Entrevista com o designer gráfico Clóvis feita por Rodrigo Poeta
*Nome verdadeiro: Clovis.
*Nome artístico: Clóvis Batebola.
*Cidade de origem: São Gonçalo – RJ (Papa Goiaba de carteirinha)
*Cidade que representa: São Pedro da Aldeia/RJ.
*Data de nascimento: 25/02/1980.
*Atividades: Designer Gráfico/MotionDesigner/Game Developer, militante do Partido dos Trabalhadores de São Pedro da Aldeia e do Movimento Negro/SPA.
*Site ou blog: BLOCODOCLOVIS.BLOGSPOT.COM/ ATELIERDOPIXEL.BLOGSPOST.COM/
UDKBRASIL.BLOGSPOT.COM
*Email: clovisbatebola@hotmail.com
-Vejamos a entrevista feita por Rodrigo Poeta com Clóvis Batebola:
1-Como nasceu o Batebola?
*BATABOLA: O Clovis Batebola nasceu da busca por uma identidade que me representasse e marcasse a minha posição na luta de classes. Uns usam valores de bons moços, grandes empreendedores ou líderes de renome (mesmo sabendo que a fama não vai além da Via Lagos). Preferi voltar as minhas raízes familiares e assumir a minha identidade como carioca, utilizando isso como valores e representação no meio social e político. Não é por coincidência que nasci nos dias de Carnaval, meu nome é ligado a personagens típicos do carnaval de rua, meu pai e meu avô também se chamavam Clovis. Durante minha infância e adolescência eu tive vergonha de meu nome por causa das zoações inevitáveis com Clovis Bornai, Clodovil, etc. Mas, com o tempo fui descobrindo a beleza de nossa sociedade e hoje agradeço muito aos meus pais pelo nome.
2-Qual sua visão sobre a cultura regional?
*BATEBOLA: A cultura Regional ela é rica, única e capaz de gerar grande impacto dentro das sociedades circunvizinhas. É recheada de especificidades que fazem essa colcha de retalhos se chamar Brasil. Nosso interior é tão rico em cultura que basta uma pequena volta para percebermos as diferentes formas do qual elas se manifestam, desde o trato de diferentes sociedades até suas manifestações culturais em festividades anuais. Desde o quilombola de São Mateus até o ator na praia, todos carregados de valores únicos e que devem ser super valorizados sempre. É verdadeiramente um CAOS ver prefeitos e secretários batendo cabeça com dinheiro público e não perceberem que o retorno político pode ser maior se valorizarem o artista local e seu público. Várias cidades fazem assim, quer seja na venda de sua imagem na imprensa ou nas festividades anuais. Muito triste saber que algumas práticas culturais estão desaparecendo na Região, como a Folia de Reis em Búzios. Segundo informou o Blog do Curinga de Búzios, a prática está praticamente extinta na cidade há 30 anos. Será que essa extinção tem alguma referência com a especulação imobiliária no balneário? Por que nenhum prefeito despertou interesse em revitalizar essa prática? Esses dias fui falar sobre igualdade racial em um debate escolar e me surpreendi ao ver que nenhum aluno sabia realmente o que era um Quilombo e muito menos qual a importância de seu reconhecimento. Há uma expectativa muito grande quanto à novela Cidade Jardim com relação à valorização da cultura local, o reconhecimento da periferia, a abertura de espaço para o negro no elenco (não como figurante, empregada doméstica ou porteiro) e minorias. Coisa que não é feita nas novelas das TVs abertas comandadas por publicitários.
3-Qual sua visão em relação à mídia?
