LEANDRO FLORES É ENTREVISTADO POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS
Leandro Flores nasceu em 15 de dezembro de 1984, no Estado de São Paulo. Passou sua infância e adolescência morando no município de Cordeiros-BA, onde fez seus primeiros estudos. Aos 11 anos, mudou-se para a cidade de Condeúba e ingressou no Colégio Estadual de Condeúba para cursar o ensino fundamental, permanecendo lá até a conclusão do curso de Ensino Médio em 2005.
Em abril de 2008, fez sua primeira participação na Antologia “Bahia de Todos Em Contos”, pela Editoração e Revista OMNIRA, realizada na Biblioteca Pública do Estado, Salvador-BA. De lá para cá, participou de diversos projetos literários, inclusive na primeira edição de “Carta ao Presidente”, lançada durante a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Em 2009, recebeu da Câmara de Vereadores de Condeúba uma Moção de Congratulação pela participação em projetos na área de literatura.
Leandro sempre foi um motivador cultural em sua região, promovendo diversos eventos de propagação da arte e da cultura. Em fevereiro de 2011 foi homenageado em Salvador, pelo Projeto Fala Escritor.
Atualmente mora na cidade de Caculé-BA e trabalha em um projeto solo com uma conotação diferenciada de gêneros, intitulado “Sorriso de Pedra”. O livro faz uma analogia sobre as necessidades de um poeta moderno se reinventar para reencontrar seu espaço e cumprir o seu verdadeiro papel que é fazer poesia.
VALDECK: Quando e onde nasceu?
LEANDRO FLORES: Costumo dizer que sou um baiano de São Paulo, capital (Risos). Na verdade, nasci em São Paulo, no bairro Casa Verde, na capital, mas vim aqui para Bahia faz muito tempo, eu devia ter uns 6 a 8 anos quando mudamos para o município de Cordeiros-BA e desde então, eu me adotei como baiano. Gosto muito da Bahia, sem dúvida, é o povo mais alegre do mundo, seja na capital, seja no interior, a alegria do povo baiano é contagiante.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
LEANDRO FLORES: Conheço muitos lugares no Brasil, mas ainda não tive a oportunidade de conhecer outros países, quem sabe futuramente, isso é um projeto que tenho comigo. Por enquanto faço minhas andanças por aqui mesmo pelo Brasil que, aliás, é o melhor país do mundo!
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
LEANDRO FLORES: Escrevo o que vem na cabeça, depende da inspiração, do momento, e da necessidade de escrever. Sim, isso mesmo: necessidade! Porque os poetas se alimentam de ilusões, e precisam se abastecer de sonhos para continuarem existindo. A “fome poética” não é uma coisa premeditada, ela vem quando menos se espera e nem adianta tentar direcioná-la, pelo menos comigo não funciona assim. Você tem que “comer” o assunto naquele momento que sentiu vontade. Gosto de provocar o meu imaginário, não me prendo a um estilo ou gênero;
Há momentos particulares em que prefiro escrever um sentimento em forma de poemas; quando quero ser mais claro, objetivo, faço uma crônica ou coisa assim.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
LEANDRO FLORES: Para começar, sou o pior de todos os críticos, o mais exigente. O mais preocupado com o resultado final que é, sobretudo, a curiosidade em saber um pouco mais daquilo que leu ou escreveu.
Antes de tudo, escrevo para mim, sempre me coloco no lugar dos meus leitores e imagino o que eles gostariam que aquelas palavras se transformassem. Não gosto de usar linguagens figuradas, muito padronizadas, em que a mensagem geralmente fica restrita a interpretação de alguns, ou apenas do autor, nada contra esses textos, porém, o meu estilo de elaboração é mais abrangente e muito fácil de ser absorvido.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
LEANDRO FLORES: Gosto de textos intensos, chocantes, dramáticos. Geralmente as crônicas e os contos são aonde eu me encontro mais. Mas gosto também de poemas, textos curtos e subterfugidos.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
LEANDRO FLORES: De onde nascem eu não sei. Penso até que já estão todos prontos dentro de mim, só esperando o momento certo de surgirem no papel. Muitos dos meus textos parecem ter vida própria ao se direcionarem durante o processo de criação por uma temática diferente daquela imaginada. A inspiração é involuntária, geralmente aparece depois de uma boa dose de vinho ou de uma decepção por qualquer que seja (meus textos são melhores quando estou triste). Escrever para mim, é uma terapia. É um momento em que me encontro e me perco.
