Entrevista com Luiz Roberto Bodstein (Um papo sobre consultoria de empresas ,naturismo e outros temas atuais)
FB - Quem é Luiz Roberto Bodstein pessoa jurídica?
LRB - É uma consultoria em gestão organizacional. O nome da empresa é Ad Modum Soluções Corporativas. O site cujo endereço lhe passei é apenas o meu curriculum pessoal online. Os serviços que presto ao meu público enquanto pessoa jurídica estão todos lá.
FB - Como surgiu a oportunidade de trabalho nessa área de consultoria?
LRB - Foi em 1987. Eu era gerente da escola técnica do Estaleiro Verolme, em Angra dos Reis, e diante do risco de ver a Verolme fechar por conta da quebra geral da construção naval na época, eu e mais dois colegas fundamos a Trimens Consultores e iniciamos atividades em Volta Redonda. Fiz muitos trabalhos que acabaram me trazendo de volta ao Rio, onde não mais interrompi a atividade de consultoria empresarial até os dias atuais.
FB - Em sua opinião porque tem faltado tanta mão de obra qualificada no mercado de trabalho?
LRB - Por uma série de fatores: falta de investimento público em educação de qualidade, baixos salários e rápida aceleração dos processos produtivos decorrente das novas exigências do mercado internacional, entre outros, que não deram tempo para que as pessoas se preparassem por conta do descaso de décadas pelo poder público. Quem conseguiu por seus próprios meios foi buscar mercados mais compensadores fora do país, e o interno ficou com os menos preparados, que não tinham esta opção.
FB - Qual a solução para diminuir esta falta e reduzir o nível de desemprego?
LRB - A curto prazo o investimento maciço em qualificação que atenda às demandas já carentes de mão de obra, seguido de forte estímulo à formação técnica. A médio e longo prazos, uma tomada de consciência para a educação, de forma a promover especialização de forma contínua. Com tais medidas o nível de desemprego cairá automaticamente, pois que não acontece por falta de ofertas de trabalho, mas por não haver pessoal qualificado o bastante para preencher as muitas vagas em aberto.
FB - Em sua opinião o que têm feito os últimos governos para melhorar este quadro?
LRB - Lula deixou o governo com um saldo de empregos 150% maior que os oito anos do governo FHC. Em contrapartida, o investimento que fez para qualificar nossa mão de obra foi 73,3% a menos do que o da gestão de Fernando Henrique, que já tinha sido muito fraco. O governo FHC investiu R$ 300 milhões por ano, em média, entre 1995 e 2002 com programas de qualificação, enquanto que Lula nos seus oito anos de gestão registrou média de apenas R$ 80 milhões anuais. Somente no último ano de governo, visando garantir a vaga de Dilma no planalto, foi que investiu R$ 180 milhões, mas ambos fizeram muito menos do que o mínimo para reverter o quadro de desqualificação, que esteve relegado ao abandono por décadas, como citei acima.
FB - Quais as dicas para uma pessoa que esta fora do mercado de trabalho e tem encontrado dificuldades para se reintegrar?
LRB - Preparo, preparo e preparo! Não acredito em receita de bolo. Tenho um livro todo escrito sobre o tema ("Um mercado de pernas pro ar", pela Editora Singular, uma divisão da Ediouro Gráfica: www.lojasingular.com.br), mas se quiser um resumo, no meu site (www.luizrobertobodstein.com.br) tem duas entrevistas minhas sobre o tema concedidas a revistas do Rio sob os títulos: "Preparando-se para uma entrevista de recrutamento e seleção" e "20 dicas para conservar seu emprego". Por alí qualquer interessado pode encontrar um direcionamento.
FB - Quais os procedimentos adequados para se obter um bom êxito em uma entrevista para emprego?
LRB - Em um dos artigos publicados numa das duas revistas (veja o título acima), respondo a dez perguntas feitas pela jornalista, onde descrevo em detalhes todos os cuidados a serem adotados. É demasiado longa para ser reproduzida aqui, mas a entrevista não está protegida, e pode ser copiada do próprio site.
FB - Defina as principais características de um líder.
LRB - Como características do perfil de liderança, eu resumiria tudo em três que considero fundamentais: habilidades pessoais, conhecimento técnico e muita vontade de acertar. E quanto a características de gerenciamento, se aplicadas ao gerenciamento dos processos nomearia como as principais:
- Metas pré-definidas
- Objetividade
- Foco em fatos e dados
- Avaliação à luz de critérios claros
Se aplicadas ao gerenciamento de pessoas, considero as mais importantes:
- Encorajamento
- Uso adequado de sanções e estímulo
- Espaço para planejamento
- Preservação de um clima saudável de relacionamentos
- Equilíbrio e harmonia
FB - Cite alguns dos trabalhos literários mais importantes que o senhor tem publicado na mídia.
