Arte na Pele

Oi Gente...

Continuando nossa série STAR – entrevistas com artistas e afins, desta cidade ou....Atenção Varginha!!! Alô região...??? Participem!

Tão... Nosso convidado de hoje veio do exótico reino dos tatuadores. Ele esta instalado também aqui na Galeria Iabrudi: o Camarão.

Divarrah – então eu vou perguntar: qual seu nome mesmo?

Camarão – difícil.... Eliédison...

Divarrah -... um nome complicado...

Camarão – se eu passar e alguém me chamar pelo nome, eu não sei mais...

Divarrah - .... mas você é daqui mesmo?

Camarão- eu sou da Paraíba, nasci na Paraíba e sai de lá com cinco meses e me criei em São Paulo.

Divarrah - ... Paraíba é um Estado né? Qual é a cidade?

Camarão – Monteiro, só que não conheço porque nunca mais voltei lá. E ai eu me criei em São Paulo, comecei a trabalhar com artesanato e trabalho com tatuagens faz quinze anos... aprendi na rua...

Divarrah – Como é que é esse negocio de aprender na rua?

Camarão – em São Paulo a gente tem que se virar, ne? Pra crescer em São Paulo a gente tem que ter muito estudo... então a gente vem pro interior pra mostrar o trabalho e ir fazendo o nome pelos cantos... em são Paulo se trabalha e ninguém conhece a gente...o quê ele ta falando aqui é que o trabalho de Arte é conceituado pelo publico interessado.. O nome adquire um significado, que neste caso, se deseja que seja sinônimo de qualidade.

Divarrah – e quais são as perguntas mais freqüentes?

Camarão - perguntam se dói.

Divarrah – e ai, dói?

Camarão – é claro que dói.E perguntam se material é esterilizado, descartável, se a vigilância sanitária autorizou – e a resposta é sim pra todas ta gente!

Divarrah – tem um monte de desenho la que são bonitos, mas e quando a pessoa faz alguma coisa e depois ser arrepende? Como é que é ?

Camarão – Tem desenho que da pra tirar...

Divarrah – você tira também?

Camarão – isso so com o dermatologista. Aqui na cidade parece que tem uma medica que faz. Não sei o nome dela. Mas a gente pode cobrir e fazer outro... dá pra fazer, depende de cada desenho.

Divarrah- você tem alguma dica sobre tatuagens, o que combina ou não...

Camarão – tem. Cada pessoa tem um estilo e se diferencia em um desenho. E ai tem quem se identifica com uma rosa, outras acham que aquele dragão, que tem uma expressão agressiva, se parece com ele. Pessoas com vários desenhos, de vários estilos, ainda não definiu o próprio estilo... pessoas que seguem um só estilo e fazem vários: existem pessoas que escolhem o estilo oriental e ai faz dragão, samurai, carpas... outros desenham só duendes.

Divarrah – Camarão, a gente ta falando ate agora da tatuagem definitiva. E aquela com henna? Ce não faz?

Camarão – ah... eu não gosto, a pessoa não sente dor..... – risos – a minha emoção é vê os outros sentirem dor... – mais risos...- quanto mais sentir dor, mais eu vibro.... – mais risos ... quando eu faço um trabalho e a pessoa fica quieta, não reclama eu fico mau humorado. A henna eu faço mais não gosto porque suja muito e os desenhos são rústicos...

Divarrah – então quer dizer que é uma coisa meio sádica? Piercing...furar os outros ...

Camarão – éééééé ............

Divarrah – qual o significado do piercing?

Camarão - pra pessoa que quer se diferenciar dos outros. O piercing vem do oriente, acho que mais da Índia. Só que não é aquele delicado e as pessoas começaram a aperfeiçoar e hoje já tem até piercing dental...

Divarrah – E esse negocio do arroz... que escreve o nome no grão de arroz?

Camarão – é....uma técnica japonesa. Teve a guerra do Japão e inventou-se de mandar “missões” escritas no grão de arroz pra que o inimigo não descobrisse a mensagem...Isso é milenar e veio pro Brasil há uns quinze ou dezesseis anos. Eu comprei a técnica, paguei caro ate...

Divarrah – isso se compra?

Camarão – depende de cada um. Quem é mais capitalista, vende a técnica. E depois que aprende a escrever, a gente tem saber onde comprar os outros materiais pra fazer o colar pra colocar o grão. O arroz pra escrever não é o comum, é um arroz japonês, chamado motimassu... Não é difícil mas também não é fácil, aprendi também na rua...

Divarrah – você sabe se esse trabalho se ensina na faculdade? Se existem aulas nas escolas regulares sobre? Ce já viu, existe?

Camarão – Não, sei... sei que tem artes plásticas. Agora artesanato, tatuagens não sei... Eu acho que tira totalmente o chão – acho que ele quis dizer que seria uma descaracterização do trabalho. E tem que essa atividade não é vista como profissão, é vista como arte e ai não tem que pagar um monte de coisas...Tirar carteira, pagar imposto de x ou de tal. Se ficar mais popular, qualquer pessoa pode fazer.

