BRUNO RESENDE É ENTREVISTADO POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS
Natural de Viçosa-MG, 42 anos. Formou-se em Letras e Artes pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde iniciou sua vida profissional como professor de línguas, dirigindo escolas como a APAE de Teixeiras e o Colégio Semear, esse hoje extinto. Durante o período acadêmico cursou Artes Cênicas pela Oficina de Criatividade da UFV. A partir do ano de 1983 iniciou seus trabalhos culturais, publicando poemas no folhetim “A Fauna”, de Jose Maria Salgado, em Viçosa, quando cursava a oitava série.
Em 2004 passa a publicar contos em seu blog, quando em 2005 inicia o projeto nova coletânea, publicando novos autores. Mudou-se em 2010 para o Espírito Santo, onde manteve contatos com o agente literário Andrey do Amaral para a publicação de seu livro “Contos das Almas”.
Escreveu livros técnicos como “Plantio Econômico e Prático de Eucalipto”, esgotado no primeiro ano de vendas, bem como “Combate as Formigas-Cortadeiras”, mais outros em parceria com engenheiros e especialistas da Emflora Empreendimentos Florestais LTDA. Publicou, ainda, obras literárias pelo Projeto Nova Coletânea, publicando, com o apoio de Edir de Oliveira Barbosa, cinco coletâneas nos gêneros contos e poesias. Participou de diversas coletâneas do Brasil, destacando a seleção para os concursos da Universidade em que se formou e do Organizador Valdeck Almeida de Jesus. Em 2009, lança em Salvador, durante a 9ª Bienal da Bahia, a coletânea “Contos e crônicas para a viagem”. Em 2010, tornou-se membro Correspondente da Academia Literária de Teófilo Otoni e recebe o reconhecimento do “Movimento Poemas à Flor da Pele” pelos seus trabalhos culturais. Em 2011, novamente indicado ao prêmio pelo movimento “Poemas”, como Colunista Cultural, inicia o projeto “Brasil que te quero”, adiado por razoes financeiras.
VALDECK: Quando e onde nasceu?
BRUNO RESENDE: Nasci em Viçosa, terra do ex-presidente Artur Bernardes. Filho moreno do casal Edir de Resende e João Lopes Ramos, respectivamente Costureira (depois Educadora Especial) e Enfermeiro. Sou o quinto entre seis filhos.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
BRUNO RESENDE: O Brasil eu conheço pela sua gente e a algumas viagens, mas como todo professor tive desde sempre recursos muito limitados... E para quem recebe pouco mais que o salário mínimo viajar é realmente luxo.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
BRUNO RESENDE: Quando na mais tenra idade, adorava inventar histórias assustadoras aos primos nas varandas e jardins do sítio de meu avô materno à noite, por isso devotavam até algum respeito por mim, e isso me estimulou a brincar com as palavras e descobrir lógicas e absurdos por meio delas. Depois dos amores da adolescência, experimentaria a poesia e isso me ajudaria muito nos estudos e nos textos. Ao me tornar mais eloquente, com 17 anos, fui eleito presidente do Grêmio Estudantil David Procópio, em Viçosa. Tal período marcaria a derrocada da Educação no Estado, quando o Governador chamaria as minhas professoras de mal casadas. Deflagrada a greve de professores, seguranças dos Deputados de Minas tiveram de nos expulsar de seus gabinetes, aluno e professores, pois votavam naquela época, como hoje, contra o aumento de seus salários. Aí uma das razões de ser escritor.
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
BRUNO RESENDE: Preciso da ficção, pois nosso povo crê mais nessa do que em sua própria realidade. Falar cruamente sobre o que vivemos tornaria intragáveis os meus textos. O povo gosta mesmo é de uma boa novela. Defendo, por isso, uma literatura engajada, que deixe conotar a possibilidade de mudança por meio de uma crítica sempre acusada nas entrelinhas de meus textos. Isso lhes dá um sabor de descoberta. Gosto de escrever poemas, mas tenho de confessar verdadeiro carinho à prosa... Nessa me deleito com a possibilidade da criação de personagens, cenários e de uma história com “sobrenaturalidades”. Sim, gosto de histórias fantásticas, foram elas que me abriram as portas da textualidade e da múltipla possibilidade de criar e imaginar. Gostaria de saber se o leitor também gosta.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
BRUNO RESENDE: Sim, o fato de adiar por mais de três anos a publicação do “Contos das Almas” tem a ver com isso. Já o submeti a leitores críticos; recentemente, apresentei-o a um competente Agente Literário e tenho além de revisões, orientações para uma leitura na conformidade das leis e normas de linguagem para o seu público alvo. O que me falta, como a muitos escritores brasileiros, é a condição para publicar com eficiência, qualidade e profissionalismo nossas obras, expondo o livro nos grandes centros.
