ROSANA PAULO É ENTREVISTADA POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS
Poetisa e Contadora de Histórias, Rosana Moreira Silva Paulo é casada e mãe de dois filhos. Participou do Concurso SESI de poesias, ganhando o segundo lugar com "Ensaio sobre a Maldade", em 2008, e com "Ecos de uma Louca", em 2011, além do Troféu Perfomance/2011, pela interpretação da referida poesia. Frequentou vários cursos livres de teatro no SESI, Sitorne e Vila Velha, além de cursos de contação de história e oficinas de poesia. Atualmente conta histórias, como voluntária, em escolas públicas, asilos, bibliotecas e também nas Aldeias SOS, através do “Instituto Amantes do Conhecimento”. Participa do "Projeto Fala Escritor", do CEPA (Círculo de Estudo Pensamento e Ação), da "Confraria de Poetas e Artistas pela Paz - CAPPAZ" e do "Projeto Brincando de Arte e Vida", onde atua na peça infantil "Lua, a garota Sol". Participou de três livros de poesias: "Antologia Poética do Trabalhador da Indústria", através do SESI; "II Antologia Mãos que Falam" e "II Antologia Amor em Verso e Prosa", do "Projeto Alma Brasileira"
VALDECK: Quando e onde nasceu?
ROSANA: Nasci na cidade da Bahia, Salvador, no dia 24 de Abril de 1965. Minha mãe conta que chovia a cântaros, de um parto difícil, mas não chorei, o médico me colocou de ponta cabeça e me deu uma palmada. Só então chorei e abri os pulmões para receber o ar que necessitava para viver.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
ROSANA: Só conheço algumas capitais de estados do Nordeste: Aracaju, Natal, Recife e Alagoas, mas desejo conhecer o resto do meu país e sonho em visitar o "Velho Mundo".
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
ROSANA: Não sei ao certo quando comecei a escrever, mas foi há mais ou menos oito anos que escrevi o primeiro texto que realmente me importou. Foi uma história para meu filho Rafael, depois escrevi uma história para a minha filha Catharina. Só depois do nascimento dos meus filhos, eu tomei gosto de contar história. Contava para eles desde que eles eram bebês. Depois criei uma Oficina de Literatura onde eu moro. Eu escrevia ou adaptava uma história, escolhia a trilha sonora, procurava os figurinos (eu contava com a ajuda dos amigos e vizinhos), eu e as crianças fazíamos um cenário simples, ensaiávamos e apresentávamos para os familiares, vizinhos e amigos. Eu narrava a história e eles dramatizavam. Usávamos nossa imaginação e criatividade, era uma grande brincadeira, fazíamos arte nos dois sentidos. Foi uma experiência gratificante, aprendi muito com eles. Foi quando tudo começou, a poesia veio depois. Comecei a escrever como uma espécie de desabafo e para lidar com conflitos internos, sentimentos e situações que não compreendia e que me inquietavam, sem pretensões literárias. Tem uma poesia minha, "Dedicatória", que diz "Brinco com o que me assusta e assim desato os meus nós...".
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
ROSANA: Não estou certa sobre isso, acho que os dois mundos, o imaginário e o real se misturam de tal forma na minha escrita, que não é possível limitar onde um começa e o outro termina. Escrevo e gosto mais de escrever poesias, sou eclética e escrevo sobre variados temas, desde que me causem alguma emoção.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
ROSANA: Ao escrever não tenho compromisso com o leitor e nem com ninguém, eu escrevo justamente para fugir dos compromissos, sem obrigação de agradar (às vezes até agrado). Nesse momento só existe eu e à poesia, envolvida uma com a outra totalmente.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
ROSANA: Eles nascem de forma espontânea, e não faço a mínima ideia de onde vem minha inspiração. Eu não sei escrever sobre temas preestabelecidos, já aconteceu de me pedirem para escrever uma poesia sobre determinado assunto, até tentei, mas não gostei do resultado. Uma vez fiz um curso de customização de roupas e a professora me pediu uma poesia sobre o curso, neguei e disse, de brincadeira, que não escrevia por encomenda, mas depois quando eu nem pensava mais no assunto, saiu a poesia "Saco de Linha". Escrevo em qualquer hora e lugar, às vezes acordo no meio da noite, parece que a poesia fica me “cutucando”. Uma vez pensei "não vou levantar, não quero escrever, quero dormir", mas não adiantou. Outra vez estava cozinhando e queimei a comida. "Ecos de Uma Louca", por exemplo, escrevi no ônibus.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
ROSANA: Eu gosto de "Ensaio Sobre a Maldade", foi a primeira poesia que escrevi totalmente sem amarras. Na verdade lembro-a de cor e salteado, de tanto que já recitei: "Os loucos estes me atraem, entedia-me os normais, quero a mulher imoral, o cafajeste amoral, o "boca do inferno poeta", eu sou aquela Rosa, perigosa e maldosa..."