LRB - Entre os de temas de consultoria eu escolheria "E agora, o que é que eu faço?", "Um mercado de pernas pro ar" e "Gerenciando processos e pessoas - Arte e Técnica" (este último sendo lançado ao público nos próximos dias pela Ediouro).
FB - Dê um testemunho a respeito do que tem sido o resultado de suas consultorias nas empresas e na vida dessas pessoas?
LRB - Resposta difícil esta, se levados em conta os 25 anos de minha carreira como consultor. Resumo então com o que aparece na contra-capa de um dos meus livros: meu trabalho retrata o contexto atual de mercado conturbado por mudanças vertiginosas que, na maioria das vezes, atordoa empresas e profissionais que não sabem como reagir ao desafio de se enquadrarem a inovações que costumam entrar rapidamente em obsoletismo para ceder lugar a outras, sempre mais complexas e igualmente efêmeras. Diante disso busco abordar os diferentes aspectos da atividade de consultoria organizacional que se prestem a oferecer orientações para todos os que com ela se vêm envolvidos em algum momento de suas vidas, independente da área de atuação. Os resultados quase sempre dependem muito mais dos empresários do que de mim: alguns se limitam a seguir as orientações deixadas, outros esquecem delas algum tempo depois que deixo a empresa, e um terceiro tipo bem especial consegue multiplicar em muito o que implantei, como resultado de seu empenho, criatividade e competência. Tudo é uma questão de objetivos traçados para buscar o que se propõem.
FB - Quem é Luiz Roberto Bodstein pessoa física?
LRB - Se não fosse acusado de plágio escolheria para me definir exatamente como o fez um cara chamado Fábio Brandão, no seu perfil do Recanto. Identifiquei-me com o que li, pois no fundo toda pessoa de consciência, quando deixa de ser circunstancial, se parece com aquela descrição. Diria que meus dois lados pessoais mais fortes são, ao mesmo tempo, antagônicos e complementares: o do poeta e o do pensador.
FB - De onde vem o interesse pela poesia e pela literatura de uma forma geral?
LRB - Taí uma resposta difícil, pois que não saberia estabelecer o momento em que aconteceu. Lembro-me insaciável por leitura desde a mais tenra infância, e aos dez anos já lia de Exupéry a Oscar Wilde, de Sartre a Tolstói. A sede de me conhecer, e ao meu contexto, me conduziram para essa necessidade de buscar nos livros respostas para todos os meus questionamentos, que sempre foram - e continuam sendo - muitos, e assim será até meu último momento.
FB - Dos escritores consagrados, quais são os seus preferidos e quais o senhor considera os mais promissores?
LRB - Tenho mais de 3 mil títulos em minha biblioteca dos quais pelo menos 100 a 200 eu leio e releio continuamente. Quaisquer destes poderia compor a lista. De repente os quatro que mencionei acima não aconteceu por acaso. Ainda hoje eu relia "Terra dos Homens", um dos meus favoritos do Exupéry.
FB - Como conheceu o recanto das letras?
LRB - Juro que não me lembro. Possivelmente por alguma indicação de leitura que me levou até o site, e vi nele um espaço democrático para colocar minhas idéias. Até muito mais como registro próprio do que para divulgá-las, que não é tanto o meu foco. O Recanto funciona para mim como um "arquivo de memórias" e uma fonte de autoconhecimento.
FB - Qual o texto de sua autoria que mais gostou de ter escrito e que lhe causa um impacto emocional maior?
LRB - Não sei exatamente, já que não costumo escrever com esse enfoque de "criar uma obra" da forma que um artista o faz para ser exibida numa galeria. Meus textos profissionais eu busco divulgar, sim, pois que minha missão maior é levar ao meu público o resultado de minha experiência e as técnicas que podem facilitar suas vidas. Mas quanto aos meus escritos pessoais trato-os como uma auto-terapia, como instrumentos de auto-conhecimento: descubro que passo a me conhecer melhor quando leio depois o que escrevi, como se os meus dedos tivessem vida própria e não se submetessem a um comando definido pelo cérebro. Na maior parte das vezes me percebo entendendo o que escrevi depois que o leio no papel. Não se trata de "releitura": tenho a sensação de que estou aprendendo com algo que outra pessoa escreveu, como se saisse direto do coração para a ponta dos dedos, sem passar pelo cérebro. Um ensaio meu lá, de nome "O tempo no topo da montanha", descreve em detalhes e em tempo real como isso acontece. Retrata uma espécie de transe em que entro sob pura emoção, onde os dedos parecem adquirir vida própria e falar de coisas que nunca pensei antes. Talvez seja um dos que mais gostei justamente por ter aprendido com ele sobre esse processo que até então não sabia, em nível consciente, como funcionava.
