LIBERDADE!

ENTREVISTA COM FERNANDO PELTIER SOBRE “LIBERDADE”.

1. Para você, o que é liberdade?

Resposta: Dizia um reclame publicitário, que “liberdade é uma calça velha azul e desbotada...”, talvez puída, mal tratada, que há algum tempo atrás propagava a calça jeans, calça essa que simboliza de certa forma, alguma liberdade sem fim.

Justamente num momento em que uma ditadura militar no nosso país, berrava mais alto do que qualquer sentimento libertário e que todos clamavam por alguma intervenção libertária, mesmo quê, em sufocados ou até silentes gritos.

Mas, eu aposto numa definição de que liberdade é ser auto determinado em todos os sentidos.

Seria fácil assim o ser? Creio que não, pois isso é realmente muito difícil e complicado, posto que, os nossos laços com a própria, obrigatoriamente têm que passar pelas responsabilidades sociais, culturais, educacionais, morais, sobretudo, no que tange ao respeito aos nossos semelhantes, independente de preconceitos quaisquer.

O ser só alcançará a sua liberdade, destarte, se, em tendo essa consciência, possa vir a ser dono do seu próprio nariz, de sua identidade, de sua própria consciência dentro desse contexto. Nossos versos dizem isto:

O NARIZ DO DONO

Que não sejas responsável

pelo que exista de pior,

mas, muito mais pelo que possas

transformar sempre em melhor!

Planta uma árvore,

canta uma canção

abriga a natureza

dentro do teu coração!

Escreve, dize o que pensas

com toda a sinceridade...

Vive sempre vida intensa

com toda dignidade.

Aplica uma palavra mágica

a quem precisa de atenção.

Leva contigo a esperança,

doando a quem está à margem

ou andando na contramão.

Luta, não pára de lutar!

Vencer é o paradigma

de quem quer ser campeão...

Pensa a vida como um todo,

sempre um sim, antes de um não.

Toma o universo inteiro

como sendo um teu parceiro!

Não tenta comprar felicidade

isso independe de dinheiro.

Será sempre feliz,

sim, será sempre feliz,

quem mandar no seu nariz!

2. Você se considera uma pessoa totalmente livre, por quê?

Resposta: Eu me considero uma pessoa muito distante de vir a ser livre, haja vista os resquícios de uma criação arraigada de preconceitos e dilemas implantados como o machismo, desde a infância, e nas escolhas em geral impostas contra a minha personalidade nas minhas aptidões, conquanto a minha formação, e/ou, nas informações deturpadas “do que” e “no que” é o viver com liberdade.

Perante tudo isso, de vez em quando, eu me coloco diante do meu próprio espelho e ao analisar-me, verifico que, continuo sem a coragem para avançar adiante dos meus “grilos psicológicos”, advindos dessa formação.

Eu sou livre quando escrevo poesia e dramaturgia, quando crio meus personagens – muitos, os meus próprios “eus”, ou quando eu, via de regra, estou a lidar com a criatividade no processo da criação artística.

Tudo isso me leva a outras dimensões, todas acima da nossa vã tridimensionalidade terrestre.

O “poetinha”, assim chamado, carinhosamente, Vinícius de Moraes, escreveu no seu poema épico, "O Operário em Construção", no momento em que, esse operário toma consciência de sua importância no que criava e produzia:

“O operário adquiriu

uma nova dimensão,

a dimensão da poesia!”

Um dia, de um novo sol, serei livre, ainda que seja, a partir da ESPIRITUALIDADE.

3. O que é necessário para ser livre?

Resposta: Assumirem-se todos os indivíduos, como cada um, de per si é, na sua essência, olhando aos derredores sem discriminar ninguém. Se der, após isso, amar-se e amar o próximo como a si mesmo para em assim sendo vir a ser amado, com respeito, pela sua qualidade ou não, mas, na qualificação profissional, emocional, e, sobretudo, racional. Acima de tudo, no amor verdadeiro pregado por Jesus Cristo e no âmbito comportamental, inerente a esse amor. Respeitar compromissos e ter responsabilidades com o mundo e com a vida, de modo holístico e global.

Pensar, 100 vezes a vida como um todo, “sempre um sim, antes de um não” e jamais tomar atitudes que discriminem, subestimem, agridam e atropelem o curso das liberdades de outrem, individual ou coletivamente. E em dizer a liberdade, teremos sempre que nos transportar às seculares lutas que se deram aqui e no mundo, pela libertação da escravatura, e que brindamos a todos com 2 poemas à Libertação, que, juntamente com “O Nariz do Dono”, estão publicados no nosso livro “Na Palma da Calma da Alma”, Coleção World Art Friends, Editora Corpus, Porto, Portugal, 2010.

(Link para solicitar o livro: www.worldartfriends.com

I – LIBERDADE, PÃO DO AMOR

Dia longo,

Vida curta,

suor, senzala, amor

- o que restou do desamor...

Esperança na criança

nascer livre, sem temor.

Companheirinha, companheira,

diz, mostra-me a verdade,

você que me conforta...

se algum mal fizermos

foi sem maldade.

Segue em vida procurando

o que em toda vida entregou

desde as paisagens perdidas

às terras com que sonhou

nas áfricas do além-mar

dos atlânticos sem par,

da livre ave, o canto quântico...

Liberdade é o bem da vida

Liberdade é o pão do amor

Liberdade, unção remida

Liberdade, sol tutor!

II – LIBERDADE, FRUTA-PÃO

Preso num escuro preconceito,

sem ter norte, rumo ou preceito...

sinto liberdade a pulsar no peito,

máquina de um sonho imperfeito.

Coração torna frutos refeitos em cada ilusão.

estranhas frutas em árvores secas

desabam pecas dos galhos ao chão

- enxovalhos de orvalhos.

Cada fruto é um sonho, é semente

e renasce, mormente, como fruta-pão:

anima e alimenta, recria e alenta

sonho novo é ilusão que aumenta.

Um dia se juntam braços de irmãos,

descascam a batata, a cebola, o limão,

renasce alegria em revolução

e na luta, a tez escura encandeia,

quilombo se torna cidade...

negrinho se esbalda, acesa dança,

lua cheia no auge do céu clareia.

É a liberdade que engendra a esperança!

A liberdade é um sol

espargindo raios de dignidade

em direção a humanidade!...

Araci, 13 de maio de 2011.

Fernando Peltier

Escritor e Diretor Teatral

Antonio Fernando Peltier
Enviado por Antonio Fernando Peltier em 14/05/2011
Reeditado em 09/06/2011
Código do texto: T2969070
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