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
ROSANA: Com facilidade, escrevo sobre o que sinto, vejo, imagino, vivo, desejo, leio, sobre o que acredito, sobre o que não creio. Mas já aconteceu de que depois de algum tempo que escrevi uma poesia, saírem versos novos. Foi assim com "Ariano torto".
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
ROSANA: Não sei dizer, porque não considero que meus escritos estejam realmente prontos. Para isso eu teria de estar satisfeita com o que escrevo e não estou, eu nunca coloco o ponto final realmente, deixo sempre meus escritos “em aberto”, não conto o tempo e nem ao menos dato o que escrevo.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
ROSANA: Sim, me formei em Ciências Contábeis, pela Fundação Visconde de Cayru. Quero continuar a escrever, o quer vier depois vem por acréscimo e será bem vindo.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
ROSANA: Admiro a obra de muitos escritores, mas tenho carinho especial por Clarice Lispector, gosto da intensidade que ela transmite em seus textos. Também sou apaixonada pela poesia de Florbela Espanca. Inclusive, minha poesia já foi influenciada pelo estilo de outros poetas do meu convívio.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
ROSANA: Eu diria caneta e papel, mas já tivemos a máquina de escrever e agora temos o computador. Brincadeiras à parte, acho que escrever bem é algo subjetivo, não tem regras. Eu gosto de textos que me fazem desejar continuar lendo, que me surpreendam, me inquietem e me façam pensar, me deem prazer ao ler; que quando chegar ao final, eu sinta saudades, mas que o texto de alguma forma me acompanhe.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
ROSANA: Quando comecei a escrever usava o pseudônimo de Rosa Flor, acho que me escondia atrás desse codinome, pois me incomodava que as pessoas lessem o que eu escrevia. Era como se eu mostrasse o que se passava dentro de mim, o meu lado oculto, que muito poucos passeiam, mas depois fui me acostumando, achando interessante esse compartilhar poético e fui revelando meu nome, porém nunca me revelo inteira.
VALDECK: Como foi a tua infância?
ROSANA: Minha infância foi boa, pois tive o que uma criança mais precisa, o amor dos meus pais. Tenho boas recordações daquele tempo. Todos os domingos eu e minha irmã íamos à igreja, depois meus pais nos levavam para passear. Gostava de ir à praia, ao parque, ao circo e também das vaquejadas. Lembro do São João com balões de verdade, fogos e fogueira, meu pai pendurava laranjas e milhos nas plantas do nosso pequeno jardim; do Natal com areia e folhas de pitanga no chão, do cheiro do bolo que minha mãe fazia, das cartinhas para Papai Noel; do carnaval não gostava, tinha medo das "caretas", eu era medrosa e tinha pavor de trovoada. Morávamos em uma casa bem pequena, numa rua sem saída, sem luxos, mas com o necessário para viver dignamente. A parte chata era a "dona da rua", que não gostava que a gente brincasse de bola, ela furava todas, estava sempre implicando com as nossas brincadeiras e brigando com a gente. Eu sempre gostei muito de ler, lia à sombra dos abacateiros, minha mãe sempre levava eu e minha irmã para a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, onde eu ficava encantada com as contadoras de histórias. Ela comprava livros para nós duas também, lembro de uma coleção de livros de capa dura que ela nos deu, com histórias brasileiras muito bonitas. Meu pai, uma vez por semana, comprava revistas para nós. Aprendi a ler com a Revista Recreio. Eu gostava de desenhar e pintar. E eu tinha o sonho de toda criança, uma conta na barraca de doces. Meus pais, dentro do possível, realizavam os meus desejos, na verdade eu era mimada e dengosa, mas eles me deram uma boa educação.