FB - Dos vários lugares do mundo ao qual o senhor já foi qual foi à cultura e os costumes que mais lhe chamaram a atenção?
LRB - Acho que nenhum em especial, mas o aprendizado proporcionado por todo o conjunto, pois que o que mais me encanta é a visão sistêmica que a diversidade proporciona que permite a comparação entre tantos referenciais e se prestam a oferecer dados sobre o universo humano como um todo. Prá você ter uma idéia, quando ia ao Maracanã ficava muito mais ligado no fenômeno social que estava acontecendo na arquibancada, - pelas pessoas envolvidas nas suas paixões pelos seus times - do que pelo que estava efetivamente rolando no gramado. O conjunto, a visão do todo, é o que me encanta, não o específico desvinculado do contexto onde se insere. Considero-me um cidadão do mundo. Meu país é o planeta, minha família é a humanidade. Não privilegio laços pessoais em detrimento de minha ligação com o universal. Se viver para assistir ao contato com seres de outros mundos, meu conceito de país e de ser parte desse todo naturalmente se ampliará.
FB - Soube através de um artigo aqui no “Recanto das Letras” que o senhor é adepto da prática do naturismo, como surgiu isto em sua vida e como lhe foi apresentado?
LRB - O artigo que você leu pode lhe dar essa resposta. O naturismo não surgiu na minha vida, eu é que me vi inserido nele desde que me entendo por gente. A nudez em minha vida não nasceu associada a sexo, mas ao sentido de liberdade que sempre norteou minha trajetória no seu sentido interno, não no externo, que este é utilizado meramente para desafiar o "status quo". O naturismo faz-nos retroceder ao Eden, quando as pessoas não precisavam de um limite físico artificial, como o das roupas, para se respeitarem. É com certeza o ambiente mais sadio, menos sensualizado e mais legítimado pela real vivência das relações humanas que já conheci em todo o meu contexto de vida. Depois que me separei não voltei a frequentá-lo porque homens desacompanhados precisam estar provando que são realmente naturistas, e não estão lá com outras intenções que fujam ao código de ética do movimento, que se norteia pelo desenvolvimento do respeito mútuo associado a valores, antes das convenções sociais estabelecidas. Dai que prefiro os espaços exclusivos. Ambientes públicos, como praias ditas "naturistas", reúnem todo tipo de gente, e a maioria não tem qualquer entendimento do que seja o naturismo. São meros curiosos praticando nudismo. Naturismo é outra coisa.
FB- Alguns leigos talvez ainda associem esta prática ao erotismo, por isto gostaria que o senhor explicasse qual é a filosofia do naturismo?
LRB - Acho que o exposto acima já explica o que quer saber. Não existe nada de erótico numa comunidade naturista. Aliás, é exatamente o que não se encontra lá. Tanto é que deixei de frequentá-lo após separar-me de minha mulher, de quem sempre me fiz acompanhar. Não me senti bem indo sozinho, pois que o ambiente é estritamente familiar e homens sozinhos, quando não bem conhecidos antes, são vistos como possíveis curiosos atraídos pela possibilidade da visão de corpos nús.
FB- Quais as regras que devem ser seguidas por quem é simpatizante desta idéia e quer ser praticante?
LRB - A primeira é buscar conhecer bem antes o código de ética naturista, e não ir lá se sua intenção for qualquer outra que não a de procurar entender o sentido do respeito a outro ser humano pelo que ele é, e não pelo limite que a roupa lhe impõe em outros locais da sociedade vestida.
FB - Existe algum caso de pessoas que se julgavam desinibidas e na hora que teve que tirar a roupa em público ficou tímido?
LRB - Sim, e é bem natural, pelo menos na primeira vez que se vêem despidas em público. Mas isso passa após á primeira meia hora, quando percebem que ninguém olha para seus corpos quando estão nuas. O que chama a atenção são as diferenças, e lá o diferente é usar roupas. Não leva mais que meia hora para se entender isso e se ficar à vontade, pois que o ambiente estimula essa percepção pelo respeito humano que transmite às pessoas.
FB - E teve também pessoas mais acanhadas que surpreenderam?
LRB - Lembro-me de um casal bem jovem em que ambos se apresentaram como evangélicos, e eu fui escalado para mostrar-lhes todos os ambientes da fazenda até que se ambientassem como era praxe. Eles tinham permissão para se manterem vestidos durante a primeira hora da visita (como também é de hábito), mas nos primeiros 20 minutos - ao ver tantas crianças, senhoras de idade e famílias inteiras brincando na piscina e nas quadras de esportes completamente à vontade, e em ambiente tão natural e sadio - retiraram suas roupas e seguiram nus pelo resto da visita. Perceberam que, apesar de ter-me apresentado nu e eles não, nosso encontro parecia mais o de grandes amigos do que de pessoas que pertencessem a mundos diferentes.