Sei lá. Sou bem diferente daquilo que escrevo, às vezes, crio coisas que não têm nada a ver comigo, de parar depois e pensar: poxa! Será que fui eu mesmo quem fez isso? E acho mesmo que tem que ter essa magia sabe, para se fazer um bom texto é preciso mergulhar até o fundo da imaginação e buscar tudo o que nossa mente tem para nos oferecer.
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
LEANDRO FLORES: Dependo muito. Há textos em que você escreve somente pela técnica e há outros em que realmente são ramificados pela inspiração do momento. Geralmente os textos que mais demoram são os escritos pela técnica, porque não há uma base sentimental. Mas como sou apaixonado pela escrita, não tenho muita dificuldade em produzir os meus textos. Na mão de um poeta, qualquer letra vira uma frase.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
LEANDRO FLORES: Tenho um romance infanto-juvenil que trabalho desde pequeno, já foi modificado diversas vezes, e ainda não está totalmente do jeito que gostaria. Muito dos textos são fragmentos de vivências pessoais ou frutos de algum sonho e que um dia pretendo publicar. O problema é que toda vez que pego o texto para reler, eu acabo fazendo algumas alterações e aí, a história sempre modifica. Gostaria até de usar um trecho do livro que se parece muito com que acabei de responder: “Às vezes é muito difícil mesmo, sabe? Já cheguei várias vezes a desistir de tudo. Rasgar ou queimar tudo que eu havia escrito. Jogar histórias inteiras no lixo. Parar completamente de escrever. Mas depois volto atrás e reescrevo tudo de novo. Sei lá, é difícil você fazer uma coisa sem ter certeza se aquilo que você está fazendo vai ser realizado. É como se você possuísse superpoderes e não pudesse usá-los”.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
LEANDRO FLORES: Já me aventurei em duas faculdades, porém, não terminei nenhuma, mas é uma questão de oportunidade e pretendo, sim, seguir carreira na literatura, mas antes tenho que me preparar e muito para isso, por enquanto, preparo as malas porque sei que a viagem é longa.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
LEANDRO FLORES: Li muitos os clássicos, admiro muito os grandes poetas que fizeram história em seus tempos, porém, hoje em dia tenho uma visão diferenciada de quem realmente me inspira, lógico, sem desprezar os clássicos, mas no momento, o poeta moderno, os blogueiros, os agentes das redes sociais são quem mais me inspiram. Sou também um deles, e sei da dificuldade que é fazer poesia no mundo de hoje, onde cada vez mais, a descensão cultural é uma realidade e o poeta tem que descobrir maneiras “ilusionistas” até para fazer com que sua poesia sobreviva e se adeque aos novos tempos. Neste contexto, a internet chegou para inovar a forma de mobilizar poesia. Para o artista nos dias atuais é uma forma diferente de mostrar o seu trabalho e se estabelecer dentro de uma camada social onde a maioria das pessoas pensa igual ou perecida. O blog me ajudou muito nesse sentido. Fez de mim a pessoa que sou hoje, não só no sentido de notoriedade popular, mas pela maneira, digamos, diferente que encontrei em estimular a minha carreira literária. Antes tudo o que criava era depositado nos fundos das gavetas ou mandava logo para a editora, hoje eu publico nas páginas do meu blog e ainda ouço a massa crítica popular antes de publicar na editora.
