COMO SURGIU O GOSTO PELA POESIA

ENTREVISTADOR: Jorge Luiz Fabelo Monteiro (professor, poeta, teatrólogo, ator e amigo)

ENTREVISTADA : Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa

J. F. diz: Irene... (Nina Costa),

Eu estava conversando com alguns amigos semana passada e falava sobre seus poemas. Como foi que surgiu e como foi trabalhado esse talento? Você recebeu incentivo de alguém em especial? A escola influenciou? Algum professor ou outra pessoa influenciou? Você tem algum escritor como espelho? Existe algum fato marcante nesse seu fazer literário? Como você explica isso?.

Resp.: Jorge,

Vou responder às suas perguntas, e tentar exlicar tudo, mas antes, quero dizer uma coisa que talvez eu já tenha dito, mas não com a ênfase que afirmo agora, porque a timidez me impedira. Tenho uma admiração muito grande por você, um carinho e respeito que você não imagina a proporção e, sinceramente, fico feliz por saber que andei sendo assunto de suas conversas com amigos, isso muito me envaidece... Não sei nem o porquê de ser eu comentada, mas agradeço!!!

1. Como foi que surgiu e como foi trabalhado esse talento?

Eu tenho talento? Digo que gosto de escrever, sempre gostei, através de meus escritos coloco pra fora meus sentimentos, emoções, opiniões,... Sempre fui uma pessoa tímida e escrever foi o recurso que utilizei e utilizo para falar livremente aquilo que não conseguiria dizer olhando nos olhos... Escrever é para mim uma forma de adquirir asas e voar. Isso não é talento, é uma necessidade.

Essa necessidade surgiu junto com a timidez. Eu aprendi a ler e escrever muito cedo e simplesmente era louca, apaixonada por livros, tive bons professores que, vendo e julgando que eu escrevia bem, me incentivavam. Em minha infância e adolescência, meu lugar preferido era a biblioteca das escolas onde estudei (não tinha livros em casa), lia de tudo e era como se me transportasse aos vários mundos que essas leituras me proporcionavam... Lia de tudo: dicionários, bulas de remédio, papeizinhos achados no chão, jornal, almanaques, obras literárias. Aprendi a admirar alguns autores como Camões, Pablo Neruda, Goethe, Florbela Espanca, Mário Quintana, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, ... (na poesia); Machado de Assis, José de Alencar, Clarice Lispector, Érico Veríssimo, Jorge Amado (na prosa), e outros tantos que agora não me ocorrem. Tem um livro que eu amo demais - "O Pequeno Príncipe" de Antoane Sait-Exupèry. É difícil listar meus preferidos... (rsrsrs)

A técnica de como foi trabalhado isso em mim só as minha queridas professoras podem responder, eu não me lembro, só me lembro mesmo que Tia Eubéia (no grupo) sempre nos agraciava com leituras variadas, no "Monsenhor Elias Tomasi", tive dona Aylce e Rosita que foram de suma importância para mim e depois, já adulta, um amigo chamado Jorge Luiz Fabelo Monteiro ...

2 . Você recebeu incentivo de alguém em especial?

Não digo incentivo, porque escrever sempre foi uma motivação interna, mas minha família sempre apoiou e minha mãe, analfabeta, gostava de ver a filha escrevendo bonito, embora, algumas vezes não entendesse o que era escrito... Amigos sempre falavam que o que eu escrevia era bom, mas eu não tinha maiores pretensões com meus escritos.

Se sou poetisa, ou como alguns mais modernos dizem, "poeta", ou cronista, contista,... sou porque tive amigos que disseram que o que escrevo é poesia, crônica ou conto e apreciavam o que coloco no papel, na tela do computador, etc. Mas sem esquecer que atrás desses escritos que o povo lê e diz que gosta, está apenas uma pessoa que precisa escrever o que sente.

3 . A escola influenciou?

Eu, como já afirmei anteriormente, entrei na escola alfabetizada, sabendo ler e escreve (minha irmã Madalena me alfabetizou) e a primeira coisa que li foi o dicionário (em quatro volumes) que ela comprou (rsrsrsrsrs, maluquice), eu queria saber o que era RETARDATÁRIA, me encantei por aquele livro cheio de palavras e significados. Depois, encontrei as revistas pornográficas em quadrinhos de meus irmãos, o Kamassutra (li), os gibis ... e assim fui ficando possuída pela leitura... Na escola, conheci os livros de literatura infantil, a Coleção Calouros, Edouro, Vagalume, as professoras me apresentaram os autores clássicos, e eu me apaixonei por eles... Sim, a Escola teve um papel importantíssimo, pois lá estavam as professoras que me conduziram no gosto pela leitura e souberam incentivar-me a ruminar o que lia e depois transpor minhas idéias para o papel. Lá na escola também estava o lugar mágico e especial que eu tanto amava e amo chamado "Biblioteca", com aquele cheirinho de livro (velho ou novo) cheio de possibilidades... um paraíso,... Sim, a escola me ajudou muito.

4 . Algum professor ou outra pessoa influenciou?

A primeira pessoa que me influenciou foi, na verdade, minha mãe analfabeta. Eu lia a bíblia para ela, lia as bulas de remédio, os papeis que achava na rua, ela tinha uma curiosidade incrível de saber o que as letrinhas organizadas diziam. Tia Eubéia, as professoras Aylce e Rosita que buscavam desenvolver, não só em mim, mas em todos os alunos seu potencial e, quiçá, talento, e ainda o professor Jorge Luiz Fabelo Monteiro, que conheci em meu princípio de vida profissional (há 20 anos atrás) e pude conhecer seus escritos e sua veia poética, e me encantei com o fato de conhecer pessoalmente alguém que escrevia e escrevia lindamente...

5 . Você tem algum escritor como espelho?

Como falei, gosto de muitos autores, mas como o que escrevo é vindo de meu interior, expressando meus sentimentos e emoções, observações e pontos de vista, não tenho um autor em específico a quem me espelhar, tudo depende do momento e da emoção... Mas a leitura dos autores renomados, no entanto, de alguma forma, vai aparecer em meus escritos, porque eles fazem parte de minha experiência e vivência enquanto leitora e escritora...

6 . Existe algum fato marcante nesse seu fazer literário?

Existe, indiretamente, eu desejava muito aprender a ler para saber o significado da palavra RETARDATÁRIA (eu achava que era RETARDADA). Sempre tive medo da loucura e ser chamada de retardatária, por ter nascido de pais idosos, me deixava preocupada, busquei a resposta no dicionário e me encantei por aquele livro, ... assim nasceu a leitora e, consequentemente a escritora foi se despertando. Um fato atual e marcante foi participar da V Bienal do Rio de Janeiro como escritora, lançando pela primeira vez em uma Antologia Poética, meus textículos (rsrsrs). Talvez para muitos escritores de carreira, experientes e famosos isso não signifique nada em especial, mas para mim foi um marco, é um momento único, embora eu já tenha novos planos para um futuro breve.

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 08/10/2011
Reeditado em 08/10/2011
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