Uma Jovem Intelectual
Reportagem realizada pela minha filhota para a disciplina "Técnica de reportagem I", realizada em 28 de agosto de 2011 e publicada em meu livro: "O mundo começa agora" - Minha vida na literatura. Cap. IV - Autobiografia.
Ressalto que quando estava na segunda questão precisei responder com rapidez, sob a pressão de uma filha que queria dormir pois já era tarde e tinha que ir para a Faculdade pela manhã. Poderia me delongar mais, porém, o real se impôs...
Nome: S.F.M.
Idade: 39
Profissão: Assistente Social/ Docente do Ensino Superior
Natural de Patos de Minas, filha caçula (de oito irmãos) e mãe de dois filhos (K., 20 anos - estudante de Jornalismo na ECO/ UFRJ - RJ e R., 18 anos - estudante de engenharia civil na UNIPAM - MG).
"1. Qual sua formação profissional?
Antes de ser Assistente Social cursei Psicologia na Universidade Federal de Uberlândia, em 1992, aos 19 anos. Não pude continuar e então decidi no ano seguinte tentar Jornalismo em uma Faculdade Particular da mesma cidade, vizinha à que eu morava, uma vez que em Patos de Minas havia só uma Faculdade Privada e com poucos cursos, basicamente Letras, História, Administração e estavam implantando novo curso: Direito. Hoje o quadro é bem diferente com inúmeras Faculdades Privadas, cursos variados e alguns da Federal de Uberlândia, a exemplo da Engenharia.
Quando me mudei para o Rio de Janeiro tentei o vestibular para Direito e fui aprovada, porém, fora do número de vagas. (...) Minha escolha, então foi pelo Serviço Social à época orientada por uma Psicóloga que me estimulou a seguir uma carreira que me desse opções no mercado de trabalho, uma vez que eu tinha que trabalhar para viver: lecionar e atuar em instituições como Assistente Social. Minha opção ideal depois da Psicologia seria Filosofia. Cursei o Serviço Social durante quatro anos e meio. Participei de inúmeros seminários, palestras, cursos de extensão, estágios, e Iniciação Científica, atividades essas sempre referidas ao campo da Saúde Pública. No final da graduação, em 2000, iniciei o Mestrado em Saúde Pública - Políticas Públicas e Saúde - ENSP/FIOCRUZ, com bolsa do CNPq. Em 2001, descontente com a perspectiva teórica daquela instituição, iniciei concomitantemente o Mestrado em Serviço Social da ESS/UFRJ. Não defendi a dissertação, porém, cursei todos os créditos, sendo orientada pela querida e saudosa Profa. Nobuco Kameyama a cursar o doutorado, uma vez que em 2004 havia defendido a dissertação da ENSP/Fiocruz.
No ano passado defendi a Tese de Doutorado sobre as Tendências do trabalho dos (as) Assistentes Sociais nos serviços de pronto atendimento - SPA/SUS-RJ, buscando refletir sobre minha experiência profissional, seus limites e possibilidades, nesse campo a fim de aprimorar e ampliar a prática por meio de novas ações.
2. O que te moveu a fazer o curso de Serviço Social?
A busca por um curso numa Universidade pública que me proporcionasse boas oportunidades no mercado de trabalho. Isto porque busquei orientação vocacional com profissional especializado. Mas o ideal do aperfeiçoamento intelectual e cultural sobrepõe-se a qualquer outra motivação.
3. Qual é o papel de um assistente social de um modo geral?
O Assistente social insere-se no processo de trabalho em equipes multidisciplinares e nos mais variados campos de atuação. Nossa prática no Brasil e América Latina – cada país com suas particularidades - incide sobre as expressões da questão social surgida com o capitalismo e suas mazelas produtoras de imensas desigualdades sociais entre classes, estados e nações. A exploração das classes assalariadas pelos detentores dos meios de produção constitui condição de existência desse modo de produção. As instituições de governo são os maiores empregadores desde as origens da profissão. Além do trabalho assalariado podemos atuar como profissionais liberais por meio de consultoria e assessoria a empresas, governos, ONGs, movimentos sociais, etc. Atuamos nas áreas de políticas sociais: da infância e juventude, saúde, assistência social, previdência social, trabalho, habitação, saúde mental, etc. Desempenhamos papéis diferenciados em cada espaço (Gestão, concepção de políticas, assistência direta à população usuária dos serviços públicos, nas empresas, etc) com base em nosso Código de Ética Profissional, uma conquista da categoria nos últimos trinta anos e vinculado a um projeto de sociedade democrática, sem desigualdades, preservando as diferenças contrárias às indiferenças (defesa da diversidade), com liberdade, etc. No atendimento direto à população, que denominamos de execução das políticas sociais, iniciamos um trabalho traçando um perfil sócio-econômico daquela clientela para melhor entender suas demandas e, a partir desse dado objetivo, desenvolvemos projetos e programas específicos nas diversas áreas de atuação. Orientamos e realizamos reflexões em relação aos direitos de cidadania contidos na Constituição de 1988 e encaminhamos providências que respondam suas demandas específicas (Coordenadorias de assistência social nos diversos bairros, notificação de violência aos Conselhos Tutelares e de direitos – crianças, mulheres, idosos, pessoas com deficiência) defensoria pública, INSS, Saúde do Trabalhador, etc). Nosso papel, no atendimento direto, consiste em realizar avaliações e mediações relativas às questões apresentadas pelos usuários dos serviços e juntamente com eles refletirmos sobre qual a melhor solução e encaminhamento para cada situação apresentada, sempre ressaltando sua condição de sujeito de direitos e pertencentes a uma coletividade, a uma classe social específica que necessita se organizar e se informar para melhor defender e ampliar seus direitos, mesmo na sociedade atual em que os direitos de cidadania estão sendo substituídos pelos direitos dos consumidores. O cidadão sujeito de direitos sendo substituído alienadamente pelo cidadão, mero consumidor de mercadorias. Nas escolas, p. ex., orientamos pais de alunos, atuamos quando há violência doméstica, elaboramos programas de bolsas para sanar as dificuldades na aquisição de materiais escolares, uniformes, alimentação na escola; realizamos palestras educativas relacionadas ao que ocorre na escola, como uso de álcool e drogas; bullying, entre outros.