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
ROSANA: A minha principal diversão é a arte, gosto muito de contar história, fazer teatro, cantar (eu participo do coral da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA), escrever, declamar, enfim fazer arte.
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
ROSANA: Sim. "Olhos de Capitu" e "Ensaio Sobre a Maldade", que foram os primeiros trabalhos que publiquei, foi uma emoção muito grande ver minhas poesias em um livro tão bonito, com capa dura, papel de qualidade, ilustrações. Foi em 2008, pelo SESI de Salvador.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritora?
ROSANA: Sim, sou funcionária pública estadual, atualmente trabalho na área financeira da EBDA, uma empresa pública estadual, que trabalha em prol do desenvolvimento da Agricultura Familiar na Bahia.
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
ROSANA: Não tenho preocupação em passar nenhuma mensagem, mas o que escrevo tem um significado profundo para mim, então isso acontece naturalmente, me impressiona o que as pessoas que leem o que escrevo dizem enxergar nos meus textos.
VALDECK: Qual sua Religião?
ROSANA: Fui criada na Religião Católica, fui batizada, fiz primeira comunhão, me crismei e casei na igreja. Já frequentei o Espiritismo por um tempo, mas não posso dizer que faço parte de alguma religião, mas tenho fé em Deus e acredito em uma força superior que movimenta o Universo.
VALDECK: Quais seus planos como escritora?
ROSANA: Quero criar um blog de poesia, mas também quero publicar um livro, acho muito bom e interessante publicar na Internet, o alcance é grande, se atinge um público maior, mas gosto mais de livro de papel, de poder levar ele para onde eu quiser. Vão me dizer "mas têm os tablets", mas para mim não é a mesma coisa. Gosto do cheirinho de livro novo, do contato com o papel. De abrir o livro, de virar a página, de marcar a página para depois continuar a leitura e saber que ele vai estar lá me esperando. Mas gosto de livro usado também, eu fico imaginado como seriam as pessoas que leram aquele livro, onde eles estarão. Tenho uma relação de amor e paixão com os livros, eles sempre foram meus companheiros, meus amantes.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
VALDECK: Quando e onde nasceu?
ROSANA: Nasci na cidade da Bahia, Salvador, no dia 24 de Abril de 1965. Minha mãe conta que chovia a cântaros, de um parto difícil, mas não chorei, o médico me colocou de ponta cabeça e me deu uma palmada. Só então chorei e abri os pulmões para receber o ar que necessitava para viver.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
ROSANA: Só conheço algumas capitais de estados do Nordeste: Aracaju, Natal, Recife e Alagoas, mas desejo conhecer o resto do meu país e sonho em visitar o "Velho Mundo".
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
ROSANA: Não sei ao certo quando comecei a escrever, mas foi há mais ou menos oito anos que escrevi o primeiro texto que realmente me importou. Foi uma história para meu filho Rafael, depois escrevi uma história para a minha filha Catharina. Só depois do nascimento dos meus filhos, eu tomei gosto de contar história. Contava para eles desde que eles eram bebês. Depois criei uma Oficina de Literatura onde eu moro. Eu escrevia ou adaptava uma história, escolhia a trilha sonora, procurava os figurinos (eu contava com a ajuda dos amigos e vizinhos), eu e as crianças fazíamos um cenário simples, ensaiávamos e apresentávamos para os familiares, vizinhos e amigos. Eu narrava a história e eles dramatizavam. Usávamos nossa imaginação e criatividade, era uma grande brincadeira, fazíamos arte nos dois sentidos. Foi uma experiência gratificante, aprendi muito com eles. Foi quando tudo começou, a poesia veio depois. Comecei a escrever como uma espécie de desabafo e para lidar com conflitos internos, sentimentos e situações que não compreendia e que me inquietavam, sem pretensões literárias. Tem uma poesia minha, "Dedicatória", que diz "Brinco com o que me assusta e assim desato os meus nós...".
