Sonhos da alma
Sonhos da alma
A psicóloga Jussara Bispo Dantas do Nascimento analisa os sonhos e as premonições sob a ótica da psicologia e do espiritismo
Os sonhos e seus significados sempre exerceram fascínio sobre psicólogos, cientistas e o público em geral. As possibilidades de entendimento de seus enigmas são inesgotáveis por mais que se avance no tempo e nas pesquisas.
Segundo a psicóloga Jussara Bispo Dantas do Nascimento, especializada em psicologia analítica Junguiana e associada da ABRAPE (Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas), o mundo dos sonhos mostra uma outra faceta da realidade; é apreendido pelos sentidos e considerado concreto. Complementa ainda que para a interpretação dos sonhos, não basta o conhecimento técnico e acadêmico, mas necessita-se da sensibilidade e da intuição, já que seu campo pertence à esfera intuitiva e emocional, onde os insights facilitam a compreensão de seu sentido.
Qual é a sua experiência a respeito do tema sonhos e premonições?
Jussara Bispo Dantas do Nascimento – A experiência que possuo nesse sentido vem de minha atuação na área clínica. Utilizo a interpretação de sonhos como uma das formas de acesso às áreas inconscientes, seja para solução de conflitos, desenvolvimento psicológico e ou como uma forma de autoconhecimento para os pacientes.
Atendi alguns clientes que tiveram sonhos premonitórios, mas estes não se deram como um fato mediúnico e nem eram constantes. Em praticamente todos os casos que pude observar, tratou-se de uma espécie de alerta pelo que estavam vivenciando num dado momento de suas vidas. Parece ter sido mais um aviso de preparação para o que teriam que enfrentar. O mesmo pude observar nas pessoas que atendi em entrevistas de auxílio, realizadas em um dos meus trabalhos no centro espírita.
Qual é a visão da psicologia em relação aos sonhos e premonições?
Na visão neurofisiológica do sono com sonhos, estes representam simplesmente uma manifestação elétrica do cérebro, usando o material do passado recente ou remoto para construir histórias bizarras e sem nexo e que desempenham múltiplas funções; memória, reconstrução das ligações entre os neurônios, e desenvolvimento cerebral. Porém, na psicologia são muito importantes. Na primeira metade da vida costumam se referir ao mundo exterior e ao processo de adaptação e fortalecimento do ego. Na segunda metade se referem à vida interior e a necessidade de entender seu significado. Prestar atenção a eles poderá dar sentido à vida das pessoas, ajudando o autoconhecimento e autodescobrimento, a fim de alcançar a evolução.
Os sonhos refletem o passado, o presente e o futuro, e também situações atemporais. Não seguem a seqüência da nossa consciência. É um recado do self para o ego, tendo assim um papel orientador e regulador da relação do inconsciente e do consciente. Quando não são bem entendidos, se repetirão até que o processo de crescimento tenha atingido seu real objetivo. Entretanto, temos dificuldades em compreendê-los por analisá-los com uma mente diferente (consciente) da que os elaborou (inconsciente).
E a visão da psicologia embasada nos conhecimentos da doutrina espírita?
A interpretação espírita não é imposta ao cliente, pois qualquer que ela seja, deve implicar num consenso entre analista e cliente. Na ABRAPE, temos encontros com o objetivo de pesquisar e discutir casos e temas com o uso da psicologia e do espiritismo, produzindo trabalhos diversos a partir dessas reuniões. Sabemos que existem sonhos perfeitamente distingüíveis quanto à natureza psicológica ou espiritual, mas há outros de difícil definição. Sei que a psicologia preocupa-se em estabelecer uma linha divisória bem nítida com o conhecimento espírita, entretanto, seus objetos de estudo se assemelham em muitos pontos. Um não contradiz o outro, mas se completam.
Para o espiritismo, os sonhos se originam no espírito que, fora do corpo durante o sono, atua no mundo espiritual e ao acordar, imprime suas imagens e sensações no córtex cerebral, dando margem à lembrança em forma de sonho. O sonhador, estando desencarnado ou encarnado, sonhará, pois o sonhar é um ato psíquico que transcende o funcionamento cerebral. No desencarnado, as impressões serão gravadas em sua estrutura perispiritual após despertar. O senhor do sonho é o espírito, cuja única destinação é a ascensão espiritual. Não temos a preocupação em provar que os sonhos são de origem espiritual ou que alguns deles apresentam aspectos inerentes a essa concepção.