Para responder a sua pergunta com mais objetividade, gostaria de citar aqui alguns desses guerreiros (poetas, escritores e blogueiros) que fazem diferença no mundo da poesia: Antônio Santana, Carlos Souza, Renata Rimet, Valdeck Almeida de Jesus, Adriana Faustino, Dirce Saléh, Rosana Paulo, Clarisse Queiros, Conceição Oliveira Santos, Débora Benvenut, Pathy Flor, Letícia Calmon, Susely Antoniolli, Fabiana Buono e outros. São essas pessoas que me inspiram.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
LEANDRO FLORES: Primeiramente o autor precisa ter vocação, sem vocação não há inspiração, e depois, o conhecimento que é a chave de tudo. Um autor precisa ler bastante, estar atento a tudo que se passa a sua volta para transformar em palavras o que ninguém talvez consiga enxergar. O autor, antes de tudo é um mensageiro do seu imaginário. Se ele não tiver competência de traduzir da forma mais clara possível, ninguém o compreende ou será mal interpretado.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
LEANDRO FLORES: Gosto de meu nome. Acho que tem que haver essa originalidade. O autor precisa se mostrar, precisa passar essa atmosfera de sinceridade para o leitor e no meu entender, a maneira mais adequada para fazer isso é expondo o seu próprio nome. E além do mais, gosto do sobrenome “Flores” por motivos óbvios: têm coisa mais bonita no mundo do que as flores?
VALDECK: Como foi a tua infância?
LEANDRO FLORES: Eu era um garoto tímido que odiava falar em público, porém, tinha um espírito comunicativo e sonhador. Possuía poucos amigos e sempre me apaixonava pelas garotas mais bonitas da escola. Como na maioria das vezes, por causa da minha timidez, não obtinha sucesso, refugiava-me nos livros. Mas até os livros eram distantes para mim, pois morava numa área em que não tinha acesso às bibliotecas, portanto, lia apenas as histórias dos livros didáticos. Li todos que encontrei pelo caminho. Até que resolvi inventar as minhas próprias histórias. Foi a partir daí que descobri minha vocação literária e a certeza absoluta que poderia ser qualquer coisa que quisesse, até mesmo um inventor de histórias...
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
LEANDRO FLORES: Sou uma pessoa que acima de tudo é apaixonado pela vida. Curto muito viver. E isso já é uma diversão. Posso dizer que sou muito feliz. Sem hipocrisia. Amo minha vida. Gosto do que faço. Das coisas que consegui e não possuo grandes ambições. Sou feliz com o que tenho. Com o que sou. E acho que isso já é o bastante. Costumo levar a vida de maneira simples. Sem muitas complicações. Sem procurar entender as razoes de algum eventual fracasso. Acho que essa é a receita da minha felicidade. Porém, tenho minhas obrigações e cumpro todas elas com responsabilidades. E escrever é uma delas.
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
LEANDRO FLORES: Tem sim, “Minha Prima Diana”. É um conto que narra um episódio de dupla interpretação. O leitor é quem decide o que realmente aconteceu na história. O engraçado é que esse texto foi produzido em quinze minutos para uma colega que precisava urgentemente de notas em literatura. Ela não tinha competência em produzir uma história e me pediu para rabiscar qualquer coisa no papel, já faltando quinze minutos para a aula começar, eu já tinha a ideia do conto na cabeça e acabei colocando no papel e cedendo os direitos autorais para ela. Resultado: Foi a melhor nota da sala, inclusive, bem maior que a minha. Depois, é claro, recuperei o texto e publiquei. Foi minha primeira publicação.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
LEANDRO FLORES: Sim. Sou Faixa Preta de Karate e, além de dar aulas em academias, trabalho com projetos sociais voltados para formação de crianças e adolescentes na cidade de Caculé-BA.
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
LEANDRO FLORES: Sim, lógico. Se um texto não tiver uma mensagem, uma tradução, na minha visão, será sempre um amontoado de letras. Sem valor algum. Esse é o papel dos poetas, encontrar uma mensagem num amontoado de letras.
VALDECK: Qual sua Religião?
LEANDRO FLORES: Sou de uma família tradicional cristã protestante, porém sou meio laico em relação à religião, tenho os meus princípios, as minhas crenças e minhas convicções. Acredito muito em Deus e procuro andar corretamente, sem perder de vista, os meus princípios, alimentando sempre minha fé. Que é o mais importante.
VALDECK: Quais são os seus planos como escritor?