O Brasil muito embora seja um país de escritores, está longe de ser um país para escritores. Não tenho uma editora por mim ou um empresário; então, como autor independente, tenho de estudar mecanismos de inclusão no mercado e batalhar muito.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
BRUNO RESENDE: Literatura fantástica. Defendo que essa não seja uma literatura menor, como afirmaram os críticos do passado, por isso sempre tenho em mente questões sociais, filosóficas, digamos interdisciplinares, para formar um conjunto de possibilidades discursivas. Organizo, priorizo e aguardo a conexão com algo que seja verossímil e que encontre uma proposta reflexiva para a atualidade... Assim começa meu trabalho de escritor.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
BRUNO RESENDE: De diversas formas. Diria que tenho muita vontade de escrever e espero que não acabe o combustível tão cedo para novas escrevinhações. No passado comprava cadernos, hoje, com o notebook sempre por perto, de preferência em meu quarto. Não tenho hora para começar. Entretanto, defendo como proposta que essa não seja uma literatura menor, uma subliteratura como afirmaram os críticos do passado, por isso sempre tenho em mente questões sociais, filosóficas, digamos interdisciplinares, para formar um conjunto de possibilidades discursivas que incitem o pensamento crítico do leitor.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
BRUNO RESENDE: Gosto de muitos trabalhos, mas uma obra me retorna com o fascínio dos leitores. Seu nome? “Marieta Cata-cruz”. O poema “Loucura” foi um marco na minha vida de poeta e abriu-me as portas da publicação, por isso o deixo aqui para todos os que me leem agora:
“Loucura é esperar a procura
Acreditar governos
Beber água de chuva
Gritar por silêncio
Chorar durante uma novela ou filme
Crer a morte do ator,
Não ver a morte nas ruas.”
Bruno Resende Ramos
Do livro: Momentos Diversos, Editora UFV, 2006, Viçosa/MG
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
BRUNO RESENDE: Quando tenho inspiração para um livro, é só começar a escrever. Não paro muito para ver coerências e coesões. O trabalho é no encerrar do capitulo. Aí, começa o bateio. O que sobra? Muito pouco... Hehehehe. Na produção de obras técnicas, acontece o contrário. Não escrevo sem estar bem certo do que vai para a folha.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
BRUNO RESENDE: Justamente, o “Contos das Almas”, porque trata-se de uma coletânea de contos na linha do sobrenatural com diversidade de temas e pontos de vista. O foco narrativo sempre mudando, e o delineamento de personagens complexos demandaram mais dedicação.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
BRUNO RESENDE: Formei-me em Letras pela Universidade Federal de Viçosa. A literatura sempre foi o meu fascínio desde a infância. Pela condição financeira, de saúde dos professores de hoje, bem como o seu plano de carreira no setor público, além do verdadeiro sucateamento da Educação no país, sinto que os meus dias de professor estão contados. Preciso pensar no futuro, e manter certa esperança de que aconteça um fato novo em minha vida profissional. No momento, o que vejo é um túnel escuro, sem ter para onde ir.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
BRUNO RESENDE: Tenho autores amigos e outros que sequer me conheçam que são fontes de leitura estimável. Já os citei em outra entrevista, mas os repito, inteirando que não são os únicos. O próprio Valdeck Almeida de Jesus ensinou-me muito com o seu engajamento nas lutas pelas minorias, sua busca por melhores dias, seu berço de dedicação à família e agora as Obras Sociais Irmã Dulce. Tudo o que fez foi de peito aberto, contra toda uma cultura de exclusão e violência. Parabenizo-o pela sua insistente luta pelos novos autores e abertura de mercado a eles.