Allan Kardec divide os sonhos em três categorias: Sonhos provocados pelo organismo e que demoram em ser esquecidos; Sonhos mistos, causados pelo organismo e por uma ação espiritual, que são logo esquecidos e sonhos etéreos ou espirituais, que não são lembrados. Para a psiquê não há tempo ou espaço, as coisas ocorrem num mesmo instante. Assim vemos os sonhos proféticos, que parecem mostrar algo que vai ocorrer algum tempo depois ou já aconteceu. O sonho premonitório se caracteriza pelo conhecimento prévio de fatos, que depois de vistos ou vivenciados, durante o sono, se confirmam, num período, mais ou menos longo, durante a vigília.
Então, realmente é possível prever fatos através dos sonhos?
Os sonhos premonitórios são raros e como espírita, acredito que só ocorrem com a permissão de Deus. A Bíblia é um repositório de experiências dessa natureza. Podemos citar os sonhos do faraó, interpretados por José, filho de Jacó, sobre anos de fartura e de escassez que se aproximavam. Temos conhecimento de sonhos que ocorrem antes da morte, que parecem realmente preparar a pessoa para o fenômeno, mas são exceções. Psicologicamente, os sonhos com a morte são indicadores de transformação das personas e imagem do ego. A morte de alguém conhecida ou do próprio sonhador nos sonhos não está necessariamente se referindo à vida real.
Costumam envolver situações difíceis, doenças, problemas e algumas vezes até mesmo a morte. Devem ser tratados como probabilidades, não como certezas. Jung os estudou, falando na sincronicidade, descrevendo ocorrências simultâneas de dois eventos distintos que pareciam ter o mesmo significado ou alguma correlação. Estes eventos ocorrem abundantemente em nosso cotidiano, basta observá-los. Nos sonhos realmente premonitórios não vemos símbolos, o acontecimento futuro aparece claro, preciso e límpido.
Além dos exemplos da Bíblia, poderia citar algum outro exemplo de premonição por intermédio dos sonhos?
Há extensa literatura psíquica com exemplos dessa natureza. Um exemplo é o caso do presidente Lincoln, que sonhou que acordava em plena noite e, dirigindo-se para o salão principal da Casa Branca, notou que havia um velório. Perguntou a um soldado, que lhe respondeu que era do presidente, que fora assassinado. Naquele mesmo dia, comparecendo a um teatro, Lincoln foi morto.
A premonição através dos sonhos pode ser considerada um tipo de mediunidade?
Há, sim, a mediunidade, faculdade que possibilita o ser humano perceber a interexistencialidade da vida e que permite também as pessoas que a possuem, sonhar freqüentemente com pessoas desencarnadas e delas receberem orientações diversas. Alguns médiuns apresentam a faculdade premonitória, que lhes dá a oportunidade de ver durante o sono situações e acontecimentos futuros.
Pode-se receber as informações de diversas formas: por intermédio de um amigo espiritual, parente ou protetor, em linguagem encenada ou figurada. Outras vezes, o próprio sonhador, fora do corpo temporariamente, se recorda dos fatos importantes que deverão ocorrer. Outra forma seria o sonhador, durante o sono, penetrar a aura do outro, por quem se interessa, e descobrir suas intenções através da leitura de seus pensamentos. Uma outra maneira de observarmos as premonições é quando um desencarnado segue a corrente espiritual das ações de uma pessoa encarnada e por dedução toma conhecimento de um acontecimento que mais tarde ocorrerá com precisão.
É freqüente a ocorrência de pacientes que apresentam premonições através de sonhos?