4. Você acha que é uma profissão valorizada?
O Serviço Social - que não é assistência social, uma vez que esta é uma política e aquele uma profissão que também atua na assistência social - a partir da reconceituação iniciada nos anos 1960 e com a perspectiva de ruptura com o conservadorismo das origens vem amadurecendo como profissão e formando profissionais críticos e atuantes no sentido da valorização de nossas posições contrárias a quaisquer formas de discriminação e preconceito e pela redistribuição de renda com redução de desigualdes. Diria que "nadamos contra a maré" e, por isto, diante do "status quo" somos valorizados se seguirmos a cartilha das instituições pela manutenção de uma estabilidade em detrimento de direitos constitucionalmente garantidos. E nossa perspectiva marxiana nos imprime uma atuação que visa promover a crítica e transformação das relações sociais e entre as classes, favoráveis às classes que vivem do seu trabalho. Cabe lembrar que a pluralidade de idéias e correntes deve ser respeitada nesse campo de trabalho, porém, o Projeto ético-político vigente baliza as ações dos assistentes sociais em seu compromisso com valores próprios à profissão e com uma sociedade social e economicamente mais justa.
5. Quais foram as maiores dificuldades encontradas no exercício da profissão até hoje?
A questão 4 responde bem porque enfrentamos a oposição de todos os profissionais sejam médicos, enfermeiros, pedagogos, professores, coordenadores. Nosso trabalho tem uma característica peculiar e eminentemente política. Agimos com "jogo de cintura", com o pessimismo da razão e o otimismo da vontade, tão destacado pelo intelectual italiano que ampliou a teoria marxiana, Antônio Gramsci.
6. E o que mais te motivou e te deixou feliz durante este percurso?
Nesses nove anos de profissão e quinze de academia o que me motiva é saber que mesmo nesse mundo fragmentado e capitalista selvagem há possibilidades de transformação. A realidade e a teoria não estão engessadas e não há uma ordem insuperável. Acredito na criatividade e capacidade humanas de superação de situações adversas por intermédio de ações que visem a coletividade na conquista de liberdade e igualdade.
7. Alguma vez você já se arrependeu por ter escolhido essa profissão? Se sim, por que?
Já me arrependi, sim, mas renovo minhas forças pois sei que não transformarei o mundo com minha profissão, sim, com ações políticas organizadas por meio e movimentos sociais, partidos políticos. A participação social e política são essenciais para que não se caia no pessimismo da vontade.
8. Quais são as suas áreas de interesse?
Na minha profissão tenho maior interesse pela docência, com grande destaque pelas atividades de pesquisa e extensão. Na vida, as artes: teatro, literatura, pintura, música e os instrumentos musicais.
9. Em que você acha que pode contribuir para a construção de um mundo melhor?
Está respondido na questão 7. Como profissional, realizando meu trabalho com o máximo de competência, criatividade, crítica e comprometimento com uma nova ordem societária que privilegie as pessoas e o acesso a melhores condições de vida e trabalho. Como cidadã, participando dos movimentos sociais, partidos, e espalhando gentileza!
10. Quais são os seus planos profissionais para o futuro?
Penso em fazer um pós-doutorado em Portugal ou Espanha. Mas é para um futuro a médio e longo prazos. Hoje, vou acrescentar à minha excelente formação profissional um pouco mais de experiência como docente e pesquisadora em meu próprio país. Como doutora estou engatinhando e há ainda muito a amadurecer como pessoa e como profissional.
PhD - Social Work - ESS/ UFRJ (2010) - Theme: Social Work trends in emergency care. Health Public Policy - MASTER - Health Public Policy - Theme: Health councils Users participation - ENSP / FIOCRUZ. Currently, public servant - Social Worker in the fields of health public: emergency care (CBMERJ); and education - primary and secondary education (UERJ). Higher Education Professor.