LEANDRO FLORES: Continuar escrevendo, com certeza. E o meu grande sonho é continuar encontrando pessoas que leem e gostem do que escrevo.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Foto: Carlos Souza, Leandro Flores (meio) e Antônio Santana
Em abril de 2008, fez sua primeira participação na Antologia “Bahia de Todos Em Contos”, pela Editoração e Revista OMNIRA, realizada na Biblioteca Pública do Estado, Salvador-BA. De lá para cá, participou de diversos projetos literários, inclusive na primeira edição de “Carta ao Presidente”, lançada durante a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Em 2009, recebeu da Câmara de Vereadores de Condeúba uma Moção de Congratulação pela participação em projetos na área de literatura.
Leandro sempre foi um motivador cultural em sua região, promovendo diversos eventos de propagação da arte e da cultura. Em fevereiro de 2011 foi homenageado em Salvador, pelo Projeto Fala Escritor.
Atualmente mora na cidade de Caculé-BA e trabalha em um projeto solo com uma conotação diferenciada de gêneros, intitulado “Sorriso de Pedra”. O livro faz uma analogia sobre as necessidades de um poeta moderno se reinventar para reencontrar seu espaço e cumprir o seu verdadeiro papel que é fazer poesia.
VALDECK: Quando e onde nasceu?
LEANDRO FLORES: Costumo dizer que sou um baiano de São Paulo, capital (Risos). Na verdade, nasci em São Paulo, no bairro Casa Verde, na capital, mas vim aqui para Bahia faz muito tempo, eu devia ter uns 6 a 8 anos quando mudamos para o município de Cordeiros-BA e desde então, eu me adotei como baiano. Gosto muito da Bahia, sem dúvida, é o povo mais alegre do mundo, seja na capital, seja no interior, a alegria do povo baiano é contagiante.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
LEANDRO FLORES: Conheço muitos lugares no Brasil, mas ainda não tive a oportunidade de conhecer outros países, quem sabe futuramente, isso é um projeto que tenho comigo. Por enquanto faço minhas andanças por aqui mesmo pelo Brasil que, aliás, é o melhor país do mundo!
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
LEANDRO FLORES: Escrevo o que vem na cabeça, depende da inspiração, do momento, e da necessidade de escrever. Sim, isso mesmo: necessidade! Porque os poetas se alimentam de ilusões, e precisam se abastecer de sonhos para continuarem existindo. A “fome poética” não é uma coisa premeditada, ela vem quando menos se espera e nem adianta tentar direcioná-la, pelo menos comigo não funciona assim. Você tem que “comer” o assunto naquele momento que sentiu vontade. Gosto de provocar o meu imaginário, não me prendo a um estilo ou gênero;
Há momentos particulares em que prefiro escrever um sentimento em forma de poemas; quando quero ser mais claro, objetivo, faço uma crônica ou coisa assim.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
LEANDRO FLORES: Para começar, sou o pior de todos os críticos, o mais exigente. O mais preocupado com o resultado final que é, sobretudo, a curiosidade em saber um pouco mais daquilo que leu ou escreveu.
Antes de tudo, escrevo para mim, sempre me coloco no lugar dos meus leitores e imagino o que eles gostariam que aquelas palavras se transformassem. Não gosto de usar linguagens figuradas, muito padronizadas, em que a mensagem geralmente fica restrita a interpretação de alguns, ou apenas do autor, nada contra esses textos, porém, o meu estilo de elaboração é mais abrangente e muito fácil de ser absorvido.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
LEANDRO FLORES: Gosto de textos intensos, chocantes, dramáticos. Geralmente as crônicas e os contos são aonde eu me encontro mais. Mas gosto também de poemas, textos curtos e subterfugidos.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
LEANDRO FLORES: De onde nascem eu não sei. Penso até que já estão todos prontos dentro de mim, só esperando o momento certo de surgirem no papel. Muitos dos meus textos parecem ter vida própria ao se direcionarem durante o processo de criação por uma temática diferente daquela imaginada. A inspiração é involuntária, geralmente aparece depois de uma boa dose de vinho ou de uma decepção por qualquer que seja (meus textos são melhores quando estou triste). Escrever para mim, é uma terapia. É um momento em que me encontro e me perco.