Em geral, o que percebo nos pacientes, principalmente nos espíritas, que falam mais a respeito, é que na maioria das vezes não são sonhos premonitórios, mas sim intuições sobre pequenos fatos do dia a dia que lhes são antecipados. Porém, esses pacientes nem sempre lidam bem com essas pequenas premonições ou intuições, pois geralmente referem-se a fatos ruins e com pessoas queridas. Assustam-se e não querem tê-las, mas não possuem qualquer controle sobre como evitar ou interromper o pensamento que lhes surge. Além disso, quase sempre não sabem como proceder.
Em meus trabalhos no centro espírita também tive contato com pessoas que tiveram sonhos premonitórios, mas estes também não costumavam ser uma constante, tratando-se de fatos isolados em um determinado momento de suas vidas. Na maioria das vezes, eles tinham intuições sobre alguns acontecimentos e não sonhos. Essas pessoas nos procuravam geralmente assustadas e com medo de terem causado de alguma forma aquilo que sonhavam, mas após uma orientação e tratamento retomavam suas vidas sem problemas.
Existem pacientes que apresentam algum tipo de problema psicológico após um sonho premonitório?
Nos casos que acompanhei não observei nenhum problema psicológico por esse motivo. O que acontecia, em alguns casos, era a pessoa ficar muito ansiosa e preocupada com a possibilidade dos fatos sonhados realmente se concretizarem.
Dependendo do conteúdo do sonho, a pessoa preocupava-se de tal forma que depois tinha dificuldade para dormir, para parar de pensar no assunto e conseqüentemente, ficava muito cansada.
É comum, no consultório, pacientes que desencadeiam medos ou fobias em decorrência de sonhos premonitórios?
Não fobias, mas o medo estava presente na maioria dos pacientes que tiveram algum sonho premonitório. A sensação de que o sonho iria realmente acontecer lhes era muito forte, e por se tratarem em sua maioria de acontecimentos trágicos, temiam. Porém, no decorrer do trabalho, a angústia e o medo eram aliviados.
Gostaria de citar algum caso de sonho premonitório que algum paciente seu tenha tido?
Uma paciente espírita levou para análise um sonho em que um parente seu estava precisando de auxílio para fugir de pessoas que o perseguiam. Não conseguindo auxiliá-lo, ela acordou angustiada e ligou para saber como ele estava e soube que estava tudo bem. Porém, algum tempo depois, ele foi preso por um delito praticado.
A mesma paciente teve outro sonho onde o filho de uma colega morria num acidente. Via a colega sofrendo muito e a consolava. Verificou que o rapaz estava bem e sem problemas e não tocou mais no assunto. Pouco tempo depois, ele realmente morreu num acidente e a mãe a procurou sofrendo muito pela perda do filho.
Uma outra paciente sonhou que o marido de uma vizinha morreria devido a uma doença. Tratava-se de um casal de idosos. Soube que a esposa dele faria uma viagem para longe, era a viagem dos seus sonhos. Com jeito, conversou com ela para que não o deixasse só. Sofria com a possibilidade de seu sonho se realizar, pois nele, o que mais causava dor a sua vizinha era não estar com o marido no momento de sua morte e ele estar só. A vizinha não lhe ouviu. Realmente, durante a viagem, ele veio a falecer e ela teve que voltar às pressas. A senhora sofreu muito, não só por não ter estado com ele, mas também por não ter ouvido o alerta que recebeu. Ela desculpou-se com minha cliente, mas não conseguiu mais manter a amizade da mesma forma, por sempre se lembrar de não ter seguido seu conselho e sentir-se muito culpada.
De acordo com a visão científica, existem vários tipos de sonhos. Os premonitórios se encaixariam em qual gênero?
Quanto aos tipos de sonhos, é difícil fecharmos uma divisão, pois há uma mudança conforme a ótica que os observamos, mas de uma forma geral, temos: os sonhos que demonstram ser realização de desejos do sonhador (sejam estes desejos conscientes ou não), os compensadores (tentam compensar algo na vida da pessoa, como por exemplo, o tímido sonhando com momentos de extroversão), os sonambúlicos, os formados apenas de resíduos do dia a dia (que também têm função terapêutica), os lúcidos (onde a pessoa que sonha tem consciência que está dormindo), os recorrentes ou repetitivos (que com poucas variações, se repetem em diversos momentos da vida do sonhador), os pesadelos ou terror noturno (com forte carga emocional e aterradores), os simbólicos ou arquetípicos (aparentemente sem sentido e desconexos, repleto de símbolos – que ocorrem em momentos de transformação na vida da pessoa), somáticos (indicam ou advertem as pessoas sobre possíveis enfermidades), encontros com pessoas mortas e os proféticos ou premonitórios (que Jung preferiu chamar de prospectivos).