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
ROSANA: Não estou certa sobre isso, acho que os dois mundos, o imaginário e o real se misturam de tal forma na minha escrita, que não é possível limitar onde um começa e o outro termina. Escrevo e gosto mais de escrever poesias, sou eclética e escrevo sobre variados temas, desde que me causem alguma emoção.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
ROSANA: Ao escrever não tenho compromisso com o leitor e nem com ninguém, eu escrevo justamente para fugir dos compromissos, sem obrigação de agradar (às vezes até agrado). Nesse momento só existe eu e à poesia, envolvida uma com a outra totalmente.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
ROSANA: Eles nascem de forma espontânea, e não faço a mínima ideia de onde vem minha inspiração. Eu não sei escrever sobre temas preestabelecidos, já aconteceu de me pedirem para escrever uma poesia sobre determinado assunto, até tentei, mas não gostei do resultado. Uma vez fiz um curso de customização de roupas e a professora me pediu uma poesia sobre o curso, neguei e disse, de brincadeira, que não escrevia por encomenda, mas depois quando eu nem pensava mais no assunto, saiu a poesia "Saco de Linha". Escrevo em qualquer hora e lugar, às vezes acordo no meio da noite, parece que a poesia fica me “cutucando”. Uma vez pensei "não vou levantar, não quero escrever, quero dormir", mas não adiantou. Outra vez estava cozinhando e queimei a comida. "Ecos de Uma Louca", por exemplo, escrevi no ônibus.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
ROSANA: Eu gosto de "Ensaio Sobre a Maldade", foi a primeira poesia que escrevi totalmente sem amarras. Na verdade lembro-a de cor e salteado, de tanto que já recitei: "Os loucos estes me atraem, entedia-me os normais, quero a mulher imoral, o cafajeste amoral, o "boca do inferno poeta", eu sou aquela Rosa, perigosa e maldosa..."
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
ROSANA: Com facilidade, escrevo sobre o que sinto, vejo, imagino, vivo, desejo, leio, sobre o que acredito, sobre o que não creio. Mas já aconteceu de que depois de algum tempo que escrevi uma poesia, saírem versos novos. Foi assim com "Ariano torto".
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
ROSANA: Não sei dizer, porque não considero que meus escritos estejam realmente prontos. Para isso eu teria de estar satisfeita com o que escrevo e não estou, eu nunca coloco o ponto final realmente, deixo sempre meus escritos “em aberto”, não conto o tempo e nem ao menos dato o que escrevo.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
ROSANA: Sim, me formei em Ciências Contábeis, pela Fundação Visconde de Cayru. Quero continuar a escrever, o quer vier depois vem por acréscimo e será bem vindo.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
ROSANA: Admiro a obra de muitos escritores, mas tenho carinho especial por Clarice Lispector, gosto da intensidade que ela transmite em seus textos. Também sou apaixonada pela poesia de Florbela Espanca. Inclusive, minha poesia já foi influenciada pelo estilo de outros poetas do meu convívio.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
ROSANA: Eu diria caneta e papel, mas já tivemos a máquina de escrever e agora temos o computador. Brincadeiras à parte, acho que escrever bem é algo subjetivo, não tem regras. Eu gosto de textos que me fazem desejar continuar lendo, que me surpreendam, me inquietem e me façam pensar, me deem prazer ao ler; que quando chegar ao final, eu sinta saudades, mas que o texto de alguma forma me acompanhe.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
ROSANA: Quando comecei a escrever usava o pseudônimo de Rosa Flor, acho que me escondia atrás desse codinome, pois me incomodava que as pessoas lessem o que eu escrevia. Era como se eu mostrasse o que se passava dentro de mim, o meu lado oculto, que muito poucos passeiam, mas depois fui me acostumando, achando interessante esse compartilhar poético e fui revelando meu nome, porém nunca me revelo inteira.