Na poesia, ainda o celebre poeta Affonso Romano de Sant’Anna, Berthold Brecht e Júlio Paixão, o último membro da Academia de Letras de Viçosa; acrescento ainda uma especial autora mineira, única no poetizar, Rozimar Gomes da Silva Ferreira também membro da Academia de Letras de Viçosa.
No conto, sem dúvida, Duílio Gomes, por quem me tornei amigo meses antes de partir para o céu dos autores. No exterior, Edgar Allan Poe, Guy de Maupassant.
Na crônica, Cirene Ferreira Alves e, no romance, Carlos Herculano e Guimarães Rosa.
Uma nota: Quando muito novo, era aficionado em histórias, filmes, seriados e livros de bolso no tema western. Unidos, eu e meus primos, víamos esses como grandes heróis da nossa infância. Era fã das séries que lotavam as bancas com novidades todas as semanas. Por detrás desses grandes astros do oeste americano, ninguém mais do que José Alpoim Ryoki Inoue, um brasileiro de origem asiática, reconhecido mundialmente pela sua prolificidade. Ele publicou nada mais do que 999 novelas, e dominou 90% do mercado por um período de seis anos. Hoje está listado no “Guinness Book of Records” e, por um capricho do destino, vim a conhecê-lo pela internet e produzir com ele uma entrevista (link no final do texto). Era um grande fã de suas histórias, hoje sou pelo grande ser humano que mostrou ser.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
BRUNO RESENDE: Leitura, pesquisa e muito reescritura.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
BRUNO RESENDE: Orientado por uma editora poderia fazê-lo, mas creio que o meu nome não impediria boas vendas. No caso do Ryoki, as editoras alteraram seu nome para americanizar o produto (livro). É algo a se pensar, não é mesmo? Onde está a proposta? Hehehehe.
VALDECK: Como foi a tua infância?
BRUNO RESENDE: Diversão, muita diversão. Diferente de hoje, brincar era mesmo na rua. Não havia tantos veículos longe dos centros. Rodava pneu nas ruas, inventava brinquedos, bang bang, pique de esconder, corrida etc.
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
BRUNO RESENDE: Minha diversão é escrever. Antes da vida profissional, cercava-me dos amigos nas praças para tomar uma cerveja, comer uma porção de batatas e ir ao baile azarar as garotas, mas o tráfico ocupa a maior parte desses lugares no interior e as cidades se entregam a essa nova forma absolutista de poder. Vivemos no Brasil a ditadura do tráfico.
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
BRUNO RESENDE: Inesquecíveis publicações. A contracapa de sua antologia de número 3 publicada pela Giz Editorial (Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – 2008).
Outro texto foi o publicado no livro do PNLL, no fim do governo Lula, organizado por José Castilho Marques Neto, Secretário Executivo na época, tudo isso na gestão de Juca Ferreira, quando era Ministro de Estado da Cultura. O livro publicado pela Cultura Acadêmica Editora em 2010 pode ser acessado no link citado ao fim da entrevista.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
BRUNO RESENDE: Como disse antes, professor.
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
BRUNO RESENDE: Uma das principais é a crítica social; além dela, a mensagem da tolerância, da justiça social.
VALDECK: Qual sua Religião?
BRUNO RESENDE: Sou cristão Católico.
VALDECK: Quais seus planos como escritor?
BRUNO RESENDE: Só existe um plano, Valdeck, escrever e escrever; mas a meta, amigo, é um dia ver meus textos chegarem às telas do cinema e o meu livro às mãos de milhares de jovens e adultos brasileiros. Como disse o professor e grande crítico Doutor Antonio Candido de Melo e Souza, no recebimento do título de Intelectual do Ano de 2008 “...O que importa não é que os alvos sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade. O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade.” (Candido, 2008)
Fonte bibliográfica:
CANDIDO, A. Plano nacional do livro e leitura: os primeiros quatro anos. In: MARQUES NETO, J.C.(Org.). PNLL: textos e história. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2010. P. 13.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Link da entrevista http://reportagensexclusivas.wordpress.com/tag/prolifico/
Link do livro http://189.14.105.211/Conteudo/BibliotecaDigital/2/Arquivos/livro.pdf
Natural de Viçosa-MG, 42 anos. Formou-se em Letras e Artes pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde iniciou sua vida profissional como professor de línguas, dirigindo escolas como a APAE de Teixeiras e o Colégio Semear, esse hoje extinto. Durante o período acadêmico cursou Artes Cênicas pela Oficina de Criatividade da UFV. A partir do ano de 1983 iniciou seus trabalhos culturais, publicando poemas no folhetim “A Fauna”, de Jose Maria Salgado, em Viçosa, quando cursava a oitava série.
