Imagem: Michel Araújo
 

Entrevista com Manuel da Silva Filho, 60 anos, o Manelão, Presidente da Associação de Apoio à Infância e Adolescência Nossa Turma.  Por Michel Araújo
 
Qual era sua vivência com essas crianças antes de serem atendidas pela instituição?

Manelão: Sou comerciante de frutas aqui na Ceagesp e sempre via crianças perambulando pelo mercado, trabalhando na montagem de caixotes e muitas vezes vi crianças roubando caixotes prontos pra vender aos comerciantes, eram pequenos furtos que acabavam conduzindo essas crianças à criminalidade. Então resolvi criar um projeto para ocupar essas crianças e acabar com o trabalho infantil dentro da companhia.
 
Como é a demanda pelo atendimento da instituição?

Manelão: As mães vêm até a instituição procurar vaga para suas crianças e nós mantemos uma fila de espera por essas vagas que obedece a ordem de chegada. Porém, sempre procuramos “dar um jeitinho” pra inserir mais uma ou duas crianças nas classes, atendendo um número maior de crianças, mas de modo que não comprometa o conforto e o desenvolvimento do conjunto.
 
Existem parcerias com outras ONG's ou ainda a intenção de formar parcerias?

Manelão: Temos algumas empresas parcerias como a Ceagesp, a Abrinq, o BCA (Banco Central de Alimentos), entre outras. Com outras ONG's fazemos parcerias apenas na área do esporte, onde convidamos meninos de outras ONG's para jogar aqui e levamos nossas crianças para disputar partidas nas quadras deles.
 
Vocês tem indicadores de resultado da inclusão social dos jovens atendidos na instituição? Sabe se houve redução nos índices de criminalidade infantil, evasão escolar ou casos de envolvimento com drogas?

Manelão: Conseguimos acabar com o trabalho infantil dentro do entreposto da capital e houve também uma redução de 90% no índice de furtos e vandalismos nas dependências da Ceagesp. Pois os jovens que antes praticavam pequenos delitos aqui, agora tem irmãos e irmãs que estudam com a gente, tem mães que participam das nossas oficinas e por isso deixaram de cometer esse crimes.
 
Muitas ONG's iniciam, mas não conseguem concluir seu projeto social, você atribui essa dificuldade à falta de patrocínio ou falta de planejamento? O que é preciso para obter êxito num projeto social como a Nossa Turma?


Manelão: O insucesso muitas vezes se dá por falta de recursos financeiros, mas também por falta de perseverança. Muitas vezes vi portas se fechando, muitas vezes ouvi "não" como resposta, mas nunca desanimei. Procuro motivar minha equipe sempre, para que haja comprometimento por parte de todos. É preciso “vestir a camisa da instituição”. Acredito que a chave para o sucesso de um projeto social seja a motivação pessoal, comprometimento e perseverança, além é claro, do amor pelo que se faz.


Essa entrevista é complementar ao texto "O vendedor de frutas que passou a semear sonhos", publicado também neste site.



Associação de Apoio à Infância e Adolescência Nossa Turma
http://www.ceagesp.gov.br/social/nossaturma/