VALDECK: Como foi a tua infância?
ROSANA: Minha infância foi boa, pois tive o que uma criança mais precisa, o amor dos meus pais. Tenho boas recordações daquele tempo. Todos os domingos eu e minha irmã íamos à igreja, depois meus pais nos levavam para passear. Gostava de ir à praia, ao parque, ao circo e também das vaquejadas. Lembro do São João com balões de verdade, fogos e fogueira, meu pai pendurava laranjas e milhos nas plantas do nosso pequeno jardim; do Natal com areia e folhas de pitanga no chão, do cheiro do bolo que minha mãe fazia, das cartinhas para Papai Noel; do carnaval não gostava, tinha medo das "caretas", eu era medrosa e tinha pavor de trovoada. Morávamos em uma casa bem pequena, numa rua sem saída, sem luxos, mas com o necessário para viver dignamente. A parte chata era a "dona da rua", que não gostava que a gente brincasse de bola, ela furava todas, estava sempre implicando com as nossas brincadeiras e brigando com a gente. Eu sempre gostei muito de ler, lia à sombra dos abacateiros, minha mãe sempre levava eu e minha irmã para a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, onde eu ficava encantada com as contadoras de histórias. Ela comprava livros para nós duas também, lembro de uma coleção de livros de capa dura que ela nos deu, com histórias brasileiras muito bonitas. Meu pai, uma vez por semana, comprava revistas para nós. Aprendi a ler com a Revista Recreio. Eu gostava de desenhar e pintar. E eu tinha o sonho de toda criança, uma conta na barraca de doces. Meus pais, dentro do possível, realizavam os meus desejos, na verdade eu era mimada e dengosa, mas eles me deram uma boa educação.
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
ROSANA: A minha principal diversão é a arte, gosto muito de contar história, fazer teatro, cantar (eu participo do coral da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA), escrever, declamar, enfim fazer arte.
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
ROSANA: Sim. "Olhos de Capitu" e "Ensaio Sobre a Maldade", que foram os primeiros trabalhos que publiquei, foi uma emoção muito grande ver minhas poesias em um livro tão bonito, com capa dura, papel de qualidade, ilustrações. Foi em 2008, pelo SESI de Salvador.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritora?
ROSANA: Sim, sou funcionária pública estadual, atualmente trabalho na área financeira da EBDA, uma empresa pública estadual, que trabalha em prol do desenvolvimento da Agricultura Familiar na Bahia.
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
ROSANA: Não tenho preocupação em passar nenhuma mensagem, mas o que escrevo tem um significado profundo para mim, então isso acontece naturalmente, me impressiona o que as pessoas que leem o que escrevo dizem enxergar nos meus textos.
VALDECK: Qual sua Religião?
ROSANA: Fui criada na Religião Católica, fui batizada, fiz primeira comunhão, me crismei e casei na igreja. Já frequentei o Espiritismo por um tempo, mas não posso dizer que faço parte de alguma religião, mas tenho fé em Deus e acredito em uma força superior que movimenta o Universo.
VALDECK: Quais seus planos como escritora?
ROSANA: Quero criar um blog de poesia, mas também quero publicar um livro, acho muito bom e interessante publicar na Internet, o alcance é grande, se atinge um público maior, mas gosto mais de livro de papel, de poder levar ele para onde eu quiser. Vão me dizer "mas têm os tablets", mas para mim não é a mesma coisa. Gosto do cheirinho de livro novo, do contato com o papel. De abrir o livro, de virar a página, de marcar a página para depois continuar a leitura e saber que ele vai estar lá me esperando. Mas gosto de livro usado também, eu fico imaginado como seriam as pessoas que leram aquele livro, onde eles estarão. Tenho uma relação de amor e paixão com os livros, eles sempre foram meus companheiros, meus amantes.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com