Em 2004 passa a publicar contos em seu blog, quando em 2005 inicia o projeto nova coletânea, publicando novos autores. Mudou-se em 2010 para o Espírito Santo, onde manteve contatos com o agente literário Andrey do Amaral para a publicação de seu livro “Contos das Almas”.
Escreveu livros técnicos como “Plantio Econômico e Prático de Eucalipto”, esgotado no primeiro ano de vendas, bem como “Combate as Formigas-Cortadeiras”, mais outros em parceria com engenheiros e especialistas da Emflora Empreendimentos Florestais LTDA. Publicou, ainda, obras literárias pelo Projeto Nova Coletânea, publicando, com o apoio de Edir de Oliveira Barbosa, cinco coletâneas nos gêneros contos e poesias. Participou de diversas coletâneas do Brasil, destacando a seleção para os concursos da Universidade em que se formou e do Organizador Valdeck Almeida de Jesus. Em 2009, lança em Salvador, durante a 9ª Bienal da Bahia, a coletânea “Contos e crônicas para a viagem”. Em 2010, tornou-se membro Correspondente da Academia Literária de Teófilo Otoni e recebe o reconhecimento do “Movimento Poemas à Flor da Pele” pelos seus trabalhos culturais. Em 2011, novamente indicado ao prêmio pelo movimento “Poemas”, como Colunista Cultural, inicia o projeto “Brasil que te quero”, adiado por razoes financeiras.
VALDECK: Quando e onde nasceu?
BRUNO RESENDE: Nasci em Viçosa, terra do ex-presidente Artur Bernardes. Filho moreno do casal Edir de Resende e João Lopes Ramos, respectivamente Costureira (depois Educadora Especial) e Enfermeiro. Sou o quinto entre seis filhos.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?
BRUNO RESENDE: O Brasil eu conheço pela sua gente e a algumas viagens, mas como todo professor tive desde sempre recursos muito limitados... E para quem recebe pouco mais que o salário mínimo viajar é realmente luxo.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?
BRUNO RESENDE: Quando na mais tenra idade, adorava inventar histórias assustadoras aos primos nas varandas e jardins do sítio de meu avô materno à noite, por isso devotavam até algum respeito por mim, e isso me estimulou a brincar com as palavras e descobrir lógicas e absurdos por meio delas. Depois dos amores da adolescência, experimentaria a poesia e isso me ajudaria muito nos estudos e nos textos. Ao me tornar mais eloquente, com 17 anos, fui eleito presidente do Grêmio Estudantil David Procópio, em Viçosa. Tal período marcaria a derrocada da Educação no Estado, quando o Governador chamaria as minhas professoras de mal casadas. Deflagrada a greve de professores, seguranças dos Deputados de Minas tiveram de nos expulsar de seus gabinetes, aluno e professores, pois votavam naquela época, como hoje, contra o aumento de seus salários. Aí uma das razões de ser escritor.
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
BRUNO RESENDE: Preciso da ficção, pois nosso povo crê mais nessa do que em sua própria realidade. Falar cruamente sobre o que vivemos tornaria intragáveis os meus textos. O povo gosta mesmo é de uma boa novela. Defendo, por isso, uma literatura engajada, que deixe conotar a possibilidade de mudança por meio de uma crítica sempre acusada nas entrelinhas de meus textos. Isso lhes dá um sabor de descoberta. Gosto de escrever poemas, mas tenho de confessar verdadeiro carinho à prosa... Nessa me deleito com a possibilidade da criação de personagens, cenários e de uma história com “sobrenaturalidades”. Sim, gosto de histórias fantásticas, foram elas que me abriram as portas da textualidade e da múltipla possibilidade de criar e imaginar. Gostaria de saber se o leitor também gosta.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?