Que mensagem gostaria de deixar para as pessoas que tiveram ou possuem, com freqüência, sonhos premonitórios e acabam ficando preocupadas?
É importante que essas pessoas não deixem de considerar esses sonhos como probabilidades e não como certezas, pois podem simbolizar algo muito diferente ou até mesmo oposto. Os sonhos têm muitas causas e podem ser entendidos de muitas formas. Eles não precisam ser encarados como negativos, mas devem ser acolhidos. O medo e a confusão quanto ao que fazer é natural. O melhor seria procurar um analista ou um grupo psicoterápico de sonhos para compreender sua mensagem e não sofrer antecipadamente.
Os sonhos são sempre importantes, sejam mensagens do nosso inconsciente ou lembranças de experiências fora do corpo, precisam ser considerados. A pessoa poderá criar um caderno de sonhos, para anotá-los e posteriormente trabalhá-los. Pode-se deixá-lo à cabeceira, com uma caneta ou um lápis, e usá-lo como uma espécie de diário. Grafa-se o relato puro do sonho e depois outras lembranças que despertaram a pessoa.
Podemos dar ao sonho um título e mencionar fatos que acreditemos ter correlação com ele. Ao fazermos isso com um sonho, ou vários, o inconsciente pode provocar um ou mais sonhos confirmando ou negando a hipótese que levantamos para o sonho. Por isso, uma série deles sempre nos dirá mais. Porém, insisto que será válido levar o caderno para um aprofundamento em um trabalho de análise, individual ou em grupo. Sozinhos, devido a forte carga emocional envolvida, é difícil fazermos a análise e associações necessárias para sua melhor compreensão.
Sonhos da alma
A psicóloga Jussara Bispo Dantas do Nascimento analisa os sonhos e as premonições sob a ótica da psicologia e do espiritismo
Os sonhos e seus significados sempre exerceram fascínio sobre psicólogos, cientistas e o público em geral. As possibilidades de entendimento de seus enigmas são inesgotáveis por mais que se avance no tempo e nas pesquisas.
Segundo a psicóloga Jussara Bispo Dantas do Nascimento, especializada em psicologia analítica Junguiana e associada da ABRAPE (Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas), o mundo dos sonhos mostra uma outra faceta da realidade; é apreendido pelos sentidos e considerado concreto. Complementa ainda que para a interpretação dos sonhos, não basta o conhecimento técnico e acadêmico, mas necessita-se da sensibilidade e da intuição, já que seu campo pertence à esfera intuitiva e emocional, onde os insights facilitam a compreensão de seu sentido.
Qual é a sua experiência a respeito do tema sonhos e premonições?
Jussara Bispo Dantas do Nascimento – A experiência que possuo nesse sentido vem de minha atuação na área clínica. Utilizo a interpretação de sonhos como uma das formas de acesso às áreas inconscientes, seja para solução de conflitos, desenvolvimento psicológico e ou como uma forma de autoconhecimento para os pacientes.
Atendi alguns clientes que tiveram sonhos premonitórios, mas estes não se deram como um fato mediúnico e nem eram constantes. Em praticamente todos os casos que pude observar, tratou-se de uma espécie de alerta pelo que estavam vivenciando num dado momento de suas vidas. Parece ter sido mais um aviso de preparação para o que teriam que enfrentar. O mesmo pude observar nas pessoas que atendi em entrevistas de auxílio, realizadas em um dos meus trabalhos no centro espírita.
Qual é a visão da psicologia em relação aos sonhos e premonições?
