texto.
 
VALDECK: Qual sua Religião?
ADRIANO EYSEN: A poesia é uma forma de religião! Nela o religare se caracteriza para além dos dogmas e doutrinas. Procuro cuidar da minha espiritualidade, cultivando minha relação com as energias vitais do universo mítico do Candomblé e do Espiritismo. Nesse entrelaçamento do sagrado, aprendi que há coisas que não devem ser ditas!
 
VALDECK: Quais seus planos como escritor?
ADRIANO EYSEN: Permanecer escritor em meio ao caos do terceiro milênio. De certo, ao viver num mundo regido pelo sistema perverso do mercado, é impossível não perceber que ser poeta é uma fatalidade! Sem a literatura, a vida para mim não basta!
 
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 23/01/2012
Código do texto: T3456384
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