FB - Eu concordo que o naturismo nada tem a ver com o erotismo que se imagina por aí, mas por outro lado acredito que muita gente que tinha uma vida sexual morna e que tinham vergonha do próprio corpo deve ter melhorado muito em suas vidas conjugais. Isto procede?
LRB - Possivelmente sim, desde que o motivo da dificuldade sexual do casal fosse motivado por vergonha do próprio corpo por parte de um dos parceiros. Lá o ato de estar nu é uma conquista, uma revisão do entendimento de que sexo e nudez precisam vir associados. Digo que a vitória maior acontece por dentro, e não por fora, pois que a libertação dos tabús, e do sentido de que respeito está atrelado ao hábito de esconder o corpo, promove um sentimento enorme de superação, de descoberta de si como se é, realmente, e não pelo que nos foi ensinado como proibido. Essa é a proposta maior da nudez associada ao pensamento saudável.
FB - Quais os trabalhos que são feitos para ajudar aqueles que são iniciantes no naturismo?
LRB - Não existe essa preocupação de se fazer um "trabalho" com iniciantes. O ambiente naturista é tão descontraído e tão desprovido da malícia que vivenciamos na sociedade vestida que se faz impossível não percebê-lo desde um primeiro momento. As pessoas naturalmente se sentem confortáveis para se despir de suas roupas e, mais ainda, de seus preconceitos.
FB - O que é preciso ser feito para estimular os pais a ter um dialogo mais aberto com os filhos em relação à sexualidade, drogas, AIDS e tantos outros temas importantes?
LRB - Tenho minha opinião pessoal a esse respeito, mas prefiro não entrar nessa seara por não ser especialista no assunto. Minha formação profissional é humanística e direcionada para o relacionamento entre pessoas, mas não me julgo autoridade no assunto, pois que não sou psicólogo nem cientista social. Assim seria leviano aprofundar-me em tais questões a título de orientação para outras pessoas. O que aprendi foi buscando meu próprio desenvolvimento.
FB- O senhor tem esperança em uma mudança de mentalidade nessa cultura de corrupção e jeitinho na qual vivemos?
LRB - Esperança eu tenho, e hoje mesmo ainda refletia sobre as mudanças culturais que vimos atravessando em decorrência de um acirrado trabalho da imprensa livre em nosso país, dos muitos referenciais que chegam de toda parte pelo desenvolvimento da tecnologia de informação, e pelas novas regulamentações oficiais que respaldam e reforçam comportamentos compatíveis com uma sociedade mais justa. O que não tenho muita esperança é de que essa mudança tão necessária aconteça dentro de um período em que eu ainda esteja aqui para testemunhá-la. Mas que vai acontecer um dia, não tenho dúvidas de que vai.
FB - Para terminar, qual a mensagem que gostaria de deixar aos leitores do Recanto das letras?
LRB - Recebo sempre muitos comentários carinhosos para todos os meus escritos, e tem sido assim ao longo dos muitos anos que freqüento o Recanto. Tenho o privilégio de poder dizer que TODOS os comentários foram sempre carinhosos, pois nunca recebi qualquer tipo de crítica que não se mostrasse como expressão de puro carinho. Por algum motivo que não me detive a tentar entender, as pessoas parecem gostar do que escrevo, e se mostram sempre extremamente gentis, doces e educadas. Acredito que o Recanto tem como característica apresentar-se como um espaço que tende a reunir pessoas com tal perfil. O mundo das letras, na pior das hipóteses, conduz ao pensar, e o pensamento nos leva a reflexões e auto-desenvolvimento. Daí porque entendo ser natural que elas se mostrem sempre tão gentis e carinhosas, posto que sua sensibilidade esteja permanentemente sendo colocada em prática por conta de suas descobertas interiores. Então, tudo o que posso lhes deixar como mensagem é meu agradecimento por tantas coisas bonitas que me escrevem. Quando me chamam "poeta" me sinto orgulhoso de integrar esse universo, me fazem lembrar que me aceitam como um deles, e isso é extremamente gratificantes. Nem sempre respondo aos comentários, posto que são bastante freqüentes, e meu tempo é extremamente curto para lhes dar toda a atenção que merecem. Mas saibam todos que eu os amo e lhes sou muito grato por tudo o que me dizem, me estimulando a lhes oferecer o que tiver de melhor em mim, mesmo através de escritos que, em sua maioria, servem-me mais como instrumentos de auto-análise do que para se mostrarem como obra aos demais.