Na visão neurofisiológica do sono com sonhos, estes representam simplesmente uma manifestação elétrica do cérebro, usando o material do passado recente ou remoto para construir histórias bizarras e sem nexo e que desempenham múltiplas funções; memória, reconstrução das ligações entre os neurônios, e desenvolvimento cerebral. Porém, na psicologia são muito importantes. Na primeira metade da vida costumam se referir ao mundo exterior e ao processo de adaptação e fortalecimento do ego. Na segunda metade se referem à vida interior e a necessidade de entender seu significado. Prestar atenção a eles poderá dar sentido à vida das pessoas, ajudando o autoconhecimento e autodescobrimento, a fim de alcançar a evolução.
Os sonhos refletem o passado, o presente e o futuro, e também situações atemporais. Não seguem a seqüência da nossa consciência. É um recado do self para o ego, tendo assim um papel orientador e regulador da relação do inconsciente e do consciente. Quando não são bem entendidos, se repetirão até que o processo de crescimento tenha atingido seu real objetivo. Entretanto, temos dificuldades em compreendê-los por analisá-los com uma mente diferente (consciente) da que os elaborou (inconsciente).
E a visão da psicologia embasada nos conhecimentos da doutrina espírita?
A interpretação espírita não é imposta ao cliente, pois qualquer que ela seja, deve implicar num consenso entre analista e cliente. Na ABRAPE, temos encontros com o objetivo de pesquisar e discutir casos e temas com o uso da psicologia e do espiritismo, produzindo trabalhos diversos a partir dessas reuniões. Sabemos que existem sonhos perfeitamente distingüíveis quanto à natureza psicológica ou espiritual, mas há outros de difícil definição. Sei que a psicologia preocupa-se em estabelecer uma linha divisória bem nítida com o conhecimento espírita, entretanto, seus objetos de estudo se assemelham em muitos pontos. Um não contradiz o outro, mas se completam.
Para o espiritismo, os sonhos se originam no espírito que, fora do corpo durante o sono, atua no mundo espiritual e ao acordar, imprime suas imagens e sensações no córtex cerebral, dando margem à lembrança em forma de sonho. O sonhador, estando desencarnado ou encarnado, sonhará, pois o sonhar é um ato psíquico que transcende o funcionamento cerebral. No desencarnado, as impressões serão gravadas em sua estrutura perispiritual após despertar. O senhor do sonho é o espírito, cuja única destinação é a ascensão espiritual. Não temos a preocupação em provar que os sonhos são de origem espiritual ou que alguns deles apresentam aspectos inerentes a essa concepção.
Allan Kardec divide os sonhos em três categorias: Sonhos provocados pelo organismo e que demoram em ser esquecidos; Sonhos mistos, causados pelo organismo e por uma ação espiritual, que são logo esquecidos e sonhos etéreos ou espirituais, que não são lembrados. Para a psiquê não há tempo ou espaço, as coisas ocorrem num mesmo instante. Assim vemos os sonhos proféticos, que parecem mostrar algo que vai ocorrer algum tempo depois ou já aconteceu. O sonho premonitório se caracteriza pelo conhecimento prévio de fatos, que depois de vistos ou vivenciados, durante o sono, se confirmam, num período, mais ou menos longo, durante a vigília.
Então, realmente é possível prever fatos através dos sonhos?
Os sonhos premonitórios são raros e como espírita, acredito que só ocorrem com a permissão de Deus. A Bíblia é um repositório de experiências dessa natureza. Podemos citar os sonhos do faraó, interpretados por José, filho de Jacó, sobre anos de fartura e de escassez que se aproximavam. Temos conhecimento de sonhos que ocorrem antes da morte, que parecem realmente preparar a pessoa para o fenômeno, mas são exceções. Psicologicamente, os sonhos com a morte são indicadores de transformação das personas e imagem do ego. A morte de alguém conhecida ou do próprio sonhador nos sonhos não está necessariamente se referindo à vida real.
Costumam envolver situações difíceis, doenças, problemas e algumas vezes até mesmo a morte. Devem ser tratados como probabilidades, não como certezas. Jung os estudou, falando na sincronicidade, descrevendo ocorrências simultâneas de dois eventos distintos que pareciam ter o mesmo significado ou alguma correlação. Estes eventos ocorrem abundantemente em nosso cotidiano, basta observá-los. Nos sonhos realmente premonitórios não vemos símbolos, o acontecimento futuro aparece claro, preciso e límpido.