BRUNO RESENDE: Sim, o fato de adiar por mais de três anos a publicação do “Contos das Almas” tem a ver com isso. Já o submeti a leitores críticos; recentemente, apresentei-o a um competente Agente Literário e tenho além de revisões, orientações para uma leitura na conformidade das leis e normas de linguagem para o seu público alvo. O que me falta, como a muitos escritores brasileiros, é a condição para publicar com eficiência, qualidade e profissionalismo nossas obras, expondo o livro nos grandes centros.
O Brasil muito embora seja um país de escritores, está longe de ser um país para escritores. Não tenho uma editora por mim ou um empresário; então, como autor independente, tenho de estudar mecanismos de inclusão no mercado e batalhar muito.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?
BRUNO RESENDE: Literatura fantástica. Defendo que essa não seja uma literatura menor, como afirmaram os críticos do passado, por isso sempre tenho em mente questões sociais, filosóficas, digamos interdisciplinares, para formar um conjunto de possibilidades discursivas. Organizo, priorizo e aguardo a conexão com algo que seja verossímil e que encontre uma proposta reflexiva para a atualidade... Assim começa meu trabalho de escritor.
VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?
BRUNO RESENDE: De diversas formas. Diria que tenho muita vontade de escrever e espero que não acabe o combustível tão cedo para novas escrevinhações. No passado comprava cadernos, hoje, com o notebook sempre por perto, de preferência em meu quarto. Não tenho hora para começar. Entretanto, defendo como proposta que essa não seja uma literatura menor, uma subliteratura como afirmaram os críticos do passado, por isso sempre tenho em mente questões sociais, filosóficas, digamos interdisciplinares, para formar um conjunto de possibilidades discursivas que incitem o pensamento crítico do leitor.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
BRUNO RESENDE: Gosto de muitos trabalhos, mas uma obra me retorna com o fascínio dos leitores. Seu nome? “Marieta Cata-cruz”. O poema “Loucura” foi um marco na minha vida de poeta e abriu-me as portas da publicação, por isso o deixo aqui para todos os que me leem agora:
“Loucura é esperar a procura
Acreditar governos
Beber água de chuva
Gritar por silêncio
Chorar durante uma novela ou filme
Crer a morte do ator,
Não ver a morte nas ruas.”
Bruno Resende Ramos
Do livro: Momentos Diversos, Editora UFV, 2006, Viçosa/MG
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?
BRUNO RESENDE: Quando tenho inspiração para um livro, é só começar a escrever. Não paro muito para ver coerências e coesões. O trabalho é no encerrar do capitulo. Aí, começa o bateio. O que sobra? Muito pouco... Hehehehe. Na produção de obras técnicas, acontece o contrário. Não escrevo sem estar bem certo do que vai para a folha.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
BRUNO RESENDE: Justamente, o “Contos das Almas”, porque trata-se de uma coletânea de contos na linha do sobrenatural com diversidade de temas e pontos de vista. O foco narrativo sempre mudando, e o delineamento de personagens complexos demandaram mais dedicação.
VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
BRUNO RESENDE: Formei-me em Letras pela Universidade Federal de Viçosa. A literatura sempre foi o meu fascínio desde a infância. Pela condição financeira, de saúde dos professores de hoje, bem como o seu plano de carreira no setor público, além do verdadeiro sucateamento da Educação no país, sinto que os meus dias de professor estão contados. Preciso pensar no futuro, e manter certa esperança de que aconteça um fato novo em minha vida profissional. No momento, o que vejo é um túnel escuro, sem ter para onde ir.
VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?
BRUNO RESENDE: Tenho autores amigos e outros que sequer me conheçam que são fontes de leitura estimável. Já os citei em outra entrevista, mas os repito, inteirando que não são os únicos. O próprio Valdeck Almeida de Jesus ensinou-me muito com o seu engajamento nas lutas pelas minorias, sua busca por melhores dias, seu berço de dedicação à família e agora as Obras Sociais Irmã Dulce. Tudo o que fez foi de peito aberto, contra toda uma cultura de exclusão e violência. Parabenizo-o pela sua insistente luta pelos novos autores e abertura de mercado a eles.