*BATEBOLA: A mídia, como meio de embate e representação social, é extremamente eficaz e representa interesses que fogem ao longe o simples e romântico dever informativo. Principalmente quanto a sua participação nas sociedades interioranas. A mídia como veículo de comunicação isento de parcialidade não existe. Ela é eficaz dentro dos interesses comerciais de seus donos. Dentro de um contexto político e econômico em que as massas se encontram em apatia para com os movimentos sociais (atualmente criminalizados), partidos em geral (tanto que o PFL virou DEMOcratas para não levar consigo os valores de corrupção como se não fossem corruptos) e a militância de esquerda, a mídia serve aos interesses do capital e das elites. Haja visto o trato criminalizado que a mídia tem dado às centrais sindicais e aos movimentos de massa, como o MST e os movimentos de resgate da cultura negra. A mesma mídia nacional que louva as ações das massas revoltosas contra as ditaduras árabes (porque interessa aos americanos a queda desses regimes autoritários) faz cara de nojo quanto às ações dos trabalhadores rurais sem terra contra coronéis e latifúndio. Mais parcial e incoerente com o ponto de vista da justiça e democracia impossível. Na Região dos Lagos não fica diferente. Não é de hoje que as cidades são visitadas por forasteiros que criam jornais para bater nos governos no intuito de sangrar portarias e cavar anúncios.
Ou seja, a informação é mercadoria de negócio. Se fosse só objeto de debate político ou de disputa eleitoral, já seria um grande avanço. Pois saberíamos de que lado estão e quem defende. Mas, são meros abutres, loucos por descobrir escândalos na saúde, na educação ou seja lá onde for para vender denúncias aos prefeitos. A maioria dos jornais da Região são sustentados por prefeituras. O empresariado, em sua maioria, é fútil e emburrecido ao ponto de não crer na publicidade de seus estabelecimentos. Ou seja, não crêem nem na publicidade de seus próprios produtos ou serviços como forma de ampliar os lucros. A mídia na Região, com raríssimas exceções, são simples mercadores de notícias.
4-Qual sua análise em relação às entidades acadêmicas e culturais como ARTPOP e Tribal, das quais você recebeu convite para fazer parte?
*BATEBOLA: Primeiramente, quero deixar bem claro que, na atual conjuntura política, não acredito nos poderes executivos da Região dos Lagos como agentes capazes de gerir e perpetuar a cultura. Haja visto o desastre que tem sido o turismo nessas cidades. Eu acredito plenamente nos movimentos sociais como forma do povo se organizar e lutar pelos seus direitos. Das entidades citadas eu só fui convidado a integrar a ARTPOP pelo meu amigo Carlos Alberto. Da Tribal eu recebi convite para visitar. Confesso que não tenho participado e nem visitado por falta de horário disponível e por estar comprometido em outros projetos que me tomam muito tempo. Creio que entidades acadêmicas como ARTPOP e TRIBAL formam um princípio do qual a sociedade deve buscar como norte para a formação e defesa de suas raízes. Não creio que uma simples intervenção pública vá proteger e resgatar os laços culturais que nos fazem reconhecidos como um povo. Quem entende de artista é artista, políticos atualmente entendem de votos. Essa é a realidade triste que tem de ser encarada com maturidade pelos artistas da nossa Região. Somente entidades como a ArtePOP e a TRIBAL serão capazes de proteger a nossa glória cultural na Região dos Lagos. São artistas defendendo artistas e louvando a arte. Esse é o principio que deve ser seguido e perpetuado independente de quem está no poder. Essas entidades estão para a cultura como a militância de esquerda está para a política.
5-Vivemos em terra de coronéis? Explique.
Enquanto houver latifúndio haverá coronéis. Enquanto não houver Reforma Agrária haverá senhores feudais que manipulam e regem a sociedade com mãos fortes. Os interesses desses senhores é unicamente proteger e fazer crescer os seus bens. Terra no Brasil é sinônimo de poupança para o mercado de especulação imobiliária. Em vários países a burguesia entendeu que concentrar terras é ruim para seus negócios. O Brasil foi um dos únicos países onde não houve Reforma Agrária. Nem o Lula teve forças nessa coalizão para fazer a reforma agrária com uma só canetada e talvez, pela fragilização e dispersão da esquerda, nem Dilma terá. A Elite da Região dos Lagos foi construída vendendo terras em paraísos escondidos, como Búzios e Arraial do Cabo. Esses coronéis, pelo poderio financeiro (em alguns casos militar), possuem tentáculos em várias esferas. Possuem capatazes em escolas de grande potencial eleitoral, universidades, associações comunitárias e veículos de imprensa. Quanto menor a formação de blocos ideológicos e maior a dispersão da militância de esquerda melhor será para perpetuar o poderio e o patriarcado desses coronéis. Atualmente não vejo outra saída senão organizar a militância no debate de propostas em torno de candidaturas que representem nossos interesses como trabalhadores.