Além dos exemplos da Bíblia, poderia citar algum outro exemplo de premonição por intermédio dos sonhos?
Há extensa literatura psíquica com exemplos dessa natureza. Um exemplo é o caso do presidente Lincoln, que sonhou que acordava em plena noite e, dirigindo-se para o salão principal da Casa Branca, notou que havia um velório. Perguntou a um soldado, que lhe respondeu que era do presidente, que fora assassinado. Naquele mesmo dia, comparecendo a um teatro, Lincoln foi morto.
A premonição através dos sonhos pode ser considerada um tipo de mediunidade?
Há, sim, a mediunidade, faculdade que possibilita o ser humano perceber a interexistencialidade da vida e que permite também as pessoas que a possuem, sonhar freqüentemente com pessoas desencarnadas e delas receberem orientações diversas. Alguns médiuns apresentam a faculdade premonitória, que lhes dá a oportunidade de ver durante o sono situações e acontecimentos futuros.
Pode-se receber as informações de diversas formas: por intermédio de um amigo espiritual, parente ou protetor, em linguagem encenada ou figurada. Outras vezes, o próprio sonhador, fora do corpo temporariamente, se recorda dos fatos importantes que deverão ocorrer. Outra forma seria o sonhador, durante o sono, penetrar a aura do outro, por quem se interessa, e descobrir suas intenções através da leitura de seus pensamentos. Uma outra maneira de observarmos as premonições é quando um desencarnado segue a corrente espiritual das ações de uma pessoa encarnada e por dedução toma conhecimento de um acontecimento que mais tarde ocorrerá com precisão.
É freqüente a ocorrência de pacientes que apresentam premonições através de sonhos?
Em geral, o que percebo nos pacientes, principalmente nos espíritas, que falam mais a respeito, é que na maioria das vezes não são sonhos premonitórios, mas sim intuições sobre pequenos fatos do dia a dia que lhes são antecipados. Porém, esses pacientes nem sempre lidam bem com essas pequenas premonições ou intuições, pois geralmente referem-se a fatos ruins e com pessoas queridas. Assustam-se e não querem tê-las, mas não possuem qualquer controle sobre como evitar ou interromper o pensamento que lhes surge. Além disso, quase sempre não sabem como proceder.
Em meus trabalhos no centro espírita também tive contato com pessoas que tiveram sonhos premonitórios, mas estes também não costumavam ser uma constante, tratando-se de fatos isolados em um determinado momento de suas vidas. Na maioria das vezes, eles tinham intuições sobre alguns acontecimentos e não sonhos. Essas pessoas nos procuravam geralmente assustadas e com medo de terem causado de alguma forma aquilo que sonhavam, mas após uma orientação e tratamento retomavam suas vidas sem problemas.
Existem pacientes que apresentam algum tipo de problema psicológico após um sonho premonitório?
Nos casos que acompanhei não observei nenhum problema psicológico por esse motivo. O que acontecia, em alguns casos, era a pessoa ficar muito ansiosa e preocupada com a possibilidade dos fatos sonhados realmente se concretizarem.
Dependendo do conteúdo do sonho, a pessoa preocupava-se de tal forma que depois tinha dificuldade para dormir, para parar de pensar no assunto e conseqüentemente, ficava muito cansada.
É comum, no consultório, pacientes que desencadeiam medos ou fobias em decorrência de sonhos premonitórios?
Não fobias, mas o medo estava presente na maioria dos pacientes que tiveram algum sonho premonitório. A sensação de que o sonho iria realmente acontecer lhes era muito forte, e por se tratarem em sua maioria de acontecimentos trágicos, temiam. Porém, no decorrer do trabalho, a angústia e o medo eram aliviados.
Gostaria de citar algum caso de sonho premonitório que algum paciente seu tenha tido?
Uma paciente espírita levou para análise um sonho em que um parente seu estava precisando de auxílio para fugir de pessoas que o perseguiam. Não conseguindo auxiliá-lo, ela acordou angustiada e ligou para saber como ele estava e soube que estava tudo bem. Porém, algum tempo depois, ele foi preso por um delito praticado.