Divarrah – o quê tem difícil neste tipo de trabalho?

Camarão – não se pode ter medo, tem que ter mão firme...e gostar de ver o outro sentir dor.... risos...quanto mais se tatua, mais se aprende.

Divarrah - ... e tem varias técnicas...

Camarão – tem varias técnicas e muitos detalhes no que diz respeito a peles e tintas, cores certas pra pele certa. Questões de cicatrização...

Divarrah – Tem alguma coisa que eu não te perguntei que você gostaria de falar?

Camarão – Teeeeeemmmm ... Eu gostaria de pedir para que as pessoas não discriminem, nós tatuadores. Existem pessoas que ficam com medo da gente...

Divarrah – medo porque?

Camarão – uma pessoa ai disse que eu tava parecendo um bicho de cabelo solto...

Divarrah – que idade ela tinha?

Camarão – já era de maior...é que a pessoa passa pelo studio e vê uma pessoa cabeluda, barbuda com orelha deste tamanho, ela fica com uma sensação estranha... Vê que não é uma pessoa normal.- assim disse o Camarão....

Divarrah – mas não seria mais uma questão de ambiente, de costume? Porque São Paulo é uma cidade bem eclética.... E agora me conta: como você se sente?

Camarão – Ué normal...

Divarrah – tem um nome ou uma pessoa que marcou época na tatuagem?

Camarão – tem um deputado ai... não sei o nome dele...ele pesquisou pela internet e descobriu que tem a tatuagem artística e a tatuagem criminalística que são as feitas com maquinas caseiras, agulhas de costura, bicos de lapiseira. E artística feita com maquinas e tintas importadas, tem esterilização, o desenho bem mais elaborado...

Divarrah – e o que vê de novidades pras tatuagens daqui pra frente?

Camarão – vai virar RG porque não tem como falsificar. Documento tem jeito de falsificar e tatuagem não tem....

Divarrah – e ai... fala mais...

Camarão - ... não tem em faculdade mais o sujeito que ta afim de aprender, chega no studio e diz que quer aprender. Se o sujeito tiver na disposição, ele faz o curso pra aquela pessoa.

Divarrah – existe algum evento, congresso...

Camarão – tem.... convenções... se acham que eu sou diferente, precisam ir lá pra ver o que é diferente. ... tem gente fazendo micro cirurgia e implantando bolhas de silicone na testa pra ficar com chifres....

Divarrah – você sabe o significado desses chifres?

Camarão - não sei...acho que as pessoas querem se mostrar, parecer diferentes..De ano e ano tem altas convenções no mundo inteiro...

Divarrah – e quais são as novas do momento?

Camarão – tintas importadas, já tem maquina que não faz barulho, tem maquina a ar comprimido... eu tiro desenho no extensil, mas tem gente que tira no computador...tem muita coisa crescendo dentro da tatuagem que não da pra eu trazer ainda....

Divarrah – a gente fala sempre o eixo Rio-São Paulo... e o sul do Brasil?

Camarão – é onde estão as melhores peles pra tatuar e porque as pessoas la tem a pele branca e isso realça o trabalho.

Divarrah – Ali na sua loja, a gente vê outros produtos...

Camarão – tem a tatuagem de henna, a definitiva, o piercing, o arroz, artesanato peruano... o piercing deve ser de titânio ou aço cirúrgico. Eu vendo o meu porque posso garantir a qualidade da jóia.... Essa coisa da dor parece que tem uma pomada que alivia a dor em 90 % mais ta a maior polemica pra liberar...

Divarrah – você acha que não doesse teriam mais pessoas a fim de fazer a tatuagem?

Camarão – nossa!!! Bem mais...acho que noventa por cento faria... todo mundo quer só que nem sempre tem coragem de fazer...Teve um rapaz aqui que perdeu uma filha com dois anos, há três anos atrás. E estava procurando alguém pra fazer o rosto da criança tatuada... eu fiz e ele me ligou chorando pra contar que olha a tatuagem e lembra da filha...

Divarrah – que loucura...

Divarrah – o que você diria pra incentivar alguém a fazer tatuagem?

Camarão – que faça num local onde ele não fique olhando toda hora pra não ficar procurando defeitos e correções...e a tatuagem tem que cuidar.. depois de cicatrizada, quando se vai tomar sol, é preciso usar um protetor solar de 45 pra cima, pra não queimar o desenho.

Divarrah – quando a gente faz uma tatuagem no braço e o tempo passa e a pele enruga...

Camarão – ai a tatuagem enruga também... se fizer um peixe, vai ficar um peixe velho... risos....

Divarrah – tem tatuagem que não da pra ser feita de uma só vez...

Camarão – é... tem tatuagem que se começa num dia e se termina quinze dias depois. Não se pode trabalhar numa pele por mais de quatro horas seguidas porque da febre. Então, dependendo do tamanho da tatuagem, precisa de mais de uma sessão. Seria preciso receitar anti inflamatório e isso eu não posso fazer.

Bom gente, é mais ou menos isso que a gente conversou. O studio do Camarão fica na Galeria Iabrudi, bem no centro da cidade.

Inte,

Divarrah