Sei lá. Sou bem diferente daquilo que escrevo, às vezes, crio coisas que não têm nada a ver comigo, de parar depois e pensar: poxa! Será que fui eu mesmo quem fez isso? E acho mesmo que tem que ter essa magia sabe, para se fazer um bom texto é preciso mergulhar até o fundo da imaginação e buscar tudo o que nossa mente tem para nos oferecer.
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
LEANDRO FLORES: Dependo muito. Há textos em que você escreve somente pela técnica e há outros em que realmente são ramificados pela inspiração do momento. Geralmente os textos que mais demoram são os escritos pela técnica, porque não há uma base sentimental. Mas como sou apaixonado pela escrita, não tenho muita dificuldade em produzir os meus textos. Na mão de um poeta, qualquer letra vira uma frase.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
LEANDRO FLORES: Tenho um romance infanto-juvenil que trabalho desde pequeno, já foi modificado diversas vezes, e ainda não está totalmente do jeito que gostaria. Muito dos textos são fragmentos de vivências pessoais ou frutos de algum sonho e que um dia pretendo publicar. O problema é que toda vez que pego o texto para reler, eu acabo fazendo algumas alterações e aí, a história sempre modifica. Gostaria até de usar um trecho do livro que se parece muito com que acabei de responder: “Às vezes é muito difícil mesmo, sabe? Já cheguei várias vezes a desistir de tudo. Rasgar ou queimar tudo que eu havia escrito. Jogar histórias inteiras no lixo. Parar completamente de escrever. Mas depois volto atrás e reescrevo tudo de novo. Sei lá, é difícil você fazer uma coisa sem ter certeza se aquilo que você está fazendo vai ser realizado. É como se você possuísse superpoderes e não pudesse usá-los”.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
LEANDRO FLORES: Já me aventurei em duas faculdades, porém, não terminei nenhuma, mas é uma questão de oportunidade e pretendo, sim, seguir carreira na literatura, mas antes tenho que me preparar e muito para isso, por enquanto, preparo as malas porque sei que a viagem é longa.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
LEANDRO FLORES: Li muitos os clássicos, admiro muito os grandes poetas que fizeram história em seus tempos, porém, hoje em dia tenho uma visão diferenciada de quem realmente me inspira, lógico, sem desprezar os clássicos, mas no momento, o poeta moderno, os blogueiros, os agentes das redes sociais são quem mais me inspiram. Sou também um deles, e sei da dificuldade que é fazer poesia no mundo de hoje, onde cada vez mais, a descensão cultural é uma realidade e o poeta tem que descobrir maneiras “ilusionistas” até para fazer com que sua poesia sobreviva e se adeque aos novos tempos. Neste contexto, a internet chegou para inovar a forma de mobilizar poesia. Para o artista nos dias atuais é uma forma diferente de mostrar o seu trabalho e se estabelecer dentro de uma camada social onde a maioria das pessoas pensa igual ou perecida. O blog me ajudou muito nesse sentido. Fez de mim a pessoa que sou hoje, não só no sentido de notoriedade popular, mas pela maneira, digamos, diferente que encontrei em estimular a minha carreira literária. Antes tudo o que criava era depositado nos fundos das gavetas ou mandava logo para a editora, hoje eu publico nas páginas do meu blog e ainda ouço a massa crítica popular antes de publicar na editora.