A mesma paciente teve outro sonho onde o filho de uma colega morria num acidente. Via a colega sofrendo muito e a consolava. Verificou que o rapaz estava bem e sem problemas e não tocou mais no assunto. Pouco tempo depois, ele realmente morreu num acidente e a mãe a procurou sofrendo muito pela perda do filho.
Uma outra paciente sonhou que o marido de uma vizinha morreria devido a uma doença. Tratava-se de um casal de idosos. Soube que a esposa dele faria uma viagem para longe, era a viagem dos seus sonhos. Com jeito, conversou com ela para que não o deixasse só. Sofria com a possibilidade de seu sonho se realizar, pois nele, o que mais causava dor a sua vizinha era não estar com o marido no momento de sua morte e ele estar só. A vizinha não lhe ouviu. Realmente, durante a viagem, ele veio a falecer e ela teve que voltar às pressas. A senhora sofreu muito, não só por não ter estado com ele, mas também por não ter ouvido o alerta que recebeu. Ela desculpou-se com minha cliente, mas não conseguiu mais manter a amizade da mesma forma, por sempre se lembrar de não ter seguido seu conselho e sentir-se muito culpada.
De acordo com a visão científica, existem vários tipos de sonhos. Os premonitórios se encaixariam em qual gênero?
Quanto aos tipos de sonhos, é difícil fecharmos uma divisão, pois há uma mudança conforme a ótica que os observamos, mas de uma forma geral, temos: os sonhos que demonstram ser realização de desejos do sonhador (sejam estes desejos conscientes ou não), os compensadores (tentam compensar algo na vida da pessoa, como por exemplo, o tímido sonhando com momentos de extroversão), os sonambúlicos, os formados apenas de resíduos do dia a dia (que também têm função terapêutica), os lúcidos (onde a pessoa que sonha tem consciência que está dormindo), os recorrentes ou repetitivos (que com poucas variações, se repetem em diversos momentos da vida do sonhador), os pesadelos ou terror noturno (com forte carga emocional e aterradores), os simbólicos ou arquetípicos (aparentemente sem sentido e desconexos, repleto de símbolos – que ocorrem em momentos de transformação na vida da pessoa), somáticos (indicam ou advertem as pessoas sobre possíveis enfermidades), encontros com pessoas mortas e os proféticos ou premonitórios (que Jung preferiu chamar de prospectivos).
Que mensagem gostaria de deixar para as pessoas que tiveram ou possuem, com freqüência, sonhos premonitórios e acabam ficando preocupadas?
É importante que essas pessoas não deixem de considerar esses sonhos como probabilidades e não como certezas, pois podem simbolizar algo muito diferente ou até mesmo oposto. Os sonhos têm muitas causas e podem ser entendidos de muitas formas. Eles não precisam ser encarados como negativos, mas devem ser acolhidos. O medo e a confusão quanto ao que fazer é natural. O melhor seria procurar um analista ou um grupo psicoterápico de sonhos para compreender sua mensagem e não sofrer antecipadamente.
Os sonhos são sempre importantes, sejam mensagens do nosso inconsciente ou lembranças de experiências fora do corpo, precisam ser considerados. A pessoa poderá criar um caderno de sonhos, para anotá-los e posteriormente trabalhá-los. Pode-se deixá-lo à cabeceira, com uma caneta ou um lápis, e usá-lo como uma espécie de diário. Grafa-se o relato puro do sonho e depois outras lembranças que despertaram a pessoa.
Podemos dar ao sonho um título e mencionar fatos que acreditemos ter correlação com ele. Ao fazermos isso com um sonho, ou vários, o inconsciente pode provocar um ou mais sonhos confirmando ou negando a hipótese que levantamos para o sonho. Por isso, uma série deles sempre nos dirá mais. Porém, insisto que será válido levar o caderno para um aprofundamento em um trabalho de análise, individual ou em grupo. Sozinhos, devido a forte carga emocional envolvida, é difícil fazermos a análise e associações necessárias para sua melhor compreensão.