Na poesia, ainda o celebre poeta Affonso Romano de Sant’Anna, Berthold Brecht e Júlio Paixão, o último membro da Academia de Letras de Viçosa; acrescento ainda uma especial autora mineira, única no poetizar, Rozimar Gomes da Silva Ferreira também membro da Academia de Letras de Viçosa.
No conto, sem dúvida, Duílio Gomes, por quem me tornei amigo meses antes de partir para o céu dos autores. No exterior, Edgar Allan Poe, Guy de Maupassant.
Na crônica, Cirene Ferreira Alves e, no romance, Carlos Herculano e Guimarães Rosa.
Uma nota: Quando muito novo, era aficionado em histórias, filmes, seriados e livros de bolso no tema western. Unidos, eu e meus primos, víamos esses como grandes heróis da nossa infância. Era fã das séries que lotavam as bancas com novidades todas as semanas. Por detrás desses grandes astros do oeste americano, ninguém mais do que José Alpoim Ryoki Inoue, um brasileiro de origem asiática, reconhecido mundialmente pela sua prolificidade. Ele publicou nada mais do que 999 novelas, e dominou 90% do mercado por um período de seis anos. Hoje está listado no “Guinness Book of Records” e, por um capricho do destino, vim a conhecê-lo pela internet e produzir com ele uma entrevista (link no final do texto). Era um grande fã de suas histórias, hoje sou pelo grande ser humano que mostrou ser.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
BRUNO RESENDE: Leitura, pesquisa e muito reescritura.
VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?
BRUNO RESENDE: Orientado por uma editora poderia fazê-lo, mas creio que o meu nome não impediria boas vendas. No caso do Ryoki, as editoras alteraram seu nome para americanizar o produto (livro). É algo a se pensar, não é mesmo? Onde está a proposta? Hehehehe.
VALDECK: Como foi a tua infância?
BRUNO RESENDE: Diversão, muita diversão. Diferente de hoje, brincar era mesmo na rua. Não havia tantos veículos longe dos centros. Rodava pneu nas ruas, inventava brinquedos, bang bang, pique de esconder, corrida etc.
VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?
BRUNO RESENDE: Minha diversão é escrever. Antes da vida profissional, cercava-me dos amigos nas praças para tomar uma cerveja, comer uma porção de batatas e ir ao baile azarar as garotas, mas o tráfico ocupa a maior parte desses lugares no interior e as cidades se entregam a essa nova forma absolutista de poder. Vivemos no Brasil a ditadura do tráfico.
VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?
BRUNO RESENDE: Inesquecíveis publicações. A contracapa de sua antologia de número 3 publicada pela Giz Editorial (Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – 2008).
Outro texto foi o publicado no livro do PNLL, no fim do governo Lula, organizado por José Castilho Marques Neto, Secretário Executivo na época, tudo isso na gestão de Juca Ferreira, quando era Ministro de Estado da Cultura. O livro publicado pela Cultura Acadêmica Editora em 2010 pode ser acessado no link citado ao fim da entrevista.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?
BRUNO RESENDE: Como disse antes, professor.
VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?
BRUNO RESENDE: Uma das principais é a crítica social; além dela, a mensagem da tolerância, da justiça social.
VALDECK: Qual sua Religião?
BRUNO RESENDE: Sou cristão Católico.
VALDECK: Quais seus planos como escritor?
BRUNO RESENDE: Só existe um plano, Valdeck, escrever e escrever; mas a meta, amigo, é um dia ver meus textos chegarem às telas do cinema e o meu livro às mãos de milhares de jovens e adultos brasileiros. Como disse o professor e grande crítico Doutor Antonio Candido de Melo e Souza, no recebimento do título de Intelectual do Ano de 2008 “...O que importa não é que os alvos sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade. O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade.” (Candido, 2008)
Fonte bibliográfica:
CANDIDO, A. Plano nacional do livro e leitura: os primeiros quatro anos. In: MARQUES NETO, J.C.(Org.). PNLL: textos e história. São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2010. P. 13.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Link da entrevista http://reportagensexclusivas.wordpress.com/tag/prolifico/
Link do livro http://189.14.105.211/Conteudo/BibliotecaDigital/2/Arquivos/livro.pdf