6-Como você analisa os Pontos de Cultura da Região?
*BATEBOLA: Os pontos de cultura são ações iniciadas pelo Governo Lula e perpetuadas pela Presidente Dilma responsáveis por proteger e difundir a cultura no Brasil. É um antigo sonho de Gilberto Gil que será ampliado no Governo Dilma. Na Região, assim como em vários municípios no Brasil, os pontos formam frentes de valorização da cultura e de suas especificidades. Vejo-os como ferramentas fundamentais para proteger e perpetuar a nossa cultura sem as velhas rédeas dos coronéis e dos revolucionários de portarias que impera nas prefeituras e nas secretarias aristocráticas. Acho que a Região merece mais pontos de cultura e mais verbas para ampliar os que já existem.
7-Todos possuem uma máscara? Explique.
*BATEBOLA: Os pontos de cultura não foram escolhidos a toa nem de maneira aleatória. É feito um edital e os projetos enviados pelos candidatos passam por grandes peneiras. Se eles foram escolhidos é porque são reconhecidos como agentes ativos dentro de suas sociedades. Há uma série de metas que devem ser cumpridas e a fiscalização é rigorosa. A maioria desses pontos de cultura, como o Tribal e Apanhei-te Cavaquinho, já funcionava muito antes do Governo Lula. Tem gente aí louvando a cultura na Região dos Lagos ha décadas e dificilmente pode-se dizer o contrário.
8-Carnaval é a sua bola? Explique.
*BATEBOLA: Não não. Srsrsr. Quem me dera fosse um Rafael Peçanha e pudesse falar do carnaval com propriedade. Eu amo o carnaval e sua representação na nossa sociedade. É uma festa que nos faz, como cariocas, únicos no Brasil e no mundo. O nosso carnaval é diferente dos demais carnavais em outros Estados porque carrega também em si belíssimos valores sociais e culturais. Mas, não sou crítico de carnaval e muito menos entendedor do assunto. Gosto da imagem social do qual ele representa nas diferentes áreas do Rio de Janeiro, desde a passarela da Sapucaí até a periferia da zona oeste com os blocos e as saídas clássicas dos Bate-bolas. Mas, a minha área é a militância e o ativismo.
9-Deixe uma mensagem para posterioridade.
*BATEBOLA: Primeiramente, quero agradecer o espaço que me foi dado pelo seu Blog. Incentivo a todos que estão lendo essa entrevista a criar um blog e fazer parte dessa rede de informação que está se formando na Região dos Lagos. Nos Blogs você tem voz garantida e seu espaço respeitado. Como a mídia convencional está comprometida financeiramente com quem tem dinheiro, seu conteúdo será sempre pautado por interesses de quem paga mais. Hoje os blogues estão pautando a imprensa local em várias questões, como a política, por exemplo. Crie um blog e faça parte de alguma rede social. Divulgue seu material no Twitter, no Facebook e Orkut. Temos uma comunidade no Facebook com quase 900 pessoas chamada Blogão dos Lagos, venha fazer parte. Quanto mais pessoas tendo espaço para divulgar suas opiniões melhor para o enriquecimento de idéias e propostas. Parabéns Rodrigo Poeta pela iniciativa e espero que mais pessoas tenham oportunidades como essa, não só em seu blog como também em tantos outros tidos como Campeões de visitas. Existem várias pessoas de enorme riqueza intelectual e cultural capazes de transcender a realidade caótica da Região dos Lagos e gerar grandes debates como o professor Serjão, o Engenheiro Luciano, professor Marcos Salaibe, Fábio Emecê, o Curinga de Búzios, Ricardo Cox, Facury, professor Luis do PT, Professor Chicão, Totonho, Jânio Mendes, Rafael Peçanha, entre outros. Quanto maior o debate de idéias, maior a possibilidade de evitar tragédias eleitorais.