Para responder a sua pergunta com mais objetividade, gostaria de citar aqui alguns desses guerreiros (poetas, escritores e blogueiros) que fazem diferença no mundo da poesia: Antônio Santana, Carlos Souza, Renata Rimet, Valdeck Almeida de Jesus, Adriana Faustino, Dirce Saléh, Rosana Paulo, Clarisse Queiros, Conceição Oliveira Santos, Débora Benvenut, Pathy Flor, Letícia Calmon, Susely Antoniolli, Fabiana Buono e outros. São essas pessoas que me inspiram.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
LEANDRO FLORES: Primeiramente o autor precisa ter vocação, sem vocação não há inspiração, e depois, o conhecimento que é a chave de tudo. Um autor precisa ler bastante, estar atento a tudo que se passa a sua volta para transformar em palavras o que ninguém talvez consiga enxergar. O autor, antes de tudo é um mensageiro do seu imaginário. Se ele não tiver competência de traduzir da forma mais clara possível, ninguém o compreende ou será mal interpretado.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
LEANDRO FLORES: Gosto de meu nome. Acho que tem que haver essa originalidade. O autor precisa se mostrar, precisa passar essa atmosfera de sinceridade para o leitor e no meu entender, a maneira mais adequada para fazer isso é expondo o seu próprio nome. E além do mais, gosto do sobrenome “Flores” por motivos óbvios: têm coisa mais bonita no mundo do que as flores?
VALDECK: Como foi a tua infância?
LEANDRO FLORES: Eu era um garoto tímido que odiava falar em público, porém, tinha um espírito comunicativo e sonhador. Possuía poucos amigos e sempre me apaixonava pelas garotas mais bonitas da escola. Como na maioria das vezes, por causa da minha timidez, não obtinha sucesso, refugiava-me nos livros. Mas até os livros eram distantes para mim, pois morava numa área em que não tinha acesso às bibliotecas, portanto, lia apenas as histórias dos livros didáticos. Li todos que encontrei pelo caminho. Até que resolvi inventar as minhas próprias histórias. Foi a partir daí que descobri minha vocação literária e a certeza absoluta que poderia ser qualquer coisa que quisesse, até mesmo um inventor de histórias...
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
LEANDRO FLORES: Sou uma pessoa que acima de tudo é apaixonado pela vida. Curto muito viver. E isso já é uma diversão. Posso dizer que sou muito feliz. Sem hipocrisia. Amo minha vida. Gosto do que faço. Das coisas que consegui e não possuo grandes ambições. Sou feliz com o que tenho. Com o que sou. E acho que isso já é o bastante. Costumo levar a vida de maneira simples. Sem muitas complicações. Sem procurar entender as razoes de algum eventual fracasso. Acho que essa é a receita da minha felicidade. Porém, tenho minhas obrigações e cumpro todas elas com responsabilidades. E escrever é uma delas.
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
LEANDRO FLORES: Tem sim, “Minha Prima Diana”. É um conto que narra um episódio de dupla interpretação. O leitor é quem decide o que realmente aconteceu na história. O engraçado é que esse texto foi produzido em quinze minutos para uma colega que precisava urgentemente de notas em literatura. Ela não tinha competência em produzir uma história e me pediu para rabiscar qualquer coisa no papel, já faltando quinze minutos para a aula começar, eu já tinha a ideia do conto na cabeça e acabei colocando no papel e cedendo os direitos autorais para ela. Resultado: Foi a melhor nota da sala, inclusive, bem maior que a minha. Depois, é claro, recuperei o texto e publiquei. Foi minha primeira publicação.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
LEANDRO FLORES: Sim. Sou Faixa Preta de Karate e, além de dar aulas em academias, trabalho com projetos sociais voltados para formação de crianças e adolescentes na cidade de Caculé-BA.
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
LEANDRO FLORES: Sim, lógico. Se um texto não tiver uma mensagem, uma tradução, na minha visão, será sempre um amontoado de letras. Sem valor algum. Esse é o papel dos poetas, encontrar uma mensagem num amontoado de letras.
VALDECK: Qual sua Religião?
LEANDRO FLORES: Sou de uma família tradicional cristã protestante, porém sou meio laico em relação à religião, tenho os meus princípios, as minhas crenças e minhas convicções. Acredito muito em Deus e procuro andar corretamente, sem perder de vista, os meus princípios, alimentando sempre minha fé. Que é o mais importante.
VALDECK: Quais são os seus planos como escritor?
LEANDRO FLORES: Continuar escrevendo, com certeza. E o meu grande sonho é continuar encontrando pessoas que leem e gostem do que escrevo.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Foto: Carlos Souza, Leandro Flores (meio) e Antônio Santana